Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 6
Prelúdio da Dificuldade


Notas iniciais do capítulo

E é aqui onde os quatro Mercenários de lugares (e com objetivos) distintos se encontram pela primeira vez.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/622033/chapter/6

As peças começaram a se unificar, não acha? Mas não foi assim de um dia para o outro. Mulkior Musubi teve a ideia inicial para criar uma Guilda, mas você não tem nem ideia do que ele teve que passar para conseguir isso. Na verdade, a "criação" da Guilda em si trás tantas reviravoltas, que TODAS as próximas sequências de acontecimentos que eu devo te contar são de extrema importância, mais do que apenas apresentar os quatro primeiros personagens dessa minha história.

O que eu vou precisar te explicar agora é sobre um fato que também não pode ser deixado de lado. Provavelmente você já deve estar familiarizado com as Nações que temos hoje em dia. Mas naquela época, as coisas eram um pouco diferentes. Eu disse que essa Guerra mudou todo o mundo, e "isso" foi a alteração mais grave que os reinos sofreram.

Em um mundo repleto de Guerras e batalhas territoriais, era de se esperar que muitas cidades e reinos se juntassem para que pudessem ter mais chances de vitória, certo? Mentira. Eles se juntavam para ter maior chance de SOBREVIVÊNCIA. Muitos não tinham medo algum de perder, mas todos tinham medo de morrer.

A maioria dos soldados de exércitos reais sempre se perguntavam se era pior morrer por uma causa justa de seu Rei ou morrer nas garras dos monstros ferozes, protegendo a cidade. Nenhuma das opções se tornava assunto de longa conversa das pessoas. Conversar sobre o que pode te matar era loucura.

Era por isso que existiam as grandes "Alianças" entre os reinos. Já ouviu falar nelas? Essas alianças criavam esperanças para todo o povo não só porque eles se sentiam mais seguros em ter mais de um exército os protegendo, mas sim, que era menos um possível inimigo para eles combaterem.

As alianças não serviam só para os propósitos militares dos reinos. Eles também aumentavam a diplomacia entre os nobres, estabelecendo vínculos profundos de paz entre famílias por inúmeros anos. Além do próprio comércio se tornar mais movimentado, gerando melhores condições de vida para a população graças a preços reduzidos e criando muito mais empregos nessa área. Morar em uma cidade que está em aliança com uma outra cidade era muito vantajoso. Mas assim como tudo o que é bom demais se torna caro... Bom, você entendeu.

Existem centenas de pequenas ou grandes alianças entre reinos e cidades e até mesmo vilas. Mas nada se comparava com o "Triângulo do Universo". Isso se trata única e exclusivamente das três maiores e mais poderosas alianças já criadas nos últimos duzentos anos. Era fácil de se identificar as três e elas eram conhecidas pelo mundo inteiro, não importando se você vivia em uma cidade muito ao longe ou uma vila pequena. Era como um "Título Único" para os Reinos.

A primeira das alianças se chama "Aliança da Lua Escarlate". Era uma aliança das cinco maiores cidades do Oeste. Essa parte do mundo era famosa por criar os melhores artefatos mágicos do mundo, e dentro dessa aliança, estavam três reinos focados especialmente nisso. No centro desses reinos, estava a grande Capital de Prover e sua Academia Arcana Richiktenford.

Muito a Leste, estava a segunda aliança parte do Triângulo do Universo: a "Aliança dos Reinos de Platina". Essa era a aliança com a maior quantidade de cidades envolvidas. Aqui, a grande moral era o comércio de alimentos e minérios em geral. No controle dela estava Lazetna, a cidade que não parava de crescer. Lembra quem era dessa cidade? Pois é.

E por fim, no centro do mundo, envolvendo oito reinos com povos muito diferentes entre eles, estava a "Aliança das Lâminas do Julgamento". Teoricamente, essa aliança tinha tudo o que as outras duas tinham, mas com a exceção de que o foco daqui era o poderio militar. E o reino mais poderoso, controlador de todos os reinos aliados e com a maior capital do mundo, era Riven.

Ao longo da minha história, você vai ouvir muito sobre essas tais Alianças e muitas outras, principalmente quando ouvir sobre as Alianças de Guilda. Mas não precisamos ter pressa. Está na hora de voltar para a parte interessante.

Vamos ver o dia em que os quatro personagens que eu lhe contei se conheceram. Foi um dia muito especial e cheio de surpresas. Sei de todos os detalhes como se fosse um deles. Foi em Riven mesmo. Exatamente nesse local — a Capital — em que Kuchiki e Mumu tinham acabado de chegar de sua longa viagem.

~~~~~~~~~~~~xXx~~~~~~~~~~~~

Dizer que a Capital de Riven era grande parecia piada. Ela era colossal. Desde os enormes muros que rodeavam toda a cidade até os prédios e casas ao longo das estradas. Tudo era grande. A menor mercearia faria você perder mais de uma hora dentro dela para poder ver todos os produtos. As lojas de armas eram tão grandes e bem enfeitadas, que muita gente nem entrava pela óbvia sensação de que não conseguiriam nem pagar por uma reles faca de combate.

E quem poderia dizer algo das lojas de roupas e de bijuterias? As vitrines dessas lojas deixavam as mulheres presas nos manequins por um bom tempo, babando para poder experimentar pelo menos uma daquelas peças de vestido ou colocar um daqueles brincos de ouro que não paravam de brilhar.

Era exatamente assim que Kula Chikigane estava se sentindo nesse exato momento. Ela nunca tinha vindo aqui, mas obviamente já tinha ouvido os boatos sobre cada esquina dessa cidade. Os boatos não eram falsos. Seus olhos não paravam de correr nem sequer um segundo pelas vitrines bem limpas, enquanto se esquivava do povo que circulava pelas ruas.

E era gente! A quantidade de pessoas que andavam pela parte comercial da cidade naquela hora — era início da tarde — era surpreendente. Eles tinham que entrar em um tipo de fila só para poderem continuar andando. Pessoas de todos os lugares vinham pra cá desfrutar o que se tem de melhor no... Mundo todo. Não era exagero.

