Hora de Recomeçar! escrita por Nany Babalu


Capítulo 15
Um adeus aos meus amigos




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15. Um adeus aos meus amigos
Shun e June ficaram tão alheios ao mundo que os rodeava que se assustaram ao perceber que os raios vivos de sol davam lugar ao brilho incansável da lua. A noite havia chegado e o tempo parecia acelerar os segundos. O casal se entristeceu ao se dar conta de que precisavam ir para casa. Como um passe de mágica, a magia daquele momento havia se acabado simplesmente porque ambos imaginavam o sofrimento que sentiriam quando se despedissem àquela noite. Queriam ficar ali eternamente... Sentindo seus corpos tão próximos e as batidas de seus corações tão ritmados. Depois de muita resistência, soltaram-se um dos braços do outro e concordaram que deveriam ir embora, já que era muito tarde.
– Shun, você não precisava ter me trago em casa. Eu poderia vir sozinha... Também não quero que fique andando por ai sozinho, pois é muito tarde, era melhor você ter ido para a sua casa. – dizia a amazona quando o namorado a deixou na porta do apartamento.
– Meu amor, já é tarde e é muito perigoso para uma mocinha tão linda como você ficar andando por aí sozinha. Alguém poderia tentar te fazer mal e eu nem imagino como eu reagiria. – Shun respondia, tentando afastar o mau pensamento da cabeça.
– Ah meu querido, você é tão atencioso e carinhoso – dizia a garota enquanto beijava toda a face do namorado.
– Agora que finalmente estamos juntos, não quero correr o risco de te perder – Shun acariciava o rosto da namorada.
– Também desejo que isso não aconteça!
– Bom, agora preciso ir, ou o Ikki vai me matar quando chegar. Vejo você amanha certo?
– Claro! Vou esperar ansiosa para te ver. Afinal, cada momento longe de você será uma eternidade.
Os dois se beijaram apaixonadamente e logo em seguida se despediram, com os olhares tristes e desolados de casais que desejam estar eternamente juntos. Ao chegar em casa, Shun recebeu uma costumeira bronca de Ikki pela demora, mas logo depois o irmão mais velho se rendeu às desculpas do irmão caçula e acabou se interessando em saber como havia sido o encontro com June.
– Foi tudo maravilhoso, finalmente estamos juntos e eu devo tudo isso a você, meu irmão. Se não fosse os seus incentivos, eu ainda estaria sem ela! – disse Shun agradecendo a Ikki pelo apoio.
– Que bom, fico feliz em te ver tão animado. Sempre estarei ao seu lado, disposto a te ajudar. Esse empurrãozinho não foi nada e você estava realmente precisando!
– É, acho que sim. Você saiu para algum lugar ou ficou confinado a esse apartamento durante todo o dia? – o mais novo perguntou enquanto buscava um copo de leite na cozinha.
– Não sai para lugar nenhum. Você me conhece, prefiro ficar no conforto de nossa casa do que sair para algum lugar. – Ikki respondeu fazendo um sinal de indiferença e se jogando no sofá.
– Nem preciso perguntar se você procurou falar com a Ágata porque a resposta seria óbvia, não é!
– Tem razão, eu não a procurei e nem tive a intenção.
– Agora quem precisa de um empurrãozinho é você. Ou pretende ficar nesta solidão pelo resto de sua vida?
– Não sei o que vou fazer da minha vida, mas com certeza não quero passar o restante dela sozinho. Vou tomar jeito, prometo. Agora preciso conversar com você sobre um assunto muito sério.
– Um assunto sério? Aconteceu alguma coisa? – Shun se aproximou do irmão com ar de preocupação.
– Não é nada com o que você tenha que se preocupar. Mas é uma pena que isso estrague a sua felicidade, justo nesse momento... Mas preciso dizer... – Ikki também estava muito sério.
– Está me deixando preocupado Ikki. O que houve?
– O Hyoga decidiu que vai embora, Shun.
– O Hyoga vai embora? Mas por quê? Pra onde? – Shun já demonstrava sua tristeza, visto que Hyoga era seu melhor amigo e seu companheiro nos momentos ausentes de Ikki.
– Ele recebeu uma proposta de emprego para executar sua pesquisa na Amazônia, Brasil. Ao que tudo indica, ele decidiu que essa seria a maior oportunidade que poderia aparecer em sua vida.
