Outono escrita por Makimoto


Capítulo 4
Capítulo 4 — Laço Desfeito;


Notas iniciais do capítulo

Eu nem vou mais pedir perdão pela demora porque já está virando rotina, mas... perdão pela demoraaa! ToT~ Eu sei que sou lenta, mas só consigo funcionar nesse ritmo mesmo. Eu estou profundamente agradecida a todos os comentários lindos que eu tenho recebido, bem como feliz com a repercussão dessa história (que eu juro, foi totalmente imprevisível)... sério, vocês me deixam muito feliz! ♡ Tenho um agradecimento especial para fazer ao Leandro, que me fez uma recomendação _maravilhosa_ e que até agora me deixou sem palavras. Não sei se eu a mereço, mas vou dar meu melhor para merecer! Esse capítulo é u pouco triste (e me deu uma dor no coração escrevê-lo em alguns momentos) e eu não me sinto segura quanto à qualidade dele (porque é minha primeira experiência com drama real), por isso, eu ficaria muito satisfeita se vocês me dissessem como ficou, como eu realmente me saí, e apontassem onde eu posso melhorar. See ya, seus lindos!! ♡



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Rei! — exclamou Naoki antes de receber o arremesso perfeito do companheiro de equipe.

Sem demora, o loiro saltou ao lado da cesta e preencheu-a com a bola, fazendo ecoar um grave estrondo no local. Os jogadores reserva, que treinavam em na outra extremidade da quadra, voltaram-se todos, por um breve momento, para observar o rapaz que agora ostentava um sorriso de triunfo no rosto e exalava um contagiante ar de confiança.

Eu sou bom demais, pode falar! — Vangloriou-se o Pivô da equipe, sacudindo a camisa com a ponta dos dedos para fazer o ar circular em seu interior.

É, e o fato de eu ter te dado uma bola quase perfeita nem passa pela sua cabeça, né? — Foi a vez de Rei se pronunciar, esbarrando propositalmente o ombro do outro.

Detalhes, meu caro, meros detalhes...

Emiko os encarava enquanto, numa tentativa de recuperar o fôlego, inspirava e expirava mais rapidamente. Kai e Ryūma, que até então estavam a alguns metros de distância, próximos ao círculo central, se aproximaram dos três igualmente cansados. Competiam, uns contra os outros, em uma competição amigável que exercitaria todas as habilidades necessárias para ser bom no esporte. Independente da posição em que jogavam, e da especialidade de cada um, para o treinador era importante saber um pouco de tudo e ele não abriria mão de reforçar isso para os outros.

Desculpe. — Ela murmurou para o capitão da equipe. — Eu deixei ele marcar.

Se tivesse conseguido impedi-lo é que eu ia me assustar. — Murmurou Ravech em um tom suave de brincadeira. — O que ele não tem de inteligência tem de altura.

É, Baixinha, eu sou muito... ei! — Retrucou indignado para o capitão.

Foi o que eu soube... — o capitão ergueu os braços como quem se rende.

A ruiva os observava em silêncio, achando graça da situação, e não percebeu quando o último membro da equipe se aproximou sorrateiramente e apoiou o cotovelo sobre a cabeça dela. Kai esboçava uma expressão de simpatia no rosto. Estava suado, como todos os outros, e ninguém se importava com isso.

E aí, Escolta, ainda quer treinar com a gente e ser vergonhosamente humilhada por um cara com um cérebro do tamanho de uma azeitona?

Eu ainda estou aqui. — Retrucou Naoki de longe.

Emiko ergueu as sobrancelhas, sorriu com entusiasmo e posicionou as ambas as mãos na cintura.

Eu não ligo. — Respondeu finalmente. — Aturar você todos os dias já é como um treino para mim, Kai.

Você fala bonito, Kitsu... — disse o rapaz ao se afastar na direção ao resto do grupo em passos calmos e apanhar a bola que repousava resoluta no chão. — Mas quero ver se é capaz de sustentar o que diz com essa bola nas mãos.

Ele atirou a esfera alaranjada para ela, que a pegou com firmeza, e observou os traços do rosto da japonesa formarem um semblante obstinado.

Emiko jamais seria capaz de descrever o quão relaxante e reconfortante era estar ali, com a bola de basquete em mãos, cercada de pessoas que a encaravam da mesma altura e como uma igual. Era totalmente diferente de quando estava em sala de aula, ou mesmo em casa, cujos olhares eram sempre intimidadores — fossem de pena, reprovação ou mesmo julgamento —. Embora camuflados na maioria das vezes, esses olhares a faziam recuar e se voltar ainda mais para o seu mundo de silêncio.

