Às vezes cansa ser irmã de uma pessoa tão mesquinha e – infelizmente – popular. Parece que tudo gira em torno dela, como se ela fosse o sol e o restante os planetas, e eu, nessa história, sou praticamente a lua, que só consegue brilhar se for através da luz dela.

― Então você conseguiu carona para sair, Ellie? ― Suzy entra no meu quarto sem pedir licença, enquanto eu retoco minha maquiagem.

― Sim.

― Com quem você vai sair, Ellie? ― não entendo o motivo pelo qual ela tanto se preocupa.

― Tem como me deixar em paz, Suzy? ― peço, encarando-a.

― OK ― ela sai do meu quarto batendo a porta, devo tê-la feito ficar furiosa.

Eu precisava esconder que iria sair com Rose e Ricky, já que sua possessão poderia instigá-la a sair também e o que eu mais quero é estar livre dela por algumas horas. Alguns minutos depois recebo a mensagem de Rose, avisando que estão me esperando na frente do prédio. Fecho meu quarto e Suzy está na sala, saio sem dizer uma palavra. Ricky esta ao volante e Rose ao seu lado, porém, já existe uma pessoa no banco de trás.

― Oi Ellie – Rose parece estar bastante alegre. ― Esse é Yuru, estuda Astronomia comigo.

― Olá Yuru – cumprimento-o com um beijo no rosto. ― Prazer, sou a Ellie. Oi Ricky, Oi Rose. Obrigado por vir me buscar.

― To fazendo a boa ação do mês, te livrando da Suzy em uma sexta ― Ricky comenta rindo.

― Está mesmo! Fico te devendo essa ― ajeito meu salto que começa a me incomodar.

― Sei como a fera é ― ele complementa.

― Eu sei disso ― me limito a dizer.

― Qual curso você faz, Ellie? ― Yuru questiona.

― Publicidade. Ainda estou no início. Você me parece muito novo para já estar na Universidade – comento intrigada.

― Comecei aos 16 anos ― ele cora um pouco.

― Nossa, parabéns! ― me surpreendo, afinal, não são todos que possuem conhecimento para adentrar na Universidade tão cedo.

O ponto de encontro do final de semana para os universitários, se não a 667 Stage, é o Meu Escritório. Um bar com um clima bastante agradável, com som ao vivo e muita gente bonita! Assim que chegamos um jovem muito bonito vem nos atender, indicando a nossa mesa.

Rose pede uma batida de morango para cada um de nós, só para começar. Ricky, como sempre, fica só na água, afinal, está dirigindo. Quando menos espero a inimiga número um de Suzy chega com suas amigas e o garçom indica a mesa ao nosso lado. Agradeço ao céu por minha irmã não ter vindo.

― ― ―

― Vocês já viram a mesa dos professores? ― pergunto para as demais meninas.

― Onde Candice? ― Viola questiona. Desde o momento em que avistou Ricky tem evitado olhar na direção em que ele está.

― Olhem discretamente ― aviso. ― Atrás da Lauren, três mesas.

Todas as garotas olharam no mesmo instante em um ato de sigilo secreto nível três de discrição. Obviamente, não passou despercebido por todos que estavam naquela direção, inclusive os professores. Em todo, não foi ruim, pois dois deles resolveram se aproximar da mesa em menos de cinco minutos.

― Olá garotas ― diz Pietro, apoiando as duas mãos em nossa mesa, enquanto em coro cumprimentamos o professor de tantas nós. ― O que procuram nesta noite?

― Para falar a verdade, o que menos esperávamos encontrar era um professor de Cálculo e Geometria Analítica ― Miah resmunga.

― Ou estatística ― comenta Lauren.

― Acho que estou sendo expulso dessa mesa ― Pietro brinca.

― Essa é a vantagem de lecionar para apenas uma delas, cara ― comenta Henry que está em pé atrás da cadeira de Nat, com as mãos em seus ombros.

― Pois então vou pedir redução de carga horária ― Pietro justifica.

― E vai continuar lecionando para Viola, Lauren ou Miah? ― questiono.

― Tenho que refletir sobre o assunto ― ele parece um pouco constrangido.

― Não iremos pressioná-lo ― Lauren tenta deixar tudo melhor.

― O que foi? ― Pietro age como se alguém estivesse o chamando na mesa dos professores, mas claramente, ninguém está. ― Acho que estão me chamando. Vejo vocês na segunda-feira, garotas.

― Tchau Pietro ― Lauren diz, enquanto o restante de nós acena para o professor.

― Podemos conversar sobre o seu trabalho, Natalie? ― Henry questiona, ainda com as mãos sobre os ombros dela.

― Já é sábado Henry, acho que você pode dar um sossego pra ela ― afirmo.

― Não, tudo bem ― Natalie levanta e ambos saem do local.

― Conversar sobre o trabalho? Tá bom! Sei! ― Lauren nos faz rir com o comentário.

De repente, Miah ergue seu braço e lança um tchauzinho no ar, sorrindo em direção à porta do loca.

― Tá ficando louca? ― Lauren questiona.

― Esqueci de comentar que convidei Marco para vir também ― ela responde.

― Vamos segurar velas? ― Viola ri. ― Óh, que legal.

― Posso falar com o garoto Ricky da mesa ao lado para ele resolver seu problema ― Miah ameaça rindo, enquanto Marco se aproxima.

― Você não se atreveria ― Viola responde, fuzilando Miah com o olhar.

― O que Miah não se atreveria? ― Marco questiona, sentando-se na cadeira livre de Natalie, ao lado de Miah.