– Eu não entendo, ele estava muito animado com a chegada de Eire. Até pensei que ele estivesse interessado nela. Esta atitude de Hyoga é muito estranha. Além disso, esperava que ele viesse conversar comigo antes de tomar qualquer decisão. – Andrômeda parecia revoltado com a decisão de Cisne.
– Ele veio procurar você, mas você havia saído para encontrar-se com a June. Conversamos um pouco e ele me contou a razão que o levou a decidir ir embora. Hyoga não se sente feliz aqui, ele precisa encontrar uma motivação para viver. Ele tem estado muito vazio e incompleto ultimamente. Acho que ele precisa se encontrar.
– Mas para isso não é necessário que ele vá embora. Afinal de contas, somos seus amigos, sua família. Como ele poderá viver longe de nós, sozinho? Eu não posso permitir que ele cometa essa loucura.
– Irmão, sinceramente acho que não deveria questionar a decisão de Hyoga. Eu entendo como ele se sente. Às vezes precisamos buscar dentro de nós mesmos uma razão para continuar vivendo e na maioria dos casos é necessário um completo isolamento e uma certa distância de tudo e de todos. Hyoga precisa se afastar um pouco desta vida, de nós, de nosso passado. Acredito que em breve ele descobrirá o que procura e voltará para junto de nós, que somos sua família. Até lá, é melhor deixá-lo seguir seu caminho.
– Sinto-me da mesma forma que me sentia quando você ia embora ao final das batalhas. É uma sensação de perda, um medo de não revê-lo. – Shun dizia enquanto se lembrava da época em que Ikki o abandonava.
– Eu me afastava de todos, inclusive do mundo em que vivia. Passei momentos sombrios e minha vida ficou por muito tempo na penumbra. Mas então houve um momento em que percebi que meu lugar era a seu lado e que Seiya e os outros eram a família que eu nunca havia tido. Foi então que resolvi deixar o mundo obscuro em que vivia e me juntei à vocês. Mas antes disso precisei descobrir minhas necessidades e meus anseios. E é isso o que vai acontecer com Hyoga. Logo ele estará de volta, mas não antes de entender ele próprio.
– Você tem toda razão, Niisan. Mas não posso deixar de ficar triste com a partida de Hyoga, sentirei muita falta dele. Quando ele viajará?
– Em dois dias.
– Dois dias? Mas tão rápido?
– Parece que o Instituto precisa muito dele, com urgência. Shiryu está organizando uma pequena reunião na Mansão Kido, um tipo de Festa de Despedida. Será amanhã, ás 6 horas da tarde. Ele pediu para que não faltemos, acho que será muito importante para Hyoga. Mesmo que você esteja um pouco chateado com ele, por ter tomado esta decisão, acho prudente que vá a essa despedida, pois Hyoga precisa muito do seu apoio.
– Eu sei disso. Apesar de estar um pouco triste com a atitude dele não posso deixar de me despedir. Certamente iremos.
– Ótimo. Agora vamos jantar pois já está ficando muito tarde.
– Hei Ikki... – chamou Shun, como se houvesse lembrado de algo.
– Sim?
– Por que não convida Ágata para nos acompanhar à festa de Hyoga? Essa seria uma boa oportunidade para vocês se verem e também para ela conhecer Seiya e os outros.
– Você acha mesmo que devo? – Ikki perguntou meio sem jeito.
– Claro, e por que não! Tenho certeza que ela aceitará o convite.
– Bom, pensarei a respeito... Agora vamos, pois estou sentindo muita fome!
Shiryu havia combinado com todos sobre a festa de despedida de Hyoga. Saori concordou prontamente em realizá-la em sua mansão, afinal, foi ali que tudo começou: toda a vida de Hyoga poderia ser contada por cada canto daquele lugar, principalmente no orfanato que ficava ao lado da mansão Kido. Seiya, Mino e Seika já haviam sido informados da decisão do amigo, e com muita tristeza confirmaram suas presenças na despedida. Shunrei estava ajudando Shiryu a organizar todas as coisas e a ela foi dada a difícil tarefa de contar a Eire sobre a decisão de Hyoga.
Eire estava em seu quarto. Seu olhar fixo nas estrelas significava claramente que a garota pensava em Hyoga. Havia se encantado com o rapaz desde quando o conhecera. Seu passado triste e sua vida amarga haviam inspirado em Eire um grande carinho, misturado a um fino sentimento de compaixão. Mas ela não sentia pena do cavaleiro, apenas acreditava que o amor que florescia em seu coração era devido à necessidade que sentia de curar a ferida na alma daquele rapaz tão belo e sensível. Eire estava tão compenetrada em seus pensamentos que se assustou ao ver a amiga Shunrei entrar.
