Ah... A Capital de Riven. Eis uma cidade memorável. Provavelmente é a cidade mais antiga de todos os Reinos existentes. É uma das únicas cidades que não mudou de nome e nem de foco. Seu poderio militar é mais do que gigante e engloba grande parte das terras do Continente Central. Foi nessa grande capital que os quatro mercenários se reuniram pela primeira vez.

Não vou dizer que eles ainda passarão por muita coisa nessa cidade. É desnecessário. Lá é o centro de tudo o que há de bom e do melhor... Mas pode conter as mais caóticas e bizarras mudanças de dia-a-dia que um povo já teve que passar. Ter o maior ringue de combate de todos os tempos também funcionava como um imã para coisas perigosas. Coisas não. Pessoas perigosas. E veremos algumas delas logo, logo.

Mas antes... Deixe-me contar como foi o início do Torneio mais emocionante que eu já presenciei.

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— Senhoras e Senhores!!!

Era possível ouvir de todo e qualquer lugar dentro do Coliseu. O som era devidamente espalhado para que não houvesse nenhum tipo de perca no volume dos anúncios feitos pelo Apresentador do Coliseu.

Essa era uma pessoa indispensável para as batalhas. Ele precisava empolgar a plateia, divulgar nomes, pronunciar as próximas lutas e, se houvesse pontuação, dizer para todos os espectadores. Dessa vez, o Apresentador era homem. Sua voz forte e grave mostravam sua determinação e profissionalismo com o trabalho. Ele já estava acostumado e gostava do que fazia. Tinha um talento nato com seu carisma único. Ele sabia usar as palavras nas horas certas e se precisasse, sabia das piadas mais engraçadas para relaxar o público.

— É com grande prazer que eu, Pablo Monar Richarmelen, apresento mais uma edição dos torneios mundialmente conhecidos do Coliseu dos Deuses! — nesse momento, o público reagiu positivamente com gritos e vivas. Eles já conheciam o trabalho do apresentador de torneios passados. Boatos são que ele era o mais querido apresentador de toda a história do Coliseu. — E que Torneio teremos essa semana! Meus caros espectadores, esse ano será muito especial! Em primeiro lugar, eu tenho o orgulho de dizer que nunca na história do nosso disputado Coliseu, nós tivemos um evento como esse! Um Torneio em Equipes de quatro participantes! Eu estou tremendo de empolgação para apresentar algo tão inédito! Espero que todos estejam com os pelos do braço enrijecidos como eu! — foram ouvidos muitos risos e gritos. A plateia estava começando a passar do limite de tom em suas vozes. O mais incrível, é que não parecia que esses gritos iriam acabar tão cedo. — Todas as trinta e duas equipes foram aleatoriamente separadas em quatro Chaves que vão de "A" à "D", e eles lutarão com todas as forças para chegar até o topo! Inicialmente, uma equipe precisará ganhar três vezes para ser campeã em sua própria chave, nunca se esquecendo que as lutas são "Morte Súbita", ou seja, se sua equipe perder, ela é automaticamente desclassificada do Torneio! Muito cuidado, participantes!

Ao contrário da plateia, os participantes, todos unidos e perto dos membros de suas próprias equipes, não entravam na onda de alegria do Apresentador. Eles já tinha se afastado do meio da Arena.

Nem todos, claro. Duas equipes permaneciam, uma em cada lado do ringue de batalha. E eles se encaravam de longe. Na verdade, todo mundo meio que se encarava. Agora todos ali eram prováveis adversários. A atmosfera estava bem pesada, e isso porque nenhuma luta sequer tinha começado.

— Depois de serem campeãs de suas chaves, as equipes ainda terão mais batalhas para nos mostrar! O time vencedor da Chave A enfrentará o time vencedor da Chave B, enquanto que a Chave C enfrenta a Chave D. E por fim, as duas últimas equipes vitoriosas se enfrentarão na grande final, fechando o torneio com chave de ouro!

Na verdade, ele não estava falando nada de novidade, já que isso era tudo absurdamente óbvio. E mesmo que não fosse, toda essa informação já tinha sido passada para os combatentes. Pouco importava em qual Chave você estava. O importante era ganhar e seguir em frente. Mas era trabalho do Apresentador deixar a plateia daquele jeito. E talvez essa demora e embolação serviam para deixar os primeiros combatentes mais tensos com a espera. Quem estava pronto para lutar, podia confirmar que isso não era uma coisa legal.

— Preparamos algo especial para o time vencedor. Esse ano, os participantes não apenas levam uma grande e suculenta quantidade de dinheiro, como também serão convidados oficialmente para trabalharem na mais ilustre Guarda de todo o mundo: o Planetarium!

A plateia deu outro grito de esplendor. Os participantes, não. Todos, sem exceção, deixaram o seu queixo cair, assustados e perplexos com a notícia. Ninguém sabia disso ainda. Era realmente uma surpresa.

O Planetarium era a Guarda Especial que trabalhava como um Exército Próprio para o Triângulo do Universo. Era um grupo pequeno de pessoas com um poder anormal, que só eram ativados quando algo GRANDE acontecia envolvendo as três Alianças.

Esse grupo foi criado para prevenir qualquer guerra dentro das alianças e as únicas pessoas que poderiam "invocá-los" eram os Reis dos Reinos Líderes das Alianças. Cidades menores deveriam ter a aprovação do mesmo para poder usufruir do grupo.