Além das lojas serem gigantes, essa cidade tinha de tudo. Bares que eram especializados em licores só servidos em uma única cidade no mundo todo, restaurantes com comidas típicas dos quatro cantos do mundo, ferreiros habilidosos que vinham até aqui para fazer carreira com seus designes únicos, costureiras com grandes sonhos de ter uma loja própria só com suas próprias criações... Tudo.

Ah! E as Guildas, claro. Só nessa Capital, era possível encontrar incríveis sete guildas diferentes, onde quatro delas, se tratava de suas Matrizes. Para se ter uma Guilda aqui, era estritamente necessário que você fosse reconhecido mundialmente. Não só pelo respeito que você precisava ter, mas sim, por causa da larga quantidade de dinheiro que teria que desembolsar para criar sequer uma filial aqui.

Enquanto a maga estava boquiaberta com cada loja que passava, Mulkior andava tranquilamente sem nem olhar para os lados. Não era a cidade natal dele, mas como sua família fazia parte da realeza, ele já veio nessa cidade inúmeras vezes. Inclusive uma das lojas de armamento pesado que existiam aqui nessa cidade era da Família Musubi. Mumu queria ir visitar a loja e dar um "oi" para sua família, mas precisava se apressar para o Coliseu.

Ah sim, esse lugar também merecia atenção. O Coliseu dos Deuses era a segunda maior construção da Capital, perdendo só para o próprio Castelo Real que sozinho, abrigava o povo de uma cidade inteira. Não tinha como NÃO ver o Coliseu se você estava em qualquer parte da cidade... A não ser que fosse realmente cego ou estivesse atrás dos grandes prédios.

A construção redonda era simplesmente gigantesca, tanto em largura quanto em altura. Era feito de pedras alisadas e pintadas de branco, criando uma obra de arte sem precedentes. Por fora, já era possível se espantar com a estrutura. Era grande e bonito, e todo mundo que passava por perto dela se sentia com a adrenalina alta.

Não era de se espantar, na verdade. Era aqui que eram travados os maiores combates da história do mundo. Gladiadores se sentiam honrados somente por pisar no chão lá dentro. Os maiores torneios e demonstrações de técnicas e magias também eram regidos aqui, sempre com um público mais que gigantesco.

Kuchiki estava olhando essa enorme construção e pensando como seria ter que lutar em frente a milhares de pessoas que torciam com tudo o que tinham. Ela perguntou para Mumu se ele já tinha lutado ali, e ele respondeu negativamente.

— Eu nem sequer ENTREI aí, para falar a verdade. — respondeu ele, olhando para cima. — Eu estava me perguntando como deve ser lutar no estádio de luta mais famoso do mundo.

— Eu estava pensando a mesma coisa. E olha toda essa gente! Será que todos estão aqui pelo mesmo motivo que a gente?

A garota se referia ao amontoado de pessoas que estava ali naquela parte. O Coliseu tinha quatro grandes entradas. As entradas da esquerda, direita e a de baixo — isso se visto a estrutura com visão aérea, claro — eram dos visitantes e torcedores. Todas essas três entradas levavam para as arquibancadas espalhadas em círculo ao redor interior do Coliseu. E a quarta entrada, que ficava em cima, era exclusiva dos participantes dos combates, times médicos, os suportes e todo o pessoal que trabalhava dentro do Coliseu. Por esse mesmo motivo, nessa parte da entrada, ainda fora do Coliseu, era sempre forrada de lutadores.

Mumu e Kuchiki estavam se impressionando com a quantidade de pessoas com diferentes cores, vestimentas e armas. Alguns carregavam bandeiras de seus reinos ou guildas, outros eram mais mal encarados e andavam sozinhos. Outros conversavam mais alegremente, enquanto uns só andavam sem um rumo específico, passando pelos outros lutadores.

Alguns analisavam suas chances de vitória se enfrentassem tal pessoa em uma luta direta. Um deles era Mulkior. Ele reconhecia bons guerreiros só de olhar para eles. Isso quando não reconhecia as pessoas imediatamente. Ele mordeu o lábio inferior quando viu duas guildas poderosas indo até a entrada do Coliseu para se inscrever.

Ah sim, e isso era uma das partes mais importantes daquela área: A Recepção dos Combatentes. Bem do lado direito da grande entrada, existia um balcão grande o suficiente para duas pessoas, acoplada no próprio Coliseu. Duas mulheres vestindo trajes iguais faziam as inscrições e passavam as regras sobre os torneios, sempre que necessário. Elas também estavam ali para tirar qualquer dúvida dos guerreiros, além de passar horários e todas as informações sobre o Coliseu em si.

Hoje, essas duas mulheres estavam com trabalho atolado. Estava difícil atender tanta gente ao mesmo tempo, e o pior de tudo, é que não tinham ninguém que pudesse ajudar organizando as filas de antemão.

— Boa tarde. — disse Mumu, quando tinha chegado sua vez, depois de esperar mais de quinze minutos na fila ao lado de sua parceira. — Eu gostaria de me inscrever no Torneio de hoje, por favor.

— Mas é claro senhor. Quais são os membros da sua equipe? — disse a recepcionista loira, com um crachá em seu peito indicando que seu nome era Juli. Por mais que ela estivesse com trabalho demais, a atendente continuava sorrindo e tratando todos pacientemente, como uma verdadeira profissional.

— Ahm... Equipe?

— Sim senhor. É necessário uma equipe de exatamente quatro integrantes para participar do Torneio dessa semana.

— Espera um pouco... Quatro? Eu nunca ouvi falar de um torneio de equipes feito aqui!

— Certamente que não senhor. Esse Torneio é inédito. Vai ser a primeira vez na história do Coliseu que haverá um evento de tamanha diferença.

Mumu olhou para Kuchiki, que lhe retribuiu um olhar inquisitivo. Se Mumu nunca tinha ouvido falar de tal regra, imagine ela? Mas mais importante que isso... E agora? O mago não fazia a mínima ideia do que fazer naquela situação. Quatro integrantes? Como seria isso? Uma luta de quatro contra quatro não seria tão vantajoso para ele. Ele poderia até se dar bem lutando com Kuchiki, mas não com outros dois membros que provavelmente ficariam na sua frente! O garoto engoliu saliva e tentou respirar fundo. Se desesperar agora não iria ajudar.

