Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 5
União Perfeita


Notas iniciais do capítulo

Quinta e última introdução, mostrando o um melhor trabalho de equipe.



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Eu não vou falar muito mais sobre o que eu acabei de lhe contar. Explicações extras são meio desnecessárias, pois ainda não aconteceu nada grandioso.

Mas! Há uma coisa que eu quero que você tenha em mente: o ataque de monstros em uma cidade obviamente especialista em matar monstros. Ficou atento a esse fato? Também achou estranho que os atacantes eram logo Lobos, que tem um faro muito mais aguçado e sentem perigo muito mais facilmente que outras criaturas? Que bom que notou isso. Anote na sua mente. Mais tarde, haverá algo que explicará melhor essa situação e fará todo o sentido, além de ser um ponto chave para a Guerra.

Agora deixe-me continuar...

~~~~~~~~~~~xXx~~~~~~~~~~~

Mumu bocejou demoradamente. Seus olhos estavam com um roxo característico e ele andava mais lentamente do que Kuchiki. A garota, parecendo mais vívida do que nunca, caminhava tranquilamente em seu próprio passo enquanto lia um tipo de pergaminho antigo. Vê-la tão brilhante quanto a luz do sol quase fazia o mago de ferro se contagiar. E provavelmente esse era o problema que ele estava tendo nesse exato momento.

Na noite passada, horas depois deles terem derrotado o lobo na cidade de Loto, os dois alugaram um quarto para dois e começaram a discutir sua missão. Não importa de que ponto você via, era uma missão complicada e perigosa. Se tratava de atacar um covil de Vampiros Cadavéricos, um monstro raro e muito poderoso, com a exímia habilidade de absorver o poder mágico de um humano... Morto. Essa raça tinha um péssimo costume de atacar vilas inteiras, matar todo mundo, carregar seus corpos para seu covil e depois, se alimentar deles, fazendo-os ficarem ainda mais poderosos.

Assim como os Vampiros de Sangue (os mais numerosos e simples, que sugam sangue humano para se fortalecerem), os Vampiros Cadavéricos tinham as mesmas fraquezas e características. Eram humanoides, mas com uma força, velocidade e percepção muito acima da humana. Eles não podiam entrar em contato direto com o sol e tinham problemas com claridades. Também morriam se seus corações fossem atingidos por madeira seca ou se suas cabeças fossem cortadas... O que não era bem uma fraqueza exclusiva dessa raça. Mumu não controlava madeira, mas era muito bom em decapitar criaturas horrendas.

Esse ainda não era o problema do mago. E também não era a missão. O perigo de atacar um covil dessas criaturas era óbvio. Não só porque eles são monstros ferozes, mas porque o próprio covil se tratava de uma caverna de minério antiga, muito a oeste de Loto.

Essa missão estava parada na Monster Hunter por mais de um mês e ninguém da Guilda queria fazê-la, já que seria necessário que um grupo menor fosse preparado para tal local. A mina não dava espaço para lutas de grandes proporções, e usuários de grandes armas acabariam atrapalhando os seus amigos e fazendo a missão ser um fracasso total. E para a Monster Hunter, que é conhecida por seus grandes e unidos grupos, isso era horrível.

Mas não para Mumu e Kuchiki. Acostumados a trabalharem sozinhos ou em pequenos grupos, essa missão era quase perfeita. A recompensa também era grande, que era outro ponto a ser considerado.

Mas então eles tiveram que fazer uma "conferência estratégica" antes de partirem para tal missão, e foi por isso que eles alugaram um quarto em uma hospedaria simples em Loto. Eles sentaram um em cada cama e começaram a discutir a melhor estratégia de ataque, envolvendo todas as possíveis situações pela qual passariam ao entrarem na caverna juntos.

E nisso Mulkior era bom. Kula não precisou dar muitas ideias para a estratégia, pois o mago de ferro conseguiu associar todos os seus próprios atributos ligados à maga. Inicialmente, ela ficou impressionada, mas logo se lembrou que ela estava fazendo dupla com um grande mago, membro de um trio que sozinho, limpou um castelo infestado de monstros assassinos.

E esse AINDA não era o problema de Mumu. Depois de discutirem tudo relacionado a missão, os dois se deitaram e foram dormir... Ou pelo menos tentaram. A conversa tinha acabado bem tarde, mas Mulkior não conseguia pregar os olhos. Ele ficou se revirando na cama de um lado para o outro, sem saber o que pensar. Então ele se virou para o lado da cama de sua nova parceira e a observou dormindo tranquilamente. "Como um anjo.", pensou ele.

Mumu sorriu tão puramente que nem ele tinha percebido. "O título dela não poderia ser melhor". Então era por isso? Kuchiki, ainda dormindo, se revirou na cama, dando as costas para o seu observador sem sono. Os cabelos lisos da garota pareciam ser extremamente bem tratados. Ela devia ser daquelas que passam mais de uma hora no banho, e usa essa hora inteira só cuidando dos fios de sua cabeça.

E por que ele estava pensando nisso agora? O homem se irritou com ele mesmo. Ele também se revirou e encarou a parede do outro lado do quarto. Quantas mulheres ele já tinha visto? Quantas dessas mesmas mulheres já tinham trabalhado com ele? Várias! Ele não conseguia fazer uma contagem mental. Mas eram várias.

O mago viajante tinha que admitir que já chegou a olhar diferentemente para uma mulher antes. Mas nunca, nem sequer uma vez, foi dizer isso a ela. Não porque lhe faltava coragem. Longe disso. O quão ridículo seria pra alguém que luta de frente contra criaturas com presas enormes e ensanguentadas, mas não conseguiria nem se confessar pra alguém? Ele tinha seus motivos, e na cabeça dele, eram bons o suficiente. Ele tinha um objetivo, e se envolver com alguém seriamente poderia fazer esse objetivo se transmutar forçadamente. Ele não queria isso.

Então continuou viajando. Continuou dando "adeus" para todas as mulheres que ele já teve o simples prazer de "gostar". Viajou e viajou. Mas não tinha encontrado o que queria. Ele queria uma casa. Melhor: um lar. Ele queria ficar em um lugar que seu espírito se acalmasse. Que tivesse pessoas que o reconhecessem como uma família, dando forças pra ele querer lutar por essa gente. Era isso que ele sonhava quase todos os dias.

Mas e Kula? O que ela tinha a ver com tudo isso? Até onde Mumu conseguia enxergar, sua mente e seu coração estavam inquietos. Talvez pela primeira vez, o grande mago Mulkior estava indeciso. Ou isso era ansiedade? Será que ele estava ansioso pela missão amanhã? Ou era ansiedade pra poder viajar com aquela mulher que dormia tranquilamente na cama ao lado?

E "esse" era o motivo dele ter tido uma péssima noite de sono. E agora que estava caminhando ao lado dela - ao lado era modo de dizer, já que ela estava indo mais a frente e não tinha intenção de diminuir o passo -, Mumu estava cansado demais para se lembrar daquela ansiedade de ontem. Era o cúmulo.

— Você parece cansado. — disse Kuchiki, quebrando o gelo entre os dois. Era a primeira coisa que um deles falava desde que desceram da carruagem há algumas horas atrás.

— Ah é... — Mumu coça sua cabeça, tentando disfarçar seu olhar pregado nas costas da maga. — Eu não tive uma boa noite de sono. Mas não se preocupe, eu estou bem.

— Se você diz... Olha. Já estamos quase chegando.

Kula apontou mais para o além. Mumu acompanhou o dedo indicador da garota, conseguindo enxergar uma grande cadeia de montanhas à diante. Era lá que ficava o tal covil. Antes de chegaram ao pé da tal montanha, existia uma vila onde os próprios mineradores moravam. Demorou mais algum tempo para os dois chegarem a esse lugar, e quando chegaram, não gostaram nada do que viram.

Primeiramente, a vila estava completamente deserta. Nenhuma alma viva (ou até mesmo morta) estava por perto. Era estranho. Os dois sentiam uma intensa aura de morte espalhada por toda a vila, mas eles sabiam que não eram os Vampiros, já que chegaram na tal vila bem no meio da tarde.

