Três vidas inteiras escrita por Blue Butterfly


Capítulo 13
Treze


Notas iniciais do capítulo

A postagem tarda, mas não falha.
Ou algo assim...
Espero que gostem! =B



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Levantar seria um problema, Jane soube logo que acordou. Durante a noite elas tinham trocado de posições e agora Maura estava espalhada comicamente por toda cama. Sua cabeça estava apoiada no peito de Jane, enquanto uma mão descansava ao lado de seu rosto. Maura dormia sobre a barriga, e uma perna estava praticamente pendurada para fora da cama. Como ela não tinha acordado com essa posição horrível ainda? Parecia desconfortável. O problema era: como Jane a ajeitaria na cama sem acordá-la? A morena respirou fundo e olhou pela janela. O dia estava bonito, limpo. O sol da manhã iluminava a cidade, o quarto, entrando sem pedir permissão.

Ela estudou Maura mais uma vez. Ela parecia brilhar também. O cabelo dourado estava esparramado pelo seu ombro, caindo sobre o lençol branco da cama. Ela respirou fundo uma vez e apertou os dedos sobre a clavícula de Jane, como se verificando de que ela ainda estava ali. A morena respirou fundo tentando reprimir a pequena onda de prazer que borbulhou em sua barriga. Até mesmo dormindo Maura não conseguia ser sutil em seus movimentos. Era melhor ela sair daquela situação antes que a mulher decidisse, inconscientemente, descer mais sua mão. Seria constrangedor para as duas, mesmo que agora estivessem juntas.

'Maura?' Ela chamou, sem muito sucesso de obter uma resposta. 'Maur?' Ela tentou de novo. Dessa vez a loira ergueu a cabeça em direção a voz, mas não abriu os olhos.

'Hm.' Ela se remexeu, juntando todo seu corpo contra o de Jane em posição fetal.

Ótimo, metade do trabalho feito. A morena agora conseguiria movê-la. Ela puxou o travesseiro e cuidadosamente ajeitou a cabeça de Maura sobre ele. Quando ela foi se livrar dos braços dela, entretanto, Maura apertou-os com força e numa ordem não muito clara, esbravejou. 'Não, Jane.'

A morena teve que morder a parte interna da bochecha para não rir. Exceto que não adiantou nada. O som que tinha sido abafado chacoalhou seu corpo inteiro, balançando Maura junto. Ainda mais furiosa por ter sido incomodada, a loira apertou com força o braço de Jane e resmungou. 'Pára agora.'

Mas Jane não conseguia. Ver Maura irritada ao ser acordada era engraçado demais. Ela simplesmente riu da situação, primeiro porque a loira não tinha se incomodado com a própria posição ridícula em que dormia, e depois porque ela se incomodava porque Jane ameaçava sair dali. Conformada de que não iria adiantar de nada segurar o riso, ela apenas encostou a boca na cabeça da loira e riu. Quando se afastou, Maura apertava os olhos sonolentos de maneira ameaçadora para ela.

'O que é tão engraçado?' Ela perguntou, mal humorada.

'Nada, querida.' Ela afastou o cabelo do rosto da mulher. 'Não é nada. Apenas me deixe sair daqui, ok?'

'Você me acordou por nada?' Ela rebateu, se encolhendo novamente, nem dando ouvidos à Jane.

'Não. Era você... O jeito que você estava dormindo.' Ela disse, e não era mentira.

'Você está rindo de mim?' Ela agora parecia mais acordada, ou talvez era só uma impressão por parecer ainda mais brava.

'Não, não de você.' Jane suspirou e ajeitou a coberta em cima da loira. 'Volte a dormir, ok?' Mas a sugestão perdeu o sentido quando Maura abraçou o travesseiro e fechou os olhos. Parecia lógico pensar que ela não sairia da cama tão cedo. Por que, de qualquer forma? Elas dormiram tarde da noite, e ambas estavam exaustas. Com um último suspiro, Jane estudou a médica encolhida na cama. Elas tinham dormido juntas, entregues aos braços uma da outra para acordar para um dia novo, claro, sem vestígios nenhum da pequena tempestade pela que passaram na noite anterior. O mundo continuava girando em seu eixo, e Jane nunca se sentiu tão pertencente à um lugar - uma pessoa - como naquele momento. Aquela era sua vida, e ela estava seguindo natural e espontaneamente por caminhos sem ladeiras, mas florido dos dois lados.