Ter a oportunidade de entrar para esse grupo era o sonho e desejo de muitas pessoas, pois eles são o grupo mais bem recompensado do mundo, acumulando riquezas inimagináveis para si mesmos. Eles são vistos como Lendas e quase ninguém chegou a ver todos os membros.

Os mistérios mais secretos da Planetarium eram muito bem escondidos, e nem mesmo a quantidade de membros dentro do grupo era de conhecimento geral. Em suma, não parecia real que uma oportunidade dessa tivesse surgido ali. Principalmente se levarmos em conta o fato de que o Torneio premiaria quatro pessoas, e não só uma. Contando que todos os membros "sobrevivam" até o final, claro.

— E por último, meus caros participantes e minha mais alegre plateia, deixem-me apresentar o nosso Comentarista do Torneio. Ele ficará conosco até o final do torneio, nos falando cada detalhe das lutas e falando sobre suas ideias e explicando as estratégias utilizadas durante o combate! Senhoras e senhores, eu lhes apresento "Bart Evans, da Unidade Netuno do Planetarium"!

— Estou muito contente em ser chamado para tal Torneio e espero ser de grande ajuda para todos que estão assistindo ou até mesmo para os que estão lutando na Arena.

Aconteceu de novo. Plateia grita, participantes se calam. A segunda voz que apareceu ecoando pelo Coliseu também era masculina, mas diferente da do apresentador, essa era mais leve, fina e tinha um traço de elegância. Os participantes ficaram impressionados de novo, pois quase nenhum deles conhecia um membro do Planetarium. Talvez fosse algum tipo de mentira contada só para instigar o povo...

Não. Não era do estilo do Coliseu contar mentiras. Tudo era real. As lutas, o sangue, a morte. Eles não tinham porque inventar. O cara sentado ao lado do apresentador com certeza era um dos membros da maior e melhor Guarda de todo o mundo. Agora sim as coisas poderiam ser tarjadas literalmente como "estranhas".

Ainda sim, fazia um certo sentido a presença do Soldado ali. Já que um time entraria para o Grupo caso vencessem, nada mais óbvio que os membros vissem do que eles são capazes.

A pergunta agora é: será que Bart era o único ali? Pensando nisso, alguns participantes se empolgaram, mesmo sabendo que suas lutas demorariam pra vir. Agora muita coisa mudava, já que eles sabiam que estariam sendo assistidos por um guerreiro lendário. Ou vários.

— Agora sem mais delongas! Vamos começar mais uma edição do Coliseu dos Deuses!

Enfim, a plateia chegou ao ápice de suas vozes. Agora toda a atenção estava voltada para o ringue. Os dois times já estavam preparados e eles continuavam se encarando. Mana era a mais observadora. Ela olhava diretamente para os membros da equipe adversária, parecendo que estava os analisando.

E realmente estava! Os quatro não eram fracos em nenhum ponto. Eles pareciam calmos e confiantes. Tinham uma reputação muito grande pra se orgulhar, então não podiam fazer corpo mole aqui. Kula, um pouco mais próxima da assassina, também os olhava de longe, mas a única coisa que se passava na cabeça dela era "Quem será que eu vou enfrentar?".

Mulkior estava nervoso. Não com medo. Longe disso. Ele só estava nervoso de ter que lutar na frente de tanta gente. E na frente de Kuchiki. Ele não sabia que cara faria se acabasse sendo derrotado. Então era melhor esquecer essa opção. San era o único que olhava para o além, não dando a mínima importância para os seus oponentes. Mas ele não estava com uma cara de bobo e mantinha os olhos fechados.

— San, você está sério demais. O que houve? — perguntou Mana, dando um passo para frente, ficando quase encostado ao garoto.

— O Planetarium. — disse ele, abrindo os olhos, mas não encarando sua parceira. — Essa notícia está... Estranha.

— Também achei. — diz Mumu. — É algo importante demais para só ser anunciado um minuto antes de começar a primeira partida do torneio. E parece que o Apresentador e a plateia estão levando como se isso não fosse nada demais.

— Esquecer eles não iriam. Isso foi escondido de propósito. — complementou Kuchiki.

— Eu não estou gostando disso. Estou com um péssimo pressentimento. — disse San, finalmente olhando para frente e encarando os futuros oponentes.

— Como já dito, esse ano teremos um Torneio cheio de novidades. Uma delas, é o fato de que o "estilo" das lutas não serão idênticas todos os dias. Isso mesmo, senhoras e senhores. Para a maior contribuição para seu prazer e para um desafio ainda maior aos times inscritos no Torneio, a cada dia que passar, o combate receberá regras específicas que serão seguidas por todos os times, obrigatoriamente. E hoje, por ser o início do Torneio, vamos ao clássico "Ringue da Sorte - Luta Única". Vou explicar como ela funciona. Na verdade, é muito simples. Para avançarem para a próxima fase, os times necessitarão de três vitórias. Cada participante só poderá fazer uma só batalha, com exceção de no caso haver um empate de duas vitórias para cada time. Agora a parte mais divertida, senhoras e senhores: os lutadores se enfrentarão aleatoriamente! Nosso Telão fará uma roleta e mostrará quem deverá lutar contra quem, mas sem repetir o mesmo lutador! Claro, se houver "empate", o Telão irá refazer a roleta e se sair alguém que está muito machucado, essa pessoa não terá escolha a não ser participar do desempate... Ou desistir, fazendo seu time perder instantaneamente. Ah claro, sem esquecer que você pode acabar a luta de três formas: primeiro, se você fazer o seu inimigo se render. Esse é o mais visto por aqui. Segundo, se você matar o seu inimigo. Todos estão aqui sabendo de que suas vidas estarão em perigo todo o tempo. E finalmente por último, se você ficar dez segundos fora do ringue ou desmaiado no mesmo. Tomem cuidado pessoal, pois muitos guerreiros são especializados em derrubar seus oponentes e mantê-los longe do ringue até o fim da contagem! Espero que todos os times estejam com os ouvidos bem atentos, pois isso é extremamente importante!

