Doutor Estranho: O Diário de Agamotto escrita por Larenu


Capítulo 6
O Rosa


Notas iniciais do capítulo

Voltamos com a busca de Stephen Strange pelos segredos dos Magos Supremos... e também com trechos inspirados por "Kashmir" do Led Zeppelin!



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Ao longe, tudo parecia adquirir um tom castanho. Era como uma tempestade de areia. Um por um, os grãos marrons tingiam a paisagem. Linda Carter se sentia paralisada. De repente, ouviu um barulho de água. Ondas surgiram nas dunas castanhas ao longe, trazendo consigo um navio enorme. Linda não pôde se mover. Foi engolida pelas ondas.

Acordou em uma cama, se sentindo sem fôlego, como se realmente tivesse estado embaixo d'água por muito tempo. Por um momento, pensou que tudo o que havia acontecido era irreal. Mas então escutou Stephen gritando "Fale!" e percebeu que estava em Sanctum Sanctorum. Stephen!

Ela saltou da cama, saindo para o corredor. Ainda era noite, ela percebeu ao entrar no sótão de Stephen. Ele e Johnny Blaze estavam parados diante de uma televisão antiga (que não combinava com a decoração mística do local). Na televisão estava Pesadelo, batendo contra a tela.

– É seguro mantê-lo aí? – ela perguntou ao entrar.

– Mais seguro do que em um espelho quebrado, eu garanto – respondeu Stephen, sorrindo. – Está melhor, Linda?

– Melhor do que?

– Você desmaiou assim que chegou aqui. Acho que a magia de Pesadelo foi demais para você.

– E Wong? O encontraram?

– Infelizmente, Johnny crê que o encontrou.

– E onde ele está?

No Monastério do Ancião, no Everest, com Jade – respondeu Johnny.

Jade. Linda se lembrou da mulher oriental de roupas ninja douradas que conhecera no Monastério.

– Por que ele estaria lá?

– Provavelmente, Pesadelo o mandou para lá – disse Stephen. – Por motivos desconhecidos, antes que pergunte. Isso, porém, não nos interessa no momento. Estávamos perguntando ao nosso amigo Pesadelo sobre o Diário de Agamotto.

"Amigo o caramba" disse Pesadelo na televisão.

– Vamos, Pesadelo! Coopere! O que sabe sobre os Hellstrom estarem atrás do Diário de Agamotto?

"Muitas coisas, Mago Supremo. Hihihi! Quem depende de mim agora?"

– Ninguém, Pesadelo. Você depende de mim. posso simplesmente destruir você se eu quiser.

"Não vai fazer isso. Está apenas blefando. Quem você que pensa que é, Estranho?"

–Chega! Você irritou o Mago Supremo!

Os olhos dele começaram a brilhar. Stephen se ergueu do chão, braços abertos enquanto o Olho de Agamotto brilhava.

–Criatura das profundezas! Em nome de Agamotto, do Vishanti e do Ancião, eu o transformo em Mystica Servus Maleficus!

"Não! Você não pode!"

Um Mystica Servus Maleficus, Escravo Místico do Mago, era uma criatura demoníaca obrigada a servir aos objetivos de seu mestre, um mago que deveria ser poderoso o suficiente para invocar grandes nomes da magia (como Stephen fizera ao pronunciar os nomes "Agamotto", "Vishanti" e "Ancião").

–Agora, Pesadelo, eu ordeno que conte: por que os Hellstrom querem o Diário de Agamotto?

"Não é óbvio? O Diário promete revelar os maiores segredos de toda a linhagem dos Magos Supremos. Segredos capazes de mudar a humanidade como nós conhecemos. Mas apenas se forem revelados ao mundo."

– Espere, você está insinuando... Que Satanna e Daimon Hellstrom querem divulgar os segredos do Diário?

"Exatamente o contrário. Supremo, eles servem alguém maior do que eles. Esse alguém quer dominar nosso universo. Por que ele fortaleceria seus oponentes? Ele está querendo destruir as ameaças, Estranho."

– Destruir... as ameaças. Ele quer destruir o Diário de Agamotto? Temos que impedir. O Diário pertence ao Mago Supremo. Como podemos encontrá-lo?

"A chave está com você. Um amuleto que você tem guardado há muito tempo. Com um rubi vermelho. Isso o lembra de algo? Sei que sim. Sou um Escravo Místico do Mago bem esperto, não acha?"

– Obrigado por cooperar, Pesadelo.

Stephen se aproximou e desligou a televisão.

– Stephen? Você sabe de qual amuleto ele estava falando?