A morena se inclinou e beijou a bochecha de Maura, e sorriu quando a médica suspirou felizmente em seu sono.

...

Um som suave flutuava no ar enquanto Jane cruzava o corredor para alcançar a sala. Assim que ela se aproximou do ambiente, notou que as notas escapavam do piano, e era Arthur quem tocava o instrumento, concentrado na sequência do arranjo musical. A morena parou a alguns passos dele e observou. Ele tocava graciosamente, como se ele e o instrumento tivesse uma conexão compartilhada, atendendo as necessidades e os comandos com tamanha facilidade e reconhecimento que dava a impressão de serem amigos de longa data. Quando seu dedo tocou a última tecla, ele sorriu e se virou para Jane - ela nem sabia que o homem tinha notado sua presença ali.

'Bom dia, Jane.' Ele disse e meneu a cabeça.

'Dia.' Ela respondeu e colocou as mãos no bolsos.

Arthur estudou-a com os olhos - eles eram bondosos, carregados de conhecimento - e arrumou os óculos no nariz. 'E então, como foi ontem a noite?'

O tom de voz do homem deixava claro ao que ele estava se referindo. Certo, Constance certamente teria lhe contado sobre o pequeno drama da noite anterior. Ele virou uma folha do caderno pautado e olhou para ela de novo, afim de receber uma resposta. Jane não sabia exatamente como oferecê-la. Eu beijei tua filha não era exatamente o tipo de coisa que ela pensou ser a correta para se dizer. 'Nós... Hum... Esclarecemos as coisas.' Ela deu de ombros. Ela tinha sido vaga demais?

'Suponho que agora vocês estejam... juntas?' O homem apoiou as mãos nas pernas e inclinou a cabeça levemente para o lado, como se ponderando a colocação da palavra.

'Sim.' Jane disse em voz baixa, mas firmemente. 'Nós estamos.' E engraçado ela não se sentir desconfortável falando isso para o pai da loira.

'É claro que estão. Vocês sempre estiveram, não é mesmo?' Ele riu de leve e balançou a cabeça.

Jane estava prestes a dizer que não, que essa relação de agora era algo simplesmente novo... Mas era mesmo, afinal? 'Bem...' Ela suspirou.

'Uma relação amorosa não é sustentada apenas pelo lado sexual.' O homem disse e Jane corou instantaneamente.

'Não, não é.' Ela replicou, tentando arrumar uma escapatória. Onde estavam aqueles garçons da noite anterior para lhe servir uma bebida? Oh, certo, ainda era cedo demais para ingerir álcool.

O homem riu e deu dois tapinhas no banco largo em que estava sentado. 'Sente-se aqui.'

Jane obedeceu. Ela cruzou as mãos na frente do corpo e esperou.

'Você a ama?' A pergunta não soou nada exigente, como se ele já soubesse a resposta.

'Mais do que jamais pensei que fosse possível amar alguém assim.' Ela disse honestamente.

'Toque uma música comigo. Constance me disse que você costumava tocar quando mais nova.' Ele disse mudando totalmente do assunto, aparentemente satisfeito com a resposta da morena.

Jane sentiu algo mais: era como se aquele fosse um convite de boas-vindas à família dele. Ela sorriu e estralou os dedos. 'O que nós vamos tocar?'

'Tchaikovsky parece bom para você?' Ele sorriu.

Jane estudou a pauta e franziu o cenho. 'O lago dos cisnes? Sério?' Ela riu e balançou a cabeça. 'Bem, eu estou um pouco enferrujada.'

