Conspiração escrita por Lura


Capítulo 18
Revelação


Notas iniciais do capítulo

Aeeew, galera! Tudo ok? Muita gente congelando nesse frio?

Cá estou, trazendo para vocês mais um capítulo. Acredito que um dos mais aguardados.

Sim, é hoje!!! *-*

Eu espero, do fundo do coração que vocês gostem do capítulo, porque não foi fácil escrevê-lo. Acabou que eu mudei várias coisas, desviando do meu plano original. Mas parece que assim ficou mais próximo da realidade dos nossos queridos personagens.

Ah, outra coisa. A pessoa aqui, totalmente desconhece assuntos médicos e a postura de profissionais que trabalham na área da saúde. Então, eu meio que dei uma pesquisada, mas mesmo assim temo que algumas partes tenham ficado meio supérfluas. Contudo, não podemos ignorar que Fairy Tail se trata de um universo diferente. =P

Por fim, gostaria de agradecer aos queridos leitores que comentaram o capítulo passado: Saberus, Giu Bloodie S2, Vicky Scarlet, Gutor, Peter Flach, GabbySaku, Mádulce, Happy Reader e Italo Azevedo.

É isso. Vejo vocês nas notas finais.



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Capítulo XVII - Revelação

 

Cidade de Daristan - 28 de março de x792

O dragon slayer estava desconfortavelmente acomodado em uma poltrona de plástico. A cabeça baixa, os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos das mãos se entrelaçando de forma nervosa. Além disso, o pé direito insistia em bater repetidas vezes contra o azulejo impecavelmente alvo do longo corredor hospitalar, externando sua inquietude.

— Natsu você está me ouvindo? - Erza praticamente gritou, furiosa, ante a falta de atenção da parte do mago do fogo em relação ao sermão que vinha desfiando, ininterruptamente nos últimos vinte minutos.

— O quê? - Salamander sacudiu a cabeça, levemente confuso.

— Desgraçado, preste atenção enquanto eu falo com você! - Esbravejou.

— Erza! - Gray alarmou-se. - Estamos em um hospital. - Lembrou. A ruiva olhou ao redor, levemente envergonhada. Não estava muito disposta a receber qualquer tipo repreesão. Não quando estava ocupada repreendendo alguém.

— Me desculpe, eu não ouvi. - Dragneel justificou, fazendo com que os dois amigos arqueassem a sobrancelha, espantados. Era algo totalmente fora do comum Natsu se desculpar, ao invés de rabater. Entretanto, a demora no atendimento de Lucy e Wendy estava tirando seu sossego, o que fazia com que ele se desligasse automaticamente das coisas ao redor.

— Eu estava dizendo que você nos arranjou uma tonelada de problemas por quase ter matado aquele cara. - Continuou Titânia. - Na atual situação que vivemos, o Conselho com certeza vai cair matando em cima da Guilda, e o mestre vai ter muito trabalho para contornar a situação… - Entretanto, interrompeu-se ao ver que o rapaz de cabelos rosas encarava, novamente com os olhos desfocados, a direção que que se localizava a emergência. - NATSU, NÃO ME DEIXE FALANDO SOZINHA! - Estourou.

— EU NÃO ME IMPORTO! - Levantando-se, dragon slayer retrucou, em alta voz, fazendo a maga de armadura arregalar os olhos. - Não chego nem perto de me importar com o que aconteceu com aquele maldito careca! - Afirmou, furioso. - Ele ameaçou a vida da Lucy, e da Wendy, e eu garanto que não terei piedade de qualquer um que chegar ao menos a pensar em fazer isso. - Concluiu, sentando-se novamente.

Tanto o mago do gelo quanto a maga ruiva, estavam um tanto surpresos, e até mesmo incomodados com a atitude do companheiro de equipe. Mas a verdade é que, no fundo, entendiam a atitude dele. Embora também tivesse mencionado a pequena curandeira, e soubessem que Natsu certamente a defenderia com todas as suas forças se fosse o caso, sabiam que era a maga estelar que tinha o poder de desestabilizá-lo. Uma das várias consequências de sua suposta morte durante o Projeto Heaven.