A primeira coisa que Kuchiki viu quando colocaram os pés na vila, foram as marcas de sangue em algumas paredes das casas de madeira próximas a entrada. A maga se aproximou para uma melhor investigação e viu que o sangue já estava bem velho. Isso também foi o primeiro comentário que fez com Mumu logo em seguida. O garoto logo respondeu:

— Faz sentido. Esses vampiros já estão aqui a bastante tempo, então é óbvio pensar que essa foi a primeira vila que eles atacaram.

Eles caminharam lado a lado por mais um minuto, e viram que realmente havia tido um ataque e tanto naquele lugar. Casas destruídas, janelas quebradas, telhados caídos, móveis jogados de qualquer jeito. Sangue e mais sangue. Mas nenhum corpo. Era prova o suficiente de que eles estavam lidando com os tais monstros malditos. Nada havia sido roubado pelas criaturas. Eles não precisavam disso. Tudo que precisaram era da carne fresca dos homens, mulheres e até mesmo de crianças. Talvez era isso que tornava essa raça tão odiada.

Mumu ia a frente, como era o combinado. O mago era especialista em ser frente de combate, então ele precisava andar alguns passos a frente da garota, que focava sua percepção ao seu redor e cuidava da retaguarda de seu companheiro. Mumu estava tão concentrando, que nem prestou atenção que a temperatura da vila estava bem baixa. Um vento gelado soprou contra eles, fazendo os cabelos de ambos voarem fortemente para trás. Mas havia algo errado com esse vento de agora. Ele tinha um cheiro horrível. Um cheiro podre.

— Essa lufada de vento veio da caverna. — diz Mumu, ainda seguindo em frente. Ele passou rapidamente o braço sobre o nariz na tentativa de limpar o ar que tinha impregnado suas narinas. — O cheiro lá de dentro não vai estar agradável.

Enfim, depois de muito caminhar e passar por uma destruição infinita da vila, eles chegaram na frente da caverna. Haviam muitos carrinhos de minério destruídos por lá. Havia também um grande trilho de ferro que saia da caverna. Típico das minas. A sujeira preta espalhada pelo local demonstrava para os dois que havia muito carvão sendo retirado daquela mina, e que seria um total desperdício de comércio se ela não fosse reutilizada. Mumu colocou a mão direita dentro de sua bolsa de couro que levava em sua cinta e retirou uma pequena esfera de metal. Sua arma secreta e fonte de seu poder.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESPADA!

Com um pouco de energia mágica a alimentando, a pequena esfera de ferro se transformou em uma espada medieval pesada e afiada em questão de milésimos. Mumu adorava a espada, mas esse não era o único motivo de tê-la invocado aqui. Ele precisava de algo não muito grande, pois estaria entrando em um lugar sem muito espaço para grandes movimentos ou grandes armas.

Para Kuchiki, isso também era um problema e tanto. Sua magia era perfeita para campos abertos, mas pouco efetiva em lugares como este. Se ela não tomasse cuidado na hora de usar uma de suas magias destrutivas, ela poderia acabar sendo atingida pelo efeito da própria magia. E era aqui que entrava seu maior trunfo: Mumu. Como ele estava como frente de combate, Kula teria espaço o suficiente para atirar suas magias, sem se atingir e dando um suporte rápido para o mago.

Mas havia algumas táticas básicas que ela precisava levar em consideração. Primeiro: um lugar apertado demais poderia fazer com que a sua magia atingisse não só os inimigos, como Mumu também. Então ela só poderia usar sua magia se ver que tem um espaço bom o suficiente para tal. Kuchiki não era de se conter, mas tinha que concordar que machucar seu aliado era bem pior do que engolir um orgulho simples.

Depois de acenderem uma tocha, os dois adentraram a escura e úmida caverna. A entrada era incrivelmente grande, com os trilhos sumindo na escuridão a sua frente. Não haviam carrinhos aqui dentro. Pelo menos não no começo. Mas o cheiro estava lá. Desagradável e desnorteante. Kuchiki tentou cobrir seu nariz com o braço, mas isso não ajudou muita coisa. Mumu teve que aguentar. Ele já tinha sentido o mesmo cheiro inúmeras vezes, mas hoje, ele parecia estar mais intenso. Talvez seja pelo fato deles estarem em um lugar fechado.

O casal de magos continuou andando. Lentamente e muito atentamente. Agora eles já estavam dentro do "Território Inimigo", e uma vez aqui, você tem que estar preparado para tudo. Os dois estavam com uma expressão totalmente diferente de quando chegaram na vila. Mulkior não tinha mais o roxo nos olhos e sua expressão séria e mãos firmes demonstravam que o primeiro vampiro que tentasse agarrá-lo, perderia a cabeça. Sua parceira tinha aumentado a intensidade de sua aura no intuito de espantar e amedrontar as criaturas mais fracas e mais medrosas.

Caminharam por mais de um minuto em um total silêncio. Até a hora que eles chegaram em uma trifurcação. Aqui, os trilhos também se dividiam e iam para os três possíveis lados da caverna. Mumu olhou para trás, diretamente para sua companheira, afim de pedir sua opinião. A maga de fogo balançou sua cabeça negativamente, dizendo que não fazia ideia para onde deveriam ir. Mumu decidiu ir pela esquerda, sem nenhum motivo específico. Ele achou que era melhor seguir o cheiro podre, mas ele vinha de todos os lados.

Continuaram andando. Silêncio total. Os dois sabiam que nenhuma palavra deveria ser dita naquela altura, pois o barulho poderia alertar seus inimigos dessa invasão. Chegaram em outra bifurcação, e nessa parte, as paredes estavam mais distantes umas das outras, dando um espaço bem maior para ambos caminharem. Mumu decidiu ir pela direita dessa vez. E depois pela esquerda e depois pela direita novamente. Aquilo não parecia uma caverna, e sim um labirinto. E o cheiro...

— Tem algo errado aqui. — diz Mumu, fazendo o silêncio desaparecer. Sua voz ecoou um pouco, mesmo usando uma tonalidade baixa de sua voz. — Tenho a leve sensação de estarmos andando em círculos.

— Isso não faz sentido. Não fizemos nenhuma grande curva para nenhum dos lados. Só continuamos seguindo em frente. O mais estranho são os túneis, que não pararam de crescer em cada bifurcação que passamos.

O mago também tinha percebido isso. Os trilhos não acabavam de jeito nenhum e as paredes pareciam estranhamente mais afastadas. E o cheiro se intensificava a cada passo dado. Mas então o que era aquela sensação horrível? A primeira coisa que ele pensou foi, de fato, estar andando em círculos, pois os locais eram muito idênticos uns aos outros e a sensação de estar perdido ali dentro era horrível. Mas se não era isso, então deveria ser uma outra coisa. Tinha que ser algo tão ruim quanto a sensação de estar dentro de um labirinto, sem saber para onde ir. O que era tão ruim?

O mago olhou para trás, encarou o rosto sério da sua parceira. Não era só sua roupa que era vermelha. Os olhos dela também pareciam estar vermelhos. Algo como uma chama viva e intensa. O olhar dela poderia colocar fogo em qualquer coisa viva... Ou meio-viva que passasse por ali. O olhar. Os olhos. Olhar! Era isso!

— Estamos sendo observados!

Mumu alterou sua voz para indicar um perigo... Que já estava a sua frente. Um vampiro vestindo nada mais que trapos pulou para cima do mago, planejando matá-lo com uma só dentada. Mumu girou o corpo e levantou a espada, a fazendo passar de uma ponta a outra do peito do seu atacante. O vampiro cortado caiu com tudo no chão atrás de Mulkior, e depois começou a se revirar de dor. Não havia sangue no chão e nem na espada do mago.

Mas isso não o preocupou porque ele sabia que uma das características únicas dessa raça, era que eles não sangravam. Mas morriam. Mumu se virou de novo e desceu sua espada contra as costas da criatura, com um golpe de ponta. A espada atravessou o vampiro, que deu um grito monstruoso e sonoro. O mago colocou o pé nas costas da criatura e empurrou ela contra o chão ao mesmo tempo que fez uma força contrária com seu braço para remover a espada do corpo dele. Um segundo depois:

ESFERA DE FOGO!

