Três vidas inteiras escrita por Blue Butterfly


Capítulo 16
Dezesseis




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Jane beijou o rosto de Maura uma última vez antes de descer no andar inferior. Ela aproveitaria os minutos em que Maura passaria se maquiando para falar com a mãe - ela com certeza tinha muito a contar para Angela. Arrastando os pés degrau a degrau pela escada, ela finalmente chegou na cozinha e limpou a garganta para anunciar sua presença. Ela se sentiu um tanto nervosa quando Angela a olhou dos pés à cabeça. Havia tanto a ser conversado, explicado. Não é como se ela sentisse a necessidade de se explicar para a mãe, mas considerando tudo o que haviam passado nos últimos anos e o modo como Angela sempre a apoiara... Não era justo deixá-la de fora. Ela listou alguns pontos os quais sentia mais urgência de esclarecer e começou a falar antes que a mulher tivesse a oportunidade de jogar um milhão de perguntas em cima de si.

'Nós tínhamos conversado sobre contar para você, lá em Paris.' Ela lambeu os lábios e uma pequena tensão se instalou entre elas, principalmente porque a faladeira Angela havia se calado num silêncio incomum. 'Aconteceu lá. Nós nos beijamos lá pela primeira vez - eu a beijei - e eu entrei em pânico e liguei para Frankie. Eu achei que tinha acabado com nossa amizade, e... Bem, foi assim que ele soube.' Ela suspirou.

'Você sempre confiou no seu irmão.' Angela murmurou, os olhos atentos estudando a morena.

'Sempre.' Jane concordou com a cabeça, se sentindo um tanto inconfortável por estar se abrindo com a mãe. 'Depois disso... Eu e Maura conversamos. Nós nos abrimos uma para outra e... Eu não posso negar o que sinto por ela. Faz parte de mim, é quem eu sou.' Ela disse como se Angela fosse reprimi-la por tal escolha, se justificando de antemão.

'Jane, isso não faz diferença para mim.' Angela murmurou de volta.

'Você pareceu bem surpresa quando descobriu.' Ela rebateu.

'Porque você não tinha me contado!' Ela jogou as mãos no ar e deu alguns passos a frente. 'Jane, meses atrás você estava chorando por conta dela! Você nunca me disse o que era, apenas me deixou pensando. Eu achei que vocês tinham brigado, ou sei lá! E depois vocês passaram a conversar em voz baixa, evitar situações e lugares. Ela parecia mais cheia de segredos e fechada do que nunca. Pelo seu comportamento eu achei que ela estava agindo assim com você também, e por isso você estava mal. Agora eu entro no quarto e vejo...' Ela suspirou rispidamente. 'É uma reviravolta.'

'Foi uma reviravolta pra mim também. Acredite.' Jane suspirou cansada e balançou a cabeça. 'Mãe, se for muito para você, nós...'

'Jane, vocês duas juntas não me surpreende.' Ela disse firmemente, os olhos fixos na morena. 'Apenas fiquei magoada por não saber. Quer dizer... Você nunca foi mesmo de me dizer quando estava interessada em alguém, o que eu estava esperando?' Ela riu consigo mesma e Jane sorriu, relaxando os ombros.

'Você sempre esperou que eu me acertasse com um homem e...' Jane mordeu o lábio inferior, os olhos recorrendo aos cantos da casa enquanto pensava. 'Confesso que fiquei com medo de você rejeitar a notícia. E a nós.'

'Ora, Janie!' Angela disse com uma arfada, repreendendo-a pela dedução. 'Eu jamais renegaria você, se é isso que você acha! Pelo amor de Deus! Sem contar que é Maura! Que acréscimo na nossa família!'

Jane sorriu agradecida e cruzou os dedos ao passo de que pressionava as mãos juntas. 'Ela era família antes disso.'

'É claro que sim.' Angela concordou com um menear de cabeça. 'E Jane, o bebê?' Ela perguntou sem ensaios.

'É de Jack.' A morena murmurou, não muito contente de lembrar do detalhe.

'Bem, isso eu sei! Você acha que não sei somar um mais um, Jane?' Angela disse irritada, apressando-a com as mãos para que lhe contasse mais detalhes.