— Pois deveria. - Recuperando sua postura firme, Erza rebateu. - Torça para que Wendy se recupere logo e seja capaz de curar o ladrão. - Falou. - Senão, garanto que os problemas que irão surgir o obrigarão a se importar. - Concluiu, dando as costas. - Eu vou conversar com os Cavaleiros Rúnicos e ver a gravidade da situação. - Avisou, antes de se retirar.

Natsu abaixou novamente a cabeça, apenas escutando as firmes passadas de Titânia se afastando cada vez mais. Porém, não demorou nem um minuto para que Gray rompesse o confortável silêncio recém estabelecido:

— Eu vou auxiliar a polícia local nas investigações sobre o caso. - Informou. - Parece que o careca se passava por um turista e estava instalado em uma das hospedarias do centro. Vamos revistar o quarto dele e tentar descobrir suas intenções ao roubar as pedras.

Vendo que o mago do fogo continuava agindo indiferentemente, pemanecendo calado e imóvel, pediu:

— Assim que souber o estado delas, nos avise pelo LCP¹. - Pediu. - Charle está desesperada lá no Hotel, já que não permitem a entrada de animais aqui. - Contou.

— Tá. - O mago do fogo limitou-se a responder, e logo viu-se completamente sozinho no corredor.

O time de magos da Fairy Tail havia dado entrada no pequeno hospital quando os primeiros sinais do alvorecer despontavam no céu. Assim que chegaram, Wendy e Lucy foram imediatamente socorridas e levadas para a emergência. Desde então, não haviam mais recebido notícia das duas.

Frustrado, Dragneel ergueu a cabeça repentinamente, colidindo-a, de forma proposital, contra a parede branca. Estava beirando o desespero.

Os ponteiros do velho relógio pendurado na parede indicavam que estavam perto das sete e meia da manhã, marcando quase uma hora e meia de atendimento. O mago não conseguia associar tal demora a outra coisa que não fosse o desastre.

Impaciente, levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, para alguns minutos depois voltar a sentar. E esse ciclo repetiu-se por dezenas de vezes até que, cerca de trinta minutos depois, novas passadas ecoaram pelo longo corredor.

Ansioso, Dragneel olhou em direção aos ruídos, deparando-se com um médico de meia idade se aproximando.

Sensei²! - Exclamou, afobado.

— Você é o mago que está acompanhando as meninas? - Indagou o homem, um tanto desconfiado pelo acompanhante ser alguém tão jovem.

— Sim! - Concordou. - Como estão a Lucy e a Wendy? - Inquiriu, desesperado.

O profissional suspirou, levando as mãos a cabeça e bagunçando os cabelos grisalhos. Natsu não gostou do gesto. Parecia que ele tinha algo sério a falar. Algo sério e ruim.

— A menina menor está bem. - Começou. O dragon slayer pensou em interrompê-lo para perguntar se Lucy não estava, mas achou melhor aguardar pela explicação sobre o estado de Wendy. - Aparentemente, a magia que o criminoso usou, deixando-a inconsciente, drenou toda a sua magia de forma instantânea, fazendo com que ela desenvolvesse um quadro de Síndrome de Deficiência Mágica. - Explanou.

— Mas o Senhor disse que ela está bem. - Lembrou.

— E está. - Confirmou o médico. - A Síndrome de Deficiência Mágica realmente pode deixar sequelas graves ou, em casos extremos, levar a morte do mago, mas a garota foi atendida a tempo, por isso está fora de perigo. - Comunicou, deixando Natsu parcialmente aliviado. -  Ela já foi levada a um quarto e ficará em observação apenas até que o seu recipiente mágico se complete, e então será liberada. - Anunciou. - Quanto a outra garota… - Começou, reticente, assumindo uma postura mais tensa.

— O que tem a Lucy? - Sentindo o pouco alívio trazido pelo bom estado de Wendy ir pelos ares, Natsu questionou, exasperado. - O que aconteceu com ela? - Insistiu.

