Linda Carter estava ao lado da cama de sua tia no asilo. Peggy, cabelos grisalhos e pele enrugada, ainda estava sã.

– Oh, Linda, minha sobrinha querida... Que bom que está aqui!

Os olhos de Linda já tinham vestígios de lágrimas.

– Oi, tia... Como a senhora vai?

– Vou bem... Apesar de ainda querer saber quando vou voltar para casa.

– Tia, não sou em quem decido. É minha mãe ou Sharon.

– Oh, Sharon... Minha doce Sharon... Ela está aqui?

Peggy agora fitava a porta.

– Sharon, minha querida! Como vai, minha sobrinha linda?

– Tia, Sharon não está aqui.

– Oh, é verdade. Como fui tola em acreditar. Conte-me, Linda... como está no hospital?

– Estou bem, tia.

– E aquele homem de quem tanto falava, Stephen? Por onde ele anda?

– Stephen? Ah, não sei... Faz muito tempo.

– He, nunca desista, querida. Um dia ele voltará.

– Obrigada, tia.

– E o outro, como chama? Matt?

– Ah, tia! Matt é só um amigo!

Linda havia corado.

– Sabe, amigo ou não, o amor brota de lugares inesperados. Quando servi o exército, conheci um belo homem chamado Steve Rogers. No começo eu não gostava dele, não mesmo. Era um panaca. Mas então ele me conquistou. A ingenuidade e vulnerabilidade que o homem forte que Steve se tornou fizeram do Capitão América um homem comum aos meus olhos. Não, não um homem comum. Mas sim o meu homem.

Steve Rogers. Linda achava tão egoísta da parte da irmã esconder que Rogers estava vivo, que fizera questão de reclamar com Sharon. Fizera a irmã prometer que iria levar Steve Rogers para ver Peggy. Mesmo que Sharon ocultasse a parte de que estava saindo com Steve, ela ainda devia trazê-lo para visitar sua antiga amada.

– Tia...

– Linda? É você? Há quanto tempo, querida! Como vai Sharon? Ela também veio?

– Ah... Oi, tia! Senti saudades!

Ela se levantou, pronta para ir embora, agora que uma das doenças mentais da tia (agora o Alzheimer) se manifestara. Pelo menos devia sair antes que a esquizofrenia voltasse a transformar Peggy em uma pessoa violenta e fosse necessário sedá-la com drogas.

De repente, um enorme estrondo fez com que parasse. A parede do quarto explodiu e um homem com roupas militares entrou. Suas roupas eram como as de um soldado qualquer, exceto pela máscara rosa e a coroa dourada.

– Helmut – disse Peggy. – Onde está seu pai?

– Morto – respondeu o militar. – Assim como você em breve estará!

Antes que Linda pudesse se mexer, seus olhos se fecharam e partiu para outro sonho.

Stephen Strange estava agora no Monastério do Ancião, dez anos mais jovem. Um idoso, o Ancião, estava sentado no chão, meditando. Stephen estava de frente para o idoso, ao lado de um homem de roupa verde e capa amarela (Karl Mordo).

– Agora concentrem-se – disse o Ancião.

O jovem Strange fechou os olhos, tentando chegar ao Nirvana pela primeira vez. Stephen sabia como aquilo terminaria: ele conseguiria e Mordo não, então Karl iria levantar-se, brigar com o Ancião e fugir. Dessa vez, porém, o Ancião começou a engasgar.

– Mestre! – disseram Mordo e Strange ao mesmo tempo.

Quando abriram os olhos, havia uma árvore com rosto plantada no chão. Sua copa começara a pegar fogo, um olho surgindo em meio às chamas. De repente, o olho piscou, se transformando em um pentagrama. O pentagrama de Daimon Hellstrom.

Um tridente surgiu, flutuando no ar. Ele se enfiou no tranco da árvore e se incendiou. O tridente de Satanna Hellstrom. A árvore começou a virar cinzas. Então, Mordo levantou-se. Ele murmurou algo sobre demônios e trevas, mas Stephen ignorou.

Até que a cabeça de Mordo pegou fogo. Não era um fogo como o da árvore, nem um fogo como o de Johnny Blaze. Era um fogo com algumas chamas pretas. Uma armadura preta e dourada surgiu em volta de Mordo. Por cima, uma túnica preta.

– Olá Stephen, sou Dormammu. Creio que vamos nos tornar grandes amigos.

Johnny Blaze se viu novamente em um circo. Estava em uma moto diferente da que usava em seus tempos circenses: era sua tradicional moto flamejante. Também usava roupa preta, mas seu rosto não estava mais pegando fogo: era novamente Johnny Blaze.

