Black Magic escrita por Lervitrín8


Capítulo 11
Luto.


Notas iniciais do capítulo

Talvez eu tenha exagerado um pouco na quantidade de palavras? Talvez! Mas me empolguei. Espero que gostem. E antes que falem algo: sim, estou de #luto também.



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― Vamos fazer ao contrário? ― sugiro, na tentativa de ficar a sós com Viola. ― Como é caminho, deixo vocês em casa primeiro, já que vocês devem estar cansados. Depois espero com Viola até Lauren chegar.

― Por mim tudo bem Ricky, só quero chegar em casa e dormir ― Rose é realmente a melhor irmã do mundo. Definitivamente, ela me entende nas entrelinhas.

Ellie e Yuru não se opõem à oferta, ainda mais sabendo que Ellie está cheia de sono, devido ao grande número de bocejos por minuto. Primeiro deixo Ellie em casa, Yuru desce alguns minutos depois. Quando Rose sai do carro, Viola – que está um pouco fora de si – vem para o banco da frente. Espero Rose entrar em casa para dar partida no carro, em direção ao alojamento.

― Você está bem? ― questiono, apertando levemente acima de seu joelho.

― Aham! ― ela nem abre a boca para responder, certamente me convenceu.

― Não vai vomitar, né?! ― não quero que no fim da noite meu carro fique esse odor maravilhoso.

― Não! ― opa! Alguém abriu a boca para responder.

Dizem que o estado de alcoolismo é ótimo para obter algumas verdades, então, decido verificar a veracidade disso.

― Fiquei meio surpreso com você hoje ― comento, olhando rapidamente para Viola esparramada no banco ao lado.

― Foi? ― talvez as pessoas não fiquem verdadeiras, mas sim monossilábicas.

― Sim, há quanto tempo tento ganhar um beijo seu? ― brinco.

― Não contei ― ela boceja enquanto responde e eu não consigo controlar a risada que nasce em mim.

― E por que resolveu fazer isso hoje? ― tento.

― Talvez eu tivesse vontade de fazer isso há tempo ― ela responde.

― Essa é definitivamente a frase mais longa que você disse dentro deste carro ― consigo arrancar duas coisas de Viola: uma risada e a verdade.

― Eu posso dormir? ― ela questiona.

― É claro que não, nós já estamos chegando e precisamos esperar a Lauren acordados, lembra?

― Sim.

― Ok então.

― Eu não me arrependo! ― ela exclama, após alguns segundos de silêncio.

― Não se arrepende do que? ― pergunto.

― De ter beijado você, mesmo sabendo que a Ellie vai contar pra Suzy e aquela desgraçada vai infernizar a minha vida.

― Você não precisa se preocupar ― digo entre risos. Chegamos em frente ao alojamento. Teoricamente, já era para eles terem chego, pois na pior das hipóteses, teriam apenas Candice para deixar em casa antes. ― Vamos sair do carro?

― Sim, quero caminhar ― acho graça do desejo de Viola, mas não estou na posição de discordar.

― Ótimo desejo!

Desço do carro e abro a porta para Viola descer, no entanto, preciso fazer mais que isso. Seguro-a pelos braços e desjeitosamente ela põe as duas pernas para fora do carro, logo em seguida, levanta-se meio cambaleante. Assim que ela fica em pé dá início à seção de vômito inesperada, respingando parte em minha camiseta. Rapidamente desvio do foco e me posiciono atrás de Viola, com uma mão segurando-a pela cintura e a outra evitando que o vômito toque em seus cabelos. Após algum tempo não há mais o que sair de dentro dela, então as ânsias seguintes são vazias.

― Você fez um belo trabalho na calçada ― comento.

― Estou vendo ― ela começa a rir. ― Mas me sinto melhor.

― Presumo que sim ― respondo. Tiro minha camisa que está parcialmente vomitada e com a parte intacta, limpo o rosto de Viola.

― Me perdoe ― ela gira em meus braços e me abraça forte.

― Tá tranquilo, Viola ― retribuo o abraço. ― Eles estão demorando.

― Esse cheiro está me deixando mais enjoada ainda ― ela afirma.

― Não se preocupe, não tem mais nada pra sair aí de dentro ― brinco.

― Vamos caminhar para longe daqui? ― ela sugere.

