O Monastério do Ancião erguia-se colossal diante deles. Linda mal podia acreditar que estavam em cima das nuvens próximas ao cume do Monte Everest. O portal de Strange, segundo ele, podia levar a qualquer lugar que eles quisessem. O que incluía outras dimensões.

– É aqui? – ela perguntou.

Wong a fitou como se fosse óbvio. Stephen já estava na porta do templo, o que fez com que Wong pudesse a tratar com rispidez (uma arrogância com a qual ela já havia se acostumado). O mordomo de Strange se aproximou por trás dela, sorrindo, e provocou:

– É melhor se apressar, senhorita Carter. Se demorar mais o senhor Strange não vai mais te esperar.

Ela se apressou em alcançar Stephen. Linda não conseguia tirar de sua cabeça a semelhança entre Wong e Stephen e os personagens Smithers e Burns de Os Simpsons. Juntos, os três entraram no templo. Lá dentro havia apenas uma grande e ampla sala, com um círculo no centro com o desenho de um olho.

– Tempos antes do Ancião viver aqui, este lugar foi residência de um mago muito mais poderoso: Agamotto.

–Alguma relação com esse seu amuleto?

– Ele o criou com conhecimentos ocultos de feitiçaria. Sabe, muitos consideram Agamotto um feiticeiro mau, mas eu não vejo mal algum nele. O Olho de Agamotto possibilita muitas coisas que meus antecessores Magos Supremos não conseguiam fazer.

– Agamotto foi Mago Supremo?

– Foi.

– Mas por pouco tempo – disse uma voz feminina que não pertencia a Linda.

Um ninja dourado saltou pela grade do andar de cima e aterrizou no olho desenhado no chão.

– O Ancião contou com a minha ajuda para destronar Agamotto. Ele não era merecedor. E creio que você também não, Doutor Estranho.

A ninja avançou. Ela se movimentava delicadamente, como se voasse. Diferentemente do ninja de roupa preta daquela noite, ela não usava uma máscara em seu rosto todo. Seus olhos eram uma marca de descendência japonesa, e seus cabelos escuros (presos em duas esferas, uma de cada lado da cabeça) remetiam ao modo como mulheres japonesas se vestiam na Idade Média.

Wong tentou atacá-la, mas Stephen pediu que o mordomo deixasse esta luta para seu patrão. Strange e a mulher, Linda reconheceu, estavam lutando kung fu... Ou alguma outra arte marcial japonesa, como ninjutsu. Sinceramente, ela pouco se importava.

A mulher movimentava-se com graciosidade. Seus ataques eram rápidos e fortes, e pareciam ter certo brilho mágico. Isso, Linda acreditava, significava que realmente havia magia nela. Mas de nada podia reclamar, pois Stephen também estava usando magia.

Ela acabou com a luta ao acertar um chute no pescoço de Stephen. Strange caiu no chão, xingando alto, e a ninja se jogou em cima dele.

– Que quer aqui, Doutor Estranho?

– Imagino que você saiba, Jade.

Jade. Isso significava que Stephen a conhecia.

– Atrás do Ancião você não veio. Aquele maldito Deus da Trapaça o levou faz anos.

– Não vim atrás do Ancião, Jade. Quero respostas.

– E por isso trouxe dois mortais com você?

– Ah, claro – ele se levantou, novamente alisando a roupa como se tirasse poeira. – Jade, estes são Wong, meu mordomo, e Linda Carter, uma amiga minha. Wong e Linda, esta é Jade, uma amiga minha dos tempos em que treinei com o Ancião, ao lado de poderosos feiticeiros como Karl Mordo e Anthony Druid.

– Prazer – disse Linda, tentando ser gentil. Jade a ignorou.

– Você não respondeu minha pergunta, Doutor Estranho.

– Jade, Wong me acompanha para todo lugar. E Linda... ah, sei lá por que trouxe ela. Achei que não era seguro deixá-la em Nova York sendo que ela descobriu sobre a existência de magia.

– ELA O QUÊ?!

Naquele instante, um homem entrou no salão. Era relativamente alto, usava um capuz azul e uma roupa completamente vermelha. Em seu peito havia o desenho de um triângulo com um olho dentro.

– Jade! Stephen! Há quanto tempo!

– Anthony! – exclamou Strange, aproveitando para escapar da conversa com Jade.

– Doutor Druida – disse Jade, irritadiça.

Linda apenas encarava o símbolo no peito de Anthony Druid. Aquilo lhe lembrava uma antiga sociedade secreta, da qual um amigo seu não parava de falar... os Iluminati.

– I-I-Isso é... – começou Linda.

Anthony sorriu.