— Até que horas vai a inscrição? — perguntou ele para a recepcionista, o mais calmo que pode.

— Até as quatro da tarde, senhor. Uma hora depois disso, se iniciará a primeira fase do torneio.

— Obrigado, eu volto depois então.

Kula seguiu seu novo parceiro para um canto longe da fila de inscrição. Ela tinha ouvido tudo e não sabia o que Mumu estava pensando. Ela também não podia acreditar nisso. Claro, desde que vieram pra cá, Mulkior veio explicando como eles ganhariam mais dinheiro para construir uma guilda. Eles precisariam ganhar esse torneio, que tinha a maior recompensa de todos os eventos do mundo, para poderem criar fama e ter dinheiro o suficiente para construir uma base. A ideia era muito boa e por isso, a garota se empolgou em lutar também. Se fosse ele ou ela que ganhasse no final, não importava. Em dois, eles tinham maiores chances de ganhar.

Mas agora essa. Onde eles achariam mais dois guerreiros para completar o time deles? Ali estava cheio de gente, cheio de guerreiros. Mas seriam fortes o bastante para não levar o time a um buraco sem fundo?

Isso não era tudo. Era necessário levar em consideração de que ninguém iria querer arriscar a vida por duas pessoas que não conhecem. Além disso, nem ela e nem Mumu eram pessoas que confiavam em qualquer um. E o prêmio seria dividido no final, obviamente. Imagine a briga que isso poderia causar? Era perigoso demais. E o mago estava bem ciente disso.

Kuchiki olhou para ele, tentando ver o que ele pensava naquele momento. O garoto estava com a cabeça baixa e com uma das mãos sob o queixo, mostrando que estava pensando. A maga de fogo queria falar com ele. Talvez ouvir a voz do garoto lhe acalmasse a mente. Mas ela decidiu não quebrar a concentração de Mumu. Ele estava com uma expressão séria, então ela ficou só ali do lado dele, também tentando pensar em uma solução viável para a situação. Mas foi aí que tanto os pensamentos dele como os dela foram interrompidos por uma voz masculina.

— Parece que vocês estão com o mesmo problema que a gente.

A dupla perdeu a compostura e se virou para o lado de onde vinha a voz. Mulkior levou um pequeno susto, porque estava tão concentrado em seus próprios pensamentos que não viu a pessoa chegando do seu lado. Não, espere.

Ele olhou para o lado e viu que se tratavam de duas pessoas, sendo um homem e uma mulher. Como? Ele poderia estar perdido em pensamentos, mas isso não significava que ele seria pego desprevenido tão facilmente. Sua percepção era muito afiada. Nunca que alguém conseguiria se aproximar dele assim, sem fazer nenhum som e dar esse susto. E ainda eram dois! Será que o nervosismo dele estava tão forte que seus sentidos estavam começando a ficar alterados? Difícil acreditar.

Ele analisou os dois de novo. Eram sinistros. Não pelas vestimentas. Eram os olhos. E a aura. Os dois cheiravam a sangue e a perigo. Mulkior virou o corpo para ficar de frente pra eles. Ele não sabia o que esses dois queriam, mas a primeira impressão que ele teve não tinha sido positiva.

Kula também tinha levado um susto com a voz há um segundo atrás. Ela estava mais afastada, mas também se virou imediatamente para o lado. Viu um rapaz com o cabelo comprido e uma roupa bem diferente, com um sorriso um pouco sarcástico. Ele tinha algo de diferente, e se ela conseguia sentir só de olhá-lo naquele mesmo instante, então com certeza era coisa grande. A outra pessoa estava ao lado dele. Era uma mulher. Uma mulher bonita. O cabelo, as roupas, e a expressão séria... Não... Aquela roupa e aquele rosto. Não podia ser!

— Mana...? — pergunta Kuchiki, com os olhos arregalados.

— Sim Kuchi, sou eu mesmo. — responde a assassina, mudando sua expressão séria para uma totalmente acolhedora.

Kuchiki correu com os olhos quase em lágrimas e se atirou em Mana, que a abraçou carinhosamente. Foi aí que a maga de fogo começou a chorar. Mumu e San olharam para a cena e ficaram mais perdidos do que flechas em guerras generalizadas. Enquanto San se perguntava porque diabos alguém se atiraria nos braços da Mana com tanta vontade, Mumu se perguntava algo como: "Kuchi?".

Um segundo depois, os dois rapazes se entreolharam, como se um perguntasse para o outro o que estava acontecendo. Vendo que cada um estava com cara de desentendido, eles deram de ombros, sabendo que nem um e nem outro faziam ideia do que estava acontecendo.

— Mana, soube que sua Guilda foi dizimada a poucos dias atrás! Eu fiquei tão preocupada que eu não sabia o que fazer! — diz a garota, depois de controlar um pouco o choro. Sua voz saiu tão rápido que os três ali presentes quase não entenderam.

— E ela foi. — responde Mana, passando o dedo e enxugando uma lágrima que caia do olho direito da maga que continuava abraçada a ela. — Sou uma das poucas sobreviventes que restaram. Outros estão espalhados por algum ponto do mundo e provavelmente já souberam o que houve. Só os que estavam em missão sobreviveram.

— Espera um pouco... — disse Mumu, entrando no meio da conversa. — Mana? A Lâmina Sanguinária da Dead Blade? Eu também soube que a base da Guilda tinha sido queimada com os integrantes dentro!

— A notícia voou absurdamente rápido, como eu imaginei. — disse San, se encostando na parede e cruzando os braços.

— O que aconteceu lá Mana? Você está bem? — pergunta Kuchiki, segurando o choro que não queria cessar.

— Fomos traídos pelo nosso próprio Rei. Houve um desentendimento com outro Reino e o nosso Rei, temendo que esse Reino nos contratasse para guerrear, decidiu nos eliminar. — Mana explicou e olhou para a cara de Mulkior, que estava fazendo uma expressão bem característica de surpresa. — Então ele envenenou a comida da Guilda e depois colocou fogo no nosso quartel general.

— Isso é... Horrível! Como ele pôde fazer tal coisa? — dizia Mumu, seriamente alterado. Ele já tinha visto muitas traições com as Guildas, mas nunca tinha visto uma tão "mortal".