O homem tocou as primeiras notas e depois olhou para ela. 'Maura nunca tocou piano, o que é uma pena. Entretanto, eu adoraria que meu futuro neto tocasse. Essa é sua obrigação: ensiná-lo. Agora, vamos praticar.'

Ele voltou a atenção para o instrumento e mal percebeu que deixara Jane boquiaberta, completamente espantada com o comentário do homem.

...

Maura calçou as sapatilhas, olhou uma última vez no espelho, ajeitou o cabelo e decidiu que estava pronta para sair do quarto. Ela lançou um olhar furtivo para o lado da cama em que Jane estivera na noite anterior e sorriu com a lembrança de ter acordado no meio da madrugada com a morena ainda em seus braços. Não, não era apenas isso - era porque agora elas estavam juntas. Ela não sabia dizer se Jane era sua namorada, sua futura mulher (considerando que iriam casar) ou o quê, mas agora ela era definitivamente sua. Era ela, Jane e o bebê. Um sorriso grande brincou em seus lábios com o pensamento. Ela passou uma mão pela sua barriga e murmurou em voz baixa enquanto abria a porta. 'Agora nós somos definitivamente três.'

E então ela se sobressaltou com a presença de alguém ali, prestes a trombar com ela.

'Você estava falando sozinha?' Alex perguntou, um sorriso permanecia em seu rosto como se ele estivesse pronto para lhe fazer uma provocação.

Maura virou a cabeça para o lado e riu. 'Eu estava falando comigo mesma.' Ela disse.

'Você tem adquirido costumes estranhos.' A voz de Annabelle veio logo em seguida e sua presença se fez concreta quando ela passou a frente de Alex. 'Fazendo apostas, dormindo até tarde... Falando sozinha. Bem, as pessoas mudam, eu deduzo.' Ela riu consigo mesma e bebericou o vinho branco.

Maura franziu o cenho. 'Não é cedo demais para beber?'

'Ora, Maura! Não banque minha mãe. É dia de Natal, afinal de contas. O que tem de mal em aproveitar a festa ao máximo?' A mulher replicou.

'Sua devoção à festa natalina me comove.' Maura devolveu e a mulher deu de ombros.

'Nós viemos te acordar. Pela falsa Monalisa pendurada no Louvre, aonde já se viu levantar a essa hora?' Annabelle resmungou e Maura revirou os olhos. Há alguns anos a mulher começara com essa idéia neurótica de que o quadro mais famoso de Da Vinci estava na verdade pendurado numa galeria particular, enquanto uma cópia muito bem-feita estava à mostra no museu. De onde ela aparecera com essa idéia, exatamente, Maura não sabia. Por vezes ela se perguntava se Annabelle estava só tirando com sua cara - o que poderia ser bem provável, considerando seu senso de humor.

'São dez horas, não é tão tarde assim.' Ela se defendeu e cruzou os braços na frente do peito.

'Oh, certo.' Ela começou a resmungar algo de novo e Alex a cortou.

'Ok, a coisa é que nós queríamos fazer um pequeno passeio com você e Jane, se estiver tudo bem.' Ele levantou as sobrancelhas e esperou pela resposta da loira.

'Bem... Tenho que checar com ela, mas acho que sim.' Maura respondeu, indiferente.

'Nós já checamos.' Annabelle rebateu. 'Não é mesmo, Alex?' Ela cutucou o homem com o cotovelo.

Maura juntou as sobrancelhas e torceu os lábios. 'O que exatamente está acontecendo?'

'Oh, nada. Nada mesmo.' Os olhos azuis passearam pela parede atrás de Maura e a loira soube imediatamente que ela estava planejando algo.

Ela lambeu os lábios e colocou as mãos na cintura. 'O que vocês estão aprontando?'

Alex fez um bico em ponderação. 'Nada. Bem...' Ele adicionou quando Maura levantou uma sobrancelha em ameaça. 'Ok. Nós sabemos que você está escondendo algo, Maura.' Ele deu um passo a frente e Annabelle o fez também.

A loira tentou segurar o sorriso e abriu a boca em falsa indignação. 'Perdão?'

