Outono escrita por Makimoto


Capítulo 5
Capítulo 5 — Esperança Renovada;


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora, gente, mds, desculpa mesmo. i~i A boa notícia é que, isso, sim: atingimos a metade de Outono! Sinto-me muito orgulhosa de mim mesma e sou feliz em dizer que vocês, leitores lindos, me ajudaram muito até aqui~! Comentários lindos, recomendações, mensagens de apoio, mds, vocês são demais. Eu espero que eu consiga chegar ao final da melhor força (estou me esforçando muito pra isso, eu juro!) e espero também que vocês estejam gostando. Pra quem é fantasminha flutuante por aí... venham, amores, digam pra titia Bastet onde ela pode melhorar! Obrigada de coração a todo mundo. i~i ♥♥♥ Boa leitura!



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As memórias do dia anterior, nubladas pelo estigma da confusão, flutuavam sem rumo dentro da garota desde o momento em que acordara. Imagens em flash do que acontecera dentro do depósito da quadra de esportes — as lágrimas, o vazio no peito e o abraço caloroso de seu companheiro de time — dançavam em sua mente e criavam uma estranha sensação de desolamento; de não saber o que fazer.

Passos lentos a guiaram para a cozinha, onde encontrou a mãe, como de costume, de frente para o fogão, e utensílios já usado sobre a mesa. A expressão em seu rosto era vaga e, apesar de estar acordada fisicamente, a impressão era de que sua consciência continuava adormecida. Não tinha muita vontade de conversar e havia aquela sensação tomando conta dela, de que tinha feito alguma coisa errada anteriormente, e ela não conseguia se desfazer da ideia de que tudo isso estava relacionado com os acontecimentos do depósito.

Bom dia, querida. — murmurou Honoka.

Bom dia.

Emiko acomodou-se na mesa redonda em silêncio, enquanto rememorava involuntaria e incessantemente as lembranças de Kai dentro de sua cabeça. Sua mente estava em constante movimento, mas, para quem a via — como sua mãe —, a garota estava apenas com um olhar mais vago que de costume.

Emi? — chamou a mais velha.

Nenhuma resposta.

Emiko? — repetiu, em tom de voz mais alto, ao colocar a mão sobre o ombro da filha.

Como quem acabou de despertar de um transe, a ruiva piscou algumas vezes e ergueu os olhos na direção da outra.

Desculpe, eu estava...

Distraída. — completou Imelda com um sorriso. — Eu sei.

Emiko ficou feliz por não precisar ter se retratar com a mãe. E havia sido sempre assim. Talvez essa fosse uma das razões de ela se sentir muito mais à vontade com a outra do que com seu pai. O último, aliás, havia se tornado praticamente um fantasma em sua vida. Entrava e saía sem que ela o visse, ou ouvisse, e pareciam não ter qualquer ligação além das despesas escolares que ele, eventualmente, pagava.

O Hal ligou. — disse a mais velha de repente. — Eu perguntei se ele queria deixar recado, mas ele disse que falaria com você pessoalmente.

O semblante da ruiva de repente mudou.

Está tudo bem? — perguntou a mãe enquanto enchia o prato da ruiva mais nova com queijo, ovo mexido e bacon. — Aconteceu alguma coisa? Vocês brigaram?

Nada importante. — respondeu categoricamente.

A mais velha assentiu com a cabeça e, com uma expressão amável no rosto, voltou para o fogão. A atmosfera tensa que pairava no ar se desfez com o correr dos minutos. Emiko não disse mais nada durante a refeição, limitando-se a acenar positiva ou negativamente para responder outras perguntas corriqueiras da mãe, até que o assunto “basquete” veio à tona.

Como estão os treinos? — Honoka apoiou-se na mesa com uma das mãos. — Você está se saindo bem? Os garotos são legais?

Sim. — respostas vagas novamente. — Na verdade...