— Foi mesmo. — continuou Mana. — Ver meus companheiros morrendo sem poder fazer nada me matou por dentro. Mas não se preocupem. Eles já foram vingados.

O mago de ferro não precisou de mais explicações. Ele sabia o que Mana fazia para ganhar a vida e o que a levou ter o Título Único que faz qualquer inimigo seu tremer da cabeça aos pés. Ele nunca tinha a encontrado pessoalmente, mas logo que olhou em seus olhos profundos e expressivos, soube que os boatos sobre ela eram todos verdadeiros.

Kuchiki baixou a cabeça e conseguiu parar de chorar. "Vingados" significava que o mesmo que aconteceu com os companheiros dela, também aconteceu com o traidor. Ela levantou a cabeça e encarou o sorriso meigo da moça mais uma vez. A maga não resistiu e a abraçou mais uma vez, que foi retribuído novamente por Mana. Kula não tinha conseguido dormir direito quando soube da notícia, mas agora que ela sabia que Mana estava ali, sã e salva, conseguia sentir um alívio dentro de seu corpo que era quase inexplicável.

— Então Mana... Não sabia que você era mãe. — disse San, ainda encostado na parede e alargando um pouco mais o sorriso.

— Cale a boca, San! — respondeu Mana imediatamente, sem nem olhar para o seu parceiro folgado.

— Mas como vocês se conheceram? Acho difícil a Kuchiki ter feito algum trabalho para a Dead Blade, já que vocês são... — Mumu parou, pensou, tomou fôlego e disse de novo. — "Eram" uma Guilda sob contratos exclusivos de Guerra.

— Ah sim, eu nunca trabalhei com eles. — começou Kula. — A Mana salvou minha vida enquanto voltava pra casa. Eu estava em uma missão de proteger uma grande fazenda onde muitos bandidos apareciam. Daí uma noite, os bandidos atacaram em bando e eles conseguiram me derrotar por causa da quantidade de gente que eles tinham. Foi bem nessa hora que ela apareceu e começou a atacar um por um, até me dar tempo para recuperar. Daí a gente se juntou e acabou com eles! — os olhos da maga brilhavam enquanto ela contava a história. Pra ela, aquilo parecia ter acontecido ontem e tinha sido a coisa mais legal de sua vida.

— Aqueles bandidos não eram de nada. Você mesma poderia ter acabado com eles se vocês estivessem lutando em uma área mais aberta e mais vantajosa pra você. — complementou Mana.

Aquilo tinha sido o suficiente para convencer Mulkior e San. O mago de ferro tinha conseguido relaxar mais agora que sabia que esses dois que tinham se aproximado deles como se fosse mágica, não eram inimigos. Bom, pelo menos Mana não era...

— E você, quem é? — perguntou Mumu, se virando para San e o encarando.

— Ninguém. — respondeu o garoto de cabelos compridos, sem se mexer.

— O nome dele é San. — respondeu Mana, que já estava começando a perder a paciência com as atitudes infantis do seu parceiro. Por um segundo, ela mesma se perguntou o que estava fazendo com ele ali naquele lugar, mas daí lembrou do prêmio por ganhar o torneio. — Vocês devem conhecê-lo por "Lobo Solitário".

— O quê? O maluco que sozinho, invadiu Koolum só pra roubar uma carta? — perguntou Kuchiki, no segundo depois de finalmente se desvencilhar dos braços de Mana. A garota já tinha ouvido falar nesse cara. Koolum era o nome do principal navio de guerra da Marinha de Zerkron, e era forrado dos melhores marinheiros do reino. Aquilo tinha virado notícia nos quatro cantos do mundo e fez San fugir da perseguição do exército daquele reino por quase trinta dias.

— Não era uma simples carta, Anjo de Fogo. — respondeu San, olhando para a garota que agora fazia uma expressão de surpresa. Ela não imaginava que ele a conhecia. Ou que pelo menos conhecia o seu Título. — O que eu roubei era o Tratado de Paz entre Zerkron e Alamanvite que já estava devidamente assinado pelas duas partes, faltando só o visto de ambos os Reis. Não posso dizer quem era meu cliente, desculpe.

— Você roubou um tratado de paz? Tipo, isso significa que... — a maga pensou um pouco antes de continuar falando. Ela queria ter certeza de que não estaria falando uma besteira das grandes, principalmente porque estava na frente de Mumu e Mana. — Significa que você impediu que uma guerra acabasse!

— Tecnicamente falando, sim. Eu disse que não posso revelar o meu cliente, mas vocês podem imaginar que era alguém que se beneficiaria com a continuação da guerra. Trabalho é trabalho.

— Mesmo assim! — se enfureceu a maga. — Você sabe quantas pessoas poderiam ter sido salvas por esse tratado? Isso foi errado!

— E queimar uma floresta inteira no intuito de matar alguns Lagartos do Pântano não é? — perguntou San, abrindo o sorriso mais uma vez.

— COMO VOCÊ SABE DISSO??? — a maga quase caiu pra trás com o susto. Aquilo tinha acontecido no ano passado, quando ela foi contratada pra eliminar alguns monstros que estavam procurando por um novo lar e decidiram fazer daquele bosque sua nova moradia. A garota foi até o local e eliminou todos os monstros... Mas como a floresta tinha as árvores muito juntas uma à outra, o fogo de sua magia começou a circular as folhagens e a se espalhar que nem um vírus, colocando toda a floresta em chamas. A guilda que a contratou prometeu que não contaria pra ninguém o que tinha acontecido.

— Ah, eu passei lá no dia seguinte do ocorrido. Daí vi a floresta que tinha virado cinzas e fui perguntar para um velho morador das redondezas o que tinha acontecido.

Kuchiki tinha ficado sem palavras. Ela tinha jurado que aquele seria um segredo muito bem guardado. Bom, pelo menos não era culpa da Guilda, que estava cumprindo o prometido. Ela não queria que Mana e principalmente Mumu soubesse disso. Ela baixou a cabeça em um tipo de vergonha, sem ter o que falar.