― Tudo bem, só vou pegar uma camiseta no porta-malas ― indico.

― Mas você fica tão bem assim ― ela admite, em seguida põe a mão sobre a boca emitindo um “ops”.

― Não me importaria de continuar assim, mas é que está um pouco frio ― respondo.

― Eu posso te esquentar ― ela sugere.

― Você venceu, Viola.

Ela pega em minha mão e caminhamos alguns metros, na direção contraria ao vento, para evitar que o cheiro nos persiga. Sento na calçada e Viola se aconchega entre minhas pernas. Envolve meus braços em sua cintura e dou um cheirinho em seu pescoço, vejo-a se arrepiar. Seu telefone começa a tocar logo em seguida e, com dificuldade, ela o retira do bolso.

― É Miah ― ela comenta.

― Quer que eu atenda? ― ofereço.

― Sim ― ela me entrega o celular logo na sequência.

― Oi Miah, é o Ricky ― digo.

― Ricky ― ela está aos prantos. ― As meninas sofreram um acidente de carro.

― ― ―

Quando pisco novamente estou deitada em um tipo de maca, meu pescoço está imobilizado e duas pessoas estão me levando para algum lugar.

― Ela acordou ― diz um deles.

― Ei querida, você precisa se manter acordada, tudo bem? ― diz a segunda pessoa, uma senhora que aparentemente possui cerca de cinquenta anos.

― Minha perna está doendo muito ― reclamo.

― Sim, nós já identificamos o seu problema, não há com o que se preocupar ― a senhora responde. ― Como é o seu nome, meu bem?

― Lauren ― afirmo.

― Lindo nome, Lauren! Você precisa ficar com a gente até chegar ao hospital, ok?

― Onde estão os outros? ― questiono enquanto eles me colocam dentro da ambulância.

― Estão todos bem! Todos já estão a caminho do hospital ― dessa vez quem fala é o jovem rapaz, já que a senhora parece estar incomodada com algo.

Sinto um leve cansaço tomar conta do meu corpo e meu único desejo é dormir. Lembro que me pediram para ficar acordada, mas parece que dormir será a melhor coisa a fazer. Sinto meus olhos pesarem e acabo dando longas piscadas. Estou consciente disso e mesmo que queria reverter essa situação não consigo.

― Ei, Lauren ― a mulher chama novamente ―, que tal conversarmos um pouco?

― Tudo bem ― respondo e percebo que a ambulância começa a se locomover e aos fundos consigo identificar sua sirene ligada.

― Onde você e seus amigos foram hoje de noite? ― ela pergunta, passando sua mão pela minha testa.

― Fomos ao Meu Escritório ― comento. ― É o nome de um bar.

― E quem estava lá com você? ― ela me pergunta, sentando ao meu lado. Neste momento lembro que Viola deve estar me esperando em frente ao alojamento.

― Viola está me esperando em frente ao alojamento ― minha voz sai como se estivesse em câmera lenta, pelo menos é o que me parece.

― Nosso pessoal ligou para uma amiga sua, Miah, ela disse que avisará a todos ― a senhora me acalma.

― Que bom ― me limito a dizer.

― O rapaz que estava com vocês é seu amigo?

― Ele é o professor de música da Nat ― explico.

― Ah, vocês são universitárias! Qual curso você faz, Lauren? ― ela demonstra bastante interesse e eu não entendo o porquê.

― Psicologia.

― É um ótimo curso, Lauren. Quem sabe futuramente nós não trabalhamos no mesmo hospital, hein?

― Sim, tudo bem. Falta muito?

― Só alguns minutos. Continue firme garota.

Quando chegamos ao hospital sou imediatamente levada para uma sala totalmente branca e vários médicos aparecem de uma hora para a outra. Em questão de segundos, um deles encontra uma veia em meu braço e vejo um líquido percorrer pelo tubo transparente. Assim que o líquido entra em meu sistema, minha força se esvai e eu apago.

Ao acordar identifico a claridade do sol entrando pela janela do quarto – que não é o mesmo da noite anterior – intensamente e demoro um pouco para me acostumar com a luz. Não há outros pacientes no quarto, porém, Viola está cochilando em uma poltrona ao meu lado. Não sei dizer que horas vim parar aqui ou que horas Viola chegou, na realidade, não me lembro de muita coisa. Meus pequenos movimentos na cama acordam Viola assustada, provavelmente ela programou seu subconsciente para acordar assim que escutasse qualquer movimento, estudei isso em uma das disciplinas de psicologia.