Uma bola de fogo quente passou pelo lado da cabeça de Mumu e atingiu algo que estava no ar, voando na direção do mago. Esse "algo" se tratava de outro vampiro, vestido quase igualmente ao que estava se contorcendo no chão de pedra nesse exato momento. Os trapos tinham tecido o suficiente para colocar o peito da criatura em chamas, deixando-o em um desespero mortal. Mumu levantou a cabeça na intenção de agradecer Kuchiki, mas ao invés disso, gritou:

— ATRÁS DE VOCÊ!

A maga de vermelho era rápida para entender avisos e mais rápida ainda para reagir. Mas mesmo com uma boa percepção, ela não conseguiu se livrar totalmente da investida de outro vampiro que passou suas afiadas unhas contra o braço direito dela. A garota perdeu o equilíbrio e deu três longos passos para frente, quase indo ao chão. Ela se apoiou na parede e olhou raivosamente para o seu agressor.

Mas não teve tempo de preparar uma nova magia. Mumu passou correndo por ela, dando um golpe vertical com sua espada na criatura. O golpe foi dado corretamente, mas não era o suficiente para acabar com o monstro. O próprio vampiro deu um rápido berro e correu na direção de Mumu, que o empurrou novamente com um belo chute no estômago.

— Eles nos cercaram. Cuide desse aí que eu vou acabar com aquele lá de trás!

As palavras de Kuchiki foram claras o suficiente para o mago de ferro. Mulkior deu um grande passo pra frente e mirou no pescoço da criatura que continuava com olhar fixo nele. O golpe foi rápido, mas o bicho se abaixou mais rápido ainda, se esquivando da investida.

Depois, daquela mesma posição que se encontrava, pulou para cima de Mumu, para tentar derrubá-lo. Um ponto fraco dessas criaturas era que todas pensavam do mesmo jeito. O instinto de "pular em cima de alguém" era tão óbvio, que Mumu não teve trabalho nenhum para virar o corpo para o lado, esperar o vampiro cair no chão bem a sua frente, e logo em seguida, descer sua espada contra a nuca fétida do seu inimigo, fazendo-o perder a cabeça em um único e poderoso golpe de guilhotina. Um inimigo a menos.

Bom... Dois, na verdade. Logo que Kuchiki disse que cuidaria do outro inimigo, ela juntou as duas mãos na frente do seu peito e concentrou energia. Depois que separou as mãos, uma pequena, mas intensa chama apareceu.

INTENSIFICADOR DE CHAMA!

A pequena chama foi jogada contra o vampiro que ainda estava no chão, tentando apagar o fogo de sua roupa... Se é que aquilo que ele vestia poderia ser chamado disso. O monstro não ligava se ele iria ficar pelado ou não, mas ser queimado não estava nos planos dele. E nem se preocupar com uma outra chama que atingiu seu peito, logo onde ele tentava apagar o fogo. E foi em um mísero segundo que o próprio vampiro em chamas teve uma leve visão do próprio Inferno... Antes de ir diretamente para lá.

A magia de Kula fazia com que todo fogo, seja ele mágico ou natural, seja intensificado muitas vezes mais, tornando um simples fogo em um incêndio. O monstro entrou em combustão e gritava algo não humano intensamente, enquanto virava cinzas. O primeiro vampiro, o que tinha levado um grande corte de Mumu, já tinha se recuperado o suficiente para poder ficar de pé e mostrar as presas novamente. Ele viu seu "amigo" pegando fogo bem atrás dele e tinha tido algo que não sentia há anos: medo.

Ele se virou para Kuchiki, a criadora de seu medo, e estralou os dedos da mão apenas os forçando. Ele iria matá-la primeiro. Foi então que ele percebeu que sua visão estava caindo. Sim, caindo. Por algum motivo, ele estava caindo diretamente para o chão. Sem sentimento nenhum. Confusão. Escuridão. O monstro morreu sem saber que sua cabeça tinha sido cortada em um golpe só.

Mumu sabia que não tinha derrotado aquele vampiro ainda, então logo depois de derrotar seu primeiro oponente, ele virou o corpo e foi para as costas desse. Ele estava se levantando e olhando tão fixadamente para Kuchiki que nem percebeu o mago mirando seu pescoço. Fim dos inimigos ali. Mas não era o fim da missão.

— Fomos ingênuos. — começa Mumu. — Eles já estão de olho em nós desde que entramos aqui! — o mago volta a caminhar para frente, limpando a sujeira de carne podre que tinha ficado em sua arma. — Temos que ficar mais alertas ainda.

Os dois continuaram seguindo em frente, mas agora tudo estava diferente. Havia muito barulho em todo lugar. Pedras caindo, risadas sinistras, ferro batendo contra ferro... Haviam barulhos que eles não conseguiam identificar. Era um aviso. Os dois sabiam. Os vampiros estavam avisando que agora eles não estariam mais seguros. Estavam avisando que iriam se vingar de seus camaradas mortos. Estavam avisando que acordaram.

Mais um deles veio voando contra Mulkior. Igualmente ao primeiro, esse também foi jogado para trás com um chute no estômago. Mas dessa vez não era uma emboscada. Quando esse caiu no chão, um outro passou rápido por cima dele e pulou contra o mago. Dessa vez, Mumu não tinha como reagir e o vampiro o agarrou.

O bicho, sem perder tempo, levou sua boca sangrenta na direção do pescoço do rapaz caído. Típico das histórias de vampiro. O mago levantou seu braço e fez o vampiro morder sua luva de ferro, quebrando as duas presas superiores da criatura. Mumu, ainda com o mesmo braço, tentou acertar um potente soco na cara feia do vampiro, mas isso não aconteceu.

A criatura soltou o humano caído e pulou para trás, levando as mãos até a boca. O mago de ferro apertou os olhos e olhou para a própria luva. As presas ficaram engatadas lá, como se fosse algum tipo de adorno esquisito. A mordida deles era perigosa. Foi por isso que o garoto levou sua mão esquerda, a mesma que tinha sido mordida, até sua bolsa em suas costas, alcançando mais uma pequena esfera de ferro.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - ESCUDO!

Sem desfazer a espada que ele segurava apertadamente em sua mão direita, Mumu agora cria um escudo de ferro, depois de alimentar a pequena esfera com energia o suficiente. Agora ele parecia a mais simples visão de um guerreiro bem equipado, faltando apenas um bom capacete.

O primeiro vampiro já tinha se levantado e agora corria em direção ao mago. Ele tentou acertá-lo com as unhas afiadas, mas esse golpe foi perfeitamente bloqueado pelo novo escudo de Mumu.

Enquanto o pobre mago era severamente atacado, Kula mordia os lábios. Ela não podia fazer nada. As passagens da caverna tinham um bom tamanho para se lutar corpo-a-corpo, mas era horrível para magias de área... Como as dela. Ela estava só assistindo seu parceiro ser atacado de cima e de baixo, distanciada seguramente, só torcendo para que um daqueles bichos desse o azar de passar direto por Mumu e fosse atrás dela. A vontade de queimá-los era grande, mas se ela atirasse dali, Mumu seria atingido também.

Mas ela não precisou se remoer por muito tempo. Essa luta não foi tão demorada e o mago saiu com um pequeno arranhão no rosto. Nada demais.

Os dois continuaram avançando. Mumu foi indo sempre a frente, decepando e cortando vampiros como se eles fossem pedaços de queijo. Kuchiki ajudou pouco nas lutas de frente, mas quando foi hora dela criar barreiras de fogo para impedir com que as criaturas continuassem correndo atrás deles... Ah, daí ela foi perfeita! Ela tentou economizar o máximo sua energia mágica, porque sabia que precisaria dela para sair daqui.

A batalha se intensificou quando eles chegaram a uns quarteirões mais abertos e com mais saídas de túnel. Eles sabiam que estavam chegando perto da onde os mineradores haviam terminado seus trabalhos. Mas exatamente nesses pontos, eles tinham que lutar muito mais. A quantidade de vampiros era bem maior, e parece que a força deles também tinha crescido.

Kula foi obrigada a usar suas economias em Energia Mágica, e isso fez ela queimar um quarteirão inteiro. Duas das passagens já quase não existiam, pois elas tinham engolido o fogo como se fossem um camelo bebendo água. Mumu decidiu não mudar de arma. Tanto para economizar energia quanto porque aquela combinação de espada e escudo era muito boa para essa situação. Ele continuou cortando e liderando.