Cercada de pessoas comuns, que também tinham seus próprios problemas, ela nada mais era do mais uma pessoa comum. E ninguém fazia ideia do quanto isso a alegrava profundamente.

Detestava ser o centro das conversas, ou ter de ouvir os outros comentando sobre seus problemas, porque isso a fazia lembrar de coisas que desejava desesperadamente esquecer e das quais mantinha distância tanto quanto fosse possível. A culpa que a remoía pelo que aconteceu com ele já era grande demais e a ruiva definitivamente não precisava que as pessoas reforçassem isso.

E aí? — insistiu Kai que, ao perceber que ela mais uma vez tinha mergulhado em sua própria mente, local inacessível para os outros, tratou logo de trazê-la de volta para a realidade. — Vai ficar o dia todo aí?

Emiko forçou um sorriso.

Foi você quem pediu... — anunciou ela.

Segurou firme a bola entre dedos, ziguezagueou na direção do companheiro e eles iniciaram uma marcação cerrada, que, segundos depois, foi integrada pelos outros membros da equipe. Os ponteiros do relógio se moviam depressa, mas nem ela nem eles demonstravam dar muita importância a esse fato subjetivo.

————— ♣ —————

É melhor eu ir antes que o meu pai fique bravo e resolva encher os meus ouvidos de ladainha... — anunciou o pivô da equipe. — Você vem comigo, Rei?

Vou. — O mais novo, e um pouco mais baixo, concordou.

Ele tinha cabelos escuros e lisos, assim como os olhos um pouco menores que o comum, e parecia ser uma pessoa reservada. Era sempre visto na companhia de Naoki e era sabido que eram amigos de infância. Comportava-se de maneira extrovertida entre amigos e, dos cinco, era o mais aplicado nos estudos — o que levava seu companheiro loiro constantemente à sua casa para aulas particulares —. Ele e Emiko conversavam de vez em quando. Ela chegou a, inclusive, receber ajuda com algumas questões do dever de casa que tinha deixado para fazer na quadra, certa vez, enquanto o treino não começava.

Ele e Naoki eram pessoas completamente opostas e, ainda assim, eram muito próximos. Rei, por si só, era uma pessoa que se destacava no time de basquete. Assim como Emiko, ele parecia ser mais dos livros que dos esportes, e isso despertou a curiosidade da moça em vários momentos. Ela tinha uma história para contar, uma história profunda e cheia de drama que explicaria seu ingresso em um ambiente tão diferente do que estava habituada, mas não conseguia deixar de se perguntar qual seria a dele. Um dia, disse a si mesma, perguntaria.

É até melhor. — Acrescentou Naoki. — Assim eu posso colocar a culpa em você e ela não vai pegar muito no meu pé.

Já passava das dez quando o time titular resolver dar por encerrado o treino daquela noite. Ryūma, o capitão, fez alguns apontamentos rápidos, especialmente em relação a alguns saltos precipitados de Naoki e da postura passiva que Rei escolheu adotar para aquele amistoso, e anunciou que estavam todos dispensados.

Naoki apontou o portão da quadra com a cabeça para Rei e os dois seguiram na respectiva direção depois de se despedirem de todos. Kai se sentou no banco da lateral da quadra para recobrar o fôlego. Ryūma, por sua vez, que esteve esperando por um momento oportuno, aproximou-se da jovem ruiva e cutucou-a no ombro com delicadeza.

Capitão?

Oi, Miyamura. — Ele lhe ofereceu um sorriso amigável. — O que achou do treino hoje?

Eu... — ela ponderou suas palavras por um momento, mas decidiu ser sincera. — Foi menos estranho e difícil do que eu achei que seria.

O que quer dizer? — Ele achava que sabia do que ela estava falando, mas não tinha certeza. Ou não queria ter.

Olha, eu sei que, no início, nenhum de vocês aprovou a minha entrada no time e muito menos gostavam de mim. — Seu tom de voz era convicto, embora um pouco tímido, e foi o suficiente para arrancar do capitão uma expressão discreta de surpresa. — E eu nunca os culpei por isso.