Acelerou, subindo a rampa e passando pelo círculo flamejante entre as duas. Desta vez, porém, o fogo pegou em suas roupas. Pulou da moto, rolando no chão, mas o fogo continuava machucando-o.

De repente, viu uma figura se aproximando. Usava uma longa túnica vermelha e laranja. Seu rosto era uma caveira flamejante, mas seus olhos vazios eram pontudos. Parecia a mistura de uma abóbora de Halloween com um crânio.

–Mephisto pagará! – gritou o vulto.

Johnny tentou fugir, mas mal pôde se levantar.

– Mephisto pagará por ter criado você. Mephisto pagará!

Foi quando Blaze o reconheceu: Zarathos, o demônio em quem Mephisto se inspirou para criar seu Espírito de Vingança, ou Motoqueiro Fantasma, através do corpo de Johnny Blaze. Zarathos estendeu o pé e o enfiou na cabeça de Johnny. Chamas ocultaram o campo de visão de Blaze, enquanto Zarathos continuava gritando:

– Mephisto pagará!

Wong se viu novamente no Vale dos Espíritos. Conseguia até imaginar quem ia encontrar. Justin, pensou. Incrivelmente, não foi Justin Hammer quem apareceu para ele. Nem foi uma visão.

– Olá, Wong – chamou Jade ao se aproximar.

– Jade – ele respondeu.

– Pronto para sair daqui?

– Sim.

– Então por que parece triste?

– Nada não. Apenas desapontado por não poder ter acertado um chute no rosto do canalha do Strange.

– Não se preocupe. Quando entregarmos o Doutor Druida para Mordo, vamos poder ficar juntos. E então poderemos cuidar de Stephen sozinhos.

– Sabe, acho que a enfermeira suspeita de mim.

– A loira? Ela não será um problema. Os Hellstrom cuidarão dela e do Motoqueiro Fantasma. Isto é, se ela conseguir escapar do pesadelo proporcionado por Pesadelo.

– Compreendo. Mas... Satanna e Daimon haviam comentado que Lucífer não parecia satisfeito conosco.

– E que mal ele pode fazer? Azazel é incompetente, Mephisto e Zatharos não se dão, Pesadelo é um idiota e Dormammu está morto.

– Não completamente, você sabe. Quando Strange e Druid estiverem mortos, ele não vai demorar para escapar.

– É por isso que precisamos encontrar o Diário antes de Stephen. Quer dizer, precisamos encontrar o Diário antes mesmo do Doutor Estranho saber de sua existência.

– E o Ancião?

– Loki garantiu que vai queimar a árvore antes de Thor encontrá-la.

– Devíamos tê-lo matado antes de Loki levá-lo.

– Wong, nosso senhor quis envolver Loki nessa história.

– É isso que temo, Jade. Tenho medo que Thanos nos substitua por um de seus comparsas espaciais.

– É por isso que temos que agir na surdina, sem falharmos. Ah, e evite falar o nome dele em voz alta.

– Só mais uma coisa, Jade. Por que aqui?

– Pensei que a lembrança de seu pai pudesse lhe fazer bem.

– Jade, lembre-se de mais uma coisa. Nunca envolva meu pai nessa história.

– Está bem.

Ele aproximou-se dela e beijou-a nos lábios.

– Vamos.

A dor do pisão de Zarathos fez com que o Motoqueiro Fantasma despertasse. Olhou para cima, para Pesadelo e sua pele branca em meio à fumaça verde, e levantou-se.

– O quê?! Como escapou?!

– Parece que a dor que me causou foi forte demais, Pesadelo.

Olhou em volta, procurando pelos outros. Viu linda e Stephen, mas não teve nem sinal de Wong. Deve ter fugido como o rato que realmente é, pensou, lembrando do mordomo calvo e japonês de Stephen com rancor. Ajoelhou-se perto da Enfermeira Noturna (que na verdade se chamava Linda Carter, como descobrira) e chacoalhou a cabeça dela. Ela começou a acordar.

– Onde estou? – ela perguntou. Quando viu Pesadelo, gritou algo incompreensível.

– Acalme-se, enfermeira. Vamos acordar Stephen.

– Ah, não vão não! – a voz aguda e zombeteira de Pesadelo gritou.

Pequenos clones dele surgiram ao redor de Linda e Johnny.

– Preparada para sua primeira batalha?

– Não é a primeira.

– É a primeira comigo.

– Sendo assim, estou sim.

Eles pularam nos pequenos Pesadelos.