'Ela descobriu um pouco depois do primeiro mês. Foi difícil para ela, mas vamos pular essa parte, ok?' Ela esperou a mãe concordar com a cabeça para continuar. 'Nós conversamos bastante e... bem, eu queria que ela tivesse o bebê desde o momento que eu soube. Ela concordou em dividir a guarda da criança comigo, e assim que ele nascer vou adotá-lo. Assim ele será oficialmente meu e dela.'

'Você decidiu adotá-lo antes mesmo de, você sabe, ficarem juntas?' Angela segurou a cadeira com as duas mãos.

'É. É como eu disse, eu sempre quis que ela tivesse o bebê. Ela estava disposta a fazer o mesmo pelo meu e... Não é uma retribuição de favores. Eu realmente quero aquela criança.' Ela disse com timidez.

'Oh, Jane...' Angela engoliu o nó na garganta e esticou os braços para abraçar a morena. Jane simplesmente deixou - ela precisava do colo. Trazer o assunto do bebê perdido a tirava fora dos trilhos. Desde que o perdera ela se perguntava se teria outra oportunidade de se tornar mãe, de segurar um recém-nascido no colo. Ela desejava aquela criança que Maura estava carregando com todas suas forças, porque era ali que estava sua chance - dentro da pessoa que agora era sua mulher, e dividiria o mesmo papel que o seu em relação ao bebê.

'Obrigada por ser tão compreensiva.' Ela murmurou ao apertar os braços em volta da mulher mais velha.

'Ora, Jane, eu sou sua mãe e eu amo você.' Angela disse e deu uma risadinha em seguida, depois beijou repetidamente o rosto da filha.

'E eu amo você.' A morena disse sorrindo. 'Mas você precisa realmente parar de ser intrometida.' Ela acrescentou ao soltar da mulher, prevendo o tapa que levaria.

'Ah! Ninguém é perfeito, Jane!' Angela bateu as mãos ao lado do corpo e depois de se encararem um instante, as duas começaram a rir.

'Nós vamos ter um bebê.' Jane levou as duas mãos em punho na boca, assim como uma criança empolgada faz.

Angela gargalhou. 'Isso merece uma grande celebração!'

'Mãe, você não pode dizer para ninguém que nós estamos juntas, ok? Não por enquanto. Uma notícia de cada vez. Certo?' Ela disse do nada, se lembrando do quanto aquilo era importante para elas.

'Bem, acho que o telefonema para sua tia vai ter que esperar então.' Ela resmungou.

'Mãe!'

...

Maura se olhou no espelho e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Mais confiante depois de ter conversado com Angela, ela calçou os sapatos mais uma vez para descer ao andar de baixo. Sobre o novo status da relação dela e de Jane, o que mais preocupava era a reação da Rizzoli mais velha, e apesar de a situação ter sido extremamente constrangedora no momento, ela se sentia aliviada por Angela finalmente saber.

Descendo os degraus da escada, ela ouviu o murmúrio de Angela e Jane na cozinha, colocando a mesa do jantar.

'Uau, vocês já arrumaram tudo.' Ela disse impressionada, e também para anunciar sua presença.

Jane sorriu para ela e colocou o último garfo ao lado de um prato. 'Você trouxe?'

'Uhum.' Maura respondeu com um sorriso e ergueu a mão com os sapatinhos que Jane tinha lhe presenteado em Paris.

'Ótimo! Agora coloque em um lugar que não fique muito à vista.'

'Maura, há alguma coisa em especial que você queira comer? Você sabe ainda temos um tempinho e eu posso preparar o que você quiser.' Angela se adiantou para segurar seus braços e ela abriu a boca em surpresa, lançou um olhar para Jane que revirou os olhos e depois voltou a atenção para a mulher.

'N-não. Não há nada em particular que eu gostaria de comer agora.' Ela disse meio que se engasgando.

'Bem, se você quiser qualquer coisa, eu ficarei muito contente em cozinhá-la para você.' Angela disse na maior seriedade, seu olhar no de Maura quase implorando que ela pedisse algo.

'Mãe.' Jane alertou a mais velha do outro lado do cômodo, agora se sentando no sofá.

'O que? Eu só quero me fazer útil!' Ela suspirou severamente para Jane, mas sua expressão se suavizou completamente ao ao voltar para Maura. 'Qualquer coisa que você precise querida, me peça.'

'Obrigada.' Ela sorriu educadamente e se retirou para se juntar a Jane no sofá. Sentaram-se lado a lado, e a morena não hesitou em abraçar sua cintura e puxá-la para o mais perto de si que podia. Maura pegou o controle remoto da mão de Jane e passou por alguns canais.