– Ocupada? – perguntou Shunrei com uma voz triste.
– Não. Precisa de alguma coisa? – Eire respondeu, indo em direção a amiga.
– É que... Preciso conversar com você.
– O que houve? Aconteceu alguma coisa? Você parece triste e preocupada...
– Tenho algo a lhe contar. Algo muito importante sobre Hyoga.
– Sobre Hyoga?
– Sim, mas você precisa ser forte, pois sei que isso será muito duro pra você. – Shunrei disse com a voz quase rouca.
– O que houve com Hyoga? Ele está bem? Por favor, me conte. – Eire exaltou-se.
– Por favor, fique calma. Hyoga está bem.
– Então o que há de tão importante?
– Ele vai embora minha querida amiga – respondeu Shunrei com muito pesar.
– O que? – Eire sentiu as pernas um pouco fracas e o coração bater acelerado.
– Ele recebeu uma importante proposta de emprego no Brasil e decidiu aceitá-la.
– Mas por quê? Achei que ele gostava de viver aqui, perto dos amigos já que ele não tem nenhuma outra família!
– Shiryu me contou que Hyoga está sofrendo muito. Ele carrega dentro de si uma solidão imensa e o coração dele é carregado de dor e sofrimento. Parece que Hyoga está à procura de si mesmo, de algo que o faça viver novamente. De acordo com Shiryu ele decidiu aceitar essa proposta para tentar encontrar a verdade que ele tanto procura.
– Mas... Eu achei que... Foi tudo bobagem... Tudo fez parte de minha imaginação. – Eire disse enquanto por seus olhos escorriam lágrimas amargas de tristeza.
– Não fique triste Eire. Hyoga vai embora, mas isso não quer dizer que ele não sinta nada por você. Talvez ele realmente precise se distanciar um pouco para aliviar toda sua angústia. Talvez ele volte em breve e então vocês dois ficarão juntos. – Shunrei tentava consolar a amiga.
– Não tente mudar a verdade, Shunrei. Hyoga não se importa comigo, eu não ocupo nenhum espaço em sua vida e a prova disso é que ele está indo embora. Quando me apaixonei por ele, alimentei falsas ilusões. E hoje entendo que tudo não passou disso: de simples ilusões.
– Por favor, não pense assim. Você precisa dar tempo ao Hyoga. Somente saberá o que ele sente se você mesma perguntar a ele. Portanto, não fique alimentando essa dor e pare de fazer conclusões precipitadas. Amanhã faremos uma festa surpresa para ele, aproveita a oportunidade para conversar sobre isso.
– Shunrei, Hyoga nunca disse que sentia algo por mim. A culpada de meu sofrimento sou eu mesma, porque tive esperanças de algo que jamais poderia acontecer. Hyoga precisa seguir seu caminho e eu não o impedirei. Desejo que ele encontre o que procura e que seja feliz. Agora, por favor, se não se importa, gostaria de ficar um pouco sozinha.
– Eu entendo. Estarei aqui se precisar conversar. Sou sua amiga. Não se esqueça disso.
– Eu agradeço... – respondeu Eire que, ao ver a amiga se retirar do quarto, entrou em pranto profundo, sofrendo as dores de um amor que ela julgava não ser correspondido.
Deitado em sua cama, Ikki tinha em uma das mãos o celular, para o qual olhava incansavelmente, como se aquele pequeno aparelho pudesse lhe dar alguma resposta. Seu irmão caçula havia o aconselhado a convidar Ágata para acompanhá-lo na festa de despedida de Hyoga, e essa era realmente a vontade de Ikki. O problema é que algo o impedia de fazê-lo. Talvez tivesse medo ou então não se sentia completamente seguro sobre seus desejos. Novamente observou o celular, tentando encontrar a solução para o seu dilema. Num ímpeto de coragem, discou o número da garota e esperou ansioso pelo resultado. Segundos depois, ouviu a voz doce e singela de Ágata, do outro lado da linha.
– Oi Ágata, sou eu, Ikki... – disse ele ainda meio apreensivo.
– Olá Ikki, tudo bem? – Ágata respondeu com a voz um pouco trêmula e nervosa.