― Oi amiga, como você está? ― ela questiona, aproximando-se da maca. Sua aparência é bastante preocupante. Seus olhos estão bastante inchados e vermelhos. Ela está com a mesma roupa que foi ao Meu Escritório, então sei que só dormi por uma noite inteira. Busco algum relógio pelo quarto, mas não encontro.

― Estou me sentindo um pouco estranha ― confesso. ― O que aconteceu?

― Você quebrou sua perna e precisou passar por uma cirurgia, Lauren. Eles colocaram dois parafusos em você. O médico acredita que logo você poderá ir para casa, o que significa que terei de ficar de babá ― ela brinca.

― Como estão os outros? Cadê Ricky? ― lembro das pessoas que estavam envolvidas.

― Ricky ficou aqui até duas horas atrás. Passou a noite comigo no hospital, trouxeram você para cá há pouco tempo, estavas sendo vigiada a madrugada inteira.

― Por qual razão? ― questiono, já que meu ferimento não causa riscos a minha vida.

― Como você havia comigo e bebido logo antes da cirurgia, eles estavam preocupados que você tivesse alguma reação, já que tiveram que te operar sem você estar de jejum. Você estava de cinto, Lauren?

― Estava sim ― confesso que fiz um pequeno esforço para lembrar o acontecimento. ― Como estão os outros, Viola? Por que você está enrolando para contar?

― Amiga, precisamos ser fortes juntas, certo? ― vejo as lágrimas tomarem conta dos seus olhos e eu tento ser forte para que ela possa me contar. ― Henry e Natalie sofreram alguns cortes e luxações, nada muito grave, provavelmente pela segurança do cinto e pelos airbags dianteiros.

― E a Candice...? ― não consigo completar a frase.

― Ela não conseguiu resistir. Provavelmente ela estava sem cinto e devido ao impacto, vários vasos sanguíneos foram rompidos. Eles caracterizaram como hemorragia interna classe IV, muito difícil de controlar. Isso acarretou na perda de sua consciência e ela acabou falecendo.

Não consigo acreditar no que Viola está me dizendo. Tudo parece uma grande brincadeira, um sonho talvez, ou melhor, um pesadelo. Só quero poder acordar e ver que tudo não passou disso. Mas tudo é tão real: minhas dores pelo corpo, a angustia de Viola, minhas lembranças.

― O enterro será hoje às 18:00h. Natalie tinha o número dos familiares dela e conseguiu dar a notícia, eles estão a caminho.

― Natalie deve estar arrasada ― me limito a dizer.

― Miah também esteve aqui ― sei que ela está tentando mudar o foco do assunto. ― Ela ficou um pouco com Natalie até sua mãe chegar. Ela também ligou para Pietro, pois é a única pessoa que sabemos que tem contato com o Henry, ele está até agora aqui. Miah foi para casa assim que o dia amanheceu, combinamos de reversarmos enquanto você ficar aqui.

― Tudo bem.

― Rose se ofereceu para ficar com você, para que eu e Miah possamos ir ao enterro. Você se importa?

― Não, tudo bem ― acho que ainda não caiu a ficha.

― ― ―

Ricky deixa Rose no hospital às 16:30h e me leva até o alojamento para tomar um banho para irmos ao enterro. Minhas lágrimas se confundem às gotas que caem do chuveiro. Não consigo acreditar como tudo mudou de uma hora para a outra. Não sei como ainda existem lágrimas em meus canais lacrimais, mesmo!

Ele está sentado em minha cama quando saio do banheiro enrolada na toalha. Seu terno preto está estendido sobre a cama de Lauren, já que ele preferiu se vestir depois de me pegar no hospital. Imediatamente ele levanta e vem ao meu encontro, abraçando-me fortemente. Não há outro abraço em que eu queria estar no momento.

― Não podemos demorar muito ― ele lembra.

― Tudo bem.

Pego a roupa em minha cômoda e estendo em cima da minha cama. Ele tira a roupa em minha frente, ficando somente de cueca, e pela primeira vez posso observá-lo assim... Bom, não é o momento para isso. Decido fazer o mesmo, porém, viro-me de costas para ele, já que estou completamente nua. Me visto com um vestido preto até a altura dos joelhos, uma meia fina e um sapato – também pretos. Quando termino, sinto os braços de Ricky me envolver por trás. Ele beija levemente minha bochecha.