'Maura, você sabe que hoje é dia de jogo, certo?' A morena abaixou o queixo e estreitou os olhos para ela.

'Mas tem um documentário excelente sobre a bactéria Staphylococcus!' Ela se defendeu, afastando o controle da morena que tentava alcançá-lo.

Ela lançou um olhar de 'jura?' para a médica, e apertou os lábios. 'Maura!'

'É a fasceíte necrotizante.' Ela disse como se fosse convencer Jane pela iluminação.

'A bactéria que come a pele?' A morena fez uma careta. 'Eu achei que você tinha medo disso.' Ela retrucou, apertando Maura para arrancar o controle de sua mão, mas a loira se esticou para o outro lado e riu.

'Eu estou enfrentando meus medos. Ai, Jane!' Ela reclamou e a empurrou com a mão livre.

'Eu não vou assistir a uma coisa nojenta dessas antes de comer, não mesmo, Maura!' Ela insistiu e abraçou a mulher com os dois braços, prendendo-a de forma que ela não conseguia se mexer.

'Ai!' A médica exclamou de novo.

'Ei vocês duas, parem antes que vocês se machuquem.' Angela gritou da cozinha, as mãos na cintura.

'Pára de dizer 'ai', eu nem estou te machucando.' Jane sussurrou no ouvido da outra e depois beijou sua bochecha... E aproveitou a distração para pegar finalmente o controle remoto da mão da médica.

Maura abriu a boca em um O, perplexa por ter sido enganada. Quando a morena apertou mais uma vez os braços em volta de si, rindo baixinho, ela viu sua oportunidade.

'Ai, Jane! Você está me machucando!' Ela resmungou alto, com a voz mais perto de soar magoada que podia.

'Jane Clementine Rizzoli!' Angela gritou de novo. 'Se você não parar com isso vou fazer questão de mostrar seu álbum de fotos de quando era criança para todos nessa casa hoje. E isso inclui aquela foto do seu quarto ano vestida de Sininho.' Ela bufou. 'Deixe Maura assistir o que ela quiser.' E depois disso ela resmungou mais alguma coisa que nenhuma das duas conseguiu distinguir.

Jane virou o rosto com incredulidade estampada nele. 'Você fez de propósito.' Ela encarou Maura de boca aberta.

A médica riu e encolheu os ombros. 'Eu também sei jogar duro.' Ela se inclinou para beijar o rosto da detetive mas Jane se afastou.

'Você, Maura Isles. Você me paga.' Ela ameaçou, apertando os olhos.

'Na verdade,' a loira pegou o controle de novo e mudou para o canal do jogo, 'eu pago qualquer coisa para ver aquela foto.' Ela riu baixinho mais uma vez, beijou a bochecha da morena e, satisfeita, encostou a cabeça em seu ombro.

...

Quando a última pessoa faltando na mesa por fim se sentou, foi que Maura sentiu um calafrio percorrer sua coluna. Estavam todos eles lá: Frankie, Nina, Susie, Korsak, Tommy, Lidia, TJ e até mesmo Amy. Ela estava empolgada e um tanto com medo. Jane estava sentada ao seu lado e antes que Angela se levantasse para começar a servir a comida, uma conversa agradável tinha se instalado entre eles. Era a deixa, Maura sabia. Era agora que ela deveria anunciar sua gravidez. Sentindo a mão de Jane fechar sobre a sua por baixo da mesa, ela lançou um olhar para a morena e um sorriso incerto. Por que ela estava com medo afinal? Eram pessoas que a amavam, estimavam sua presença. Quando Jane levantou as sobrancelhas em questionamento, ela balançou a cabeça levemente. Sim, teria que ser agora. Era o momento mais apropriado. A detetive então limpou a garganta para chamar a atenção de todos, e enquanto a conversa morria lentamente para que os ouvidos e olhos se focassem no que ela fosse apresentar, as duas levantaram simultaneamente da mesa.

'Nós convidamos você aqui porque temos uma notícia para dar.' Ela disse com um sorriso e viu Korsak levantar a sobrancelha e lançar um olhar divertido para Frankie.

'O que? Vocês vão mudar para Paris? Eu disse que isso iria acontecer, Angela.' Korsak disse e metade da mesa riu.