Lembrar daquela época em questão significava desenterrar os motivos que a levaram à quadra de basquete, naquele fim de tarde de quinta-feira, no primeiro dia de aula após o seu regresso. E isso não era fácil.

Eu também sei que vocês pensaram que eu seria apenas um fardo... porque eu também pensei a mesma coisa. — Continuou sem esperar resposta do outro. — Você o conhecia, não é? Meu irmão...

Ryūma fez que sim com a cabeça.

Embora eu tenha desesperadamente tentado esconder todos os detalhes sobre o que aconteceu, você e os rapazes, como amigos dele, inevitavelmente ficaram sabendo do ocorrido. E, no início, quando eu voltei para a escola, eu ainda não me sentia pronta para seguir sem ele. Eu... ainda não estou pronta.

As palavras rasgavam a garganta dela toda vez que elas as forçava a sair, pois, por mais que aparentasse firmeza, era muito difícil tocar naquele assunto.

Eu cheguei aqui, no lugar que ele mais amava, tentando descobrir as coisas boas que ele sempre disse sentir. — Finalizou com um suspiro longo e profundo. — E eu acho que eu já achei algumas delas.

Os olhos de Emiko, marrons como o tronco do carvalho que guardava a entrada da escola, se estreitaram quando ela se permitiu sorrir. Era um sorriso triste, com uma pitada de melancolia, mas era genuíno. E o capitão percebeu isso.

Você é parte da equipe agora, Miyamura, e ninguém pode dizer o contrário. — Sua voz melódica, mas firme ao mesmo tempo, dava suporte à sua personalidade altamente sensata e madura. — Eu a designei como Escolta não por piedade, mas porque eu acredito no seu potencial, e a quero ao meu lado, me auxiliando em minha função, para darmos aos outros as chances necessárias para que eles façam o que fazem de melhor: arremessar bolas e se vangloriar disso. Ninguém aqui tem pena de você. Você treinou, se aperfeiçoou e merece estar no time tanto quanto o resto de nós.

Ela precisou pressionar os lábios um contra o outro para que eles não arrebentassem em um sorriso de satisfação — ao passo que suas bochechas ficaram vermelhas e quentes — e Kai, que os observava de onde estava, parecia contente mesmo que não fosse capaz de ouvir a conversa. Imaginava, ele, do que se tratava e vê-la sorrindo era o suficiente para deixá-lo satisfeito.

Nós temos um jogo importante em algumas semanas e eu aconselho que você dê uma olhada nas anotações que eu fiz sobre o estilo de jogo do time adversário. Elas estão em cima de uma caixa amarela lá no depósito. — Murmurou por fim o rapaz, que também explicou que as deixou lá para que os papéis não amassassem, e acenou enquanto se afastava em direção à saída. — Te vejo amanhã.

Emiko acenou de volta e voltou-se para Kai apenas para dizer a ele que iria até o depósito em busca do item mencionado pelo capitão anteriormente.

————— ♣ —————

Constatou que a lâmpada tinha queimado quando tentou acendê-la inúmeras vezes e não obteve sucesso. A porta aberta atrás de si, que conectava o depósito e a quadra diretamente, era a única fonte de luz no aposento escuro e com cheiro de mofo. Era capaz de se orientar apenas pelo contorno dos objetos maiores, dispostos aleatoriamente, e era impossível distinguir mesmo um cabide de uma mesa.

Emiko encarou com desânimo o ambiente penumbroso à sua frente, coçando a cabeça em discreta impaciência, e vasculhou o local em busca da caixa amarela sobre a qual Ryūma se referira. Ela estava, felizmente, bem perto da porta — na lateral direita — e a garota não teve trabalho nenhum para encontrá-la.

Haviam algumas folhas de papel manuscrito em cima das abas da caixa e Emiko os apanhou prontamente, mas estava escuro demais para enxergar as letras negras sob a superfície branca. Ela tentou virá-las, coloca-las contra a luz da porta e mesmo posicioná-las bem perto dos olhos, mas ainda assim o texto permanecia ilegível.

Foi então que ela reparou na caixa ao lado.

Era marrom, de papelão, sem nenhum atrativo especial além de um pedaço de pano avermelhado — meio dentro meio fora — preso entre as abas frágeis e amassadas, que quase se insinuava perante os olhos da ruiva. Ela franziu o cenho, ponderando sobre mexer ou não no objeto, e, depois de olhar na direção da porta entreaberta do depósito e certificar-se de que estava sozinha, alcançou o tecido com a mão direita e o puxou.