– Eu estou ótimo, e você?
– Estou bem, obrigada... – a garota respondia um pouco sem jeito.
– Eu estou te ligando porque gostaria de te fazer um convite, isto é, se você não estiver ocupada, claro... - Ikki esperava pela resposta da garota.
– Eu? Ocupada? Ah, não... Claro que não... Quero dizer... Bem, do que se trata?
– Um dos meus melhores amigos está indo embora e nós realizaremos uma festa de despedida para ele... Pensei então que esta seria uma boa oportunidade para que você conheça minha "família". Será amanha as 06h00min da tarde. - Ikki explicou, aguardando silenciosamente a resposta tão esperada.
– È claro que irei. Estou muito interessada em conhecer seus amigos e, além disso... Gostaria muito de te ver...
– Ótimo, então eu passarei na sua casa para te buscar, certo?
– Sim.
– Vejo você amanha, então. E, Agatha, também desejo muito ver você.
– Fico feliz em ouvir isso... Tenha uma boa noite Ikki.
– Você também.
Ambos adormeceram rapidamente, porém, não antes de analisarem todas as expectativas para o próximo encontro.
O dia amanheceu com um sentido diferente para Hyoga, pois aquele seria o último dia ao lado de seus amigos. Ao procurar Shiryu, viu que o amigo já não estava mais no apartamento. Encontrou apenas um bilhete que o informava de uma reunião na mansão Kido ás 6 da tarde, mas não dizia nada a respeito do motivo da reunião. Hyoga arrumou-se e resolveu andar pela cidade, visitando lugares dos quais não gostaria de esquecer, lugares onde viveu os melhores momentos de sua vida.
Todos os cavaleiros, com exceção de Hyoga, estavam reunidos para organizar os últimos preparativos da despedida de Cisne. O objetivo de todos era mostrar ao amigo que aquela era a sua família e que sempre estariam aguardando seu retorno. Gostariam de mostrar a Hyoga o quanto o amavam e o quanto se preocupavam com ele. Graças a uma grande idéia de Shunrei, todos contribuíram para montar um presente muito especial para o amigo, algo com o qual ele certamente se emocionaria, no momento certo.
Ikki se dirigiu até a casa de Agatha para buscá-la, já que Hyoga chegaria a qualquer momento na mansão. Ao vê-la, imaginou estar frente a um anjo, tamanha era a beleza da garota que sorria timidamente. Ikki reparou em seu olhar angelical e no brilho reluzente de seu sorriso. Estudou cada curva de seu corpo, escondido em um belo vestido de seda. Acompanhou cada movimento delicado de Agatha e recebeu ainda perplexo suas delicadas mãos, aonde depositou um carinhoso beijo, em forma de comprimento e respeito. Apesar da grande admiração, não disse nada a Agatha sobre o quão estava bela, pois sabia que a hora certa chegaria em breve.
Alguns minutos depois, quando todos já estavam reunidos, Hyoga chegou à mansão. Seu semblante triste não escondia a vontade imensa de ficar. Mas o cavaleiro sabia exatamente que este era o seu destino e que não havia outra saída além de ir embora.
– Hyoga, estamos todos aqui reunidos para nos despedimos de você e para mostrar que estaremos a sua espera quando resolver voltar. - Shiryu foi o primeiro a pronunciar algo.
– Meus amigos eu... Eu agradeço pela belíssima festa que me prepararam e agradeço por estarem aqui... Mas, sinto muito em dizer que... Que não posso ficar e desfrutar das suas companhias, pois... Pois devo partir imediatamente. - Lágrimas escorriam pelo rosto de Hyoga que visivelmente buscava uma forma de fugir daquele lugar.
– Mas Hyoga, o que está dizendo? - perguntou Shun - Sua viagem será amanha, ainda temos um dia!
– Eu preciso... Preciso ir, realmente. Gostaria que soubessem o quanto vos estimo e o quanto são importantes pra mim. Foram e serão sempre a minha família. E eu vou amá-los sempre por isso. Não se sintam tristes com a minha partida. Eu apenas estou buscando uma alternativa para minha vida. Obrigado por tudo. Adeus. - Hyoga virou as costas e saiu apressadamente dali, sem nem ao menos olhar pra trás e permitindo que as lágrimas escorressem por seu rosto.
Todos os presentes permaneceram imóveis, sem entender o mínimo da atitude extrema e decisiva de Hyoga.
(continua)...


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