'Só nos diga o que é! E se for um segredo, tudo bem. Faça um sinal com a cabeça e nós saímos daqui - você sabe, damos uma volta e ninguém estará por perto quando você contar!' Annabelle sussurrou, chegando ainda mais perto dela.

Maura soltou uma gargalhada com a conspiração que Annabelle parecia alucinantemente notar. Ela não esperava por essa reação de nenhum dos dois - era quase infantil.

A ruiva colocou um dedo contra o ombro da mulher e a encostou na parede, movida pela curiosidade. 'Conte-nos!'

'Anna, você está passando dos limites.' A loira disse tentando se livrar dela.

A mulher arfou e olhou para Alex.

'Vocês ainda continuam atormentando a menina?' Uma tia velha das duas passava pelo corredor e balançava a cabeça em reprovação à atitude de Annbelle.

'Ora, nós só estamos conversando!' A ruiva rebateu e voltou a atenção para Maura.

'Anna, você realmente está exagerando.' O homem disse e segurou seu braço, puxando gentilmente para trás. 'Nós só queremos nos certificar de que você está bem... Quer dizer...' Ele trocou um olhar furtivo com a ruiva. 'Nós ouvimos sua mãe no corredor ontem, e... bem, murmúrios logo em seguida.'

'Uma comoção.' Annabelle disse balançando a bebida na mão, num gesto teatral. 'Nós só ficamos preocupados. Apenas isso.'

'Certo...' Maura respirou fundo. Ela não tinha razões para esconder o que quer que fosse dos dois. Ela confiava com a própria vida neles, e bem... Agora que Constance e provavelmente seu pai já sabiam, por que ela não contaria a eles? Somente para eles, e mais ninguém. Ela não viu mal nenhum nisso. Ela abriu a porta do quarto enquanto via mais um de seus tios passar por ali e mencionou para que os dois entrassem.

Annabelle levantou a cabeça num gesto de vitória e foi a primeira a entrar. Alex entrou sem tirar os olhos de Maura, um tanto quanto preocupado, um tanto curioso.

'Vocês são os... Bem, uma das poucas pessoas a saberem, então eu peço descrição.' Ela lambeu os lábios, se sentindo levemente nervosa.

'Oh, Maura! Você não voltou com aquele desmiolado do Fairfield, certo?' A ruiva jogou a mão para cima e Maura arregalou os olhos.

'O que? Não! Você perdeu a cabeça?' Ela fez um barulho com a boca e revirou os olhos. 'Eu estou grávida!' Ela disse jogando a frase como uma defesa, como se esse fato pesasse muito mais do que a suposição da outra - o que de certo pesava.

Os dois abriram bem os olhos e trocaram um olhar. 'Você o quê?' Alex perguntou.

'Está grávida, bobo!' Annabelle deu um tapa no braço do homem e riu.

'Você precisa parar de beber, Anna.' Maura repreendeu a mulher mas não terminou a reprimenda porque Alex a tinha abraçado e estava beijando sua bochecha agora.

'Maura! Eu nunca imaginei... Quer dizer... Você vai ser mãe!' Ele disse em alegria e rindo, a apertou nos braços mais uma vez.

'Eu vou.' Ela respondeu ao abraçá-lo. 'Eu vou ter um bebê.' Sua risada morreu no peito do homem.

'Isso é... Lindo. Eu estou muito feliz por você, macaquinha.' O homem disse e os olhos da outra brilharam.

'Obrigada, Alex.'

'Maura, querida... Isso é maravilhoso.' Annabelle agora estava colocando Maura em seus braços e acariciando suas costas com uma única mão - a outra ainda segurava a taça. 'De quanto tempo você está? Oh, Maura! Você deveria ter voado por tantas horas assim? Você tem se sentido enjoada? E sobre o sexo do bebê, qual é? Oh, eu espero que seja uma menina! Não é mesmo, Alex? Pense só como ela seria linda se for como você quando pequena!'

