O dia em que a Terra parou escrita por U5H10


Capítulo 5
De água a vinho


Notas iniciais do capítulo

Hehe, só avisando que eu adoro tragédias.
Boa leitura.



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Saindo da escuridão que havia dentro da tenda, tive que fechar os olhos por conta da enorme claridade que pairava sobre o ar juntamente com uma leve ventania que espalhava grãos de areia por todo canto. O que você esperava de um deserto, Ana?!

Cobrindo meus olhos com as mãos e amarrando meus cabelos eu tento avistar Laura ou qualquer um, mas isso não é necessário, pois logo já estou sendo rodeada por crianças com a boca cheia de comida e uma garota desesperada atrás delas.

Que tal me dar uma ajudinha, Ana? – Dizia Laura enquanto procurava as crianças que a pouco se esconderam com um prato de comida ainda cheio em mãos.

Com as sobrancelhas arqueadas dou um riso baixo. Laura está descabelada e toda vermelha por conta do sol. Ela é um amor para as crianças, mesmo com sua pouca idade já era como uma irmã mais velha.

Com meus olhos já acostumados eu avisto várias figuras em meio à fogueira almoçando. Dou um leve afago na cabeça de Laura, que agora ria de si mesma, e continuo meu caminho aos outros.

Olha só, você acordou. – Cumprimentou Aaron, que agora parecia muito diferente da última vez que nos encontramos. Respondi a ele com um sorriso bobo e uma leve coçada na nuca.

Bom dia, já posso comer? – Perguntei em meio a uma careta.

Claro que pode, desde que ainda sobre para o pessoal. – Jake, o mais velho de nós falou com um sorriso de canto.

Pouco tempo depois, Mike e Becca chegam trazendo, arrastados, os três pequenos que insistiam em correr por aí.

– Vocês não cansam de dar trabalho para a coitada da Laura, não? – Exclamava Becca, rabugenta, enquanto guiava as duas meninas pelas mãos até a fogueira, sendo seguida por Mike, que segurava pelos ombros Kaio, o mais arteiro dos três.

Agora parem quietos que eu quero comer. – Mike disse com uma careta no rosto e as mãos percorrendo a barriga. Todos, inclusive eu, rimos da careta que ele fazia.

Já sentada em meio à fogueira juntamente com todos os outros eu conversava e ria descontraidamente sem nenhuma preocupação, agora que Krista acordara a pouco afirmando a todos que se sentia muito melhor.

Entre risos e vozes misturadas eu ouço o som estridente da rádio comunicador que sempre está ao meu lado, guardado cuidadosamente em minha bolsa de couro que vai de um lado para o outro comigo.

Sinto todos enrijecerem ao ouvir o som e pousarem seus olhares sobre mim.

Sempre que ele tocava recebíamos notícias, mas elas nunca eram boas.

Vamos, atenda logo isso aí! – Disse Leo inclinando-se para frente enquanto olhava impacientemente para mim.

– É-Er... – Olhei para o rádio já na minha mão e o apertei com uma força desnecessária. Por favor, que seja uma noticia boa... Por favor. – Ana falando.

Ana? Ah, oi. É a Hannah. – Era ela quem geralmente ligava para nós.

Ãhn, oi Hannah. Notícias? – Eu disse hesitante.

Bom, como você já pode imaginar trago más notícias, mas antes, se saíram bem ontem contra os caras que te cercaram?

Suspirei e cocei o topo de minha cabeça. Todos ainda sustentavam seus olhares curiosos sobre mim.

Não, não foi nada bem. Perdemos Fred e Daniel dentro daquela casa, além de termos deixado grande parte do nosso equipamento lá. – Eu podia sentir a reação de cada um ao meu redor, o que me deixava pior do que eu já estava me sentindo antes – E como você disse, o vilarejo estava praticamente deserto, mas conseguimos resgatar uma garotinha, Krista. – Decidi por ocultar o fato de que ela apresentara sintomas da praga que assombrava seu vilarejo. Apesar de Hannah ser de muita ajuda ela não pensaria duas vezes em deixar alguém incapacitado fora de nosso grupo.

E ela está... Bem? – Perguntou e eu senti a desconfiança em sua voz.

Aparentemente sim... Nenhum problema. – Mordi meu lábio inferior e senti o braço de Krista enlaçado ao meu. Dei um leve sorriso para a garota e me foquei novamente na conversa.

Ótimo, já que não tem nada te atrapalhando acho que será mais fácil para você juntar as coisas e dar o fora daí.

Dar o fora? – Foi possível ouvir algumas das pessoas ao meu lado exclamarem em surpresa e logo depois de dispersarem. Aquelas palavras já tinham sido o suficiente para que eles entendessem que nada bom nos aguardava se ficássemos ali. – Que tal explicações, Hannah? – Perguntei apressada.

– Bom, a culpa não é minha se vocês não tiveram o cuidado de escolher um lugar melhor para ficar. – Eu já ia abrindo a boca para lhe explicar o porquê quando ela me interrompeu. – Sem desculpas, você não tem tempo para isto. Eles descobriram facilmente onde vocês estão, simples assim, agora só me faça o favor de sair daí o mais rápido possível. Entendido?

Minha boca estava seca, apenas confirmei e desliguei o rádio. Minhas mãos suavam e meus punhos pareciam ser feitos de aço, limitei-me a tentar dar ritmo a minha respiração descompassada.

Mãos vieram aos meus ombros, era Jake. Ele não disse nada. Algumas vezes penso como o simples silêncio que ele faz me ajuda tanto quanto palavras gentis.

Seguro uma de suas mãos entre as minhas e as levo a minha testa.

Obrigada.

Solto suas mãos e me levanto vendo-o sumir por entre as pessoas que por todos os cantos iam recolhendo suas coisas.


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