Três vidas inteiras escrita por Blue Butterfly


Capítulo 15
Quinze




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'Não é uma despedida, querida. Isso é mais um te vejo mais tarde.' Annabelle tinha sussurrado em seu ouvido no aeroporto em Paris, mas Maura não conseguiu evitar as lágrimas que vieram aos olhos. O último dia tinha passado tão rápido que parecia ter sido resumido em sua preocupação de arrumar as malas, se certificar de que tudo tinha sido guardado, de que elas sairiam a tempo de chegar para o vôo. Ela tinha chorado enquanto se despedia, lá mesmo no aeroporto - pela primeira vez ela permitiu que suas emoções se manifestassem em público. Os braços de Alex, Annabelle e os de seus pais em torno dela não tinha ajudado a diminuir a sensação de separação, de partida.

'Você me visitaria?' Maura tinha perguntado para Alex, e o homem balançou a cabeça com convicção.

'Maura, eu prometo. Em julho, no máximo Agosto. Eu sempre quis conhecer Boston no verão, não vá achando que é por causa de você ou do bebê.' Ele brincou e cutucou a cintura da loira antes de colocá-la num abraço, o que tirou uma pequena risada dela.

E logo em seguida ela e Jane tinham se separado deles para a sala de espera. A morena passou um braço em sua cintura, e a confortou sem precisar dizer uma palavra. Despedidas eram difíceis, e mesmo Jane tinha ficado abalada, Maura podia dizer. A morena era ainda mais reservada do que Maura quando o assunto era suas emoções, mas a loira sabia que ela estava pesarosa por conta da separação apenas pelo jeito que a detetive esfregava as mãos uma na outra, tentando evitar os olhares das pessoas, até mesmo o seu.

No aeroporto, elas se calaram num silêncio incomum. Maura tinha descansado sua cabeça no ombro da morena, e Jane tinha abraçado sua cintura, plantado um beijo em sua testa e traçado desenhos abstratos em sua mão. Além de estarem balançadas emocionalmente por conta da volta, era impossível negar que havia tensões gravitando ao redor das duas com relação à chegada. Maura estava ansiosa, para dizer o mínimo. Ela tinha que encarar Angela e os irmãos de Jane, os colegas do trabalho. Ela tinha que anunciar sua gravidez. Anunciar que ela e Jane eram um casal.

Como exatamente ela iria lidar com isso, ela não sabia. Mas ela tinha construído a coragem que precisava para primeiro anunciar que iria ter um bebê. Agora, sentada em sua cama, ela piscou os olhos ao se lembrar de como o vôo de volta tinha passado rápido. Ela poderia aplicar a lei da relatividade para explicar a sensação, mas em vez disso, ela olhou para baixo, para suas mãos que estavam em sua barriga e suspirou fundo. Ela tinha acabado de levantar - elas chegaram à Boston nas primeiras horas da manhã, e decidiram por dormir até antes do almoço, apenas para se recuperarem um pouco da longa viagem. Maura se sentia levemente enjoada, e ela se perguntou se a sensação tinha a ver com a gravidez ou o nervosismo que estava sentindo.

Jane não estava mais na cama. Ela provavelmente estava na cozinha ajudando a mãe com o almoço - Maura podia sentir o cheiro da comida preparada, ali de cima. Ela respirou fundo de novo e acariciou a pequena barriga que agora carregava. Ela se sentia descansada e pronta para enfrentar o dia que, ela desconfiava, seria longo. Ela se levantou, tomou um banho rápido e escovou os dentes. Tentou com todas as forças ignorar as malas ainda fechadas que estavam no quarto - desfazê-las aconteceria apenas mais tarde - e selecionou um vestido azul de inverno dentro do closet junto com um par de salto alto na cor preta. Preguiçosamente, ela se trocou e se sentou para calçar os sapatos. Uma leve batida na porta chamou sua atenção e ela sorriu ao localizar uma sorridente Jane ali.

'Ei, bela adormecida. Pronta para o almoço?' A morena brincou e veio se sentar ao seu lado na cama.

'Preciso me maquiar. Cinco minutos e desço.' Maura disse sorrindo de volta.

'Maquiar? Maura, fala sério. É um almoço em família, e ok, alguns amigos. Além disso, você é bonita assim.' Jane gesticulou com a mão, arrancando uma leve risada da loira.

'Jane, nós estivemos em um avião por nove horas. Acho que minha aparência entrega isso, e duvido que bonita seja um adjetivo justo e condizente com minha situação.' Ela rebateu.

Jane franziu o nariz. 'E quanto a mim? Espera, isso quer dizer que você acabou de me chamar de feia por tabela?' Ela fez uma careta, horrorizada.