Mana olhou para os dois, começando por San. Quando ela olhou para Kuchiki e sua cabeça baixada, ela logo entendeu que o garoto não tinha inventado aquela história. Já Mumu fez ao contrário. Ele olhou primeiro pra cabeça baixa de sua companheira, e aquilo o deixou mais nervoso do que a própria garota. Logo em seguida ele olhou expressivamente para San e disse:

— Eu também conheço o seu título. Você é um mercenário que nunca se juntou a nenhuma guilda e só pega trabalho sujo. Dizem que você é caçado por mais de cinco nações inteiras! — disse Mulkior, com vontade. Ele não estava nem aí pra quem era o tal do "Lobo Solitário", mas fazer a sua parceira passar vergonha era algo proibido.

— Bem, alguém precisa fazer os trabalhos sujos, não é Mulkior? — ao contrário de Kula, Mulkior não ficou surpreso pelo fato de San lhe conhecer. — E sim, assassinos sempre serão caçados. — nesse momento, San olhou para Mana, que estava inexpressiva. — E na parte que eu nunca me juntei a nenhuma guilda... Nisso somos parecidos, não é?

Silêncio. Ninguém mais tinha algo para falar depois daquela conversa. Mumu estava nervoso, mas sabia que o que San tinha acabado de dizer era pura verdade. Não importa o lugar, sempre vai ter que existir alguém para fazer o trabalho que ninguém quer fazer.

Kuchiki levantou a cabeça quando San acabou de falar. Assim como Mumu, ela também conhecia bem como esse mundo funcionava, mas mesmo que precisasse existir uma pessoa para fazer as coisas ruins, San não parecia nem um pouco triste ou arrependido de seus próprios trabalhos. Ou isso, ou ele fingia muito bem.

— Estamos perdendo tempo precioso aqui. — disse Mana, quebrando o gelo. — Vamos ao assunto principal que nos trouxe até vocês dois. — Mumu e Kuchiki se viraram para a assassina, dando-lhe total atenção. — Soubemos que vocês dois também estão tentando entrar nesse torneio, correto? — os dois responderam balançando a cabeça positivamente, ao mesmo tempo. — E vocês não tem pessoas para formar uma equipe, não é? — mais uma vez, os dois responderam "sim" da mesma forma. — O que acham de fazer um time com a gente?

Os dois magos se olharam. Era o que eles estavam precisando! Eles não tinham muito mais tempo pois a inscrição tinha horário para terminar. Era quase perfeito! Kula abriu um largo sorriso para seu parceiro, lhe dizendo que apoiava a ideia totalmente. Poder lutar ao lado de Mana novamente seria como ir fazer um passeio com a família.

Já Mulkor não parecia tão contente assim. O seu coração ficou mole quando viu o bonito sorriso do Anjo de Fogo, mas sua decisão lógica não poderia ser mudada por uma simples demonstração de felicidade. Ele precisava se manter firme, mesmo sua mente dizendo para se render àquele sorriso encantador de sua nova parceira.

— Eu não tenho nada contra formar um time com você Mana. Mas agora com esse cara... — diz ele, olhando para o lado e vendo que San não tinha se movido um centímetro sequer desde que chegou.

— San é um panaca completo... Mas é um panaca poderoso. Acreditem se quiser, em combates diretos, ele é mais forte que eu. Eu acho. — agora foi a vez de Mana olhar maleficamente para San, que fez uma cara engraçada e levantou os braços como se tivesse dizendo "Se é o que você diz...". — Não se deixem enganar pelas palavras ou atitudes dele. Ele veio pra esse torneio pra ganhar, assim como vocês. Só não nos registramos ainda porque não sabíamos que esse ano as lutas seriam em equipes de quatro integrantes.

— Me desculpem se eu os irritei de alguma forma, mas o que Mana está dizendo é a mais pura verdade. — começa San, finalmente saindo da parede. — Eu sei que é difícil confiar em alguém estranho, mas eu prometo que vou lutar com tudo que tenho para levar nosso time à vitória. Isso é... Se vocês concordarem em se juntar a nós.

As palavras em um tom forte e decidido eram prova o suficiente para a Kuchiki e Mumu saberem que dessa vez, ele não estava brincando. Deixando as loucuras e brincadeiras de lado, os dois sabiam que o "Lobo Solitário" era alguém conhecido por entrar em inúmeros campos de combate e sair vivo todas as vezes.

Mumu respirou fundo, limpou a mente e se desculpou pela grosseria, que foram imediatamente aceitas pelo garoto cabeludo. Para selar um entendimento, os dois apertaram as mãos.

Kuchiki disse que realmente estavam pensando no que fariam para entrar no torneio, e que a aparição de Mana e San era perfeita. Mana respondeu dizendo que eles estavam na mesma situação. E como ela já conhecia a maga de fogo, sabia que seria mais fácil de formar uma equipe.

Os quatro trocam algumas palavras encorajadoras e depois partem juntos para a banca de inscrições. Ainda tinha muita gente ao redor daquele lugar, mas a fila estava bem menor. Muitas pessoas também chegavam ali sem saber que precisavam de uma equipe para participar desse torneio. Então elas entravam na fila só para chegar lá e irem embora ou a procura de mais pessoas para formar uma equipe.

Assim sendo, a vez dos quatro guerreiros, agora unidos por uma causa em comum, finalmente chegou. Com o time preparado, foi dado um pequeno formulário que os participantes eram obrigados a preencherem. Esse formulário dizia coisas sinistras como "Existe risco de morte" e "Não nos responsabilizamos pelos membros perdidos do seu corpo". San era o único que ria enquanto assinava.

— Qual será o nome do seu time? — perguntou a atendente assim que os quatro entregaram o formulário.

Os quatro integrantes se olharam ao mesmo tempo. A ideia de se olhar era pra ver quem tinha uma boa ideia para aquela situação. Kuchiki nem sabia que precisaria de um nome, então não tinha nada em mente. Mana não dava a mínima. O que vier, está bom. O nome não vai definir nada mesmo. San colocou a mão sobre o queixo e baixou levemente a cabeça, fazendo seu cérebro trabalhar um pouco.

Mas Mumu era o único que já tinha algo em mente. Ele fez a viagem até essa cidade pensando em um nome, não necessariamente para o time. Ele nem fazia ideia de que teria que ter um pra participar. Mas o nome que ele tinha pensado veria a calhar nesse momento.