'Muito obrigada, Anna.' Maura disse achando melhor cortá-la antes que a mulher começasse a planejar o seu parto. 'Não sabemos o sexo, e... Não, não tem problema viajar de avião. Eu estou quase de três meses.' Ela sorriu e cruzou as mãos sobre a barriga.

'Nós podemos?' Alex gesticulou com a mão, apontando para ela e Maura meneu a cabeça.

'É claro.'

E, ainda que fosse estranho ter outras pessoas tocando em sua barriga que mal crescera, era de certa forma delicioso.

'Aí está!' A ruiva disse e piscou os olhos azuis para Maura. 'O mais novo membro da família Isles. Eu realmente espero que ela seja como você!'

Maura riu. 'Nós ainda não sabemos se é uma menina.'

'Mas as chances são favoráveis!'

'As chances são de cinquenta por cento.' Alex a lembrou.

'Ora, não estrague nosso momento de prazer.' Annabelle rebateu e Maura riu de novo.

'Imagina se for gêmeos? Oh, querida, você vai ter um problema em carregar uma barriga tão grande!'

'Anna, é apenas um bebê, ok? Nós já ouvimos o coração.' Maura revirou os olhos com a alegria da outra - parte daquilo deveria ser por causa do vinho.

'Já?' Ela pareceu surpresa. 'Nós quem? Você e Jane, não é?' Lá estava a ruiva a questionando de novo.

Maura lançou um olhar para Alex e ele sorriu, levantando uma sobrancelha - esperando por sua resposta.

'Sim.' Ela murmurou.

'Eu sabia!' Annabelle respondeu quase que em comemoração. Aparentemente Maura estava perdendo algo. 'Eu disse, Alex. Raramente me engano.'

'Disse o que?' Maura lançou um olhar afiado em sua direção.

'Que vocês estão juntas, oras.' Ela disse naturalmente.

'Isso...' Deus, aqueles dois estavam fazendo especulações sobre ela e Jane. Eles estavam fazendo Maura entregar todas as coisas que tecnicamente deveria conversar com Jane para decidirem quando contar... Mas bem, eles - Annabelle, Alex e toda sua família - ficariam em Paris, e elas retornariam para Boston para a regularidade de suas vidas... bem, mais ou menos. 'Isso é, bem... Verdade. Mas é uma relação um tanto quanto nova, e...'

'Nós sabemos.' Alex disse, acariciando o ombro da médica.

'Bela maneira de se começar um dia desses. Oh, é por isso que eu gosto de Natal!' A ruiva riu enquanto bebericava o vinho. 'E então, como vocês fizeram? Esse bebê eu quero dizer.' Ela riu com a piada que não conseguiu elaborar.

Maura mordeu os lábios e trocou o peso de pé. 'É uma longa história e...' Ela levou uma mão na testa para ganhar tempo.

'Você não precisa nos contar.' Alex disse, passando um braço em sua cintura e beijando-lhe o topo da cabeça.

'Não, Maura. Me desculpa, eu não quis causar desconforto.' A ruiva pareceu bem séria agora, notando o incômodo da loira.

'Eu quero contar. É só que é mais delicado do que parece e nós ainda... Eu e Jane temos muito a conversar sobre, e tomar decisões.' Ela suspirou e se sentou na cama, e os dois a acompanharam. Depois de morder os lábios em pensamento, ela respirou e cruzou as mãos. 'Eu namorei alguém durante algum tempo... Essa gravidez não foi planejada, e... Bem, apenas aconteceu. Jane insistiu para que eu ficasse com o bebê, e ela... me pediu em casamento.' Ela adicionou essa parte com cuidado, já prevendo a arfada de surpresa de Annabelle - a prima sabia como ser teatral.

'Oh, ela não é maravilhosa?' Ela disse encantada e Maura não conseguiu evitar a risada leve.

'Ela é.' Ela concordou. 'E bem... Aqui estamos nós agora. Eu grávida, nós juntas e... Bem, acho que isso resume minha situação.'

'Maura...' A mulher disse docemente e afastou uma mecha de cabelo loiro de seu rosto. 'Você está feliz, querida? Realmente feliz?'