Depois desse embate, Mulkior tinha três cortes medianos em seu corpo. Dois nos braço e um na suas costas, na altura da cintura. Kuchi também recebeu vários danos, mas todos eram leves. A garota era boa para se esquivar. O problema aqui era o cansaço e o cheiro, que estava começando a causar enjoos. Eles não tinham tempo o suficiente para sentarem e descansarem. Se fizessem isso, a tensão iria desaparecer e os músculos acabariam relaxando, dando uma oportunidade perfeita para que seus inimigos os destroçassem. A caminhada deveria continuar.

Eles chegaram em um corredor da caverna que era bem grande. Era o maior que eles tinham visto até agora. Mumu parou bem no meio dele. Não era para observar os arredores. Ele tinha parado porque estava sentindo uma presença maligna e muito poderosa adiante. Havia uma aura negra tentando consumir os dois aventureiros. Parecia que os chamava para a morte. Era sinistro e o mago ficou com calafrios.

— Você acha que é o Líder deles, ou algo do tipo? — pergunta Kula, ainda mais afastada do companheiro. O próprio mago tinha sugerido essa distância, pois era seguro para que ele pudesse usar seus movimentos tranquilamente.

— É bem possível. — ele continuava andando, mas com um passo de cada vez. — É uma aura poderosa e uma sede de sangue semi-igual... Ou sede de carne... Sei lá. — os dois magos quase riram da sentença sem sentido de Mulkior. Mas o garoto manteve a cara fechada. — Eu não estou gostando nem um pouco.

A próxima localidade em que eles chegaram era muito mais que surpreendente. Esqueça a visão rústica das cavernas de minério que temos. Era um lugar imenso e redondo, mas não havia picaretas e nem sangue espalhado pelo chão. O local estava razoavelmente limpo e havia inclusive uns enfeites espalhados aleatoriamente pelas paredes. Quadros pintados, pequenos monumentos, um trono brilhoso com acolchoamento vermelho e inclusive uma grande caixa com ouro transbordando. Tudo isso eram itens desse cenário macabro.

O trono, bem encostado à parede contrária de onde Mumu e Kuchiki haviam saído era, sem a menor sombra de dúvida, o item mais chamativo do local. Ele era bonito e parecia caro. Mas chamava atenção porque tinha alguém sentado nele, esbanjando um ar de superioridade incrível... E um poder mágico mais incrível ainda.

Era um vampiro, sem sombra de dúvida. A pele branca demonstrava bem esse fato. Com um sorriso maligno no rosto, mostrando as presas que pingavam sangue. Tinha que ser sangue. Mesmo que ele estivesse com uma taça de vidro em sua mão esquerda que parecia cheia de vinho, aquilo com certeza era sangue. Mumu sentia o cheiro. Era inconfundível.

Kuchiki reparou primeiramente nas roupas do monstro. Era bem diferente. Ele não vestia trapos sujos como os outros. Esse vestia uma roupa bem clichê de barão nobre. Cores azuis com branco. Ele estava com o conjunto inteiro, inclusive as botas brilhantes e chamativas, e as luvas brancas nas mãos. Quase parecia humano. Quase.

— É muita ousadia de vocês entrarem em minha humilde residência sem nem se apresentarem para o dono.

Isso foi o Vampiro Barão falando. Sua voz era incrivelmente forte e grossa. Os dois aventureiros deram um passo para trás e se amedrontaram naquele instante. O vampiro limpou os lábios com sua comprida língua, retirando o pouco de sangue que havia ali. Mas principalmente, isso foi ato para demonstrar que tinha gostado da reação de medo dos humanos. Eles não sabiam o que lhes esperava.

— Você pode falar... É um Monstro Classe S! — diz o Anjo de Fogo, ainda no mesmo lugar.

— Ahahahah! — a risada do Vampiro era tenebrosa, assim como sua própria voz. Suavemente, ele coloca a taça em pé no braço de seu trono e cruza os dedos das mãos em cima de suas pernas cruzadas. — Vocês humanos sempre foram uma forma de vida engraçada. Vocês tem esse costume de... Nos classificar. Dar nomes. Ou status. Como vocês nos chamam? — ele olhou para os dois humanos, que continuavam em pose de combate e não davam nem um passo. Os dois também não responderam o monstro, que continuou. — Acham que são superiores em alguma coisa? A única coisa que vocês tem mais é em "quantidade". Mas do que adianta ter uma grande quantidade de vocês, se quase nenhum tem "qualidade"? Vocês vivem em cidades, uns ajudando os outros. A união de vocês seria linda se ela não fosse obrigatória! Vocês só se juntam porque tem medo do que lhes pode acontecer se encarar qualquer um de nós! Ahahahahahah!

Essa risada foi mais longa e mais sinistra. Mulkior tinha se segurado para não pular naquele instante para cima do vampiro no trono. Ele sabia que isso era um tipo de provocação, e em uma batalha, se você perder a calma, morre. Ele já viu isso acontecer uma, duas, três vezes. Talvez mais.

Mas uma coisa estava incomodando o mago. Aliás, uma OUTRA coisa. Os monstros que conseguiam falar a língua humana eram classificados como "S", pois mostram um intelecto e nível de aprendizado muito superior às criaturas impulsivas e numerosas que faziam parte da grande gama de monstros espalhados pelo mundo. Mas mesmo sabendo falar, eles nunca abriam a boca pra ter uma conversa com um humano... A não ser para ameaçá-los. Mas eles sempre eram curtos e grossos.

Então por que se dar o luxo? O que ele queria? Não havia mais ninguém na sala. Por quê? Se aqui era onde o líder deles ficava, deveria ser muito melhor protegido! Mumu sabia que não tinha matado TODOS os vampiros só nesse trajeto que fez até essa parte. Então por quê? O cérebro do mago começou a trabalhar em uma velocidade surpreendente. Talvez a adrenalina que tinha começado a correr em seu corpo estava começando a fazer efeito.

A mão que ele segurava o escudo estava suada e ele precisou mexer os dedos rapidamente para que o equipamento não fosse escorregar mais tarde. Então ele descobriu. Haviam outros vampiros aqui sim! Estavam todos nas sombras. Era por isso que essa sala era tão escura! Era uma emboscada!

— KUCHIKI! ISSO É UMA---

O garoto não conseguiu terminar de falar. Ele foi gritando enquanto virava o corpo para trás, mas o que viu quando se virou, fez seus olhos esbugalharem. Kuchiki estava caindo de joelhos, com três vampiros agarrados nela. Dois estavam mordendo seus pulsos, um em cada braço. E um outro estava lhe mordendo a nuca por trás.

A maga de fogo estava com uma expressão de dor intensa, mas não houve grito. Essa era uma daquelas situações que você sente tanta dor que chega a gritar para dentro, e não para fora.

Também foi um erro de Mumu se virar naquela situação. A visão de ver Kuchiki caindo o deixou paralisado. A expressão dela... Ele não aguentou ver aquela expressão. Ele já tinha visto aquilo muitas vezes, mas ver na sua parceira foi aterrorizante. Esse não era o maior ponto fraco de Mumu.

O problema é que como ele ficou sem reação e perdeu a atenção no vampiro sentado ao trono, ele não conseguiu entender o que tinha acontecido no segundo seguinte. Assim que Mumu se virou, o vampiro barão deu um impulso único e voou na direção do jovem mago. Mulkior ainda teve tempo de se virar de volta, mas foi tudo o que conseguiu. Não, isso não era verdade. Ele também tinha acabado de conseguir sentir uma dor sem igual.

O vampiro cerrou o punho esquerdo e deu um soco exatamente no meio do peito do humano. O barulho da pancada foi extraordinário. E o impulso também. O golpe foi tão potente que fez o garoto voar contra a parede mais ao sul da sala, batendo com tudo na dura pedra da mina e caindo de cara no chão, logo em seguida. E para finalizar o ato, o vampiro voltou a rir sonoramente.

Mumu se mexeu e tentou se levantar usando a força dos braços. Ele tossiu três vezes e tentou focalizar sua visão. Seu escudo tinha voado para algum lugar que seus olhos não o captavam mais. Isso era normal. Fora de suas mãos, as armas de Mumu voltavam a se transformar nas pequenas esferas de metais que ele levava em sua bolsa.