Maura riu. 'Não! Eu só estou dizendo que é inegável que não estamos nas nossas melhores aparências.' Ela chacoalhou os ombros rindo, enquanto colocava o último par de sapato.

'Maura Isles.' Jane grunhiu apertando os olhos, e num movimento rápido - mas cuidadoso - jogou a médica deitada na cama.

A loira arfou, pega de surpresa, mas riu em seguida. No momento seguinte Jane estava em cima de si, os olhos negros estudando carinhosamente seu rosto. A detetive afastou seu cabelo dourado com os dedos e depois se inclinou, beijando seus lábios lentamente.

'O que você está fazendo?' Maura perguntou, segurando o rosto de Jane com as mãos.

'Aproveitando cada precioso minuto que tenho a sós com você, antes de descer lá e fingir que você é apenas minha amiga.' Jane murmurou e beijou de novo os lábios da outra, e dessa vez o beijo se intensificou e Maura segurou na nuca da morena, prendendo seus dedos entre o cabelo negro e rebelde.

Quando Maura começou a rir entre o beijo, a detetive se afastou e juntou as sobrancelhas em curiosidade. 'O que foi?' Ela perguntou, perdida.

'Nós mentimos muito mal. Você sabe disso. Nós nunca vamos conseguir esconder o que está acontecendo aqui.' Maura apontou um dedo para si mesma e depois para Jane.

A morena curvou os lábios em pensamento e deu de ombros. 'Deve ser verdade. Frankie disse que já sabia.'

'Ele disse?' Maura perguntou, divertida.

'Não com essas palavras, mas sim, disse.' Jane entregou um beijo rápido em seus lábios.

Maura fechou os olhos com a sensação e sorriu. 'Nós temos cinco minutos?' Ela perguntou ainda de olhos fechados, e quando sentiu Jane balançar a cabeça em sim enquanto beijava seu pescoço, ela descartou os sapatos com os pés tirando-os facilmente, e se arrastou mais para o centro da cama. As mãos de Jane a ajudaram com o movimento, e no momento seguinte elas se aconchegaram uma no abraço da outra.

Maura tinha sua cabeça no braço da detetive, e a morena afastava seu cabelo para trás com as mãos. As bocas muito próximas se roçavam a cada palavra sussurrada. A mão de Maura segurava com ternura a cintura da morena, e ela tinha jogado um perna por cima das pernas de Jane. Quando a detetive deslizou o dedo indicador sobre o seus lábios - porque sua risada tinha sido alta, e Jane a alertara por questão de não chamarem a atenção de mais ninguém - ela beijou delicadamente o dedo da mulher.

'Você tá pronta para hoje?' A detetive acariciou suas costas.

Maura suspirou e ponderou antes de responder. 'Não tenho certeza. Me sinto ansiosa e... Eu não sei.'

'Vai dar tudo certo. Se alguém te incomodar apenas grite 'cale a boca, não se meta'.' Jane respondeu.

Maura arfou e abriu os olhos. 'Eu nunca faria isso!' Ela exclamou em um sussurro.

'Eu sei.' Jane confessou. 'Mas eu faria, então só fique por perto.'

Maura abriu a boca em descrença e depois riu, segurando o rosto da morena e beijando seus lábios. 'Honestamente? Eu daria tudo para não ter que fazer isso hoje, e ficar aqui com você.'

Jane riu baixinho e a abraçou, juntando seus corpos. 'Eu sei. Nós não tivemos muito tempo a sós em Paris, mas agora nós estamos de volta e bem... ainda temos amanhã livre. Prometo que do minuto que todos forem embora hoje, até o outro dia completo, vou ficar assim com você.' Ela disse enquanto plantava diversos beijos em Maura - lábios, bochecha, nariz, queixo.

A médica riu divertida com a proposta da outra e enroscou seus pés com os da morena. 'Um dia todo na cama?'

'A não ser que você tenha planos melhores?' Jane perguntou em dúvida.

Maura riu com desdém e balançou a cabeça. 'Não consigo encontrar nada melhor.'

'Nós temos um acordo, então.' Jane sorriu e foi para beijá-la mais uma vez.

A morena segurou em sua nuca e Maura pressionou seu corpo contra o dela - por que ela tinha a sensação de que nunca estava perto o suficiente? Quando a perna de Jane pressionou contra seu centro, ela teve que conter um gemido. Ela não sabia se tinha sido um gesto intencional ou não, mas ela não conseguiu evitar o sorriso que depois se refletiu em seus lábios. Verdade seja dita, agora mais do que nunca ela queria que o dia se adiasse, e que as duas ficassem ali perdidas entre lençóis, entre o tempo. Ela suspirou em desagrado quando a língua de Jane deixou sua boca e a morena pressionou seus lábios contra os dela, finalizando o beijo cedo demais para seu gosto. Maura apertou sua mão na cintura da morena e roçou o seu nariz no dela. 'Nós deveríamos ir.' Ela sussurrou baixinho.