Maura abriu um imenso sorriso e balançou a cabeça. 'Estou. Muito, mesmo.'

'Então nós estamos felizes com você.' Alex disse e apertou sua mão, ao mesmo tempo que Annabelle beijava carinhosamente seu rosto. E Maura se sentiu mais uma vez quando era criança e os dois cuidavam dela, acima de qualquer coisa.

'Eu sinto tanta falta de vocês.' Ela murmurou e os dois a abraçaram de uma vez só.

'E nós de você, querida.' Annabelle disse e acariciou suas costas.

'Você vai ser uma ótima mãe, Maura. Você sabe, você é uma grande mulher.' Alex disse e beijou seu rosto.

'Bem, talvez você queira reconsiderar a palavra grande.' Annabelle procovou.

Maura revirou os olhos.

'Mas essa criança, certamente, vai ser feliz com vocês.' A ruiva sorriu e bateu o seu joelho no de Maura. 'Agora que tal tomar um drink em comemoração? Vinho para mim e Alex e uma Cuba Libre virgem para você.'

'Uma Cuba Libre virgem é apenas Coca-Cola, Annabelle.' Maura balançou a cabeça e revirou os olhos.

'Você aprende rápido, muito bem. É o que você pode beber.' Ela riu e se levantou.

'Isso nem é saudável.' Maura torceu os lábios.

'Não sei porque você ainda dá importância aos comentários dela.' Alex riu e se levantou junto com a loira.

...

Maura trocou um olhar tímido com Jane antes de se sentar no sofá ao lado da morena. Já havia passado das duas da tarde mas a família de Maura parecia incansável: eles ainda estavam todos na sala principal, conversando sobre assuntos diversos, bebendo e rindo num volume baixo. A mão de Jane foi parar discretamente em suas costas e Maura virou o rosto sorridente para ela.

'Você está se divertindo?' A morena perguntou e seus olhos negros brilharam.

'Sim. Já tinha me esquecido de como essas reuniões podem ser divertidas. Quer dizer... Ao modo Isles de ser.' Ela riu e balançou a cabeça.

'Não vá me dizer que você preferiria estar com minha família, comendo peru e ouvindo a voz da minha mãe berrar da cozinha com meus irmãos.' Jane provocou.

'Não me diga que você não está com saudades disso.' Ela rebateu.

Jane riu com desdém mas depois encolheu os ombros. 'Talvez um pouco, mas não muito.'

Maura sorriu delicadamente e encostou a cabeça no ombro da morena. O gesto surpreendeu Jane, primeiro porque elas não haviam se tocado ou mostrado qualquer gesto afetivo no meio das pessoas, e elas nem mesmo haviam discutido sobre isso ainda. De qualquer forma, ela abraçou a cintura da outra e beijou a cabeça da loira.

'Sua prima e Alex estavam me convencendo, por algum motivo, a visitar uma capela essa tarde. Você sabe o motivo?' Ela perguntou enquanto seus dedos acariciam a cintura da loira.

Maura suspirou. 'Eu sinto muito por isso. Annabelle pode ser muito insistente quando implica com algo, não queira experimentar mais disso. Eles apenas acharam que eu estava escondendo algo.' Ela riu levemente.

'Bem, você está.' Jane sussurrou.

'Não mais, não para eles, de qualquer forma.'

'Você contou do bebê, de nós?' Agora a morena sussurrou ainda mais baixo.

'Contei. Eles me pressionaram!' Ela se defendeu, também aos sussurros.

Jane balançou a cabeça. 'Você se entrega muito fácil.' Ela riu em seguida e Maura lhe beliscou o braço.

'Você não sabe como eles são!'

'Oh, eu tive uma amostra grátis essa manhã.' Ela rebateu e riu em seguida.

E daí se Maura tinha contado para eles? Pouco importava. Nessa altura todos já deveriam saber - no mínimo supor - de que elas estavam juntas. E bem, ela sabia que Maura pediria por discrição. Certo? Caso contrário, a loira teria anunciado na mesa, no almoço, para todos saberem. Jane relaxou a postura e respirou o perfume vindo do cabelo da médica.