Eles estavam ouvindo sim, mas ninguém parecia alegre com a notícia. Havia muita notícia de última hora. O que os organizadores estavam pensando? O que eles queriam com toda aquela palhaçada? Deixando de lado o fato da aparição de um membro do Planetarium, era importante ressaltar que essas regras estavam sinistras. Colocar lutadores no ringue aleatoriamente acabava com qualquer estratégia inicial que os times tenham feito. Como não dava pra saber qual seria o seu oponente na hora, todos os lutadores iriam subir ao ringue em um modo defensivo, o que poderia estender muito os combates.

Será que essa era a ideia do Coliseu? Dar mais diversão para seu povo? Ou os organizadores só queriam mais tempo para poder analisar os combates? E por que eles fariam tal coisa?

— Agora que as regras já foram ditas, vamos à primeira luta do dia! — o Apresentador não podia parar. Ele fez a excitação da plateia voltar ao extremo. E os participantes dos dois times sentiram um leve arrepio na espinha, sabendo que estava na hora da verdade. — O primeiro time, que está agora ao lado esquerdo do ringue, se chama "Immortal Star". Um nome bem forte e único. Ele não é de nenhuma Guilda em específico, mas nele temos um membro da renomada "Dead Blade". Foi um grande choque para todos nós sabermos que a Guilda quase inteira foi morta em um terrível incêndio em seu Quartel-General, a poucos dias atrás.

Mana apertou os braços enquanto ouvia o anuncio. Ela não queria mais nem ouvir o nome de sua Guilda para não lembrar das cenas dolorosas. Ela olhou para San, que continuava perdido em pensamentos. Mais cedo, ele tinha dito que "notícias ruins correm mais rápido". Ele não poderia ter dito algo mais certo.

— E do lado direito, senhoras e senhores! Preparem seus aplausos e seus gritos! Porque desse lado, está o time da renomada Guilda "White Lotus"! — o Apresentador sabia que o público teria uma reação explosiva quando esse time fosse apresentado, então ele esperou mais uns sete segundos para poder continuar. — A grande guilda escolheu seus melhores lutadores para vir participar nesse torneio e isso fez desse time ser um dos "Cinco Favoritos" para saírem vitoriosos daqui! Agora que estão apresentados, vamos começar o Torneio de Times do Coliseu dos Deuses! Que gire a roleta do destino e boa sorte a todos!

O Telão mágico acendeu e toda a atenção do local foi virada para ele. Já foi dito que ele era imenso e era facilmente visto de qualquer ângulo do Coliseu. E ele era barulhento também.

Quando ele acendeu, foi mostrado dois retângulos vazios, um do lado do outro, que cobriam todo o telão. Era um retrato. Era ali que apareceria quem lutaria contra quem. Do lado esquerdo, o time que quase não recebeu nenhum viva e no lado direito, o time que tinha feito o público gritar o seu nome desesperadamente e que era um dos favoritos para ganhar o torneio.

E daí os dois retratos começaram a mostrar desenhos retorcidos de pessoas em uma velocidade surpreendente. Era pra simular algum tipo de roleta, bem como o Apresentador tinha dito anteriormente. Nesse momento, parecia que o tempo tinha parado. O público descansou um pouco a voz. Os participantes estavam tensos. Quem sairia primeiro? Quem iria começar o Torneio? Ser o primeiro não era necessariamente bom. Mas você teria que lutar uma hora ou outra.

A roleta girava. Os dois times apertavam suas mãos e dentes. Alguns torciam para serem os primeiros, outros faziam ao contrário. E ela girou. Girou, girou e girou. E então parou. Ela mostrou duas pessoas ao mesmo tempo. E o público finalmente voltou a gritar. Na verdade, eles iriam gritar não importando quem fosse por primeiro. Mas era legal ter a expectativa.

— Primeira luta será entre "Mulkior da Immortal Star" contra "White da White Lotus"! Participantes, ao ringue!

Mumu era o único que torcia para ser o primeiro no time. Acho que sua vontade foi amplamente recompensada quando ele viu o seu nome do Telão. Ele fez um feliz "YEAH!" em sua mente e bateu os punhos na frente do corpo. Os outros membros da sua equipe balançaram a cabeça positivamente para ele, dando o máximo de apoio com o mínimo de tempo possível. Kula mostrou seus dentes brancos em um bonito sorriso e disse:

— Tenha cuidado.