— Heartfilia foi atingida pela mesma magia, mas por estar em condições peculiares, apresenta um quadro mais complicado.

— Complicado? - Salamander quase gritou. - Por que complicado?

— Sobre isso, eu gostaria de conversar com um familiar. - Respondeu, ajeitando os óculos de grau.

— Lucy não tem parentes vivos. - O mago do fogo contou, de imediato.

— Algum responsável, então? - Inquiriu. - Afinal, ela ainda é muito jovem.

— Ela é completamente independente. - Reforçou. - A única família que a Lucy tem é a Fairy Tail, por isso o senhor pode me dizer o que está acontecendo com ela! - Exclamou, começando a perder a paciência.

Nada satisfeito, o médico pareceu pensar, deixando Dragneel ainda mais aflito. Mais um pouco e ele invadiria o pronto socorro, para constatar por ele mesmo a situação da loira.

— Qual o seu relacionamento com a garota? - Inquiriu o profissional, fazendo Natsu ficar estático.

— Nós somos parceiros. - Respondeu, sentindo-se incomodado, fazendo o homem de meia idade arquear as sobrancelhas.

— Parceiros? - Repetiu, curioso. - De time, você quer dizer? - Buscou esclarecer, deixando o mago constrangido.

— Para que tanta pergunta? - Irou-se Dragneel. - Apenas me diga logo como está a Lucy! - Exigiu.

— Eu não posso simplesmente passar informações dos pacientes para estranhos. - Justificou.

— Mas você acabou de me informar sobre Wendy! - Rebateu o rapaz.

— A situação é diferente. - Falou o médico.

— Diferente como? - Insistiu exasperado.

— Talvez seja melhor esperar até que Heartfilia esteja em condições de me dizer… - O médico começou, mas não teve oportunidade de terminar. Perdendo a cabeça de vez, Dragneel simplesmente o segurou pela gola do jaleco branco e o ergueu no ar, chocando-o contra a parede do corredor em seguida.

— O Senhor vai me dizer agora como a Lucy está! - Gritou, pressionando o homem contra o concreto. - Ou eu vou arrancar isso de você a força! - Ameaçou, com os olhos transbordantes de fúria.

— Por favor rapaz, tenha calma. - Pediu o médico, assustado.

— Acredite, eu ainda estou calmo - Contou o dragon slayer. -, mas se o Senhor não abrir a boca de uma vez para me dizer qual o problema com a Lucy, aí sim eu vou fazer questão de perder a paciência!

— Eu não posso simplesmente sair contando…

— Então eu é que vou contar. - Anunciou o mago do fogo. - Contar até três para o Senhor abrir o bico, se não quiser que eu faça uma besteira - Vociferou.

— Por favor, garoto… - Tentou o profissional, tentando se livrar das mãos do mago.

— Um… - Ignorando-o, Salamander começou.

— Eu já disse que não pos… - O homem gaguejava.

— Dois. - Continuou, cortando qualquer explicação do médico.

— Por favor…

— Três! - Atalhou, recuando o punho direito, decidido a socar a cara do infeliz até que ele resolvesse falar.

— HEARTFILIA ESTÁ GRÁVIDA! - Gritou o médico, cerrando os olhos, quando constatou que realmente seria agredido.

Ainda de olhos fechados, o homem de meia idade sentiu quando foi largado abruptamente. Despreparado, perdeu o equilibrio e despencou no chão. Sentado no azulejo gelado, o profissional arriscou olhar para cima, surpreendendo-se com a reação de seu agressor.

Natsu encarava o médico, com os olhos tão arregalados que pareciam prestes a saltar das orbes. A boca abriu e fechou diversas vezes, como se pretendesse perguntar alguma coisa, mas o garoto parecia incapaz de formular qualquer frase coerente.