'Soube que você tocou piano com meu pai hoje.' Ela comentou, divertida.

'Bem, foi interessante.' Ela se encostou no sofá e Maura também o fez.

'Oh, é mesmo? Bem, isso é algo que eu gostaria de ter visto.'

'Talvez se você me pagar, posso fazer de novo, mais tarde. Uma apresentação solo.' Jane provocou.

'Mil beijos servem?' Maura sorriu e seus olhos copiaram o contentamento dos lábios.

'Hm... Talvez dois mil deles sejam suficientes.' Jane fez um bico para ponderar a ofertar e riu em seguida.

Maura apertou o braço em sua cintura e beijou discretamente seu ombro.

'Ora, vejam só! Vocês parecem tão apaixonadas.' Annabelle se sentou na poltrona ao lado e riu, uma taça ainda na mão.

Maura se perguntou o quanto ela já tinha bebido. Ela não parecia de fato bêbada, mas a loira sabia que seu estado estava alterado.

'Eu não quero parecer inconveniente.' Ela continuou falando quando Maura e Jane não responderam, constrangidas demais. 'É só que esses saltos estão me matando. Escolha de sapatos errada, eu devo dizer.'

'Jane estava me dizendo o quão ansiosa ela está por passar mais tempo com você, Anna.' Maura provocou e levou um cutucão da morena.

'Oh, Jane, você é adorável, sabia? Maura tem tanta sorte.' A ruiva disse distraída enquanto desfivelava o sapato.

Jane forçou um sorriso. 'As pessoas me descrevem de maneira bem diferente.' Ela segurou o riso quando a ruiva abanou a mão, como se dissesse 'isso é bobeira'.

'Confio no julgamento de Maura. Alex, junte-se a nós.' A mulher acenou a mão para o homem que estava no outro canto e sorriu satisfeita quando viu ele se aproximando.

'Aí estão vocês.' Alex disse enquanto se sentava numa outra poltrona.

'Aqui estamos nós. Estava prestes a dizer à Jane que Maura tem ótimos gostos. Nós deveríamos ir naquele restaurante ao sul da cidade. Se lembra dele, Alex? Nos o conhecemos da última vez que estivemos aqui.'

'É claro que sim.' Ele voltou a atenção para Jane. 'É um lugar pequeno, escondido. Mas te garanto, tem a melhor comida daqui! Poucos turistas sabem do lugar, porque é numa pequena vila.'

'Hum, é verdade.' Maura acrescentou. 'Talvez devêssemos passar por lá amanhã. O que você acha, Jane?'

'Por mim tudo bem.' Ela sorriu e segurou a mão da outra.

'E nós precisamos ir ao Louvre.' Maura acrescentou.

'Maura, sem museus, por favor.' Jane resmungou.

'Por que?! Pode ser muito educativo. Além disso, há algumas obras que gostaria de rever.' A loira defendeu.

'Como a falsa Monalisa.' Annabelle acrescentou num murmurio.

'Pára com isso, ela não é falsa, Anna.' Alex riu.

'É claro que é!' Ela rebateu e riu em seguida, mas parecia de alguma forma irritada. 'Ora, Alex, você não saberia dizer.'

'Bem, e nem o nível de álcool no seu sangue saberia!' Ele rebateu.

Jane reprimiu uma risada quando a ruiva pareceu brava.

'Maura,' um tio velho, de olhos verdes e vestido impecavelmente parara perto da loira, 'vi que você não tem uma taça e decidi trazer-lhe vinho.' Ele disse educadamente e esticou o braço para que a loira pegasse a taça. 'Sei que é o seu favorito.'

Annabelle jogou as mãos para cima em irritação. 'Ora, onde já se viu? Oferecer bebida para uma mulher grávida!'

Ao passo de que todos se calaram, Maura enterrou a cabeça em suas mãos. Todos estavam olhando para ela.

'Era um segredo?' Annabelle sussurrou, parecendo verdadeiramente confusa.


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