Enquanto tentava se levantar, ele teve um pequeno ataque de tontura. Sua garganta estava com um gosto horrível. Ele cuspiu no chão. Sangue. Será que ele tinha quebrado uma costela com o impacto? Ele não sabia. Seu peito doía mais que tudo. Sua concentração estava indo por água abaixo por causa da dor.

— Como você consegue se mexer? Eu deveria ter quebrado todo o seu tórax!

A voz do vampiro tinha perdido a potência quando ele viu o mago ficar de pé. Mas ele tinha razão em perguntar o porquê. A força física dele não era brincadeira. Ele poderia facilmente atravessar qualquer tipo de carne apenas usando sua mão. Então como?

— Deveria mesmo... — Mumu começou a falar e logo em seguida, tossiu novamente. Dor. Havia algo quebrado em seus ossos, seja lá aonde. Doía até para falar. Kuchiki... Sua mente estava vaga. Ele ficou tonto por um outro segundo. Seus olhos correram para o lado e viram a garota ainda de joelhos, agarrada pelos três vampiros. Ela não iria conseguir se desvencilhar deles sem ajuda. — Seu golpe me pegou desprevenido... — ele da um passo pra frente, ainda com a cabeça meio abaixada. — Mas eu estou protegido pela minha Família! E você não tem forças o suficiente para quebrar isso!

Mulkior falava da armadura em seu corpo. Aquilo era realmente uma peça rara e poderosa. O garoto sabia que o soco tinha torcido o ferro de sua armadura para dentro e isso estava dificultando-o para andar e respirar. Além disso, aquilo contribuía para a sua dor. Ele havia perdido o escudo, mas não a espada. Mas para aquela situação, essa arma não estava boa o suficiente. Ele precisava de algo mais mortal.

— Ei... Por quanto tempo vocês pretendem ficar aí?

Era uma voz feminina. Para o alívio de Mulkior, só havia uma mulher no recinto, então essa era a voz de Kula. A voz saiu fraca e quase pausadamente. Mas era a voz dela. Ele virou sua cabeça para a direção de sua parceira, e viu que ela mesmo estava debaixo de um círculo mágico que a rodeava. A garotinha estava se concentrando. Estava se preparando. Aquela pergunta tinha sido redirecionada para os vampiros que continuavam a mordendo.

O preparo havia terminado. Ela estava pronta. Energia mágica corria por todo o seu corpo, e os três vampiros conseguiam sentir um estranho medo de sua própria posição. Eles eram criaturas ferozes e rápidas. Tinham um instinto selvagem perigoso e uma velocidade de reação acima da média. Mas nem isso os salvou da "Benção de Fogo" da maga.

CORPO DE CHAMAS!

Kuchiki pegou fogo, literalmente falando. Toda a aura que ela tinha concentrada em seu próprio corpo de repente se tornou em chamas intensas, criando uma cena típica de alguém que rolou por cima de uma poça de álcool e depois encostou em uma tocha. A diferença era que isso era uma magia, e raramente uma magia de ataque afetava o próprio conjurador.

Ah, claro. Afetava qualquer outro tipo de criatura ou objeto que estivesse encostado em seu corpo. O que nos faz voltar ao ponto inicial: os vampiros que estavam agarrados à ela. O fogo começou quase que imediatamente, fazendo os três dentuços soltarem o corpo da pobre maga. Eles caíram cada um para um lado, rolando pelo chão sujo e apedrejado, na esperança de se salvarem. O desespero deles era quase hilário.

— Kuchiki! Você está bem? — diz Mumu, colocando a mão esquerda dentro de sua pequena bolsa de novo. A batalha não tinha terminado ainda.

— Sim, estou! — grita Kuchiki, sem nem se virar para o companheiro. A garota estava querendo gritar de dor. Os furos criados pelas presas das criaturas horrendas estavam jogando sangue pelo seus braços e costas. E doía demais.

Ela nem se lembrava direito o que tinha acontecido. Em um segundo, ela prestava atenção nas palavras do vampiro no trono e no outro, estava de joelhos no chão, com três... Coisas fedorentas ao seu lado e costas, lhe mordendo. Agora não era hora de se pensar aquilo. Os três vampiros não estavam mortos, mas o fogo iria os atordoar por mais alguns segundos. Ela precisa agir rápido.

Mas Mumu agiu primeiro. Ele retirou mais uma esfera da sua bolsa, e começou a concentrar energia nela. Enquanto corria na direção do vampiro barão, que ficou surpreso com o avanço imediato do garoto.

TRANSFORMAÇÃO DE METAL - NÍVEL DOIS - FACÃO DUPLO!

Não foi somente a pequena esfera de metal em sua mão esquerda que se transformou. A espada em sua mão direita vibrou e começou a se transformar também. As duas armas tomaram forma ao mesmo tempo, revelando dois facões grandes, grossos e curvados.

Essa era uma combinação que Mumu usava para ataque e defesa rápida. Os facões não eram usados como armas de ponta, mas seu corte era impecável. E o fato de ele usar duas ao mesmo tempo dava mais qualidade à força de seu ataque. Mumu cruzou as armas e deu um ataque em forma de "x" contra o vampiro barão, que já estava o esperando. O golpe foi esquivado com um pequeno pulo para trás.

Mas o atacante não parou. Ele continuou avançando, atacando a cabeça e os pés do inimigo ao mesmo tempo, com cortes horizontais. Essa investida também se provou inútil, pois o vampiro se esquivou do mesmo jeito. Mumu faz um leve "Tsc" com a boca, e virou o facão da mão esquerda ao contrário. Dessa vez, foi o vampiro que atacou.

Mumu estava esperando por isso. Ele atacou também. Os dois voaram um contra o outro para um embate corpo-a-corpo. A criatura monstruosa era mais rápida e atacou primeiro. Com suas unhas afiadas, ele conseguiu cortar o ombro esquerdo do mago, fazendo tecido e sangue voar. A rápida dor no braço fez o movimento de seu ataque diminuir de velocidade quando Mumu atacou o vampiro no peito. Isso deu tempo o suficiente para o monstro dar outro passo pra trás e... Levar um corte profundo no peito.

O mago não tinha atacado de verdade com o braço direito. Ele só moveu seu braço de forma à parecer que ia atacar e esperou que o seu inimigo desse um passo para trás novamente. Depois, sabendo exatamente onde ele estaria, Mumu deu um outro corte com o facão esquerdo, vindo de baixo pra cima. O golpe foi bem sucedido e agora o vampiro barão estava com uma cara furiosa.

ESFERA DE FOGO!

Uma bola em chamas voou até a cabeça do vampiro barão, que ainda estava furioso com o golpe no peito. Mas isso não era suficiente para tirar o instinto dele. O vampiro levantou o braço e bateu com força na bola de fogo, a jogando contra o chão a sua frente. Foi um movimento tão rápido, que sua roupa nem sentiu o fogo.

— Acha mesmo que pode me pegar com um golpe desse nível, humana? — diz o monstro, com um leve sorriso em seu rosto.

— E pra onde você está olhando?

Mulkior já estava embaixo dele. A magia de Kuchiki tinha servido perfeitamente o seu propósito: distração. A estratégia estava funcionando. Muito antes de saírem em viagem, os dois planejaram como deveriam agir aqui dentro. Kuchiki deveria se focar em magias rápidas e que consumissem pouca energia mágica, enquanto Mumu partia para o ataque físico total. Isso fazia com que eles lutassem por mais tempo e mais seguramente.

Essa estratégia estava se provando perfeita até agora. Mumu deu dois golpes rápidos no vampiro. Um na cintura e outro nas pernas, sendo os dois horizontalmente. Dessa vez, o vampiro deu um salto bem longo para trás, ficando ainda mais nervoso.

— MALDITOS HUMANOS! — o grito ecoava por toda a mina. Era tão ensurdecedor que os dois invasores humanos quase tamparam os ouvidos.