Emiko ergueu os olhos e encontrou a mãe encarando-a com um ar de curiosidade quase sólido.

Vai haver um campeonato em algumas semanas.

Verdade? — Honoka não quis esconder a felicidade e não poupou perguntas a respeito do assunto. — Isso é maravilhoso, querida! Você vai participar? Eu vou poder assistir?

A garota se sentiu um pouco acuada com tantas perguntas, especialmente porque a ideia, apesar de animá-la também, a assustava um pouco. Ela definitivamente ainda não se sentia pronta para a competição e tinha plena consciência de que teria que treinar muito até lá. Teria de se dedicar ainda mais se quisesse chegar perto do nível de seus companheiros de time que, além de treinarem a muito mais tempo, tinha muito mais condicionamento físico e visão de jogo que Emiko.

Vai ser aberto ao público sim. — permitiu que seus lábios se dobrassem em um sorriso discreto.

Eu tenho certeza que você vai se sair super bem, é uma ótima oportunidade para você e o seu pai

Não... diga nada para ele ainda. — Emiko a interrompeu e a expressão no rosto da mãe, por um momento, esmaeceu. — Por favor.

Nenhum questionamento foi ouvido dos lábios da ruiva mais velha que, depois de recolher os utensílios usados pela filha e beijar-lhe a testa, concordou e despediu-se dela com um sorriso bondoso. Emiko pegou a mochila, arrumou a saia amarrotada do uniforme e endireitou o paletó azulado. Voltou, por fim, os olhos para Honoka e se pronunciou mais uma vez:

Eu ficaria muito feliz se você me assistisse. — permitiu que seus lábios desenhassem um sorriso. — Isso é por ele também.

————— ♣ —————

O toque escolar anunciou o início iminente das primeiras aulas, mas a ruiva só fechou o livro que estava lendo — com os dizeres “Nas Sombras do seu Coração” escrito em letras douradas e caligrafais na capa dura — quando o professor entrou e começou a anotar fórmulas matemáticas no quadro negro. O murmurinho na aposento escolar cessou rapidamente e todos abriram os cadernos na última lição dada.

Os olhos de Emiko correram a classe lotada e pararam sobre o rapaz sentado exatamente na carteira do meio. Seus cabelos castanhos estavam levemente desalinhados, como de costume, e havia um símbolo esverdeado, semelhante à silhueta de uma espada enrolada por alguma coisa, desenhado na parte frontal de sua bolsa. Ele tinha os ombros largos, apesar de não praticar nenhum esporte assiduamente, e era dona de uma envergadura bastante masculina. Sempre vestia o uniforme corretamente; e isso lhe dava um ar intelectual que a japonesa muito apreciava.

Hal virou-se de repente, movido por uma estranha sensação de que estava sendo observado, e encontrou Emiko, no fundo da sala, olhando diretamente para ele. Ela desviou rapidamente o olhar e disfarçadamente se pôs a fechar o livro. Ele a esperou por mais algum tempo, na esperança de que ela tornasse a fita-lo, mas isso não aconteceu e Chiyoko, que estava ao lado dele, o cutucou para que ele voltasse a prestar atenção na aula.

O silêncio dos demais alunos tomou conta da sala e apenas a voz do professor, um pouco esganiçada, era ouvida. Ele anotava sentenças matemáticas na lousa ao passo que as explicava e sanava dúvidas de estudantes que pareciam realmente se importar com a matéria. Não escapou a ele a distração de Emiko, e ele chegou a chamar a atenção da garota algumas vezes, porém ela apenas se voltava para o quatro e fingia prestar atenção superficialmente no que ele dizia.

Vez ou outra, durante as horas em que primeiro período letivo durou, Emiko fixava a visão na espada desenhada na bolsa de Hal, mas, sempre que ele se movia na carteira ou fazia menção de virar para trás, ela prontamente se endireitava e tratava de convergir os próprios sentidos para outro ponto.

