A Joia do Imperador escrita por Kirol Benson


Capítulo 2
No coração do mistério




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Esgueirando-se por ruelas estreitas, pisoteando baratas, desviando-se de lixo, imundice, toda espécie de podridão, Sherlock conduzia Watson por um beco escuro. A essa altura, ela não perguntava nada, apenas o seguia com as mãos nos bolsos do casaco e os olhos atentos para qualquer surpresa desagradável. Depois de pular o cobertor de um mendigo, Holmes parou em frente a uma porta, que parecia ter sido estrategicamente colocada ali, no meio daquele lugar nenhum.

–Chegamos! – Ele anunciou efusivamente.

–Posso saber onde, especificamente, chegamos?

–Ao Museu...

–...

–Minha cara Watson, nem todas as palavras que ouve devem ser interpretadas em seu sentido literal.

–...

–Permita-me explicar, mas só depois que entrarmos.- Empurrando a porta para o lado, Sherlock abriu espaço para que Joan passasse. O lugar estava escuro e tão fétido quanto o lado de fora, mas ao menos estava quente. Watson acendeu a lanterna que trouxera consigo e Sherlock fez o mesmo com a sua. O cubículo se tornou claro. Havia uma pequena mesa, alguns papeis espalhados, meia dúzia de bitucas de cigarro e uma enorme tampa de ferro no chão.

– Preciso que ilumine enquanto arrasto a tampa.- Se ajoelhando diante do objeto, Sherlock a rodou com habilidade e a tirou. Um buraco escuro se tornou visível e fez Joan recuar.

–Mas o que é isso?

–Uma entrada para um dos dutos do sistema de esgoto.

–Está me dizendo que vamos entrar no esgoto, é isso?

–Sim!

–O que te faz pensar que vou fazer isso?

–Sua curiosidade supera qualquer reação do seu corpo contra possíveis odores desagradáveis...

–Mas o que vamos fazer aí?

–Eu te explico no caminho- Sherlock começou a descer as escadas de ferro que estavam presas nas paredes do buraco e Joan o acompanhou. Pisaram em algo que Watson reconheceu como os restos mortais de um rato. Deu graças a Deus por estar usando as botas especiais que ele lhe dera.- Veja, Watson, esse é um dos dutos principais de distribuição do esgoto de nossa cidade. Durante escavações, a alguns bons anos atrás, encontraram nesse mesmo lugar, restos do que poderia ter sido uma sociedade secreta, uma civilização subterrânea.

–Pessoas viviam aqui, nessa podridão? – Watson desviava dos detritos enquanto o ouvia com atenção.

–Tenho razões para crer que, antes de ser esgoto, esse lugar era bastante...belo. Aqui viviam pessoas, animais, algumas espécies de plantas e uma secta.

–Uma o que?- Watson não reconheceu o termo e franziu o cenho esperando que ele esclarecesse os fatos que pareciam cada vez mais confusos.

–Secta, do latim, quer dizer seccionar, dividir. Se refere ao termo que hoje conhecemos como Seita.

–Não poderia ter dito logo?

–Perderia o prazer de te ensinar algo...Bom, essa seita, ou sociedade secreta, como Roger prefere chamar, parecia ter se extinguido. Ninguém nunca soube qual eram seus objetivos e porque pessoas deixaram de viver na superfície, em meio a civilização, para viver aqui, no subterrâneo. Porém, a algum tempo, estudiosos descobriram que essa sociedade não só não morreu, como ainda atua em nosso meio. Disfarçados de cientistas, intelectuais e outros membros da sociedade culta, eles são responsáveis por proteger os maiores tesouros da humanidade.

–E posso saber porque eles fazem isso num esgoto?

–Bom, eles prezam as suas origens, ainda que não sejam...tão agradáveis. – Sherlock conduziu sua lanterna para o que parecia ser uma entrada secreta. Uma porta de madeira, aparentemente frágil, mas que continha um sistema complexo de proteção, como o de um cofre. – Vejamos...

–Você sabe como abrir?

–Mas é claro que sim...

–Ótimo, então nos tire logo daqui.- Habilmente, Holmes deu voltas no sistema, colocando-o em várias posições, até que um pequeno clic foi ouvido e a porta começou a se abrir. Watson olhou estupefata. Estava diante da mais bela sala de estar que já havia visto em sua vida. Móveis rústicos ornavam todo o aposento. Uma lareira de estilo colonial estava acessa, tornando o ambiente aconchegante. Quadros de homens sisudos enfeitavam as paredes, onde também estavam diplomas de várias áreas. E mais importante, uma réplica perfeita do Davi, em tamanho original, estava enfeitando o começo de uma escada em espiral fita de madeira rara, imaginou se tratar de Pau-Brasil.

– Mas o que...

–Impressionante, não? – Roger, que não parecia nem um pouco igual ao homem que os visitara, aproximou-se dos dois recém chegados.- O Louvre nem imagina que não possui o original.

–Você quer dizer que...

–Sim, esse é o verdadeiro Davi esculpido pelo mestre Michelangelo. Uma aquisição das mais difíceis, mas ...valeu cada problema. Que bom que vieram, estávamos esperando...- O homem, que agora parecia bem mais jovem, ainda tinha a cicatriz no rosto, mas o olho de vidro sumira, assim como a corcunda e o pequeno defeito na perna. Tinha uma postura elegante, traços atraentes e um sorriso encantador. Os cabelos começavam a grisar, o que levou-a a presumir que estava chegando aos cinquenta anos. Suas roupas, ao contrário de antes, eram elegantes e limpas. Trajava uma camisa de gola alta, mangas cumpridas, cinza como a calça de linho. O seu sapato era feito à mão, obra de um mestre londrino. Ele os conduzia habilmente pela escada em espiral que parecia interminável. Chegaram, finalmente, a uma sala de reuniões onde outros homens os esperava. Sherlock entrou, olhando para cada um, avaliando-os. Joan o seguiu, desconfiando de que estavam se metendo em uma grande encrenca. Olhou para o homem da cicatriz e sentiu um arrepio na espinha.


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