Mulkior não respondeu. Ele não precisava. Ele só retribuiu o sorriso de sua parceira, demonstrando que estava preparado para subir naquele ringue para ganhar. A maga sentiu um conforto indescritível e total confiança nessa batalha. Mesmo que houvesse um certo teor de preocupação que não fosse se apagar de seu coração tão cedo.

Os dois participantes subiram ao ringue e andaram até o meio. Ficaram mais ou menos dois metros de distância um do outro e se encararam com os olhos e seus espíritos se encontraram em uma explosão invisível.

O oponente do Mago de Ferro tinha uma postura amedrontadora. Ele era alto, um pouco robusto e usava um capacete que fazia ser impossível ver seu cabelo. Mas seu rosto estava bem visível e mostrava tanta confiança quanto Mumu. A análise não parou por aí.

White tinha uma característica armadura completa de puro ferro, totalmente pintada de branco. Tinha uma capa azul clara acoplada nas costas com o símbolo de sua Guilda. O que ele levava na mão demonstrava muito bem qual era sua especialização. Ele levava um escudo grande e grosso na mão esquerda e uma espada reta de tamanho mediano na mão direita. Era impossível não reconhecer aquele estilo.

— Acho que eu tenho sorte de enfrentar o Líder da White Lotus logo na primeira partida. — disse Mumu, não tirando os olhos do oponente.

— Está falando isso para tentar se esconder, Mulkior? — a voz de White atingiu Mumu como um assassino quando pega seu alvo pelas costas. — Acha que eu não conheço você? E sua fama como Garra de Ferro?

— Olha! Eu estou realmente impressionado que você saiba quem eu sou sem nunca ter feito nenhum trabalho pra vocês!

— Nossa Guilda não é só famosa pelos nossos grandes trabalhos. Também temos informações de muitas Guildas e de Reinos. Informações secretas de pessoas ou famílias. Tudo o que possa vir a nos beneficiar no futuro. É óbvio que saberíamos um pouco de alguém com um "Título Único" que anda pelo mundo todo fazendo alguns trabalhos para Guildas oficiais e que tem uma forte ligação com esse reino.

— Então quer dizer que você já tem uma vantagem contra mim. Mas não ache que isso vai ser o suficiente pra me derrotar!

— LUTADORES! EM POSIÇÃO!

Os dois enrijeceram os músculos e o olhar deles ficou ainda mais penetrante. White desembainhou a espada reta que mantinha adormecida em sua cintura, ao mesmo tempo em que levantou o escudo se posicionando em uma pose de combate defensiva. Mumu já tinha se preparado muito antes. Quando ele colocou os pés no ringue, ele já estava com duas esferas de ferro nas mãos. Assim que o Apresentador desse início ao combate, ele iria avançar.

— PRIMEIRA LUTA! COMECEM!!!

— TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESPADA E ESCUDO!

O mago separou uma esfera em cada mão e transformou as duas ao mesmo tempo, fazendo o público ir ao delírio. Ele também gostaria de começar na defensiva, pois não tinha nenhuma estratégia para lutar contra um oponente que nunca viu na vida.

White era um paladino famoso em todo o mundo por liderar essa guilda com uma quase perfeição. Ele teria todo o cuidado nessa luta para que não saísse ferido desnecessariamente. Mas Mulkior também sabia que isso significava um tipo de "chance". Ninguém pode ficar na defesa para sempre.

Foi por isso que o primeiro a atacar foi o mago de ferro. Ele partiu para cima dando um corte vertical vindo de cima, mirando o meio da armadura de White. O golpe inicial foi defendido pelo grosso escudo do paladino, que não fez muito esforço para jogar todo o peso do golpe para o lado. O barulho do primeiro impacto já conseguiu mexer com o coração de muitas pessoas, tanto na plateia quanto nos participantes.

Mumu puxou o braço rapidamente e atacou do mesmo jeito, só que agora em maior velocidade. Mesmo assim, ele ficou sem sorte. A velocidade média dos dois era magnífica. Mumu deu um passo para a frente e tentou acertar o braço direito do oponente. White dobra o braço e defende o golpe utilizando a própria espada.

Depois o mago recua de novo. Pegou mais impulso ainda e atacou White com uma série de cinco golpes consecutivos com a espada, todos de ponta. Nenhum deles foi efetivo. White defendeu todos enquanto dava leves passos para trás, diminuindo a força de impacto dos ataques. Eram dois lutadores de curta distância. Seria uma batalha interessante... Isso se White não decidisse agir também.

— CRUZ SAGRADA!

O paladino vestido de branco colocou um pouco de sua energia mágica na lâmina de sua espada e depois a movimentou duas vezes: um corte vertical e depois um horizontal. Os cortes se transformaram em uma cruz de energia que era tão reluzente que quase cegou Mumu.

Mas essa não era a preocupação dele. O mago levantou o escudo e a cruz de energia bateu com tudo nele, fazendo o metal gritar. E depois veio o impulso. Mulkior teve que fazer força no braço esquerdo para que o golpe não passasse por sua defesa, mas mesmo mantendo-se firme, ele tinha sido empurrado por mais ou menos quatro metros.

E a galera vibra.

— Seus ataques são bem planejados, Mulkior. Mas você não tem força.

White não deixou Mulkior pensar em uma resposta. Se é que ele precisava de uma. O paladino avançou contra Mumu que ainda estava desbalanceado por causa do golpe anterior. White levou a espada para cima e deu um corte vertical de descida. O mago de ferro não ia conseguia defender daquele ângulo, então pulou para o lado e rolou contra o chão duro.