– Sim, Linda. Eu sei. Foi um presente dado a mim por Karl Mordo. Um colar daqueles de guardar fotos com um rubi vermelho encrustado.

O Doutor Estranho andou na direção da moldura quebrada do espelho.

– Eu o guardei aqui. Uma pequena caixa escondida no chão.

Quando Stephen estava quase abrindo um alçapão no chão, a janela explodiu com um tiro.

– Mas o que...?

Eles olharam para o tiro, percebendo que se tratava de um arpão com corda. Linda olhou pelo vidro e viu a silhueta de um homem deslizando pela corda.

–Se abaixem!

O homem terminou de quebrar a janela quando entrou. Ele usava máscara e luvas rosas.

– Eu sou o Rosa. Entreguem-me o Amuleto de Mordo!

– Quem você pensa que é, Rosa, para invadir o Sanctum Sanctorum do Mago Supremo? Eu sou o Doutor Estranho e o expulso de meu santuário!

O Rosa riu.

– Magia não funciona comigo, Mago Supremo. Invoque quantos nomes quiser. Meus mestres me protegeram com magia demoníaca!

Magia demoníaca. Hellstrom. Strange não pôde deixar de sorrir com a tolice do Rosa ao revelar, mesmo que inconscientemente, a quem servia. Magia demoníaca, em Nova York, tinha apenas duas fontes óbvias: o Motoqueiro Fantasma e a família rica que mantinha o Clube do Inferno, os Hellstrom. Satanna e Daimon Hellstrom eram filhos de uma mortal com um demônio muito conhecido: Lúcifer. A linhagem demoníaca deles os tornava muito mais propícios a utilizar magia demoníaca.

–Senhor Rosa, me diga: por que serve os Hellstrom? Participou do Clube do Inferno? Foi seduzido por Satanna? Deve algo para Daimon?

– Meus motivos não te interessam. Apenas concordo com os princípios dos Hellstrom. Ao longo de toda a história humana, novas religiões foram surgindo, todas prometendo a mesma coisa: um dia quando tudo seria revelado. O Apocalipse. Mas que adianta prometer quando não se pode cumprir? Nossa raça gentil sempre dependeu de anciões que faziam promessas vazias, sabendo que não poderiam cumprir. Sempre profetizaram sobre seres maiores do que nós pois o ser humano precisa disso. Precisa de alguém mais poderoso para ditar as regras. Mas, quando esse alguém surge entre os humanos, é desprezado e trocado por falsos deuses. Os Hellstrom acreditam que a raça humana está melhor sem as revelações Sabe por quê? Porque o ser humano não está preparado! O ser humano sempre irá querer mais. Isso é uma das grandes verdades com as quais temos que lidar. De nada adiantam as revelações. Antigos Mistérios, Vida Após a Morte, Juízo Final, Magia... Chame como quiser. São todas falsas promessas de revelações.

–Foi um discurso e tanto, senhor Rosa. Uma pena que não seja seu. Pode me dizer por que Satanna gravou esse discurso na sua mente?

– Satanna... O quê?

– Você nem sequer percebeu, não é mesmo? É, Rosa... Você foi seduzido por Satanna Hellstrom.

– Você não sabe de nada, Mago!

O Motoqueiro Fantasma parecia estar rindo. Mas era um som tão estranho e seco que ninguém jamais imaginaria que era uma risada. O Rosa pegou duas pistolas e apontou, uma para Linda e outra para Stephen.

Esqueceu de mim, otário!

Johnny Blaze invocou suas correntes flamejantes e jogou o Rosa para o lado. Aproveitando a chance, Stephen gesticulou apontando para a televisão onde Pesadelo estava preso. Eles já haviam planejado aquilo. Linda pegou uma seringa e colocou na entrada do cabo de vídeo. Uma fumaça verde surgiu dentro da seringa. Pesadelo.

No chão, o Rosa se arrastou para perto da moldura do espelho quebrado. Se Satanna o informara corretamente, o alçapão com o amuleto estava ali em algum lugar. Ele tateou em busca de uma alça, a qual achou com sucesso. Puxou com força, abrindo um compartimento de madeira onde havia um livro preto. Isto não é o amuleto que ela descreveu. Mas ele não teve tempo de abrir o livro.

Correntes o agarraram, arrastando-o para trás. Quando se virou, deu de cara com o Motoqueiro Fantasma.

Achou que escaparia assim tão fácil? Eu sou o Espírito de Vingança de Mephisto!