 

• • •

 

Os brandos raios solares que conseguiam transpassar a cortina opaca do quarto hospitalar, denunciavam o fim de uma tarde fresca. As nesgas  de luz retangulares projetadas através das vidraças formavam um padrão no leito vazio, que até algumas horas antes, era ocupado pela dragon slayer celeste.

Ao lado dele, havia outra cama, devidamente ocupada por uma paciente, que ressonava tranquilamente enquanto dormia e era atentamente fitada por um certo mago do fogo.

Desde que Lucy fora transferida para um quarto, o mesmo em que Wendy já estava instalada, Natsu não tirou os olhos dela um minuto sequer. Observava tudo: Desde os movimentos respiratórios, até os reflexivos. Estranhamente, apesar de estar vigiando-a de perto, Dragneel mantinha-se o mais distante dela que o modesto quarto permitia.

Dessa forma, o dia praticamente se arrastou, dando ao mago a impressão de que nunca acabaria.

No início da tarde, Gray e Erza passaram por ali para conferir se tudo estava bem com as companheiras de equipe. Assim que constataram, aliviados, que ambas estavam fora de perigo, retornaram para as atividades burocráticas de que vinham se ocupando.

Pouco depois, Charle e Happy também visitaram as garotas, entrando furtivamente pela janela do quarto, já que animais não eram permitidos no hospital.

Apenas o dragon slayer do fogo permaneceu o tempo inteiro no quarto, sem ausentar-se do cômodo sequer uma vez, ocupando-se apenas, ocasionalmente, de dar alguns poucos passos pelo ambiente, sempre tomando o cuidado de manter-se o mais longe que conseguia de Heartfilia.

Lá pelo meio da tarde, Wendy despertou, e quando viu Lucy, desacordada ao seu lado, passou por um breve período de pânico. Entretanto, não foi preciso que o mago do fogo ou qualquer outra pessoa a acalmasse. Assim que aproximou-se da maga loira, suspirou, aliviada, ficando, contudo, extremamente constrangida ao perceber que era observada por Natsu. E agora ele sabia exatamente o porquê.

Assim que foi examinada pelo médico plantonista - o mesmo que quase havia sido agredido pelo dragon slayer mais cedo - a pequena curandeira foi liberada e, depois de aplicar a sua magia de cura no criminoso que roubara as gemas elementais, seguiu para a hospedaria acompanhada de Erza e Charle, que haviam ido buscá-la assim que o mago do fogo as avisou.

Por fim, sobraram apenas a loira e o mago de cabelos róseos no cômodo. E isso o deixou, como se fosse possível, ainda mais perturbado. Sua cabeça estava um caos, e a verdade, que ele bem gostaria de negar, era óbvia, quase palpável,  o que esmagava seu peito em uma angústia insuportável. A realidade era aterradora, difícil de ser digerida.

E mais uma vez, a conversa, ocorrida pela manhã, se repetiu automaticamente em sua cabeça, da mesma forma que ocorrera inúmeras vezes naquele mesmo dia, e ele colocou-se a procurar, em suas lembranças, qualquer sinal de que tudo aquilo não passava de um grande engano.

— O que o senhor disse? - Perguntou, assim que conseguiu recuperar a fala, certo de que não tinha escutado direito.

— Grávida. - Repetiu o médico, massageando o pescoço, onde o mago do fogo havia presisonado. - A moça está grávida. - Reforçou.

— Grávida? - O dragon slayer inquiriu.

— Sim.

— Tipo, grávida? - Repetiu, fazendo um gesto com ambas as mãos que simulava uma enorme barriga imaginária.

— Isso. - Confirmou o profissional, levantando-se.

— Digo, o senhor está dizendo que tem um bebê dentro da Lucy? - Insistiu, agitando os braços, completamente aparvalhado.

— A menos que exista outra forma humana de gestação - Ironizou -, sim, tem. - Completou, ressentido.

Dizer que o mago da Fairy Tail estava pasmo era um completo eufemismo. Havia inúmeros adjetivos que ajudariam a definir seu estado naquele instante, entre os quais poderiam ser citados chocado, perdido, atônito, embasbacado e pávido. Sem chão, o rapaz nem percebeu quando recuou alguns passos e despencou na mesma cadeira que ocupara durante toda a manhã.