'Deveríamos.' Jane concordou, mas se calou quando Maura mordiscou seus lábios.

'Deveríamos.' A médica repetiu sem muita convicção enquanto mais uma vez mordia com gentileza o lábio inferior da outra, soltando em seguida, apenas para se aproximar e beijar-lhe demoradamente a boca.

'Maura? Jane?' A voz de Angela correu afiada pelo ar.

As duas se sobressaltaram e Jane segurou Maura com força contra si. 'Mãe, que diabos?' Ela disparou enquanto lançava um olhar furioso para a mulher mais velha, parada em completo choque na porta. 'Quantas vezes preciso dizer para você bater?' A detetive disse duramente, claramente com raiva.

'Oh, meu Deus.' Maura murmurou, escondendo o rosto com as mãos - ainda que seu rosto estivesse escondido no peito de Jane.

'A porta estava aberta!' Angela rebateu com ferocidade. 'O que...' Ela balançou a mão. 'Vocês duas.' Ela apontou um dedo para Maura e Jane. 'Isso...' Ela respirou fundo e, irritada, pregou os pés no chão e cruzou os braços. E ficou à espera de uma resposta.

Jane revirou os olhos. 'É por isso que nunca conto nada para você.' Ela apontou um dedo para Angela, depois de ajudar Maura a se sentar na cama. A loira estava vermelha, constrangida. Jane preferiria morrer do que ver Maura nessa situação.

'O que exatamente está acontecendo aqui, Jane?' Angela soou magoada e furiosa. Ela lançou um olhar frio para as duas.

Jane respirou fundo e, depois de checar Maura, ela se levantou - se colocando entre as duas. 'Você não consegue adivinhar?' Jane provocou com sarcasmo. Embora ela estivesse mais paciente com a mulher nos últimos tempos, ela não admitiria que tal atitude passasse impune.

'Angela, eu sinto muito.' Maura murmurou atrás de Jane.

'Desde quando isso está acontecendo? É esse o motivo desse almoço de hoje?' Ela perguntou com a voz trêmula, acusadora.

Jane deu um passo para trás e abaixou os olhos. Ela não imaginava que a mãe fosse reagir assim. Talvez o fato de terem sido pegas no flagra tenha intensificado a surpresa da mais velha, gerando consequentemente essa reação.

'Angela, tem algumas coisas acontecendo que você não sabe.' Agora Maura estava em pé, atrás de Jane. Ela encarou a mulher apenas por um instante, quando os olhos da outra seguraram seu olhar, Maura abaixou os olhos, como se submetendo a ela. Um tremor percorreu seu corpo e ela segurou a mão que Jane tinha esticado para trás. O gesto da morena lhe pareceu dar forças, porque ela se ouviu dizendo em seguida, 'Sim, eu e Jane estamos juntas.'

'Desde quando? Por que só fiquei sabendo disso agora?' Ela perguntou ainda com dureza.

'Isso é tão novo para você quanto é para nós.' Jane murmurou a resposta e mal encarou a mãe.

'Você nunca me conta nada.' Angela resmungou, os olhos marejados.

Jane suspirou e revirou os olhos. 'Como se você me desse escolha. Você sempre acaba sabendo antes, você vive especulando e se metendo onde não deve!' Ela jogou uma mão para o ar, visivelmente irritada.

'Ora, Jane, como eu iria saber? Eu vim apenas checar se vocês estavam bem! Você disse que logo voltaria com Maura e...' Ela resmungou, batendo as mãos na perna.

Era verdade. Jane se sentiu culpada porque ela tinha passado uma boa parte da manhã com a mãe, e contra todas expectativas cada momento tinha sido agradável, e agora elas estavam gritando uma com a outra. Ela apertou a mão gelada de Maura na sua. 'Eu sinto muito. Isso... Eu e Maura, eu juro, é novo. Só você e Frankie sabem por enquanto, e nós queremos deixar assim por um tempo. Eu sei que você vai preci-'

'Frankie sabe?' Angela perguntou com incredulidade. 'Como Frankie pode saber sendo que vocês estavam em Paris?! Você acabou de me dizer que - '

'Mãe!' Jane levou uma mão para frente de seu corpo para calar a mulher. 'Eu prometo, prometo, que conto tudo depois. Ok? Ok?' Ela pressionou.

Angela fez que sim com a cabeça.