Não havia tempo para xingamentos ou pensamentos negativos. O mago controlador de metais cruzou as armas na frente de seu corpo novamente e correu contra a criatura mais uma vez. Kuchiki também já estava preparada para usar sua magia mais uma vez. Para ela, não havia necessidade de se concentrar muito. A esfera de fogo foi a primeira magia que ela aprendeu e é provavelmente a que ela mais usa. Ela tem uma boa velocidade, alcance e não precisa muito de energia mágica para criá-la. Perfeito para essa ocasião.

A maga de fogo concentrou energia nas mãos mais uma vez e logo em seguida, atirou outra bola de fogo contra o vampiro, que estava um pouco mais longe. E dessa vez, o monstro não aparou a esfera com o braço. Ele simplesmente desviou virando o corpo lateralmente para a garota, fazendo a esfera bater em um dos quadros pendurados nas paredes de pedra do local. Mas ainda tinha Mumu.

O mago veio correndo e, forçando os braços e as pernas, dá um poderoso golpe cortante com as duas armas ao mesmo tempo, visando cortar fora os dois braços do vampiro. Mas é aí que o mago leva um susto ao dar de cara com uma grande quantidade de morcegos surgidos... Do nada! Mumu não tinha entendido. O que era aquilo? Eram morcegos mesmo! Ele não estava sonhando! Em um segundo tinha um vampiro na sua frente e agora...

— MUMU, ATRÁS DE VOCÊ!

O grito da parceira não foi o suficiente para ele se esquivar. O vampiro estava em suas costas, com o braço perigosamente levantando. Ele não esperou o mago ter qualquer reação. Seu golpe pegou as costas dele de uma ponta até outra, em um arranhão na altura dos ombros. Esse golpe também foi profundo.

Mulkior deu cinco passos errados para frente, quase caindo de cara no chão outra vez. Ele conseguiu conter o grito de dor, mas isso só fazia ele parecer mais durão.

— Agora você...

O vampiro se vira para Kula, que se espanta ao ver ele se transformando em morcegos novamente. Sim, exatamente. O vampiro conseguia se transformar em uma amontoado de morcegos da mais brilhante cor negra de uma hora para outra, sem nem demonstrar acumulo de energia. Ela tinha visto ele se esquivando do ataque de Mumu daquele jeito, mas não queria ter acreditado no que viu.

E agora ele tinha feito de novo... E a maga tinha uma leve impressão de que ela estava sendo alvo. Para onde ele tinha ido? A garota faz uma ligeira varredura com os olhos, mas não o encontra. Os morcegos haviam sumido. Mas antes de sumirem, ela teve uma rápida impressão deles terem voado em sua direção. Então pra onde tinha ido o vampiro?

Sede de sangue. Um cheiro forte e ruim passou pelas narinas dela, a deixando levemente enjoada. Mas esse cheiro significava que o inimigo estava perto. Talvez perto até demais. Ele estava usando a mesma tática que usou contra seu colega! Ele estava bem atrás!

Kula pulou para frente tentando virar o corpo 180 graus, sabendo que seria atacada daquela direção... Mas infelizmente, o vampiro foi mais rápido do que ela. Kuchiki gritou de dor quando sentiu cinco unhas afiadas como faca tirando-lhe uma boa quantidade de pele e carne de suas costas.

O Anjo de Fogo caiu para frente e rolou três vezes no chão, ficando de barriga pra baixo. Ela não estava ouvindo a gargalhada do monstro porque a dor por tentar se levantar ali era grande demais e lhe ofuscava todos os seus sentidos. O golpe tinha sido certeiro e profundo. Era um dano grave e precisava ser curado imediatamente... Se o vampiro deixasse.

O Vampiro Barão não esperou a pobre coitada se recuperar. Ele partiu para cima com tudo, colocando as duas mãos para trás. Agora ele atingiria a cabeça dela. Ele sabia que ela continuava um pouco atordoada por causa do golpe nas costas e levaria mais alguns segundos até ela se levantar. Isso não seria necessário. Ele acabaria com sua dor naquele instante. Talvez seu coração mostrasse um pouco de compaixão de vez em quando, mesmo por uma raça inferior.

O monstro desceu os braços na maior velocidade e poder que conseguia, mas ao invés de sentir a carne fresca do corpo da garota, ele tinha batido em algo duro, que fez um barulho metálico forte o bastante para ser ouvido de qualquer lugar da caverna. Era o outro humano. Mumu tinha se jogado na frente e cruzado os dois facões acima de sua cabeça para defender o golpe do monstro. O impacto foi sensacional. Mumu quase não aguentou a força grotesca do vampiro. Quase.

— Não ache que você vai sair ileso depois de machucá-la! — diz Mumu, forçando os braços para não perder em força para o vampiro.

— Ahahah! Você é forte, humano! E corajoso! Tenho que admitir isso.

Mumu não ia aguentar por muito mais tempo se o vampiro continuasse fazendo força contra o mago, então ele descruzou um dos facões e tentou acertar o vampiro no estômago. O golpe pegou de raspão, pois o vampiro também tinha desistido de fazer força e se transformou em morcegos novamente, se esquivando do golpe ao todo. Ele reaparece mais a frente de Mumu, uns segundos depois.

— Maldição... — reclama o mago, voltando a ficar de pé e em posição defensiva. Ele já estava arfando, e sugar aquele ar podre para dentro dos pulmões não era um jeito muito bom de se descansar. — Ele não vai parar de usar isso até acabar com a gente!

Transmutação Corporal... — diz Kuchiki, em um tom de voz bem baixo. A garota estava tentando ficar de pé novamente.

— Você está bem?

— Não muito. O dano nas minhas costas é sério. O sangue não quer parar de sair. — a garota nem precisou ver o gotejar de sangue no chão de pedra pra descobrir que estava perdendo o líquido vermelho do corpo rapidamente. — Precisamos acabar com ele o mais rápido possível.

— Mas o que faremos com essa transmutação dele? Eu não vou conseguir acertar um golpe em cheio nele! Acho difícil ele ser pego desprevenido novamente. — o mago conversava, mas não tirava os olhos do inimigo. O vampiro estava lambendo dos próprios dedos ensanguentados pelo último golpe feito na garota e isso estava começando a irritar Mumu.

— Eu já percebi o ponto fraco da transmutação dele...

— O QUÊ? — Mumu deu um grito de espanto, mas logo viu que foi um erro gigante e vira o rosto pra tentar disfarçar.

— Acredite em mim. Vamos para o plano "E-1"!

Mulkior virou a cabeça rapidamente para vê-la. Ela tinha conseguido se levantar, mas estava com problemas em continuar em pé. Suas pernas estavam tremendo e ela tinha uma expressão dolorosa em seu rosto. Mas os olhos...

Os olhos dela ardiam. Havia um fogo vivo dentro daqueles olhos. Seu corpo poderia estar machucado, mas seu espírito estava mais vivo do que nunca. Ela não iria se render a dor. Ela não ia fraquejar. Não iria recuar contra um inimigo. Ela tinha confiança que iria sair vitoriosa.

Essa confiança estava fazendo o fôlego de Mumu voltar. Ele acreditava nela. Acreditava de um jeito que nunca tinha acreditado. Aquela sensação da noite anterior tinha voltado naquele instante. O que ela tinha que o deixava assim? Ela passava um estranho conforto para ele... Conforto... E não era exatamente isso que ele estava procurando por tanto tempo? Viajando de cidade em cidade, trabalhando de guilda em guilda. Ele nunca tinha sentido aquilo na vida. Ela era diferente de todas as pessoas que já tinham trabalhado com ele. Ela era única. Era ela que ele tanto procurou. O conforto de seu coração, espírito e corpo.

RITUAL DAS CHAMAS CELESTES!

O Anjo de Fogo, depois de juntar uma considerável quantidade de energia mágica, fica de joelhos e bate com a palma das mãos no chão duro. O efeito não ocorreu ali. Ao redor do vampiro, aparecerem três círculos vermelhos. O primeiro rodeava a criatura, não dando espaço para ele dar sequer um passo. O outro círculo foi em volta do primeiro círculo, com uma distância de pouco mais de um metro. E o terceiro e último círculo ficou em volta do segundo, da mesma forma que o outro. Quando os três círculos se completam, eles criam chamas intensas e enormes, trancando qualquer coisa que esteja dentro do primeiro círculo.