'Bem... Não exatamente, então nem precisa comemorar.' Jane rebateu, esperando Maura voltar ao seu lado - ela tinha ido buscar algo.

'Lá se vai a primeira boa hipótese. Mais alguém?' Frankie provocou, um sorriso de quem sabia alguma coisa a mais do que os outros ali.

'Você vai me devolver os duzentos contos que te emprestei.' Jane cutucou o irmão de volta, fechando a cara. Ele riu em seguida e levantou as mãos.

'Eu não tô te devendo dinheiro, Jane!' Ele se defendeu.

'1998, quando os Red Sox ganharam o jogo e eu ganhei a aposta.' Ela disse com um sorriso vitorioso no rosto e bateu as mãos. 'Okay, Maura aqui quer contar algo. Vá em frente!' Ela disse para a loira que tinha retornado e estava novamente ao seu lado.

Maura colocou os dois pares de sapatinhos em cima da mesa, aqueles que trouxera de Paris, e de repente se sentiu consciente de todos os olhares duvidosos sobre ela. Um silêncio ensurdecedor se instalou entre eles.

'Você... Está grávida?' Frankie perguntou um tanto quanto confuso.

'Não seja imbecil. Maura vai abrir a própria linha de confecção de sapatinhos de bebês.' Jane disse sarcasticamente e viu Frankie arregalar os olhos, a mãe revirar os olhos e bater as mãos irritada na mesa e Korsak arquear as sobrancelhas, como se avaliando seriamente o quão lucrativo isso seria. Não se aguentando, Jane apertou os lábios tentando conter o sorriso e olhou para Maura. Suas bochechas estavam coradas e ela estava sorrindo, os olhos caídos para baixo. A detetive depositou uma mão nas suas costas e acariciou antes de falar novamente. 'Maura vai ter um bebê.' Jane riu consigo mesma e olhou para a loira, esperando que ela dissesse algo.

'Nós queríamos que vocês soubessem... Antes que o peso extra me denunciasse.' Ela riu e mais uma vez abaixou a cabeça, tímida, e tudo o que ouviu em seguida foi o grito de felicidade de Angela - como se ela já não tivesse comemorado antes.

'Isso não é a melhor notícia dos últimos tempos?' Ela exclamou em voz alta, e agora Jane se perguntava se a cara de surpresa das pessoas na mesa era por conta da notícia ou da explosão da mulher.

'Uau, isso é ótimo, Maura.' Frankie disse se levantando para poder abraçá-la.

Korsak foi o próximo, dando um abraço rápido e parabéns pela notícia. 'Nós precisamos fazer um brinde.'

'Oh! De quanto tempo você está?' Ligia perguntou do outro lado da mesa e TJ notando a manifestação positiva de todos bateu palmas e gritou algo incompreensível.

'Maura, você tem um parasita dentro de você!' Essa tinha sido Susie, e a médica riu com a piada.

'É um menino ou uma menina?' Tommy perguntou. 'TJ vai adorar ter alguém para brincar!'

'Estou feliz por você, Maura.' Nina lhe deu um abraço rápido e um beijo no rosto.

E assim as perguntas foram se acumulando, e Maura viu-se respondendo a todas que podia. Ela se sentia sobrecarregada apesar da reação positiva das pessoas que nem por um minuto durante o almoço deixaram de lhe dar atenção: ela estava sendo mimada. Cada vez que seu copo se esvaziava alguém preenchia para ela, se um determinado prato de comida estava do outro lado da mesa, alguém se levantava e não é como se fosse simplesmente entregá-lo em suas mãos. Não. Ela era servida. Em determinado ponto ela queria gritar para que parassem de tratá-la como se fosse uma rainha, ou pior, como se estivesse incapacitada. Ela lançava olhares para Jane afim de obter alguma ajuda, mas a própria detetive reproduzia o mesmo comportamento dos familiares. Isso era um ponto que ela iria discutir mais tarde com a morena, porque ela como uma mulher independente não conseguia suportar por muito tempo pessoas fazendo simples tarefas que ela poderia fazer - ainda que as intenções fossem boas.

No final do almoço, Maura teve certeza que cada pessoa a abraçou pelo menos três vezes, e sua barriga foi acariciada incontáveis outras. Talvez por serem mais calorosos do que sua família em Paris, ela se sentiu mais desgastada ao fim do dia. Apenas Frankie e Amy tinham ficado até o último minuto, e agora era Amy quem lavava a louça.