O Rosa se viu encurralado. Só havia uma chance de conseguir escapar. Pegou o livro e o abriu, procurando por algum feitiço simples de se fazer. Mas então achou algo melhor: no livro havia um buraco, onde o amuleto estava escondido. Era um medalhão dourado, com um rubi encrustado. Abriu o amuleto, encontrando um pedaço de um texto muito antigo preso no lugar de uma foto.

Na parte de cima, na palavra "nunca", a letra N estava grifada. À direita, a letra L, na palavra "lentamente". E, embaixo, a letra S, na palavra "sim". Vamos, Richard. Pense em algum padrão existente entre as três letras. NLS, SLN, LNS, SNL, LNS, NSL. NSL! Norte, Sul, Leste e... Oeste. Oeste!, ele pensou. A dica não podia ser mais óbvia. Estava indicando uma direção. Ironicamente, só naquele momento ele percebeu que o rubi vermelho parecia indicar a mesma direção.

Inevitavelmente, seu olhar se voltou na direção indicada: uma pilha de fitas-cassetes. Uma delas se destacava, pois era vermelha. Se eu pudesse chegar mais perto... Numa tentativa inútil, guardou o medalhão no livro e jogou dentro do buraco. Percebendo que conseguira evitar um ataque do Motoqueiro Fantasma, o Rosa rolou para o lado. Saltou, se levantando do chão. Quando já estava quase chegando nas fitas, uma das correntes do Motoqueiro agarrou sua perna.

– Mas que...

Sem palavrões, por favor.

Bufou, irritado por não conseguir chegar às fitas. Pegou uma arma no bolso, mais uma com arpão. Disparou na direção das fias, mas acabou derrubando a pilha. Só viu o pé de Stephen Strange pisando na corda.

– Por que derrubou minhas fitas? Tive o maior trabalho para arrumar. Enfim, como conseguiu tirar o medalhão de dentro do livro?

– Simplesmente abri o livro. Lá dentro havia o buraco.

– Linda, confira para mim.

Ela se aproximou do buraco e pegou o livro. Ao abrir, exclamou:

– É só um livro, Stephen.

– Tem certeza? Folheie ele.

Linda obedeceu.

– Ainda assim, nada.

– Jogue ele para mim.

O livro voou, aterrissando nas mãos dele.

– Acho que a magia demoníaca em você tirou o encanto no livro.

– Sou a prova de magia, seu idiota.

– Ah, verdade. Isso deve ter anulado o feitiço por um tempo.

Stephen, o livro refletiu um ataque meu.

Johnny, este é o Livro do Vishanti. Ele reflete ataques.

Stephe passou a mão pela capa do livro, retirando o feitiço. Aproveitando a oportunidade, o Rosa agarrou o arpão preso ao chão que usara para entrar. Imediatamente, foi arrastado para fora do sótão. Nem Johnny Blaze conseguiu o segurar.

Droga!

– Não se preocupe, Blaze. Pelo menos temos o medalhão.

Ao abrir o livro, o medalhão estava de volta ao seu compartimento. Pegou-o, manuseando com cuidado. Ao abrir, chamou Linda e Johnny para lerem juntos.

– "... sabe que eu Nunca faria isso. Tenho honra..."

"...me deixei cair e tentação e Lentamente..."

"...afirmar, mas Sim. Eu..."

Os trechos não pareciam fazer sentido algum. Estavam dispostos aleatoriamente, com letras grifadas nele. NLS.

– São os pontos cardeais – afirmou Linda.

– Norte, Sul, Leste... NSL. Claro!

Isso significa que a direção indicada é...

– O único ponto cardeal não indicado. Oeste.

Exato, enfermeira.

Stephen olhou na direção oeste e viu a pilha de fitas cassetes que o Rosa derrubara. Só conseguiu se lembrar da fita vermelha, que indicava uma única localização em Nova York. O Clube do Inferno.






O Rosa caminhou pelo telhado, frustrado. Não conseguira a maldita fita vermelha, portanto Satanna ficaria desapontada. Quer dizer, não que ele realmente se importasse em chateá-la. O problema era enfrentar a fúria dela. Vê-la não conseguir o que queria uma vez na vida, porém, era gratificante. Pena que seria obrigado a servi-la por mais algum tempo.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi tão... "leve" de se escrever, quase como se tivesse sido escrito por si só!

Ah, só vou lembrar que não existe Mystica Servus Maleficus nos quadrinhos. Só aqui. E a tradução verdadeira de Sanctum Sanctorum é, na verdade, Santo dos Santos, mas acho que Santo Santuário faz mais sentido neste caso (gente, latim é uma língua confusa demais!).



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