– Exatamente. A Pirâmide de Agamotto.

– Ãh? Eu estava me referindo aos... aos Iluminati.

– De certa forma, também. A pirâmide do conhecimento e o Olho Que Tudo Vê não são símbolos apenas Iluminati, minha cara. Foram usados por muitas sociedades secretas (Iluminati, Francomaçonaria, Priorado de Sião, Ordem dos Cavaleiros Templários), mas seu verdadeiro criador foi Agamotto. Ele valorizava, sim, o conhecimento acima de tudo. Seu símbolo era o Olho de Agamotto, e o símbolo do conhecimento era a pirâmide. Quer algo melhor do que uma junção dos dois para representar aqueles que valorizam a sabedoria acima de tudo?

Jade bufou, parecendo entediada com o "papo-cabeça".

– Oh, Doutor Druida... Você e seus papos sobre teorias da conspiração.

Stephen se pronunciou:

– Bom, acho que está na hora de saberem porque vim aqui. A resposta, temo eu, é mais complexa do que imaginam. Esta noite (em Nova York é noite, está bem?) fui atacado por um ninja. Um guerreiro de antigos inimigos nossos: os Hellstrom.

–Os Hellstrom? A família de Lúcifer? – perguntou Anthony.

– Os próprios. O ninja tentou roubar o Olho de Agamotto.

– Pelo que vejo, ele não conseguiu – disse Jade.

Linda e Wong apenas observavam.

– Sim, Jade. Graças à Linda, ele não conseguiu.

– Você luta, senhorita? – perguntou Anthony.

– Aprendi com um amigo meu – ela confessou, lembrando-se de Matt Murdock com carinho.

–Em fim, o Olho de Agamotto está seguro. Por que insistiu em vir aqui, Doutor Estranho? – perguntou Jade.

– Porque a tentativa de assalto me lembrou de algo. Esta noite, Pesadelo escapou. Esse foi o motivo de eu estar no hospital tão tarde. E ele me disse algo. Ele se aproximou do meu corpo ensanguentado e sussurrou: "Você vai desejar nunca ter ganhado este amuleto".

– Ele estava se referindo ao Olho de Agamotto, sem dúvida – comentou Wong.

– Parece uma ameaça – disse Jade.

Anthony olhou para ela.

– Uma ameaça? Você acha que Pesadelo está relacionado com o ninja dos Hellstrom?

– Por que não? – sugeriu Jade.

– Não sei... Para mim, Pesadelo estava alertando Stephen sobre o assalto.

– Acho difícil.

Linda olhou para eles.

– Por que não perguntam para ele?

Stephen, Jade e Anthony se viraram para ela.

– Falar com PESADELO?! – disseram, em uníssono.

–Por que não? Creio que vocês têm uma forma de encontrá-lo.

– Você está pensando o mesmo que eu, Stephen? –perguntou Anthony.

– Sim. Blaze.

– Blaze? De Johnny Blaze? – perguntou Jade.

– Sim. O Espírito de Vingança.

– É arriscado, eu sei, mas é o melhor a fazer.

Stephen se aproximou de Wong e sussurrou algo. Então, voltou-se novamente para Druid e Jade.

– Estou de partida. Adeus.

Com essas palavras, Strange puxou Linda pelo braço para a saída. Wong os seguiu. Lá fora, Stephen abriu o portal de volta para Nova York.

Anthony Druid sentou-se no chão para meditar. Esperou alguns minutos, até Stephen e seus companheiros entrarem no portal, e atingiu aquele estado que os antigos chamavam de "Nirvana". Então, as visões chegaram.

A primeira começou como sempre: dentro do Stonehenge, druidas anciãos realizavam o ritual de aprisionamento de Dormammu. Mas então a visão tomou um rumo diferente. Um homem loiro vestido de preto sentou-se com os druidas. Ele conversou com os mais velhos e levantou-se. Seu corpo começou a incendiar. Ele disparava chamas nos druidas, furioso. O homem murmurava sobre demônios e coisas do tipo.

Então a visão mudou. A segunda visão mostrava o Ancião lendo um livro com o Olho de Agamotto na capa. Um homem de sobretudo preto surgiu, com um colar em mãos, e estendeu a joia do pingente para o Ancião. O idoso calvo de roupa amarela começou a enrijecer. Sua pele adquiriu um tom castanho, e folhas começaram a brotar de sua cabeça.

De repente, uma dor percorreu o corpo do Doutor Druida. Ele virou-se a tempo de ver Jade enfiando uma adaga em suas costas. Ela sorria.

– Você me obrigou a fazer isso, Doutor Druida. Me perdoe, Anthony.