O Líder da White Lotus parou o seu próprio golpe antes que a espada tivesse chego ao chão, poupando-o tempo. Ele se vira e corre na direção do oponente fugitivo, aplicando-lhe outros dois cortes rápidos. Mumu defendeu um com o escudo e outro com a carne. O segundo golpe tinha lhe cortado levemente o rosto. Foi perigoso o suficiente para Mumu fazer algo que fizesse o oponente se afastar.

— TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - ESPADA BASTARDA!

Mulkior juntou o escudo com a espada e usou energia mágica para transmutar os dois em uma arma mais poderosa. A Espada Bastarda dele se tratava de uma espada gigante, pesada e muito, muito poderosa.

White desistiu de avançar no mesmo segundo que viu o tamanho da lâmina daquilo. Mumu segurou a arma com as duas mãos e, vendo que seu oponente estava em uma distância perfeita, deu um ataque horizontal com a espada. A resistência do vento foi quebrada pela força destrutiva da arma. White colocou seu escudo em frente ao corpo e se preparou para o golpe.

E então aconteceu o mesmo com Mumu. O barulho dos metais se chocando ecoou no ouvido de cada pessoa dentro do Coliseu. A força aplicada foi tanta que o paladino foi jogado longe, caindo de costas no chão. E mais uma vez, o público vai ao delírio.

— QUEM É QUE NÃO TEM FORÇA, WHITE!!!???

O grito do membro da Immortal Star foi muito bem recebido. As pessoas começaram a gritar o nome dele, que até agora não sabiam ou não faziam sequer questão de saber. Para a maioria, o time do mago de ferro era só um timezinho que seria esmagado logo de início. Sempre existem aqueles times mal feitos, que não conseguem ter a menor chance de vitória. Mas esse não estava incluído nessa descrição. Só que o público ainda estava para descobrir isso.

White se levantou, tossindo. Ele não esperava a súbita mudança do seu oponente. Ele já estava ciente que o poder de Mulkior era transformar metais, mas não sabia que ele mudava de característica quando suas armas se transformavam. Ele precisava adicionar isso nas informações da Guilda logo que saísse desse combate. Sem mais tempo para pensar no depois. Ele precisava se focar no agora.

Mumu pulou e veio com tudo pra cima dele com um golpe na vertical. White não defendeu dessa vez. Ele girou o corpo e a espada gigante bateu com tudo no chão, fazendo mais barulho. Por mais incrível que seja a força física do mago, o golpe aplicado não tinha quebrado o chão totalmente. Isso só mostrava o quanto aquele ringue era magicamente reforçado.

O paladino da guilda famosa girou o corpo novamente e tentou acertar a cabeça do seu oponente, mas esse mesmo oponente se abaixou, deixando a espada passar raspando em seu cabelo curto. Mesmo naquela posição, Mumu puxou a espada pesada, fazendo faíscas no chão de pedra, e atacou o paladino. Agora White não conseguiria virar o corpo, então ele levantou o escudo novamente para se defender.

Outro impacto pesado aconteceu. Barulho de ferro com ferro. E lá se foi White, voando, caindo e rolando no chão. Mesmo um pouco tonto, ele volta a ficar em pé quase que imediatamente. Ele fez o certo. Seu oponente já estava correndo em sua direção, pronto para atacar de novo. O garoto não estava para brincadeiras. E nem ele. O paladino já tinha entendido o recado. Mumu não era um oponente qualquer. Se ele não levasse a sério, sua vida estaria em perigo.

— CRUZ SACRIFICIAL!

White concentrou uma grande quantidade de energia espiritual nessa magia. Enquanto se concentrava, todo o seu corpo tinha ficado com uma aura forte e branca. Como toda a sua vestimenta partilhava da mesma cor, sua aura ficou quase invisível.

Mas Mulkior sabia que vinha perigo. Sua arma pesada podia ser poderosa, mas tinha a desvantagem de ser quase que impossível de ser parada depois que o movimento inicial de ataque fosse usado. Inicialmente, isso não parece uma desvantagem. Atacar com força total e fazer o inimigo se despedaçar com o impacto sempre soou interessante. Agora quando você está sendo empurrado pelo peso de sua própria arma para uma piscina de lava, você acaba descobrindo que nem tudo na vida é divertido.

White bateu com a ponta de sua espada no chão e transmitiu toda a sua energia pra lá. Mumu estava a menos de dois metros. E bem embaixo dos dois, uma cruz gigantesca de energia apareceu. No segundo seguinte, ela "ligou" e o mago sentiu um tipo de choque elétrico passando por todo o seu corpo. A dor era imensa e o choque impedia que ele abrisse a boca. Mas acredite, ele estava gritando desesperadamente por dentro. Ele ainda olhou para o adversário, e viu que ele também levava o choque... Mas então porque ele estava sorrindo?

Mumu largou a espada gigante no chão e ela logo desapareceu, voltando a ser duas pequenas bolinhas de metal. A magia foi desfeita logo em seguida. O mago caiu de joelhos no chão e vomitou sangue e saliva. Sentiu tontura e a consciência começou a sumir. White respirava profundamente e estava preste a ficar de joelhos também, mas resistiu e manteve a superioridade. Ele não podia cair também agora que o público gritava vivas.