Maura se aproximou dela e pegou um guardanapo, tentando se sentir útil pelo menos uma vez durante aquele dia.

'Oh, não. Por favor, deixe que eu termine isso tudo. Como forma de agradecimento, se você preferir.' A namorada de Frankie disse, fazendo um gesto para que ela desistisse.

'Eu insisto.' Maura disse e pegou um prato para secá-lo. 'Não há o que agradecer. Você é sempre bem-vinda, Amy.' Ela sorriu simpaticamente e depositou o prato seco na pia, pegando outro em seguida.

'Como você está se sentindo?' A mulher lançou um sorriso agradável para a médica enquanto trabalhava na própria louça.

'Bem, você vai ter que ser mais específica para eu poder responder essa pergunta.' Maura sorriu e piscou os olhos verdes.

'Certo. Eu quis dizer em relação à gravidez. Como tem sido? Eu não imaginei que você estivesse grávida no dia em que nos conhecemos.'

Maura suspirou, se lembrando de cada evento relacionado ao seu estado desde que se descobrira grávida. Muita coisa tinha acontecido desde então, da confusão e dor mais intensa, ao sentimento de estar flutuando nas nuvens. Ela lançou um olhar para Jane que estava sentada na sala com o irmão, provavelmente lhe atualizando sobre o relacionamento delas já que a detetive tinha-lhe feito uma ligação para informar sobre o desenvolvimento prematuro da relação. Maura sorriu ao observar o cabelo negro e revoltoso da mulher, agora solto e se flutuando no ar a cada movimento de cabeça. Frankie disse algo que a fez rir, e por um instante seus olhos se pararam nos de Maura, e a médica sorriu de volta para ela.

'Bem, no começo foi aterrorizante. Entretanto, alguns eventos causaram uma reviravolta, e ter o bebê é tudo o que eu mais quero.' Ela voltou o olhar para Amy. Por alguma razão ela confiava naquela mulher - talvez porque a achasse um pouco parecida consigo mesma. 'Jane tem sido ótima comigo, e eu me sinto... protegida com a família dela. Eu sei que nosso bebê vai ter todo amor que precisa. Pensar nisso me acalma, é o suficiente por enquanto.' E apenas quando ela terminou de falar ela notou o quanto de significado que aquelas palavras carregavam - e ela nem hesitou em dizê-las.

'Eu fico contente por vocês.' Amy sorriu em cumplicidade e acrescentou. 'Frankie me disse que vocês estão juntas. Não o culpe, na verdade eu adivinhei e ele só confirmou.' Ela se justificou.

Maura riu docemente. 'Casais acabam dividindo quase tudo, é normal.' Ela disse sem se importar muito. 'Eu fico feliz que vocês estejam dando certo, Frankie é um bom homem.'

'Ele é.' Amy concordou.

As duas terminaram com a louça depois de alguns minutos, e cansada, Maura se juntou a Jane no sofá. A conversa se esticou por mais uma longa hora, e quando o relógio marcou cinco da tarde Frankie e Amy se levantaram, anunciando que precisavam partir porque tinham combinado uma sessão se cinema com alguns amigos da mulher. Depois de uma despedida rápida, Maura abraçou a cintura de Jane e lhe beijou os lábios. Tinha sido apenas um conjunto de poucas horas, mas ela sentia como se tivesse passado a semana longe da morena - bem, ela quase se sentia uma adolescente novamente.

'Eu achei que nós não conseguiríamos ficar sozinhas hoje.' Ela riu, mantendo seus lábios próximos nos de Jane.

A morena segurou sua cintura e sem soltá-la andou até o sofá, setando-se nele e trazendo Maura entre suas pernas. A loira se virou e jogou as pernas por cima do sofá, e encostou o lado do seu corpo em Jane. A morena apoiou suas costas com um braço e beijou seu pescoço. 'Nós podemos voltar para aquela parte em que nós estamos a sós na cama?'

Maura suspirou. 'Me sinto tão cansada que duvido muito conseguir subir o lance de escadas.'

'Awn, Maur.' A detetive lamentou ao ouvir a reclamação da outra.

'Eu fui abraçada demais, apertada demais, mimada demais. Falando nisso, Jane... Você não tem que ficar fazendo tudo por mim.' Ela disse ao colocar uma mecha de cabelo preto atrás da orelha da outra. 'Eu não estou doente nem nada.' Ela riu baixinho.