E assim discorreu a aula até que um novo toque anunciasse a hora do almoço.

Enquanto a maioria dos estudantes levantou e saiu, dividindo-se entre os corredores, refeitório e pátio, Emiko — que não tinha fome alguma — preferiu ficar onde já estava e retomar a leitura. Ainda que o murmurinho excitado dos outros tornasse o encargo difícil, ela ainda era capaz de viajar por entre as letras negras impressas nas páginas e, aos poucos, se voltar para dentro de si mesma.

Um rosto conhecido surgiu pela porta e, depois de procurar e localizar a garota em questão e desviar-se das outras pessoas no caminho, aproximou-se de Emiko. Caminhava com confiança e carregava uma espécie de pacote nas mãos. A figura nova anunciou sua presença com um peteleco na testa alheia e recebeu uma onomatopeia de dor e surpresa como resposta.

Ai! — A japonesa reclamou. — Isso dói!

Bom. — Retrucou Kai sorridente. — Então meu plano deu certo.

Kai estendeu uma pasta, lisa e azulada, para ela, que, após arquear a sobrancelha em visível confusão, apanhou-a e abriu-a cuidadosamente. Haviam desenhos, cheios de setas e círculos, com o título “Estratégias de Jogo”. Ele esperou pacientemente que ela lesse, desviando o olhar aqui e ali para a janela e para as anotações do professor que ainda estavam no quadro, até que ela ergueu o olhar para buscar o dele.

O velhote mandou te entregar. — Anunciou o moreno. — Como não vai ter treino hoje, ele disse para aproveitarmos o tempo livre para dar uma olhada e tentar visualizar as estratégias que vamos usar no campeonato contra a Wakusei.

Por um efêmero momento, as mãos da ruiva que seguravam o papel tremelicaram. Ninguém saberia descrever, e talvez nem ela própria, o temor que se apoderou dela por um instante e o quanto as informações que estavam naquela pasta significavam para ela. Especialmente porque nunca achou que seria capaz de atribuir tanta importância a elas. Nenhum de seus livros jamais previu que aquilo que um dia seu irmão tanto amou, e que ela nunca fora capaz de compreender enquanto ele estava vivo, agora ocupava sua mente quase o tempo inteiro e até a motivava a quebrar os próprios limites.

Eles andam com umas estratégias novas, mas nós com certeza vamos vencê-los dessa vez.

Ela não conseguia parar de se perguntar se aquelas figuras, das quais não desgrudava os olhos, tinham sido feitas à mão pelo próprio treinador.

Vai ser o seu primeiro campeonato com a gente, Kitsu.

Sim...

Se você quiser, te ajudo com algumas jogadas. — Tornou a dizer o rapaz. — Sabe como é, você é meio lerdinha, vai precisar de toda a ajuda possível e

Emiko golpeou o braço dele com a pasta e arrancou-lhe uma risada.

Instantes depois, ela reparou que Hal a encarava e percebeu que ele tencionava se aproximar. Piscou repetidas vezes, sentindo o coração retumbar dentro do peito, e conforme o rapaz serpenteava por entre as carteiras vazias no intuito de alcançá-la.

Oi. — ele disse com uma expressão fechada, mas nem um pouco grosseira ou hostil.

Oi... — ela o cumprimentou de volta.

Eu preciso falar com você. — Anunciou. — Você sabe disso e por isso esteve me evitando.

Os dedos da garota começaram a formigar suavemente enquanto ela era observada pelo companheiro de time. Kai encarava Hal com cara de poucos amigos, todavia não disse nada a princípio, mantendo-se fora da situação entre os dois.

Hal tencionava retomar o assunto que fora interrompido na noite anterior, pois haviam coisas que ele precisava dizer, precisava explicar, e questioná-la também. Não queria pressioná-la, mas, para ele, já havia passado tempo suficiente. Eles não poderiam evitar o assunto para sempre, e fingir que nada aconteceu, principalmente porque sempre tinham sido amigos — e agora se viam de forma diferente, os dois, sem que o outro soubesse — e amigos não fugiam um do outro.