No momento em que o ergueu, percebeu que era uma camisa de basquete. Uma camisa da mesma cor e textura das usadas pelos jogadores do time. E havia um enorme seis estampado na frente e atrás.

Seis...

Um aperto no peito a fez arregalar os olhos imediatamente.

Ela apertou a camisa entre os dedos, sentindo a consistência rala raspando em sua pele, e um aroma amadeirado — aquele que ela sempre manteve vívido em sua mente quando havia bloqueado quase todo o resto — invadiu suas narinas e a fez ter certeza de que pertencia exatamente a quem ela estava pensando.

Hibiki... — murmurou baixo e para si mesma.

Seus olhos, outrora brilhantes e alegres, marejaram. Os lábios tremiam e ela sentia um nó dolorido formar-se na garganta. Suas pernas enfraqueceram por um instante, mas ela fez um esforço para manter-se exatamente no lugar e na posição onde estava.

Baixou o rosto e escondeu-o na camisa de basquete que pertenceu ao seu irmão para abafar os soluços que logo vieram. Tentou controlar a respiração entrecortada, mas parecia impossível diante da torrente de sentimentos reprimidos que ganhava força e batia violentamente contra as paredes da barreira interna que ela criou dentro de si mesma.

Kitsu? — Uma voz familiar de repente rasgou o silêncio mórbido que se instalou no depósito e trouxe-a de volta para a superfície. — Quanto tempo você leva para achar alguns papéis em um cubículo desses?

Ele a viu de costas, parada no meio do aposento, e imediatamente se calou. Ergueu a sobrancelha, sem entender o que estava acontecendo e a razão da aura pesada que ele sentia em torno dela, e resolveu se aproximar por curiosidade.

Emiko? — Chamou-a novamente, parando exatamente em suas costas, a centímetros de seu corpo.

Nenhuma palavra. Apenas um soluço dolorido.

Ele inclinou a cabeça suavemente — o suficiente para ser capaz de enxergar o que ela tinha em mãos — e percebeu que era uma camisa vermelha. Não conseguia compreender o que estava acontecendo, mas o silêncio dela estava começando a tornar-se muito incômodo. Alguma coisa estava errada.

Um estalo tomou-o de súbito e ele se lembrou que camisa era aquela.

O treinador, que a tinha encontrado em seus pertences na noite anterior, entregou-a ao rapaz — quando ele se dirigiu ao mais velho buscando sanar algumas dúvidas em relação ao campeonato que logo aconteceria — e pediu que ele a guardasse no depósito. Kai enfiou-a, sem muito cuidado, em uma caixa qualquer e então foi para casa.

E só agora entendia o peso da situação que o cercava.

O soluço da menina ecoou mais uma vez pelo depósito abafado e silencioso. O moreno sentia uma pontada de culpa. Ela sabia que havia mais alguém com ali lá dentro, mas nada parecia significativo o suficiente perto do sentimento avassalador que sufocava e perfurava o seu coração.

“Você prometeu... que seria meu par na valsa de formatura...”

A mão firme de Kai pesou sobre o ombro da recém-nomeada Escolta do time. Ele não conseguia pensar em nada para dizer e ela — que mantinha os olhos escondidos na camisa com cheiro de cedro —, como se desculpar ou confortá-la, mas também não sabia se queria ouvi-la chorar.

Ele também era o número seis, como você deve saber... — Emi disse, de repente, com a voz rouca e abafada, ao mesmo tempo em que escutava, lá longe, um som agudo e dolorido. — E essa era a camisa dele.

O Lateral tentava desesperadamente formular alguma de suas piadas idiotas para fazê-la rir, como normalmente fazia, para desmanchar aquele tom de dor e tristeza que imperava sobre a garota, mas nada lhe vinha a mente.

Nós éramos muito diferentes e eu costumava me perguntar porque ele parecia gostar de uma coisa tão idiota como... correr atrás de uma bola e batê-la no chão... — ela tentava manter a voz firme, mas o som falhava vez ou outra. — Embora eu o amasse, eu achei que nunca conseguiria entender porque ele gostava de basquete quando havia uma infinidade de livros para se ler, de coisas para escrever e de mundos fantásticos para desbravar...

Memórias doloridas preencheram seu coração e mente, imergindo-a numa atmosfera de melancolia profunda, ao mesmo tempo em que ela se permitia inebriar por aquele cheiro tão nostálgico e precioso.