'O que? Eu só estava sendo legal. E espera... Abraçada demais?' Jane estreitou os olhos. 'Isso conta para mim também?' Ela jogou os braços para o lado, fazendo uma careta.

'Não!' Maura riu e levou uma mão ao rosto dela, beijando o canto dos lábios. 'É só que não estou acostumada com isso, toda essa demonstração de afeto da parte de todos.'

'Você tá me dizendo que seu corpo é anti-abraço?' Ela inclinou a cabeça, pensativa.

A médica riu novamente. 'Não seja ridícula. Não existe tal coisa.' Ela segurou os braços de Jane e colocou e devolveu-os ao redor de seu corpo. 'Me abraça.'

'Bem, se você insiste!' Jane a apertou gentilmente nos braços e inclinou-se para trás, aninhando a mulher em seu colo.

Maura descansou a cabeça em seu ombro e com os dedos acariciou a nuca da morena. Agora que estavam finalmente sozinhas ela se sentia ainda mais abatida - pela viagem em si, pelas mudanças emocionais intensas e em curto período, pela ansiedade que tentava abafar durante os dias que antecederam o retorno para casa. Pelo reencontro com os Rizzolis e os colegas de trabalho. O bebê dentro de si também exigia a parcela justa de energia física, e para ser honesta, ela se sentia exausta - fisicamente e emocionalmente. Ela esperava que a partir de agora, com a notícia dada, essas tensões desapareciam finalmente.

Levando uma mão na cintura de Jane, ela se remexeu no sofá e afastou-se para olhá-la. 'Nós podemos nos deitar aqui um pouquinho?'

'Claro, Maur. Você tem certeza que não quer ir para cama?' Jane se desenroscou para que as duas pudessem se deitar.

'Sobre subir as escadas? É sério, Jane, não quero fazer o esforço. Eu só quero me encolher aqui.' Ela dizia enquanto deitava a cabeça no peito da morena e seu corpo metade em cima do da outra, sentindo as mãos de Jane correrem por suas costas. 'Aw.' Ela resmungou quando finalmente parecia ter se ajeitado.

'O que foi?' Jane ergueu a cabeça, preocupada.

'Não consigo, essa posição... aperta minha barriga e meus seios.' Ela disse se apoiando com as mãos, evitando o próprio peso sobre o dorso.

Jane riu e se arrastou para o lado. 'Aqui, deita de lado e eu abraço você.'

'Não é engraçado, Jane.' A loira resmungou.

'Não, não é.' Jane concordou, embora fosse - mais pelo modo de como a médica se tornava irritadiça quando cansada do que outra coisa. Maura deitou-se de costas para ela, a cabeça escondida entre as almofadas do sofá. Jane arregalou os olhos. 'Ahn... Maur? Você vai se sufocar assim.'

'Não vou, não. É macio.' A voz abafada veio confrontar Jane.

A morena estava prestes a insistir para que ela mudasse de posição quando ouviu seu celular vibrar. Lançando a cabeça para o lado ela o identificou em cima da mesa de centro, e esticou o braço para pegá-lo. Uma nova mensagem era anunciada na tela, e ela desbloqueou o aparelho para lê-la. 'Haha, muito engraçado.' Ela resmungou.

'O que aconteceu?' Maura se virou curiosa para ela. Jane levou o aparelho perto do rosto da loira que passou os olhos rapidamente sobre o texto.

O banheiro do avião é apertado demais para duas pessoas e/ou a prova de som? Anna.

Maura riu com a mensagem de Annabelle e pegou o celular da mão de Jane.

'Maura o que você tá fazendo?' A morena se deitou do lado dela de novo. 'Ei, não!' Ela protestou quando se deu conta de que Maura estava respondendo a mensagem. 'Eu não quero que ela pense que tô cedendo às provocações dela.' Ela disse emburrada e pegou o celular de volta, dispensando-o no chão mesmo.

A loira se virou para ela, sorrindo. 'Ela só está querendo saber se chegamos bem, Jane. Você sabe como ela é.' Ela defendeu a mulher.

'Bem, você pode dizer isso para ela depois.' Ela passou o braço em baixo da cabeça da loira.