— O que vocês acham de "Immortal Star"? — disse ele, esperançoso.

— Mas Mumu, esse não seria---

— Está tudo bem, Kuchiki. — interrompe Mumu. — Vai servir aos nossos propósitos muito mais se usarmos ele mais cedo. Um dos nossos objetivos seria a "fama", não é? — Mumu sorriu quando viu que Kuchiki concordou com a ideia, também abrindo um sorriso.

— Eu não me importo com o nome, mas esse é muito bom. Eu aprovo. — disse Mana.

— Concordo. — respondeu San, cruzando os braços. — Você nem pensou direito. Isso significa que ou você tem uma criatividade divina ou já tinha pensado nesse nome anteriormente.

— Um pouco dos dois. — responde Mulkior, se virando para a recepcionista. — Então vai ser esse mesmo.

— Perfeitamente, senhores. Está tudo em ordem para a sua participação. Podem entrar e tenham uma boa sorte.

Os quatro se dirigiram para a entrada, que ficava bem ao lado da recepção. Havia dois guardas na frente, que se afastaram para dar espaço para os integrantes passarem tranquilamente.

Era muito importante lembrar que desde que os quatro estavam lá fora, era possível se ouvir muitos murmúrios vindos de dentro do local. Isso já era óbvio. Imagine se o maior torneio do mundo não reuniria a maior quantidade de torcedores que existe?

Pessoas adoravam ver as lutas daqui. Era violento sim. Havia sangue jorrado e membros cortados, mas elas ainda achavam divertido vir ver. As crianças não eram proibidas de entrar, mas eram avisadas do que acontecia no ringue e só entravam com os pais. Claro que a maioria não era louca de deixar seu filho ir assistir a um banho de sangue... Mas existem pessoas de todos os tipos.

Mulkior ia à frente, dando passos largos. Estava sendo acompanhado de perto de Kula, que a cada novo passo, ficava mais nervosa. O que fazia ela andar ainda mais rápido era a presença de Mumu ali, bem perto dela. Ela olhou para trás e viu Mana com um olhar sério, mas não provocativo. Isso mostrava que ela já estava preparada para o combate. Depois, o Anjo de Fogo olhou para o lado e viu San, andando com as mãos atrás da cabeça e assoviando muito baixinho. Ele estava o total oposto de sua amiga, com um olhar descontraído e com cara de quem não estava nem aí pra nada.

Os quatro seguiram pelo corredor de entrada, que era tão grande, arrumado e bonito, que tinha até nome: Caminho da Coragem. Por ali, passavam só os mais fortes e corajosos que entravam na arena com a cabeça erguida, sabendo que iriam mostrar as suas habilidades para um público imenso e juízes observadores. Não importava qual era o seu objetivo: fama, dinheiro, honra... Na arena, todos eram iguais. Mas não com o mesmo poder. E nem com a mesma sorte.

O barulho da gritaria generalizada foi aumentando a cada novo passo. Eles já podiam ver o final do corredor de entrada, que os levaria direto para o centro do Coliseu, onde eram travados os embates. Era como ver a luz no fim de um túnel. O corredor era escuro e iluminado apenas por tochas, então quando os quatro finalmente saíram dele, ficaram temporariamente cegos com a pouca luz do sol aparecendo quase diretamente em cima das suas cabeças.

Mas pior do que perder a visão, foi ter perdido a audição: o barulho que os torcedores faziam era inexplicável. Gritaria geral, pessoas pulando, balançando bandeiras ou placas, assovios. Tinha de tudo. Até instrumentos! E olha que não tinha começado nada ainda.

Agora que os quatro já tinham se acostumado com a atmosfera, era possível se analisar o local em si: o Coliseu ERA tudo aquilo que diziam. De fora, ele parecia ser imenso. Por dentro... Ele conseguia parecer ainda maior.

As arquibancas tinham vários andares. Nenhum dos quatro conseguiu contar quantos exatamente por causa da bagunça de pessoas que tampava a visão. Era incrível como parecia que todos os lugares já estavam sendo ocupados.

Antes da arquibancada e ainda no "chão", tinha uma das mais importantes construções de todo o Coliseu: as Torres de Contenção. Se tratavam de grandes e grossos pilares de cerâmica que rodeavam todo o círculo do Coliseu, totalizando mais de vinte. Esses pilares levavam uma grande esfera cristalina em cima, que nada mais era do que uma enorme Gema de Energia Mágica. O propósito? Quando todas as torres eram "ligadas", elas se conectavam umas as outras, criando o mais poderoso campo de energia jamais visto em toda a terra. Isso fazia com que NADA ultrapassasse ela. Nem magia.

Aliás, PRINCIPALMENTE magia. As próprias torres eram criadas de um jeito que as faziam se alimentar de qualquer energia jogada contra ela, alimentando ainda mais o campo de proteção. Era óbvio que aquilo era feito para que nenhuma magia saísse perdida da luta e acabasse parando nos pobres torcedores. Ela também servia vice-versa. Os torcedores não conseguiam atirar nada contra a arena e nem invadi-la de maneira alguma. Era uma construção realmente magnífica.

E por fim, a construção MAIS importante do Coliseu: o ringue de batalha. Ele era quadrado, grande, distribuído em pequenos quadradinhos feito de pedras lascadas e construído para aguentar todo o tipo de impacto que recebesse durante os inúmeros combates travados. Ele era branco e estava quase brilhando de tão bem limpo.

No momento, não havia ninguém em cima dele. Entre o muro das arquibancadas — teoricamente, as arquibancadas começavam em um piso mais alto, como se fosse um segundo andar — e o ringue, existia um grande espaço vago sem nada, que era o local onde os participantes ficavam espalhados aleatoriamente.

Era nisso que os quatro participantes estavam focados agora. Os times eram muito diferenciados. Roupas ou uniformes muitas vezes mostravam que eles eram de Guildas ou Reinos específicos. Armas esquisitas era o que não faltava. Olhares malignos também. Não que nesse nosso time não tinha alguém com o mesmo olhar.

Mana olhou rapidamente para os times que estavam mais próximos e conseguiu identificar três deles. Ela não tinha gostado nada do que tinha visto.