— Nós estávamos fugindo de uma reunião familiar entediante quando tudo aconteceu. Hibiki pegou o carro do papai e disse que nós íamos dar uma volta. Eu achei arriscado, sabia que poderíamos ficar de castigo, mas... eu nunca conseguia dizer não a ele. Ele sempre soube o que estava fazendo. Eu sempre me senti segura perto dele e daquela vez não foi diferente. Ele estava eufórico, eu também, nós entramos no carro e ele saiu dirigindo sem rumo algum enquanto me perguntava sobre a escola, os garotos e o clube de literatura...

Naquele momento, a voz dela pareceu tornar-se ainda mais grave. Emiko estava tentando dissolver o nó na garganta, e fingir que a ardência no estômago não a incomodava, mas percebeu que seria uma tarefa muito mais difícil do que tinha imaginado.

Ele não estava dirigindo tão rápido assim, mas eu comecei a ficar apreensiva e pedi para ele diminuir a velocidade. Ele riu, me disse para relaxar e disse que... nada de mal ia acontecer...

Engasgou.

Quando estávamos atravessando a ponte, perto de Ueda, Kibiki perdeu o controle do carro em um momento de distração e nós batemos na proteção de cimento. E caímos no lago. Era muito fundo. Eu fiquei tonta por alguns segundos por causa do impacto, e, quando me dei conta, ele estava desacordado sobre o volante. Tinha sangue na testa dele. O carro estava descendo em direção ao breu. Eu fiquei desesperada.

Kai a ouvia no mais profundo silêncio, de cabeça baixa, com a mão ainda sobre seu ombro. Ele não ousava interrompê-la.

Eu tentei destravar a porta, mas estava emperrada. Então eu arrebentei o vidro com toda a força que eu tinha e saí. Nadei até a outra porta e tentei abri-la, mas também estava presa. E eu não tenho muito fôlego... eu estava cansada e sufocada...

A narração da última parte da história era o pior momento para Emiko. Ela nunca tinha se aberto com ninguém em relação aos detalhes do que aconteceu, nem depois das várias tentativas de sua mãe de fazê-la falar, e tinha dito a si mesma que reprimiria os seus sentimentos para o lugar mais inóspito e sombrio do seu coração.

Mas agora eles transbordavam para fora. Ela não aguentava mais.

Eu subi para a superfície para retomar o fôlego e tentei descer de novo, mas não importava o quanto eu tentasse, eu não conseguia mais alcançar o carro, que, àquela altura, já devia estar no fundo do lago. Eu tentei uma, duas, três vezes, mas eu não conseguia. E quando finalmente eu estava disposta a alcança-lo, mesmo que eu morresse no meio do caminho, mãos me agarraram e me levaram para a margem enquanto eu esperneava e gritava o nome do meu irmão. Pessoas chegaram nesse instante e tentaram salvá-lo, mas... era tarde demais...

As últimas palavras foram ditas com um pesar tão profundo que Kai quase teve a impressão de sentir a dor da garota em sua própria pele. Todas as tentativas de fazê-la sorrir, fossem com brincadeiras bobas ou provocações propositais, só tinham servido para afastar sua dor por algum tempo; mas, afinal, ela sempre voltava.

Sempre.

A culpa é minha... — agora as lágrimas deixavam seus olhos e manchavam a camisa de basquete que um dia pertenceu ao seu irmão. — Eu não consegui tirá-lo de lá, eu não fui... capaz de salvá-lo. Ele estava morrendo e eu fui fraca... eu fui fraca e inútil e...

Kai apertou os dedos sobre o ombro dela. Ela calou-se, com o rosto inchado e vermelho, enquanto sentia seu peito arder de culpa e pesar. E saudade.

Ele a fez virar-se e ficar de frente para si. Sem nada dizer, ele a abraçou.

Emiko pareceu assustada a princípio, mas, preenchida por uma estranha e repentina sensação de segurança, afundou o rosto no peito suado do Lateral e, com suas mãos pequenas, agarrou a parte traseira da camisa dele.

E chorou. Muito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. i~i AUHuahauss! EmiKai pra quem shippa! (mas não fiquem tristes, fãs de EmiHal, pq a história ainda não acabou e bastante coisa ainda vai acontecer), hahah! Obrigada por me acompanharem, gente, de verdade. Amo todos vocês!! ♡ i~i