Familiarizada com o mau-humor tão comum da morena, Maura riu consigo mesma e lançou um braço na sua cintura afim de abraçá-la. Era bom estar de volta. Aquela fora a viagem mais bem sucedida para a casa dos pais que Maura fizera, e certamente perduraria em sua memória até o fim de sua vida, dada a importância de acontecimentos. Mas estar em casa com Jane assim tão perto dela? Num momento tão íntimo e particular? Nada poderia se comparar aquilo. Elas poderiam visitar qualquer lugar do planeta, mas no fundo de seu coração Maura sabia que lar era ali: junto com sua detetive, dentro de seus braços, sentindo a respiração quente dela alcançar sua pele, sob o teto em que se abrigaram a tanto tempo juntas. Aquela seria sua futura rotina de amanhã, e de depois de amanhã e assim sucessivamente. Ali era onde jazia seu coração - aliás, os seus três. 'Nós estamos em casa.' A médica disse sorrindo, satisfeita por ter voltado para sua realidade, agora muito melhor do que a anterior que deixara ao partir para Paris.

'Nós estamos, querida.' Jane beijou demoradamente sua bochecha.

'Parece diferente?' Ela mordeu o lábio inferior enquanto seus dedos dançavam sobre o rosto da morena.

'Não. Quer dizer... Parece a mesma coisa mas com o acréscimo de algo bonito e novo. Algo que estava faltando. Parece certo agora. Adequado.' Jane beijou os lábios dela e segurou seu queixo. 'Lembra quando você me perguntou se nós ainda somos nós?' Maura balançou a cabeça em sim. 'Nós ainda somos. E eu sinto que só com você é que conheço a parte inteira de mim.'

'Sabe o mais engraçado disso?' Ela acariciou os lábios da morena com o polegar.

'Hum?'

'Que sem você eu dificilmente saberia quem eu sou nessa altura da minha vida.' Ela riu baixinho e encostou a testa no pescoço da morena.

'Maura, isso não é verdade.' Jane rebateu.

'É, sim, Jane. Eu penso em Paddy, Hope, Cailin, Constance, Arthur... Eu não saberia lidar com isso sozinha.' Ela suspirou.

'Eles dizem respeito a só uma parcela da sua vida, não sobre ela inteira.' Jane abraçou seu corpo para confortá-la.

'Mas é uma parte bem significativa.' Ela teimou.

'Ah, ok. Parte significativa. Eu posso dizer o mesmo de você em relação a mim, nesse caso.' Jane estreitou os olhos, mesmo que ela não pudesse ver.

Maura riu delicadamente e enroscou seus pés com o da morena. 'O que seria?'

'Que tal começar pelo bebê? O seu bebê, esse que você vai me dar?' Ela quase sussurrou as palavras e Maura lançou a cabeça para cima para poder olhá-la. A loira piscou os olhos algumas vezes, sem saber exatamente o que dizer. Não era surpresa de que Jane queria aquela criança, criá-la com ela, mas do jeito que a morena colocou dava a sensação de que muito antes de Maura contar sobre a gravidez, Jane já ansiava por ela.

'Você realmente quer ele, não quer?' Ela sorriu e pressionou os lábios no rosto da detetive.

Jane balançou a cabeça em sim. 'Eu sempre pensei... Eu esperava que fosse você a engravidar, não eu. Eu me contentaria se apenas fizesse parte da vida dele, caso acontecesse de você ficar com outra pessoa. Mas você vai me dar um bebê, Maur, para eu ser a mãe dele com você. É melhor do que eu poderia ter.'

Nesse ponto Maura não precisou perguntar se Jane já tinha fantasiado em seu íntimo sobre isso que tinham agora, porque pelo discurso era óbvio que sim. Talvez em seu subconsciente ela vinha querendo aquilo por muito tempo, talvez fosse por isso que tinha insistido tanto para que ela tivesse o bebê - e talvez ela sequer imaginava que tal decisão pudesse presenteá-la duas vezes. Um bebê, e Maura.

A médica sorriu-lhe docemente e colou seus lábios no dela. Quando se afastou seus olhos estavam carregados de ternura. 'Pare de dizer seu bebê, e comece a dizer nosso. Ele já é seu, o fato dele ainda não ter nascido não muda isso. Ele é um Rizzoli. Você é a mãe dele. E eu sou tua, Jane.'


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Notas finais do capítulo

Um pouco de açúcar porque de domingo pode! =D



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