Grávida.

Aquele homem estava dizendo que Lucy estava grávida. Que Lucy estava esperando um bebê.

E a única coisa que Natsu conseguia pensar, no momento, era em como aquelas palavras pareciam completamente absurdas.

— Como… - Começou, com o rosto pálido. - Como isso é possível? - Indagou, desnorteado.

— Olha, esse tipo de aulas não estão incluídas na minha função. - O doutor falou, ríspido, fazendo com que Salamander o encarasse, irritado.

Vendo a reação do rapaz, o homem de meia idade suspirou, levemente arrependido. Estava descontando com dureza a agressão a que fora submetido, mas o fato era que o jovem apenas estava preocupado com a colega de time. Acalmando-se, ajeitou os óculos de grau, antes de falar:

— De qualquer forma, é bom a moça entrar em contato com pai do bebê. - Avisou, sério, fazendo com que o mago imediatamente o encarasse, com os olhos arregalados. - Bingo! — Pensou, vendo o comportamento de Salamander.

— Pai? - Natsu praticamente gaguejou, ao passo que o médico limitou-se a assentir.

— Ela é muito nova ainda. - Começou, encarando o rapaz seriamente. - Praticamente uma garota, tem apenas dezoito anos. - Continuou. - Não acha que é um fardo muito pesado para se carregar sozinha? - Indagou, encarando-o de forma significativa.

Entretanto, Salamander estava conturbado de tal forma, que não conseguiu expressar qualquer reação, física ou verbal. Percebendo isso, o profissional limitou-se a suspirar.

— Se você é amigo dela - Começou, preparando-se para sair. - Sugiro que conversem. - Aconselhou. - Eu disse que o quadro de Heartfilia era complicado, justamente por causa da gestação. - Esclareceu. - Ela foi diagnosticada com anemia, provavelmente devido a má alimentação. - Explicou. - É comum que mulheres no estado dela tenham dificuldade para se alimentar, devido aos enjôos intensos. E provavelmente por isso, ela mal se alimentou nos últimos dias, o que somado a Síndrome de Deficiência Mágica, poderia ter causado o óbito dela e da criança.  

— Óbito??? - Alarmado, o dragon slayer finalmente despertou. - A Lucy poderia ter morrido? - Questionou, desesperado.

— Acalme-se. - Pediu o senhor. - Ambos estão bem. - Tentou tranquilizá-lo. - Mas respondendo a sua pergunta, sim, a moça poderia ter perdido a vida. - Falou, sério. - A sorte dela é que, aparentemente, o oponente já estava fraco, o que o impediu de usar a magia com plena força. - Contou.

Natsu ficava cada vez mais perplexo. Além de todas as notícias que estava sendo obrigado a assimilar, ainda tinha sido informado de que Lucy quase morrera. De novo.

— É por isso que eu disse que a moça deve ser aconselhada. - Continuou o médico. - Para que não aja imprudentemente a ponto de colocar a própria vida e a da criança em risco. - Concluiu, antes de retirar-se, deixando o membro da Fairy Tail estacado no mesmo lugar, com uma única palavra ecoando em sua mente.

Pai.

Lucy estava grávida.

E ele seria pai.

Naquele momento, exasperado, ele apenas abaixou a cabeça, e entranhou os dedos nas mãos em seus fios róseos.

Agora, o mago continuava na difícil tortura de tentar afastar essa conversa de sua cabeça. Contudo, sempre que conseguia limpar a própria mente, ele ouvia. Ouvia a prova inegável de que todas as palavras do médico se tratavam da mais pura verdade. E isso o perturbava. Na verdade, o apavorava.

E quando tentava se concentrar em outros pensamentos, lapsos de momentos vividos nos últimos dias lhe ocorriam, fazendo com que ele se sentisse completamente idiota por não ter percebido o que estava acontecendo antes.