― Podemos ir? ― ele questiona.

― Sim. Podemos pegar Miah? É que Marco está trabalhando e não vai po...

― Claro que podemos pegá-la, meu bem ― ele me interrompe, em seguida pega minha mão e juntos caminhamos em direção à porta.

Chegamos aproximadamente quinze minutos antes de começar a cerimônia. Havia um grupo de pessoas em completo desespero, julgo serem os parentes de Candice. Também identificamos alguns professores presentes, vejo que Emma - a professora que Candice tanto gostava - está do outro lado, juntamente com o reitor da universidade e outras pessoas que acredito também serem docentes. Achei legal a atitude, Candice com certeza merece isso. Ricky permanece ao meu lado o tempo todo, já Miah, fica um pouco a nossa frente, para enxergar um pouco melhor. Em certo momento, ela se aproxima e deposita uma rosa dentro da sepultura e retorna para o seu lugar. Os cantos me fazem chorar diversas vezes e Ricky, vez ou outra, aperta forte minha mão.

Com o término da cerimônia, junto de Miah, nos dirigimos aos familiares de Candice para prestar nossos sentimentos. Não prolongo aqui por muito tempo. Ricky vem ao nosso encontro e sugere que voltemos para casa.

― Apenas ignore ― Miah sussurra em meu ouvido e assim que levanto a cabeça, me deparo com Suzy bem em minha frente, vestida de preto também, com um chapéu extravagante da mesma cor.

― Não sei se devo aplaudir parabenizando por tê-lo pego de mim ou por ter uma de vocês a menos na terra ― respiro fundo e sinto meus olhos lacrimejarem mais uma vez, por vê-la falar assim de Candice.

― Suzy, não é hora pra isso ― Ricky comenta e passa um de seus braços pela cintura de Suzy, conduzindo-a para longe de onde estamos. Eu e Miah continuamos caminhando em direção ao carro de Ricky, que volta após alguns minutos.

― Viola, eu fico hoje com a Lauren para você descansar ― Miah sugere e estou muito inclinada a aceitar. Entramos no carro e Ricky dá partida.

― Eu agradeceria, Miah. Estou exausta ― confesso.

― Marco está saindo do expediente daqui a pouco e comentou que pode me levar ao hospital. Será que Rose se importa de esperar mais um pouco?

― Claro que não ― Ricky afirma.

― Prometo não demorar.

― Você hoje dorme na minha casa ― Ricky comenta assim que Miah desce do carro.

― Não Ricky, minhas coisas estão no alojamento, minhas roupas também estão lá.

― Viola, não estou questionando. Você pode as roupas de Rose, certamente cabem em você. Não quero que você fique sozinha naquele quarto.

― Tudo bem então.

Alguns minutos depois chegamos à casa de Ricky, que por sinal, é maravilhosa. Ele aperta o botão para o portão abrir e sobe a rampa em direção à garagem. Descemos do carro e ele novamente segura minha mão enquanto caminhamos pelo jardim, em direção à casa.

― Você quer alguma coisa? ― ele questiona.

― Só quero descansar ― afirmo. Ele me leva diretamente para seu quarto e pede para eu esperar um pouco. Sai do quarto por alguns instantes e volta com um pijama de sua irmã em mãos. Utilizo o banheiro do seu quarto para trocar de roupa, assim que retorno, Ricky já está deitado em sua cama, com a coberta até a altura do peito, que me permite perceber que está sem camiseta. Ele me estende suas mãos e abre um sorriso leve e confortante.

― Vem, você precisa descansar.


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Notas finais do capítulo

Ai, to com um sentimento da BAD. Nem sei direito :/
Capítulo me deixou um pouco pra baixo. Deixou vocês também? Pesado né? Espero que elas consigam dar a volta por cima.

Lindos e lindas do meu coração, comecei uma nova fic em parceria com duas amigas fofas! Chama-se APÊ 3250. Postamos nosso primeiro capítulo na semana passada, deem uma conferida, tá bem interessante: http://fanfiction.com.br/historia/630584/Ape_3250/

Beijos pessoas, obrigada pelos comentários no capítulo anterior e até mais.