— Um golpe espetacular. Perigoso, mas poderoso. — dizia o Comentarista do torneio. — Ele usa parte de sua força vital para aumentar o poder da magia, que por si só já pareceu bem poderosa. Claro que isso afeta um pouco o usuário, mas com o devido cuidado, você pode derrotar o inimigo antes de sofrer qualquer dano letal.

White ficou impressionado com o comentário. Era exatamente aquilo. Era uma magia realmente perigosa e ele só usava em duelos onde ele tem CERTEZA que sairá vitorioso ou em batalhas onde existem outros camaradas seus o protegendo. Fazia tempo desde a última vez que ele tinha usado. Mas o tempo não diminuiu o poder.

Mumu continuava no chão, paralisado com o dano súbito. Ele não teria mais chances. Era hora de encerrar a luta. O paladino respirou fundo e apertou o cabo da espada. Seria o golpe final. Ele deu dois passos e levantou a espada.

SERIA o golpe final se Mulkior não tivesse se jogado para o lado, em direção a uma das esferas de ferro que não tinham rolado para longe. White errou o golpe por muito pouco, perdendo o balanço do corpo e ficando com a guarda aberta. Ele não esperava que Mumu se recuperasse daquilo tão rápido. O mago alcançou a esfera e, logo depois de colocar um pouco de energia mágica nela, a atirou em direção a cabeça de White.

— TIRO DE METAL - LANÇA!

No meio do caminho, a pequena bolotinha de ferro logo ganhou forma, se transformando em uma lança de ponta afiada. Esquivar era impossível e White sabia muito bem disso. Mas ele já tinha passado por inúmeros combates em curta distância. Não era agora que ele iria fraquejar.

Então ele virou um pouco o corpo para a direita e levantou o escudo contra a lança. Para sua própria sorte, ele tinha conseguido fazer isso antes da lança atravessar seu crânio. O impactou gerou um barulho de ferro nem tão alto, mas o braço em que White segurava o escudo tinha ido para cima e para trás. Mas o golpe foi defendido, pelo menos.

O problema era que Mumu não estava mais no chão. Quando o paladino olhou para frente, viu que o seu adversário estava encostado, literalmente falando, em sua armadura. Mulkior estava com a palma de sua mão direita no peito da armadura de White, e parecia que ele estava esperando o próprio White olhar para frente.

O golpe anterior era uma finta. O verdadeiro viria agora. Mumu concentrou energia na palma da mão e toda a armadura corporal do paladino brilhou.

— TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

E foi como tirar um peso das costas. Só que muito pior que isso. A armadura branca e majestosa de White tinha sumido em um piscar de olhos. Uma hora estava lá, outra hora não. Não teve brilhos de efeito e nenhum barulho sequer. "Puff".

White se sentiu mais leve imediatamente, mas isso não era necessariamente bom. Ele estava desprotegido. E Mumu estava com uma grande esfera branca na mão e com um sorriso irritante no rosto. Isso não acabaria assim.

O paladino se irritou e em vez de recuar e analisar melhor sua situação, decidiu partir para cima. Ele balançou a espada três vezes, todos com golpes horizontais. Mumu se esquivou do primeiro, levou o segundo corte que raspou sua armadura do peito, e se esquivou de novo no último golpe. White se irritou ainda mais e colocou uma certa quantidade de energia em seu escudo e depois:

— ESCUDO MAJESTOSO!

O escudo branco dele conseguiu ficar ainda mais branco quando mostrou um tremendo brilho ofuscante. Cegar não era o objetivo. Bater era. Ele virou o braço e bateu com tudo em Mumu, que tentou defender o golpe com as mãos nuas. No momento em que White o viu levantando as mãos para se defender, o cenário já estava previsível. Mumu nunca conseguiria se defender de um golpe direto com as mãos nuas... E essa nem era a ideia dele!

— TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Mais uma vez, Mulkior esperou ele tocar a palma no metal do escudo do oponente e, quando isso aconteceu, ele concentrou rapidamente sua energia e transformou o escudo de White e outra bolinha de ferro, que rolou pelo chão.

A expressão de incompreensão de White foi memorável. Mumu não tinha saído ileso dessa. Ele recebeu o inicio de impacto do escudo em suas palmas, e agora a dor estava fazendo suas mãos latejarem. Mas não importava. Agora o seu oponente estava sem nenhuma chance de defesa. E ainda lhe restava energias para continuar.

Mulkior estava com dor no corpo inteiro e a simples ação de "andar" lhe fazia querer desistir. Sua respiração chegava a falhar em alguns pontos. Só que não era hora de desistir. Havia algo mais importante do que vencer. Foi quando ele olhou para trás e viu Kuchiki, com as mãos juntas ao peito e olhando para ele com esperança. Era impossível ele parar ali. Ele não iria. Não era assim que ele queria que sua parceira olhasse para ele.

— Já chega, White! Você já deve ter entendido o meu poder. Não importa qual tipo de metal que exista, eu posso transmutá-lo livremente. Você está sem defesas! Desista dessa luta!

— Você está confiante demais, Mulkior. — White respondeu dando um leve sorriso. — Eu ainda estou com minha espada. Então não, não acabou nada ainda.

