A Joia do Imperador escrita por Kirol Benson


Capítulo 1
A Cicatriz




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/621198/chapter/1

Era uma tarde chuvosa de domingo. Sherlock estava sentado junto a lareira com uma edição limitada da Divina Comédia sobre os joelhos e uma caneca de chá quente na mão esquerda. Concentrado em compreender a viagem de Dante pelos caminhos sombrios do submundo, não ouviu o som impertinente da campainha. Alguém do lado de fora tremia, a chuva deixara-o encharcado e seu rosto estava pálido. Com os dedos encolhidos pelo excesso de contato com a água fria, tocava a campainha. Já estava exausto de fazer o mesmo movimento e pensara em ir embora. Quando cogitava tal intento, a porta se abriu de repente. Uma bela mulher de traços orientais e rosto cansado o olhara com desconfiança. Ele sorriu, tentando parecer amigável e subiu novamente os degraus que levavam a porta do sobrado.

-Boa tarde!

-Quem é o senhor?

-Mas que falta de educação a minha, não é! Me chamo Roger, Roger Collins. O Senhor Holmes estaria em casa?- O homem estendeu a mão para a moça, que recusou o gesto com um olhar. Talvez ele a tivesse intimidado com sua aparência. Ele admitia que não tinha o melhor gosto para vestir-se e seu rosto também não ajudava muito. A cicatriz que rasgava seu olho direito em duas partes causava calafrios em quem o conhecia.

-Sherlock está na sala, senhor ...

-Collins, Roger Collins.

-Isso, senhor Collins. – Watson abriu espaço para que o homem entrasse. O sujeito era alto, magro, mas suficientemente forte para causar um belo estrago. Tinha cabelos curtos, cortados rente à cabeça. Vestia-se muito mal. Trajava um sobretudo preto, surrado e bastante molhado. Sua calça estava, além de encharcada, suja de areia. Watson arqueou as sobrancelhas quando olhou a cicatriz no olho do homem. A perola azul de vidro estava dividida em duas por uma cicatriz horrorosa e assustadora. O homem caminhava com dificuldade, o que a levou a cogitar uma deficiência na perna, assim como uma leve curvatura na coluna. Em outras palavras, era um monstro. Apesar dos calafrios que sentira, deixou que ele fosse até a sala onde Sherlock ainda lia. O detetive notou um som de passos que não eram de sua parceira e virou-se devagar.

- Watson?- Holmes procurou pela parceira, mas deparou-se com a figura nefasta. Ao contrário dela, não se assustou.- Roger...?

-Me desculpe pela surpresa, meu caro amigo. Mas venho pedir a sua ajuda...

-Para o que, exatamente?- Sherlock ajeitou-se na cadeira e colocou o livro aberto sobre a banca, junto a uma pilha de outros.

-Um caso que acredito, vai lhe interessar muito. – Intimidado pela presença da oriental, Roger hesitou em continuar.

-Não se preocupe, essa é Watson, minha parceira. Seja lá o que tenha a dizer, não tenha medo de contar na frente dela.

-Não sabia que havia se casado, Holmes.- O homem sorriu com malícia e recuou para sentar-se em um dos sofás. Ignorando seu comentário, Sherlock o olhou intrigado.

-Diga-me, Roger, o que o trouxe aqui?

-Como eu disse, algo que vai lhe interessar muito. Um caso que envolve um imperador, milhões de dólares e uma joia preciosíssima.

-Huum

-Estava lendo a Divina Comédia?

-Relendo, na verdade...

-Prepare-se, terá que abandonar toda sua esperança e pretensão quando cruzar o portal que estou prestes a abrir. – Fazendo a paráfrase com um sorriso irônico, Roger se recostou contra as almofadas.- Uma joia valiosa que pertenceu a um imperador Romano foi roubada de um museu, não se sabe como, já que o museu é altamente resguardado. A joia era parte de uma peça rara, um bracelete belíssimo que se perdeu durante as invasões bárbaras. Apenas uma pedra, talhada com uma magistral habilidade, se salvou. Essa pedra, que é conhecida como a Joia do Imperador, sumiu ontem à noite. Agora, Holmes, precisamos de sua ajuda para encontra-la.

- Primeiro, esse museu é o que penso que é?

-Sim!- Watson observava toda conversação sem compreender uma só palavra. Fez menção de perguntar, mas intimidou-se com a cara de Sherlock, que parecia um pouco inquieto.

- E vocês, que arrotam tanta habilidade, porque precisar da minha ajuda para achar o que...ah sim, a Joia do Imperador?

-Holmes...Em nome dos nossos velhos tempos. Não seja tão difícil. Essa joia é um tesouro de valor inestimável, por isso estou aqui, humildemente, implorando que nos ajude.

-Huum- Bebendo o último gole de chá de sua xícara, passou a mão pelo queixo. – Eu e minha parceira teremos que acessar tudo, compreende?

-Terão acesso a tudo quanto possível.

- Tudo, Roger...

-Verei o que é possível fazer...

-Aguarde o meu contato, eu te procuro...

-Eu espero...- O homem se levantou e cumprimentou Holmes. Watson acompanhou sua ida até a porta com os olhos. A cicatriz lhe pareceu ainda mais sombria depois de tudo que ouvira. A porta se fechou e Holmes voltou a sala.

-Elementar, minha cara Watson, acho que teremos algo com que nos divertir nesses dias chuvosos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Joia do Imperador" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.