— Pessoas extremamente poderosas estão aqui. — disse ela, fazendo a atenção dos outros três membros de seu time se virar para ela. — Eu conheço alguns só pelo olhar.

— Tem razão. — concorda San, apontando para frente. — A Elite do Solar Empire está aqui. Bom, eles sempre foram uma Guilda que gosta de se aparecer.

— Eu estou vendo pessoas da Monster Hunter, da Heaven's Way e da Salvation aqui também. São todas Guildas de caçadores e matadores de monstros, mas parece que algo os chamou aqui. Será o prêmio? — perguntou Kuchiki, nervosamente. Ela ainda se sentia com um tipo de ansiedade que ela mesma não conseguia explicar.

— Com certeza. — respondeu Mumu, imediatamente. — Não é de se estranhar, na verdade. Só estou surpreso com o fato de que todos já estão com times formados e nenhum deles parece que foi feito as pressas.

— Ora, mas vejam só!!! — gritou uma voz vindo de trás dos quatro. Era uma voz masculina em um tom único. Parecia falar com escárnio. — Não sabia que eles deixavam Fantasmas participarem do torneio também!

Os quatro integrantes se viraram de imediato, encarando o sujeito. Tinha uma roupa bem típica e extremamente fácil de identificar. Um roupão com uma calça pouco bufante, com faixas da mesma cor nas mãos e pernas, um lenço comprido enrolado no pescoço e duas foices pequenas de cabo curto guardadas na faixa de sua cintura. Era uma roupa de um ninja, mas ao contrário do que se espera, em vez de ser um conjunto negro, era branco! Luminoso como o sol.

Era quase impossível não vê-lo no meio de tanta gente. Ele não tinha máscara, então era possível ver seu rosto de pele pouco escura, cabelo bem curto e desarrumado, e um sorriso bobo no rosto. San olhou para ele como se já o tivesse encontrado antes. Mulkior tinha certeza que nunca tinha encontrado na vida. Kula não pensou em quem ele era e sim, o porque diabos um ninja usaria branco. Agora Mana o reconhecia. E muito bem, ainda por cima. O olhar dela conseguiu ficar ainda mais sinistro quando ela disse:

Shiro. É uma grande infelicidade te encontrar aqui.

— Ahahahah! Como esperado da minha "rival"! — disse o garoto, tentando evitar o olhar penetrante da assassina.

— Ahhhhh sabia que eu o reconhecia de algum lugar! — falou San. — Você é a "Sombra da Morte", Líder do Esquadrão de Investigação da White Lotus!

Era difícil alguém não saber sobre essa Guilda que San tinha acabado de comentar. Se tratava da maior guilda dominante do Sul, com filiais espalhadas por todo o globo. Eles tem um poder imenso, tanto político quanto militar. Eles também são conhecidos como "Exército Branco" por seus membros serem obrigados a vestirem roupas brancas nas guerras ou lutas importantes.

— Rival? — perguntou Kula, olhando para Mana e percebendo pela primeira vez, o olhar travado dela no ninja.

— Eu não sei porque ele ficou com isso na cabeça. — respondeu a assassina, sem diminuir a intensidade do olhar. — Eu e ele temos trabalhos parecidos e nos encontramos inúmeras vezes em nossas missões. O problema é que quase sempre nossas missões se tratavam da MESMA coisa, o que nos fez acabar batalhando algumas vezes. Mas nunca levamos nenhuma luta até o fim.

— Bom, somos espiões profissionais. — disse Shiro, estufando o peito. — Espiões não podem perder tempo com lutas, não concorda? Mas aqui é diferente! Estamos em uma arena de combate! E agora que eu sei que você continua viva, eu mal espero para te enfrentar!

— Claro, se você está com tanta vontade de perder a vida, então torça para que nossos times se encontrem no ringue. — respondeu Mana, finalmente conseguindo se acalmar. Era incrível como ter dito aquilo tinha a feito ficar mais tranquila.

Shiro ri mais uma vez e começa a se afastar, balançando a mão como se tivesse dando um breve adeus. Ele estava realmente contente em vê-la viva, pois a um dia atrás, tinha lido em um jornal que sua Guilda tinha sido exterminada. Ele não queria acreditar que ela estava morta de jeito nenhum, e só hoje entendeu o porquê. Ele PRECISAVA ter uma luta contra ela. Só ele e ela, sem interrupções. Ele iria mostrar de uma vez por todas quem era o melhor.

Não deu nem um minuto depois que o ninja saiu, apareceram dois times que se aproximaram dos quatro. Mas dessa vez, eles vieram por Mumu. Um dos times era feito inteiramente por mulheres membros da Divine Flower, uma Guilda especializada em contrato de Guarda-Costas. O garoto conhecia esse pessoal muito bem porque seu tio era afiliado da Guilda.

O outro time que veio eram de mercenários sem nenhuma Guilda específica, mas todos os membros conheciam o mago de ferro. Querendo ou não, Mumu tinha muita fama pelos seus atos.

Ele não percebeu, mas Kuchiki tinha baixado a cabeça e se afastado um pouco quando eles apareceram. Ver seu parceiro cercados de mulheres — e mulheres bonitas, ainda por cima — não estava lhe fazendo bem. "Estranho", pensou ela. Era a primeira vez que ela sentia algo assim. O que estava acontecendo com ela? Será que...

— É o que dá ser famoso. — disse San, interrompendo os pensamentos da garota.

— Ahm? Ah! — disse a garota de vermelho, tentando mudar de pensamento. — Acho que todos que têm um Título Único acabam sendo facilmente reconhecidos.

— Não exatamente. Isso depende do que a pessoa faz ou fez para ganhar o Título. Alguns podem passar por grandes metrópoles, ficar dias hospedado em uma estalagem, fazer trabalhos e andar para lá e para cá e mesmo assim, não são reconhecidos. Eu sou um grande exemplo disso. — respondeu San.

— SÓ PORQUE VOCÊ QUER!

Isso tinha sido um grito. Veio de trás de San e era obviamente uma voz feminina. Mana, que estava do lado do garoto no momento, tinha levado um grande susto. Kuchiki tinha visto a garota se aproximar, mas não sabia que ela viria diretamente para eles.