— Eu não tenho dúvida. É mais fraco que o seu, mas ainda assim é um coração. É como se tivesse alguém aí dentro, Lucy.  

Lembrou-se, de quando reconciliou-se com a loira e percebeu, pela primeira vez, que algo estava estranho.

— Ora Natsu, não seja bobo. Como se isso fosse possível. A única maneira de ter alguém dentro de mim é se eu estivesse…

As lembranças seguiam surgindo em sua mente, de modo que ele continuase ligando os pontos.

— Eu acho que precisamos conversar.

Recordou-se de como a maga estelar parecia ter algo realmente importante para lhe falar.

Se era assim, isso queria dizer que Lucy já sabia? Se esse fosse o caso, mesmo assim arriscou-se em uma missão? E Wendy? Por que a pequena curandeira parecia estar mais ciente da situação do que ele?

Todas aquelas questões contribuiam para deixá-lo apenas mais nervoso.

Interrompendo seus pensamentos, um rangido metálico cortou o ambiente, capturando sua atenção.

Imediatamente, o mago virou a cabeça em direção ao ruído, constatando, mesmo de longe, que a maga estelar remexia-se, incomodada, em seu leito.

Estava despertando.

E isso provocou uma angústia inesperada no dragon slayer.

Como poderia encarar a loira? O que diria a ela?

Paralisado, observou quando os grandes olhos castanhos da jovem se abriram, lentamente, inicialmente desfocados, mas logo apresentando a luz do reconhecimento.

— Natsu… - Ela chamou, olhando diretamente para ele. Em seguida, vagarosamente, perscrutou com os olhos o cômodo em que se encontrava, contorcendo o semblante em uma careta de dúvida. - O que eu estou fazendo aqui? - Indagou ao reconhecer o ambiente hospitalar.

Porém, essa não era a única dúvida da garota. O que mais lhe causou estranhamento, naquele instante, não foi constatar sua internação, mas sim a distância que o parceiro de time mantinha de si. Ele estava no canto mais afastado do quarto. E isso a incomodou.

— Onde está Wendy? - Ignorando esse fato, perguntou, tentando se sentar.

Grande foi a sua surpresa, ao perceber-se sendo empurrada de volta em direção ao colchão, pelas mãos firmes do mago do fogo. Ela quase não conseguira acompanhar o seu deslocamento, tamanha a velocidade empregada por ele para atravessar o cômodo e parar ao seu lado.

— Você precisa descansar. - Respondeu simplesmente, fazendo-a retrair-se um pouco, ante a atitude rude.

— Você não me disse onde está Wendy. - Repetiu, preocupada. - Como ela está? - Insistiu, tentando mirar-lhe nos olhos. Entretando, o rapaz desviava as orbes a cada tentativa dela de estabelecer contato visual.

— Está bem. - Respondeu. - Já foi liberada e está na hospedaria, descançando. - Explicou. Lucy não pôde conter um suspiro de alívio. Mesmo que estivesse estranhando o tom irridado na voz de Dragneel.

— Ainda bem. - Externou. Afinal, sentia-se culpada por ter se desviado do plano original, de modo que a curandeira tentou lhe proteger no campo de batalha, sendo atingida pelo inimigo. - Mas se ela foi liberada, por que eu ainda estou aqui? - Inquiriu, erguendo a mão esquerda, onde uma agulha, interligada a uma cânula, estava espetada, conduzindo um líquido incolor ao seu organismo. - Isso não é exagero? - Perguntou, fazendo uma careta de desagrado.

— Diga Lucy… - Natsu chamou sua atenção, ainda fitando o piso.

— Hm? - Murmurou a jovem.

— Quando foi a última vez em que você se alimentou? - Questionou, demonstrando aborrecimento.

Só então, a loira começou a compreender a razão pela qual o mago aparentava estar chateado. Receosa, engoliu em seco, antes de responder:

— Na casa da Erza. - Falou, lembrando-se da ocasião em que se entupira de bolo de morando.