— Cabeça dura até o fim... Eu vou te mostrar o porque de eu estar tão confiante! — Mumu ainda segurava a esfera branca que era pra ser a armadura de White, mas ele ainda levou a mão em sua bolsa e retirou mais uma de suas esferas. Com aquelas duas ele já conseguiria fazer o que andou pensando. — TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - ESPADA-CHICOTE!

As duas esferas brilharam intensamente e logo começaram a ganhar forma. Era algo grande e comprido. A luz crescia ao mesmo tempo em que aquela transformação aumentava. Era algo que já estava chegando ao chão, e mesmo assim, não parava de crescer. White deu dois passos para trás e ergueu a espada em sua frente. Ele só podia contar com ela agora.

E daí a nova arma de Mulkior havia parado de crescer e finalmente tinha tomado forma. Era um chicote bem comprido. Mas ao invés de só ter a costumeira corda, dezenas de pequenas lâminas estavam acopladas nela. Era uma Espada-Chicote, uma arma muito rara usada somente no "Templo Juai-Higong", uma academia de artes marciais muito ao nordeste. Muitas pessoas ficaram realmente impressionadas com a visão de uma arma tão estranha. Isso incluía White.

Mumu viu que o seu oponente tinha dado mais um passo para trás, o que provava que ele tinha ficado totalmente na defensiva e tinha perdido o espírito de ataque por estar vendo uma arma estranha. Não dava pra culpá-lo: isso era uma estratégia básica. Primeiro você entende como o seu inimigo vai atacar, depois você toma medidas para contra-atacar. Só existia uma única exceção: isso não funcionava com a espada-chicote.

O mago de ferro fez todo aquele peso se levantar, girando o chicote no ar e logo em seguida, movimentando ele com uma braçada para a esquerda, fazendo a arma voar em direção de White. Esse, por sua vez, pulou para o lado e evitou que aquele peso inteiro batesse contra ele. A arma chicoteou o chão, levantando poeira. O barulho do impacto foi o suficiente para o Líder da White Lotus saber que se aquilo lhe atingisse, não sobraria ossos inteiros.

Foi sabendo disso que seu oponente continuou o ataque. Mumu movimentava o chicote com um tipo de uma dança, fazendo ataques não ritmados, para fazer com que o inimigo não conseguisse avançar. Estava adiantando. White estava recuando e correndo ao redor do ringue, se esquivando dos golpes por pouco. Outro problema de se enfrentar essa arma era que quase não havia meios de se contra-atacá-la. O jeito era pegar o manipulador e acabar com isso de vez. Era isso!

White derrapou um pouco no ringue e parou de recuar. Ele precisava ir para cima. Era a chave para se derrotar essa arma. Então ele correu.

Mulkior poderia ser chamado de lesado em assuntos cotidianos... Mas não para combates. Ele já havia treinado o suficiente com todas as armas que ele manipula. E ele sabia que o ponto fraco dessa que estava em suas mãos nesse momento, era a de ser ruim contra investidas. E White estava fazendo isso muito bem.

Então o mago de ferro precisava tomar as medidas necessárias. Mumu deu um pulo para trás e fez movimentos circulares com o braço, fazendo sua arma girar em sua frente. Isso acarretou em uma série de ondas de ataques contra White, que não teve escolha a não ser receber e continuar avançando.

O paladino tinha muita coragem. Ele levou quatro cortes no corpo, mas não parou de avançar. Então Mumu mandou toda a espada-chicote ficar em volta dele, como uma cobra pronta pra esmagar sua presa. White percebeu isso e deu um pulo para o lado.

Mesmo assim, o mago não parou o ataque. E ele foi rápido o suficiente para pegar pelo menos a espada do inimigo. O paladino, respirando rápido para recuperar o fôlego, puxou com toda a força que tinha, mas não surtiu efeito. Mumu concentrou mais um pouco de energia mágica e disse para si mesmo "Check Mate".

— TRANSFORMAÇÃO REVERSA!

Mulkior apertou o cabo de sua arma e foi fazendo tudo reversamente. Toda a extensão do chicote foi brilhando e se transformando novamente em esferas. No fim, aquela arma tinha se transformado em três de suas costumeiras bolotinhas cinzas. Ele tinha usado só duas para transformar a primeira vez porque a esfera da armadura de White era muito maior. Mas não parou por aqui.

A ideia de Mumu não era ficar desarmado, e sim, desarmar o oponente. Logo quando sua arma virou esferas, a espada de White também tinha sumido de sua mão e caído no chão, bem em cima do seu pé, como uma pequena e redonda bolinha de ferro. White ficou sem reação. Ele ficou olhando para baixo, vendo aquela esfera rodar para o lado como se estivesse viva. E depois ele olhou para frente, vendo seu inimigo se aproximar com passos curtos e respirando rapidamente. Não tinha mais o que ser feito.

— Entendeu agora, White? Você é um grande guerreiro, mas sem um escudo e uma armadura, um Paladino não pode proteger ninguém.

— Bom, não sou nenhum idiota. — responde o paladino, levantando o braço direito. — Eu me rendo. Não tenho como continuar essa luta.

— E se encerra a primeira batalha! — disse Pablo, animadamente. Sua voz foi seguida por um som de uma corneta, demonstrando o fim do combate. — A Immortal Star sai na frente com a primeira vitória no Coliseu dos Deuses!