Essa magia era do mesmo tipo do "Círculo de Fogo" da maga, mas em um nível muito maior. Como esse local se tratava de uma caverna fechada, as chamas chegavam até o teto, realmente não deixando nenhuma brecha para o vampiro barão escapar. O monstro estava surpreso. Ele não sentia o calor do fogo, mas sentia o perigo das chamas. Mesmo assim, ele levantou a mão e tentou passar pelo primeiro círculo. Sua mão entrou em combustão instantânea, fazendo-o retroceder o braço e logo em seguida, mexer a mão rapidamente na tentativa de apagar as chamas.

— Não adianta tentar escapar. Essa é minha magia mais poderosa do tipo "Cela". — se esbanja Kuchiki, deixando aparecer um leve sorriso. O tipo de magia "Cela" era toda magia que prendia o inimigo de algum jeito. Seja o amarrando, acorrentando ou colocando dentro de alguma barreira, que era o caso dessa magia. A garota continuava na mesma posição, com as mãos no chão e uma aura vermelha passando pelo seu corpo, mostrando claramente que ela continuava alimentando a própria magia para que ela não se desfizesse. — Tente o que quiser, mas você não vai sair daí!

— Ah! Muito esperto de sua parte, humana! Acha que eu sou cego? — o monstro tinha conseguido apagar o fogo da mão e agora encarava a maga. — Eu sei que você não pode sair dessa posição enquanto essas chamas aqui estiverem acessas! E isso também significa que o seu amigo aí não vai conseguir se aproximar de mim! Está tentando ganhar tempo para ele fugir, por acaso?

O vampiro volta a gargalhar. Era inútil. Essa magia era realmente poderosa. Ele sabia disso. Mas do que adiantaria? Só ela poderia atirar algo contra ele! E ele nem precisava saber das habilidades de Mumu para saber que ele não poderia se desfazer das armas que tinha nas mãos. Ele viu que ele criava armas a partir de umas bolinhas que carregava. Mas isso era tudo o que ele podia fazer. Ele não podia atacar as armas dele contra o vampiro, porque ele viu que quando o garoto soltou o escudo ao bater contra a parede, o equipamento voltou a ser uma bolinha. Era prova o suficiente! Ele não podia fazer nada! Então por quê? Por que ele, o garoto das bolinhas, estava sorrindo?

— E quem disse que eu preciso me aproximar de você? — pergunta Mumu.

O mago jogou um dos facões para o alto. O vampiro tinha acertado em uma coisa: quando Mumu soltava das armas, elas voltavam a se transformar nas esferas de metal. As armas dele necessitavam estar constantemente conectadas ao seu corpo para manterem a forma. Era um tipo de "Elo Mágico", algo bem comum no mundo da magia.

O facão voou não muito alto e logo voltou a ser uma pequena e inofensiva esfera de metal. Ela cai de volta na palma da mão direita do mago, que logo volta a encarar o monstro preso pelas chamas. Mumu concentrou mais energia na mesma esfera em sua mão. Ele tinha uma arma secreta. Bem, não era TÃO secreta assim, mas com certeza ele fazia de tudo para não usar, tentando deixar essa magia como uma "carta na manga" para combates complicados. Logo, essa era a oportunidade perfeita para o uso dela.

TIRO DE METAL - MACHADO!

Mumu coloca a perna direita para a frente, puxa o braço direito para trás e depois joga o peso do corpo para frente, com um passo pesado com a perna direita, jogando o que tinha em sua mão direita. Era a forma mais simples de arremesso que existia.

Ele tinha arremessado a esfera cheia de energia mágica dele. A esfera voou em alta velocidade contra o vampiro, que continuava parado no mesmo lugar. O vampiro, por sua vez, riu da fútil tentativa do garoto. Ele queria que uma criatura rápida e poderosa como ele sentisse medo de uma bolinha de ferro daquelas? Isso era um insulto! E realmente seria se a pequena esfera de metal não tivesse se transformado em pleno voo, se tornando um machado de lenha que girava perigosamente contra o inimigo.

O vampiro não teve tempo nem para se assustar. Ele levantou o braço esquerdo por puro instinto, esticando os dedos na premissa de parar o machado. Não adiantou. O machado cortou quatro dedos de sua mão, continuou rodando na sua velocidade máxima e depois passou pelo pescoço da criatura, deixando-a sem cabeça em um segundo. O machado ainda girava violentamente e só foi parar quando bateu com tudo na parede de pedra, atrás do corpo sem cabeça do vampiro.

Mumu tinha treinado muito para aperfeiçoar essa magia. Ele poderia atirar uma de suas esferas e transformá-la em quase todas as suas armas no meio do caminho, pegando o inimigo desprevenido. Isso lhe consumia uma boa quantidade de energia, mas valia a pena.

Logo que o corpo do vampiro caiu no chão sem vida, Kuchiki desfaz a própria magia e volta a arfar rapidamente, além de cair com tudo no chão. Mulkior nem pensou em comemorar a vitória do combate. Ele correu até perto dos baús cheios de ouro e joias que ficava perto do trono. A ideia dele não era pegar o dinheiro, claro. Ele foi atrás dos panos de seda que faziam parte do tesouro do monstro.

Ele juntou alguns tecidos e correu de volta à colega caída. Ele a ajudou a ficar sentada, pedindo que aguentasse mais um pouco mais. Com os tecidos, ele começa a enrolar as costas da garota na tentativa de diminuir a perda de sangue dela, que já tinha começado a ficar um pouco branca. Isso tinha que servir como um primeiros-socorros por enquanto.

— Sua magia é incrível, Mumu! — diz a maga ainda sentada, dando auxílio para o amigo que estava a enrolando em panos caros.

— Treinei muito tempo pra aperfeiçoar isso. Mas diga-me: como sabia que ele não se esquivaria do golpe usando a transmutação?

— O problema da transmutação dele era que ela não efetiva contra ataques de longa distância. Eu percebi isso logo quando usei minha segunda bola de fogo contra ele. Ele se esquivou com o corpo, e não com a transmutação. Além disso, ele só fazia aquilo quando você chegava muito perto dele. Provavelmente a transmutação dele era um tipo de habilidade passiva que reagia quando alguém se aproximava. Eu só não entendi porque ele não usou isso desde o começo da luta...

— Essa raça é muito orgulhosa. — responde Mulkior, dando a mão para a garota tentar se levantar. Ela, com muito esforço, consegue ficar de pé mais uma vez. — Ele provavelmente achou que nos derrotaria sem precisar usar essa habilidade.

— Tem razão, eu acho que foi isso mesmo. Bom, parece que não precisamos mais nos preocupar com os outros vampiros.

Kula apontava para o outro lado da sala. Mumu seguiu o dedo da maga e viu que ela apontava para os três vampiros que tinham a mordido logo quando entraram ali. Eles estavam desaparecendo em cinzas. Mas não porque foram queimados pela magia de Kuchiki. Eram cinzas de existência. Isso acontecia quando o monstro era "criado magicamente" por um outro monstro.

Esse tipo de habilidade tinha uma parte boa e uma parte ruim. A parte boa era que, enquanto o monstro tivesse energia sobrando, ele poderia criar quantos outros monstros quisesse. A parte ruim era que assim que o criador fosse morto, todas as criaturas criadas por ele também desapareciam. Era ruim para os monstros, mas excelentes para os dois aventureiros.

A garota, ainda mancando e sentindo dor, se aproxima do trono onde o vampiro barão estava sentado. Só agora que ela conseguia analisar o local com mais cuidado.

— Parece que vamos ganhar um bônus por esse trabalho.

Kula se referia a grande quantidade de tesouros que esse vampiro tinha acumulado. Tinha ouro, taças, coroas, joias, amuletos, anéis, braceletes, tapeçaria e até mesmo vestimentas. Todas jogadas dentro de três grandes baús de madeira fina e brilhosa. Seria tudo deles.

Mumu se aproximou também e esbanjou a quantidade. Era ouro demais. O mago chegou a comentar que era estranho essa raça ter tantas riquezas, já que eles se importavam mais com os corpos que sequestravam.

Mulkior nunca tinha colocado as mãos em tamanha quantidade de dinheiro na vida. O que eles fariam com tanto dinheiro? Daria pra comprar uma mansão, se eles quisessem! Os dois ainda não faziam ideia de quanto exatamente tinha ali, mas se fosse para vender todas as joias e tecidos, daria uma quantia grande o suficiente para comprar um hotel inteiro.