— E mesmo vomitando a noite inteira, você não voltou a se alimentar? - Finalmente alterado, o dragon slayer a encarou. - Você ficou praticamente dois dias sem comer! - Zangou.

Completamente perplexa com a atitude do amigo, Lucy não conseguiu conter as lágrimas ante a reprimenda. E isso a surpreendeu. Não entendia por que aquela reação de Natsu a fez chorar, quando na verdade, o esperado seria que ela gritasse de volta, mandando que ele cuidasse da própria vida.

— Você quase morreu na minha frente… - Continuou ele, transtornado, fazendo a loira arregalar os olhos. - De novo. Quase morreu na minha frente de novo, por um motivo completamente idiota. - Finalizou, tremendo, levando a mão direita até a testa suada.

Lucy estava atônita. Por mais que estivesse irritada, e até um pouco magoada por Natsu ter gritado com ela, agora compreendia a razão de tamanho transtorno.  

— Natsu, eu… - A maga começou, novamente tentando se sentar, quando a lembrança de uma questão, que vinha lhe atemorizando nos últimos dias, surgiu em sua mente.

— Natsu! - Exclamou, apavorada. - Por que eu estou aqui? - Inquiriu novamente, pousando ambas as mãos sobre o próprio ventre por cima da camisola de cor lavanda que trajava.

E, naquele instante, a realidade consolidou-se na mente de Natsu, de forma definitiva.

Não era um engano. Não era uma piada.

E Lucy sabia.

Contudo, antes que pudesse falar qualquer coisa, a porta do quarto foi aberta, revelando a presença do mesmo médico que dera a notícia a Dragneel.

— Parece que as coisas estão agitadas por aqui. - O homem repreendeu, educadamente. - Eu podia ouvi-los do corredor. - Contou.

— SENSEI! - A loira praticamente gritou, vendo-o se aproximar. - O quê - Tentou falar, mas o nó em sua garganta a refreava. - Por que eu… - Insistiu.

— Tenha calma. - Vendo que a moça envolvia o próprio abdômen de forma apavorada, o profissional de cabelos grisalhos pediu, parando do lado oposto ao que Natsu se encontrava. - Tanto você quando o bebê estão bem. - Anunciou, em tom tranquilizante.

Porém, se seu estado era de desespero antes, agora a maga estelar estava em choque.

Ela acabara de ter seu temor confirmado.

Na frente de Natsu.

E isso parecia tão ruim que, por um instante, desejou nem existir.

— Então é verdade… - Murmurou, estupefata.

Em resposta, o médico apenas arqueou as sobrancelhas. Natsu permaneceu mudo.

— Então você realmente não sabia? - Foi mais uma constatação que uma pergunta. - Você está gravida. - O profissional confirmou. - Está na décima sexta semana de gestação. - Explanou.

Sentindo novas lágrimas rolando por sua face, Lucy apenas voltou seu olhar em direção ao mago do fogo, que novamente, encarava o chão.

— Natsu… - Murmurou chorosa, desejando apenas acordar daquele pesadelo.

 

• • •

 

¹LCP: Sigla de Lacrima de Comunicação Portátil. A partir de agora, vou me referir a esses dispositivos assim.

²Sensei: Palavra usada para indicar que uma pessoa é experiente em determinada área. No idioma japonês, a palavra “sensei” substitui o termo “doutor”, usado por nós, razão pela qual decidi adotá-la na fic.

 

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Como ficou? Gostaram?

Gente, como eu penei para definir como a Natsu reagiria a notícia. Sério, pensei em várias possibilidades, mas acho que assim ficou mais natural. Espero que eu tenha feito a melhor escolha.

Eu quero que, por favor, vocês me digam o que acharam do capítulo. Se ficou legal, se está dentro do que vocês esperavam. Afinal, esse momento foi tão aguardado... :3

No próximo capítulo... O Confronto. Nossos queridos personagens agora terão que decidir o que fazer, uma vez que se depararam com um problema. =S

É isso. Espero que vocês tenham curtido.

Abraços e até o próximo!!!



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