O estrangeiro ignorou o moreno e continuou falando com a garota:

Emi...

Eu não quero falar sobre isso agora. — Respondeu categoricamente. — Eu ainda tenho que pensar. Eu ainda não estou pronta.

Mas eu só quero— no momento em que ele pôs a mão sobre o braço da ruiva, Kai deu um passo adiante e segurou o braço do outro.

Hal franziu o cenho e, pela primeira vez, encarou aquele cujas ações — e a proximidade com Emiko — sempre o irritaram mesmo à distância. Eles se entreolharam e uma atmosfera de profunda tensão instalou-se entre eles.

O que você está fazendo? — Hal perguntou.

Você não a ouviu dizer que não quer falar com você? — Kai devolveu no mesmo tom. — Porque não relaxa e fica na sua?

Isso não é da sua conta e não tem nada a ver com você, Nomura.

Tornou-se desde que você parece não ter noção das suas ações, Keiser.

Hal puxou a própria mão, afim de libertar o braço do elance forçado, mas Kai manteve sua posição e o segurou com força. Nenhum dos dois quebrou o contato visual mútuo e cerrado que sustentava aquele pacto de ira.

Emiko, que até o presente momento tinha assistido a cena com impaciência, ergueu-se da mesa e usou os braços para afastar os dois que, apesar disso, continuaram se encarando como se estivessem prestes a se atracarem.

Já chega. — A garota disse, se interpondo entre os dois. — Já chega disso.

Alguns alunos, que tinham ficado pelas proximidades, perceberam a movimentação incomum dentro da classe, especialmente porque Kai não fazia parte daquela turma e não era comum vê-lo ali, e foram se aproximando. Os olhares corriam de um para o outro, à espera de uma reação, mas eles permaneceram parados e em silêncio por algum tempo.

Não a toque de novo

Eu sei me defender sozinha. — Kai começou a falar, mas foi interrompido pela garota. — Agora já chega vocês dois.

Emiko pediu em palavras mudas, através do olhar, que Kai fosse embora, e, quando ele o fez, Hal voltou seus olhos para a ruiva por um momento no que pareceu durar uma vida. Feito isso, se afastou. Os alunos que acompanharam o desentendimento se afastaram e, simultânea à chegada do professor que conduziria a aula seguinte, o sinal ecoou novamente pela escola Shunkashūtō.

————— ♣ —————

Após ter se esforçado para se concentrar nas aulas seguintes, afim de esquecer o ocorrido anterior, Emiko foi recompensada com um bonito pôr-do-sol do lado de fora da janela. A luz do crepúsculo tingia tudo de laranja; as árvores, o pátio, e mesmo o estacionamento — para carros e bicicletas —, que sempre lhe pareceu um lugar tão sem graça, agora recebia um brilho a mais.

O outono era, com certeza, sua estação favorita. Nem muito fria, mas nem muito quente também, com uma vista escaldante que parecia dar vida mesmo às coisas inumanas. Havia um quê de magia naquela época do ano que sempre fez a ruiva sentir-se mais viva, mais relaxada, mais em paz, como se as cores, especialmente as quentes, tivessem o poder fantástico de envolver as pessoas e tocar diretamente na alma.

Deixou a escola sem falar com ninguém e permitiu-se guiar pelo caminho oposto ao que a levaria de volta para casa. Havia um lugar, que há muito não compunha seu trajeto, e que ela queria muito visitar.

Pouco mais de meia hora de caminhada foi o suficiente para que ela chegasse a um pequeno parque, ao lado da loja de conveniência de um posto de gasolina, composto apenas de um balanço, um escorregador e uma gangorra. Ficava algumas quadras depois da sua casa se ela seguisse a mesma avenida da escola. A noite já havia caído sobre o lugar, e, junto à luz da lua, criava um ar penumbroso estranhamente melancólico.