Incerta do que fazer agora, Jane colocou a mão no bolso da calça. Maura ainda estava atrás de si, desconfortável. 'Você tá bem com isso? Com nós?'

A mulher respirou fundo e balançou a cabeça, como se procurando a resposta correta.

'Angela, antes de responder,' Maura disse atrás de Jane, 'tem outra coisa que quero que você saiba.' Ela disse com cuidado.

'O que é?' A mais velha perguntou com curiosidade - mas com cautela.

Maura lambeu os lábios em nervosismo, e segurou com firmeza a mão de Jane. Elas trocaram um olhar e a morena meneu a cabeça num gesto positivo, encorajando-a a continuar. A médica deu um passo à frente para parar ao lado da morena. Ela estava com medo, suas mãos estavam frias e ela tremia levemente. Ela tinha Angela como uma mãe e não queria perder a relação que elas tinham construído durantes os anos. Ela sabia que, a julgar pelo jeito que a mulher a encarava, uma palavra colocada de má forma poderia colocar em xeque a relação que elas tinham. 'Bem, há algumas semanas eu descobri que eu estou grávida.' Ela disse devagar e claramente. 'Eu vou ter um bebê.'

'Oh.' Foi tudo o que Angela disse num primeiro instante, seus olhos dançando entre Maura e a filha. Ela levou uma mão ao coração e suspirou. 'Um bebê, você disse?' Ela murmurou.

As duas balançaram a cabeça em sim. 'Ela acabou de entrar no terceiro mês, mãe.' Jane ofereceu, sentindo que devia alguma explicação a mais.

Maura sentiu os olhos de Angela vaguearam sobre sua barriga. Era algo que todos pareciam fazer assim que descobriam que ela estava grávida. Ela tentou resistir a vontade de pousar sua mão sobre o abdômen inchado, optando por morder as unhas. Tão logo ela se deu conta do gesto nada higiênico, ela suspirou e jogou a mão ao lado do corpo.

'Bem, eu não queria comentar nada porque não queria ser rude, mas...' Angela encolheu os ombros. 'Eu achei apenas que você tinha engordado um pouquinho.' Ela tentou uma risada que não sabia se era permitida ou não.

Quando Maura sorriu e abaixou os olhos, a mais velha tomou a deixa e riu de vez. 'Oh, Maura, você vai ter um bebê!' Ela disse rindo e levou as mãos a boca, e qualquer um que a visse naquele momento poderia dizer que ela tinha acabado de receber uma ótima notícia.

'Mãe.' Jane esticou de novo o braço para frente, impedindo-a de chegar mais perto. 'Você entende o que isso significa?' Ela apontou para si mesma, para Maura e para a barriga crescente da mulher.

'Eu sei fazer as contas, Jane Clementine Rizzoli!' Ela bufou.

'Eu prometo que lhe explicarei toda essa situação, Angela. Eu sei que deve ser muito para ser digerido de uma vez só.' Maura disse educadamente, tendo empatia suficiente para imaginar como a mulher deveria estar se sentindo sobrecarregada com tanta informação nova.

'É algo que vou querer saber, querida. Mas agora, venha aqui, eu quero te dar um abraço.' A mais velha disse e esticou os braços para a médica.

Maura soltou da mão de Jane e andou até ela, e no momento em que Angela a acolheu nos braços, ela sentiu um imenso alívio se instalar dentro de si, e os olhos se enxerem de lágrimas. 'Você não me odeia?' Ela murmurou o medo, embora agora se sentisse segura.

'Oh, Maura! Eu jamais te odiaria.' Angela riu divertida com a insegurança da mulher. 'Você é minha filha também, querida. E até onde entendi, vai me dar uma neta!' Ela riu de novo e beijou a bochecha da médica repetidamente.

'Pode ser um menino.' Jane murmurou, mas em vez da cara fechada de sempre, ela agora tinha um sorriso bobo nos lábios.

'Ainda é cedo para saber.' Maura disse enquanto se recompunha. 'Provavelmente na próxima consulta saberemos.'

'Essa é a razão do almoço. Vocês vão contar, não vão?' Angela disse depois de um tempo de reflexão.

'Sim, nós vamos contar sobre o bebê.' Maura ofereceu.

'Por favor, mãe, não dê bandeira antes, ok?' Jane pediu quase implorando.

'Meus lábios estão fechados, Jane!' Ela disse com convicção e fez um bico irritada com a morena.

'Eu preciso terminar de me arrumar.' Maura disse e pediu licença enquanto se dirigia ao banheiro.

'Eu ainda preciso de ajuda na cozinha.' Angela disse e lançou um olhar para a filha. E Jane conhecia bem a mãe que tinha para não pegar a deixa.


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