E a galera vai ao delírio... De novo. Os berros eram altos demais para serem verdadeiros. Mumu estava no centro do ringue e sentiu aquela energia vinda dos vivas da plateia. Era como se estar no topo do mundo, seja lá onde fosse isso. Ele teve o gosto da vitoria. Uma vitoria obtida na maior arena do mundo, com a maior quantidade de pessoas assistindo ao mesmo tempo. Assistindo e gritando por seu nome. MULKIOR! MULKIOR! MULKIOR! Ele quase gritou junto para acompanhar o coro.

White saia do ringue silenciosamente, mas não com a cabeça abaixada. Ele era o Líder de uma Guilda mundialmente conhecida. Ele não PODIA se dar ao luxo de baixar a cabeça nem aqui e nenhum outro lugar. Era assim que um Líder deveria ser. Mulkior sentiu um grande respeito por White, mesmo que uns segundos atrás eles estavam tentando se matar no ringue. Mas não era pessoal. Ele poderia respeitar quem ele quisesse.

E daí veio a dor. Mulkior se virou e caminhou, muito lentamente, até o lado da arena onde seus companheiros o esperavam. Ele juntou três esferas de ferro no caminho, tendo uma enorme dificuldade para se levantar logo depois que se abaixava para pegar uma esfera.

A dor estava corroendo seu corpo. Aquele golpe mais cedo tinha pegado em cheio. Era um golpe que atingiu o corpo por dentro, então a sua armadura foi totalmente inútil aquele momento. Quando ele chegou na borda do ringue, ele ficou tonto e escorregou, indo direto ao chão. San foi mais rápido do que sua queda e o pegou no caminho.

— Boa luta, Mulkior. — disse ele, levando-o para o canto da arena, longe do ringue.

— Parabéns, você foi ótimo. — disse Mana.

— Foi perfeito, Mumu! Você conseguiu derrotar o Líder deles logo na primeira luta! — dizia Kuchiki, com uma empolgação semi-igual. — Agora eles vão pensar duas vezes antes de virem contra nós com corpo mole!

— Hehehe... — Mumu tentou rir, mas até isso fazia ele sentir dor. — Não foi... Grande coisa...

— Claro que foi! Você fez ele desistir enquanto todo mundo jurava que ele iria ganhar! — respondeu a ainda empolgada parceira.

— Kuchi, deixe ele descansar. — falou Mana, colocando uma mão no ombro da Maga de Fogo. — Ele recebeu um golpe e tanto na luta e deve estar sentindo um cansaço tremendo agora.

Kula mordeu o lábio inferior logo em seguida. Mana tinha razão. Ela olhou para Mumu, que continuava sorridente, mesmo com aqueles ferimentos. O garoto fechou os olhos por uns segundos e tentou lutar contra a dor. Não era nada de tão terrível. Ele já tinha sofrido coisas piores.

— Além disso, você não tem muito tempo pra se preocupar com ele.

Foi San que disse aquilo. Kuchiki se virou para o companheiro e viu que ele apontava para longe. A maga acompanhou o dedo indicador de San e viu que ele apontava para o telão, que já tinha feito a roleta novamente.

Foi muito rápido. Kuchi que não estava prestando atenção, mas logo depois que Mumu vinha andando para fora do ringue, o Apresentador começou a gritar e explicar sobre como aquela vitória era inesperada. Falava em como era uma súbita mudança de eventos e que parecia que o time de Mulkior não poderia ser levado na brincadeira. Daí ele falou que o show não poderia parar e a roleta tinha voltado a funcionar.

Mas agora tinha um pequeno diferencial no Telão. Em cima, eram demonstrado os nomes dos dois times e um número ao lado deles. Agora estava mostrando "Immortal Star - 1" e "White Lotus - 0". Era o placar, óbvio. E mais uma vez, os dois retratos que ficavam logo abaixo dos nomes foram mudando rapidamente, até parar. Enfim mostrou os dois próximos participantes a entrarem no ringue.

O público gritou mais uma vez. Mas dessa vez, foi um pouco diferente. Enquanto que na luta anterior só dava para se ouvir o pessoal gritando "WHITE! WHITE! WHITE!", nessa vez os nomes dos dois eram ouvidos. E esses nomes eram:

— A segunda partida será entre "Kula da Immortal Star" contra "Blanc da White Lotus"! Participantes, ao ringue!

Kuchiki engoliu toda a saliva que tinha acumulada em sua garganta naquele momento. Era o nome dela. Era a vez dela. Ela já estava preparada mentalmente para estar ali... Mas ver seu nome no telão a deixou com um pé atrás. E o público! Algumas pessoas gritavam por seu nome. Ela não era tão famosa assim, então aquilo só mostrava que a divisão de torcida já estava começando a acontecer. E era a sua vez agora, parecia até difícil de acreditar.

A garota olhou novamente para Mumu. Ele estava sorrindo. De novo aquilo! O coração da maga bateu rápido e ela sentiu uma terrível vergonha. Mumu não falou nada. Ele não conseguia falar. Mas ele fez algo. Algo que pra ela, foi o suficiente para ela engolir todo o resto de medo que ela tinha armazenado em sua mente. Ele levantou o polegar direito dele. Era a aprovação dele. Era o "boa sorte" dele. Era o "Vai lá e mostra pra eles".

E ela foi.