Emiko aproximou-se do balanço e sentou-se nele. De súbito foi tomada por memórias — algumas boas, gostosas de lembrar, e outras nem tanto — daquele lugar. Costumava visita-lo quando tinha um problema. Era fora dos limites de sua residência, longe de tudo o que estava habituada, e, quando saía de lá, parecia que todas as coisas ruins tinham ficado para trás.

O silêncio que pairava era o que ela mais apreciava. Era intensamente extasiante estar ali, sozinha, longe das pessoas e dos julgamentos, das perguntas e da falta de respostas, que tanto a incomodavam. Fechar os olhos e apenas aproveitar a ausência do mundo exterior compunha uma profunda sensação de alívio que ela nunca seria capaz de descrever.

A atmosfera desse lugar continua a mesma, não é? — O ecoar de uma voz familiar fê-la abrir os olhos de repente.

Hal?

O rapaz estava ali parado, encostado nos ferros cilíndricos que sustentavam o balanço, antes de dirigir-se em passos calmos, porém firmes, em direção ao assento de madeira vago ao lado dela. O paletó da escola repousava sobre a bolsa dele que estava no chão. Era raro vê-lo só com a camisa social branca, mas lhe caía muito bem.

Desculpe por hoje cedo. — Ele deu início ao diálogo. — Acho que eu não soube me aproximar direito.

Tudo bem. — Ela sorriu genuinamente.

Olha, eu sei o que você está pensando... que eu vou te pressionar com o que aconteceu com o Hibiki, que eu vou encher a sua cabeça de problemas, mas não é isso. Eu só

Eu sinto sua falta, Hal. — Emiko disse de maneira abrupta.

Hm?

Eu sinto falta de estarmos juntos.

Era extremamente difícil para ela admitir que a presença do rapaz lhe causava saudade — embora ela o estivesse evitando nos últimos dias para não se machucar ainda mais —, especialmente porque a distância entre eles só nasceu por escolha dela. Ele não estava errado quando dissera que ela preferiu fugir a deixa-lo se aproximar, que não confiou na força do apoio que ele com certeza daria, acreditando erroneamente que, se fosse capaz de se afastar de tudo, a dor seria menor. Ela sabia que ele estava certo.

Lembra que costumávamos vir aqui sempre que você estava chateada com alguma coisa? — Um meio sorriso brotou nos lábios do rapaz, enquanto ele mirava o horizonte à distância. — Como naquela vez em que achou que o seu coelho estava morto, mas só tinha gases?

Pobre Mostarda.

Os dois riram baixo.

Eu sei que os últimos dias têm sido muito difíceis para você, e que lidar com a falta do seu irmão o tempo todo, aonde quer que vá, deve ser terrível, mas... — Ele virou o rosto e encarou o dela que estava voltado para o chão. — Eu só queria que você entendesse que eu estou aqui. Eu sempre estive aqui, e eu sempre vou estar, porque você é muito importante para mim. Nós fizemos uma promessa, de que nunca deixaríamos de ser nós mesmos um com o outro, e eu costumo cumprir com a minha palavra.

Emiko permaneceu em silêncio.

Eu não quero força-la a nada, você tem todo o tempo que quiser, eu só queria... ter você por perto. Que as coisas sejam um pouquinho como antes.

Ela o olhou diretamente.

Eu nunca tive a chance de te dizer, mas eu sempre gostei de você. Talvez eu a tivesse pedido em namoro se as coisas não tivessem acontecido assim...

Emiko franziu a sobrancelha.

... E eu sei que essa não é a melhor hora para isso. — Completou o rapaz ao perceber o que tinha feito, coçando a cabeça, em visível nervosismo. — Desculpe.