Dinheiro nunca foi o problema para Mumu. Ele vinha de uma família rica e famosa, e além disso, sempre estava envolvido em grandes trabalhos, lhe deixando sempre em um bom estado financeiro. Ele olhou mais uma vez para Kuchiki, que nesse momento vislumbrava o ouro.

E agora? A missão tinha acabado, mas Mumu não queria sair dali, do lado dela. Os dois magos tinham a fama de serem viajantes solitários, nunca ficando em um lugar por muito tempo. Ele estava cansado disso. Mas e ela? O que ela estava pensando? O que ela pretendia fazer com a sua parte do dinheiro? Mumu não aguentou a curiosidade e perguntou:

— Kuchiki, eu... — ele hesitou. Ele quase disse outra coisa ao invés do que estava querendo realmente dizer. — O que você vai fazer agora? Digo, depois que dividirmos essa recompensa.

— Boa pergunta... É dinheiro demais, eu nem sei como eu carregaria isso comigo.

Era isso. Ela iria partir. Não importa para onde. Ela estava de partida. Assim que eles dividissem aqueles tesouros, ela iria voltar a ser um andarilho sem rumo. Não! Ele não queria isso! Ele tinha que agir! Pensar em alguma coisa! Ele não podia dizer simplesmente que ele queria ficar do lado dela assim, sem mais nem menos. Ela iria estranhar. Ou pior.

Ele precisava pensar em alguma coisa. Um lugar pra ficar. Ele precisaria de um tempo pra pensar. E agora? Mumu ficou nervoso e mordeu o lábio inferior levemente. Kuchiki não percebeu porque ainda encarava hipnoticamente os baús lotados de coisas brilhantes. Será que ele dizia pra ela? Não. Ele não queria dizer isso sem ter pensado muito a respeito antes.

Tempo. Ele precisava de tempo para pensar. Ele tinha que ficar em um lugar quieto e aconchegante, pensando profundamente em seus próprios sentimentos. E então veio a ideia. O lugar. Era isso! Era o que ele queria! Isso sempre estava em sua mente! Ele procurou muito por um novo lar. Mas pra que procurar se ele mesmo poderia CONSTRUIR?

— Kuchiki! Você criaria uma Guilda comigo?

Mumu falou tão abruptamente que a reação da garota foi esperada. Ela soltou um "Mas o quê?" confusa, se virando para o mago que a encavara seriamente. A maga estava de boca aberta e tentando entender o que o parceiro tinha acabado de perguntar. Uma guilda?

— Uma guilda? — no fim, foi isso mesmo que ela perguntou, só para ter certeza que tinha ouvido certo .

— Isso, uma Guilda! Você não está em nenhuma, e eu também não encontrei nenhuma que me faça querer ficar. Então eu pensei: por que eu não crio a minha própria?

— Mas Mumu, criar uma guilda assim do nada... Isso é meio maluco! Precisaríamos de muito tempo e de um grande estabelecimento para acomodar os membros! De onde tiraríamos dinheiro o suficiente para...

A garota se calou. Ela olhou para o lado, para os baús. "Tiraríamos o dinheiro daqui", pensou ela. Ela voltou os olhos para o mago. Ele estava sorrindo. Era um sorriso sincero e gentil. Ele estava claramente feliz. Algo lhe dizia que Mulkior estava com a cara de alguém que tinha acabado de se livrar de um peso nas costas. De alguém que estava com algo entalado na garganta por muito tempo.

Kuchiki se focou novamente no rosto feliz do parceiro. E então aconteceu o que ela nunca esperou: ela ficou envergonhada. O sorriso dele... Não era só gentileza e felicidade. Era lindo.

A garota, ainda confusa, deu um passo para trás e abaixou a cabeça, tentando esconder o vermelhidão em seu próprio rosto. Como ela só foi perceber isso agora? Aquele sorriso dele tinha totalmente a encantado. Ela mesmo não conseguia acreditar.

Para falar a verdade, Kula já estava cheia de viajar. Passar de cidade em cidade e ver o desespero das pessoas que imploravam por ajuda... Aquilo não era uma visão muito calorosa para se ter toda semana. Ela também queria ficar em um lugar bom e tranquilo, onde ela tivesse a "escolha" em ajudar. Óbvio, ela não iria virar as costas pra ninguém que precisasse de sua ajuda, mas pelo menos, ela queria que as pessoas fossem até ela ao invés do contrário.

Entrar para uma guilda... Quantas vezes ela já pensou nisso? Muitas. Ela já tinha perdido a conta. Quantas vezes ela já trabalhou para alguma guilda e logo depois de receber os agradecimentos calorosos dos membros, ela pensou em ficar por lá mesmo? Também muitas. Mas nunca ficou. Continuou caminhando. Continuou viajando, ajudando as pessoas que encontrava pelo caminho. Continuou mandando uma parte do dinheiro que ganhava das missões para seus pais, que já haviam mandado algumas cartas para ela, pedindo que parasse de mandar dinheiro pois eles já estavam muito bem por lá.

Seus pais também sempre pediam para que ela voltasse pra casa. Que deixasse dessa vida de maga viajante e que ficasse em sua casa, perto dos seus pais. Descansar. Esquecer um pouco essa vida perigosa. Mas ela não estava satisfeita ainda. Ela precisava de mais. Ainda havia muita gente precisando da ajuda dela. Kuchiki não iria voltar pra casa. Mas ter um outro lugar para chamar de lar e continuar ajudando as pessoas também não era uma má ideia.

— Olha... É realmente uma ideia boa. — a garota viu que o sorriso bonito de Mumu havia se intensificado. Era isso que ele queria ouvir, mas havia mais coisas vindo aí. — Mas ainda teríamos um problema. Mesmo que eu e você tenhamos uma certa fama, isso não vai ser o suficiente para fazer as pessoas quererem entrar para nossa Guilda! Não vai me dizer que quer fazer algo pequeno, não é?

Ela tinha razão. Mumu não tinha pensando nisso ainda. O mago era alguém que nunca fazia as coisas pela metade. Se ele fosse criar uma guilda, então que ela fosse grande e famosa! Isso era certeza. Mas o que fazer em relação a fama? Demorava muito para uma guilda fazer fama e ser bem vista pelas pessoas. Eles precisariam trabalhar muito antes de serem conhecidos o suficiente para atrair novos membros.

E tinha outro problema. Eles tinham dinheiro para criar um grande estabelecimento para acomodar os membros, mas como eles iriam "manter" esse estabelecimento se tivessem poucos trabalhos? Seria impossível. Principalmente se eles ficassem em uma Capital, onde o preço dos terrenos eram mais caros.

Eles precisariam de algo grande. Como fazer fama rapidamente? Participar de guerras? Muito perigoso. Ele não poderia ariscar a vida de sua nova parceira assim. Fazer os trabalhos mais difíceis das grandes guildas já existentes? Não adiantaria. A fama iria acabar indo para a guilda em questão. Virar uma Guilda da Realeza? Interessante, mas pouco provável. Nenhum Rei aceitaria contratar uma guilda recém criada e só com dois membros.

Espera. Havia um jeito. Mumu tinha acabado de se lembrar do que ele mesmo iria fazer depois que completasse essa missão. Ele tinha um outro objetivo e precisava de dinheiro. Então ele tinha se programado para viajar até o centro do mundo, na maior cidade-estado do planeta. Lá, ele iria participar de um evento que só acontece de cinco em cinco anos e que reúne os maiores nomes da magia da atualidade.

Era um Evento Mundial. A quantidade de gente que iria lá para assistir era incontável. Era perfeito! A fama que eles precisavam estava lá! Mumu sorriu novamente, deixando sua parceira sem graça pela enésima vez.

— Eu sei para onde devemos ir. — disse ele, ainda sorrindo. Ele esbanjava algo diferente. Confiança. Foi a vez de Kuchiki se sentir atraída pela aura de confiança do mago de ferro. — Vamos para o "Coliseu dos Deuses"!


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, nossos mercenários irão vislumbrar a maior Capital do Mundo, e isso será só o começo.



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