― É... Pedir outro lanche ― Viola cora ao responder.

― Magra de ruim? – ele questiona.

― Estamos falando da Natalie? ― Miah consegue escapar da brincadeira. ― Marco, essas são Candeice, Viola e Lauren. Nat está lá fora. Meninas, esse é o Marco.

― O famoso Marco? ― Viola sussurra.

― Como disse? ― o garoto parece intrigado.

― Ah, é que Miah não para de falar de você ― Viola inventa e sei que está se vingando.

― Isso é verdade? ― ele abre um imenso sorriso.

― A mais pura delas, não é garotas? ― Viola questiona e Lauren confirma com a cabeça, rindo. Prefiro ficar em silêncio.

O tempo passa depressa e quando me dou conta são quase quatro horas da manhã. Natalie e Henry voltaram e se acomodaram em nossa mesa, Miah e Viola continuaram trocando farpas a noite inteira, fazendo o grupo inteiro rir; o que foi ótimo, pois Miah não se descontrolou e bebeu muito pouco. Percebi que vez ou outra Lauren olhava para trás, em direção à mesa de Pietro. Ricky não tentou aproximação nenhuma vez e Viola parecia estar confortável com a situação ou apenas não queria demonstrar o contrário. Yuru, o garoto que conheci na biblioteca, acenou em minha direção certa hora, o que deu margem às meninas para pegarem no meu pé por um bom tempo.

― Meninas, eu e Marco estamos indo ― Miah anuncia.

― Você não voltará com a gente? ― Lauren questiona, aparentando estar preocupada.

― Ele vai me levar até o prédio, tá tudo bem ― esclarece.

― Vou entregar ela viva, pode deixar ― Marco brinca e ambos levantam-se e se despedem brevemente, indo até o caixa e, em seguida, deixando o local.

― A gente poderia ir também, não? ― comento. ― É que já está tarde.

― Vou ligar para a minha mãe ― avisa Natalie ao pegar o celular.

― Eu levo você ― sugere Henry. ― Não precisa incomodá-la.

― Acho que ela não vai gostar de saber que “um estranho” me levou ― Natalie faz o sinal de aspas para enfatizar.

― Você diz que resolveram pagar um táxi ― Henry recomenda, dando de ombros.

― Pode ser então ― ela diz.

Após pagarmos a conta, vamos para o estacionamento do local, com Henry, Natalie e Lauren caminhando à frente, enquanto eu e Viola com passos largos e lentos – como duas bêbadas idiotas – ficamos para trás.

― Viola? ― ouvimos um garoto chamá-la e viramos imediatamente.

― Ooooooi Riiiiicky! ― ela praticamente grita entre risadas.

― Acho que alguém esta um pouco alterada ― ele diz aproximando-se, enquanto sua irmã, Yuru e a irmã de Suzy dirigem-se ao carro.

― Esse alguém é a Candice! ― Viola insinua. ― E você está vindo falar comigo só no final!

― Acho que você não me deu muita abertura antes ― ele parece triste ao lembrar.

― É! ― ela se limita a dizer, enquanto alguém buzina três vezes no carro de Ricky.

― Ricky, acho melhor você conversar com ela em outra hora, pode ser? ― incrível como ainda consigo formular frases.

― Tudo bem, até mais ― ele acena e começa a caminhar em direção ao seu carro.

Viola sai correndo do meu lado e corre em direção a Ricky, meio cambaleando. Corro atrás dela tentando impedi-la, mas surpreendentemente ela consegue ser mais ágil que eu. Ela segura a camiseta do rapaz e ele imediatamente dá meia volta e Viola aproveita para beijar sua boca. Paro no mesmo instante, estupefata, colocando a mão sobre a boca. Não acredito! Ricky parece tão surpreso quanto eu, porém, ele não fica tão estático quanto. Seus braços logo envolvem a cintura de Viola, puxando-a para si. O que eu faço agora?

― Vou embora com ele ― Viola responde a minha questão, ao interromper o beijo.

― Vai? ― Ricky questiona.

― Não, ela não vai! ― afirmo, aproximando-me dos dois.

― Vamos logo, Ricky ― a irmã de Ricky grita ao colocar a cabeça para fora do carro.

― Viola, você veio e vai voltar conosco ― tento convencê-la.

― Mas eu quero ir com ele ― ela faz biquinho para chorar.

― O que está acontecendo? ― Lauren se aproxima, com as mãos na cintura, irritada pela demora.

― Viola quer ir embora com Ricky ― explico.

― Mas é claro que não. Anda Viola, para de besteira e vamos ― Lauren segura o braço de Viola, mas ela se desvencilha e agarra Ricky pela cintura.

― Eu a levo e espero você pegá-la na frente do alojamento ― Ricky sugere.

― Acho que não tem outro jeito ― Lauren se dá por vencida.

― É! ― Viola resmunga, fazendo todos rir.

― Até logo então ― pego Lauren pelo braço e nos dirigimos ao carro de Henry, que junto de Natalie, estão encostados na lateral do carro nos esperando.

Eu e Lauren estamos no banco de trás, enquanto Nat encontra-se no banco ao lado de Henry, que sorri constantemente para ela. Primeiro Henry deixará Lauren no alojamento, para depois nos deixar em casa. A estrada está praticamente vazia e o velocímetro do carro marca acima de 120km/h. Me preocupo e olho assustada para Lauren que parece estar distraída e não percebe. Olho novamente para o velocímetro e esta é a última coisa que vejo antes de Henry perder o controle do carro e capotarmos.