Hal se levantou o balanço, ajoelhou-se no chão de terra à frente dela e ofereceu-lhe um sorriso amigável. Abriu os braços, convidando-a para um abraço, que foi atendido após alguns segundos de troca de olhares.

Emiko tinha esquecido como ele cheirava bem, e como os braços definidos do rapaz eram capazes de enlaçá-la quase por completo. Ela era uma figura magra e pequena. Era reconfortante encostar o queixo no ombro de Hal e fechar os olhos, esquecer do mundo, perder-se naquele abrigo perfeito. Fora ali naqueles braços onde tantas vezes encontrara alívio e segurança, e mesmo felicidade, nos dia quentes de verão e frios de inverno.

Quase tinha esquecido. E era muito bom lembrar.

Eu também.

Foi a voz dele de franzir o cenho.

Eu também quis que a gente namorasse. — Murmurou um pouco desconcertada.

A atmosfera, que outrora era tensa e pesada, agora parecia, aos poucos, ir assumindo um ar muito mais agradável. Falas espontâneas, conversa cotidiana, um lugar confortável. Tudo isso contribuía para que a garota se sentisse muito mais à vontade ali — longe de gente que nunca chegariam a entende-la verdadeiramente — que na escola.

Emiko nunca achou que um dia se sentiria apreensiva na presença de Hal, que, desde que se entendia por gente, era a pessoa mais próxima de si. Ela também gostava dele — muito mais do que foi capaz de demonstrar naquele momento e em todos os outros —, porém haviam outras coisas rondando sua mente naquele momento, e que ela as vezes gostaria não ter de pensar, e não sabia mais se estava pronta para isso.

Você ainda gosta que empurrem você? — Hal disse de repente, cessando o abraço e se levantando.

Eu... eu não sei, faz tempo que eu não venho aqui. — Retrucou, claramente pega desprevenida.

Vamos ver se esse brinquedo ainda te aguenta, garota... — Pronunciou-se com um ar divertido.

Hal posicionou-se atrás de Emiko e, com as mãos, agarrou ambas as cordas que mantinham o balanço suspenso. Ela, por sua vez, um pouco ansiosa, também segurou firme nas cordas para não perder o equilíbrio. Ele a puxou para trás, deslizando os pés na areia e, sem aviso prévio, soltou-a. Emiko resvalou no ar, executando um trajeto em meia lua, enquanto o vento batia em seus cabelos, sacudindo-os, e acariciava o seu rosto agora sorridente.

A primeira volta foi tensa, deu-lhe medo, e ela teve vontade de parar, mas conforme se movia para frente e para trás, com a ajuda de Hal que a empurrava delicadamente, seus músculos relaxaram gradualmente e ela começou a pegar gosto pelo exercício. Passou a usar as pernas para ganhar mais velocidade, inclinando a cabeça sempre que escorregava para frente, inspirando o máximo de ar que conseguia quando atingia o topo.

Não havia nada que pudesse conceder a Hal um prazer maior que fazê-la sorrir novamente — como antes —, sem qualquer clima ruim ou outras pessoas. Somente os dois. Estava disposto a tentar, a lutar pelo amo dela. Porém independente do que o futuro reservasse, apenas forte amizade ou um tórrido romance, ele estava decidido a não pressioná-la novamente e desfazer o ambiente gostoso que ele custou a ser capaz de recriar.

Eu vou estar do seu lado... para sempre. — As palavras dele ecoaram no silêncio. — Nunca se esqueça disso.


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Notas finais do capítulo

Sintam-se à vontade pra comentar sinceramente! ♥♥♥ ps: O livro que a Emi está lendo no capítulo, "Nas Sombras do Seu Coração", na verdade, é uma referência à fanfic de uma amiga muito querida (https://fanfiction.com.br/historia/624743/Nas_Sombras_do_Seu_Coracao/). x3 Ela não me pediu pra fazer isso, eu é que quis surpreendê-la pq a fic dela é incrível e realmente merece mais visibilidade!



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