San arregalou os olhos. Ele não tinha se virado imediatamente para ver quem era, então permaneceu de costas para a pessoa, provavelmente a irritando mais do que já parecia estar.

— Eu não acredito... Essa voz... — San começou a se virar bem devagar, torcendo para que ele mesmo estivesse errado. Mas quando ele finalmente se virou e encarou a pessoa, viu que não estava. — Momo!

A garota, um pouco mais baixa que San, estava obviamente nervosa e bufando. Mulkior nem tinha a ouvido pois continuava conversando e rindo alegremente envolto de seus amigos. Mas as duas mulheres de seu time estavam analisando a nova chegada.

As roupas dela eram únicas. Uma saia longa de prendas, na cor bege. Uma camisa sem mangas bem colada ao corpo, cor branca. Uma bota de couro grossa. Uma gigantesca e grossa capa bege que ia do seu ombro até sua canela que estava forrada de penduricalhos dos mais diversos tipos. A garota tinha o cabelo comprido e liso, com uma bonita cor negra brilhosa. Usava uma faixa branca na cabeça com uma pena meio pintada perto da orelha esquerda. Também usava um colar de pequenas esferas, um brinco simples e cinco anéis de prata na mão direita.

Mana e Kuchiki nunca viram tal vestimenta na vida. Ah, e ela era muito bonita, o que deixava o fato dela ficar nervosa diante de San ainda mais estranho.

— Acredite se quiser, seu porco traidor maldito! — gritava a garota. — Você não sabe o quanto tempo eu te procurei pra me vingar do que você fez!

— Espera Momo! Aquilo foi um mal entendido! — dizia San, com as mãos para frente pedindo calma.

— Mal entendido uma ova! Eu não quero ouvir suas desculpas! Tudo o que eu quero é te encontrar no ringue e acabar com a sua vida medíocre de uma só vez! E marque minhas palavras: se não nos vermos no ringue, eu vou esperar você sair do torneio pra acabar o que eu vim fazer! Se prepare!

Logo depois disso, sem nem deixar San falar qualquer palavra a mais, ela deu as costas e saiu andando em grande velocidade, sumindo da visão dos três. Kuchiki não tinha entendido nada e olhou para San, que estava com os olhos fechados , apertando-os com os dedos. Mana também não tinha entendido, mas sentia uma leve vontade de rir.

— Quem era ela, San? Sua ex namorada? — perguntou Mana, fazendo uma cara sarcástica que provavelmente ganharia um troféu.

— Ah se fosse! — disse San, seriamente. — O nome dela é Mochizuki Monikawa. Ela é Líder de uma vila muito, mas muito ao norte daqui, nas terras congeladas de Arlan.

— Líder de uma vila? Mas ela parecia ser mais nova que você! — perguntou Mana, mudando a expressão imediatamente.

— E ela é! — continuou San. — Na vila dela, o Líder sempre é a pessoa com a maior quantidade de energia mágica do recinto. Pode não parecer, mas Momo é uma xamã com um poder imensurável. Se eu fosse chutar, ela é atualmente a mais poderosa xamã do mundo.

— E o que você fez pra alguém como ela ficar tão irritada com você? — perguntou Kula. Mana estava pronta pra fazer a mesma pergunta.

— Vishhhhhhh... — disse San, coçando a cabeça. — É uma longa história. E eu acho que vocês não iriam acreditar. O importante é que ela vai querer a minha cabeça estando ou não aqui nesse Torneio. Mas por sorte, ela não é louca de me atacar antes de eu sair daqui. Eu acho...

— ATENÇÃO A TODOS OS PARTICIPANTES! — isso foi o barulho de um alto-falante arcano que fazia um anuncio ser perfeitamente ouvido em todo o Coliseu. — AS LUTAS JÁ FORAM DECIDIDAS E ELAS SE INICIARÃO DAQUI A QUINZE MINUTOS. OS TRINTA E DOIS TIMES FORAM DIVIDIDOS EM QUATRO CHAVES COM OITO TIMES CADA, E ESSA MESMA CHAVE APARECERÁ AGORA NO NOSSO TELÃO INFORMATIVO.

Esse Telão Informativo também era uma das mais impressionantes criações feitas para o Coliseu. Ele ficava na parte norte da arquibancada, em cima de um tipo de guarita — que era onde o apresentador e o comentarista ficavam durante as lutas — em um lugar onde todos podiam ver claramente. Ele tinha esse nome porque era realmente grande e mostrava para todo mundo quem seria o próximo a lutar, quem estava lutando, quem tinha sido desclassificado, quanto tempo faltava, qual era a regra especial e claro, como estavam divididas as chaves.

O telão piscou uma vez e "acendeu". Nele, apareceram quatro chaves de luta, nomeada como Chave A, B, C e D. Em cada uma, era possível ver o nome do time e quando eles iriam lutar. Todos agora estavam com toda a atenção no telão, procurando o nome de seu time e vendo quem seriam seus primeiros ou próximos oponentes.

— Chave A! Estamos na Chave A, olhem! — disse Mumu, apontando o dedo pro Telão.

— Muito mais que isso. Somos o primeiro time a lutar. — disse Mana.

— Nossa Chave tem muitos times poderosos. Vai ser complicado. — disse San, analisando a chave inteira.

— Quem enfrentaremos por primeiro? — perguntou Kuchiki, forçando a visão para tentar ler o nome do time adversário. — White... Lotus?

Foi como mágica. Mumu, San e Kuchiki se viraram ao mesmo tempo para Mana, que permanecia encarando o telão. Quando a assassina percebeu que o seu time lhe encarava silenciosamente, ela deu de ombros e falou:

— Acho que o Destino decidiu pregar uma peça em nós.

Muito longe dali, Shiro, que estava olhando para o telão também, deixa escapar um sorriso de total felicidade. Ele sabia quem enfrentaria. Sabia que esse dia chegaria. Só não sabia que seria tão rápido. Enfrentá-la nas Finais seria épico... Mas fazer o quê?

— Vamos mostrar pra eles time!!! — grita o garoto, levantando a moral de sua própria equipe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, as batalhas do maior torneio de combates do mundo se inicia!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Immortal Star" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.