—Ele não é qualquer um, ok? Isso não é um capricho. Eu o conheço há muito tempo. Repetindo, se você quiser me manter em segurança, não pode contar para ninguém.- Miguel assentiu. - O nome dele não é Matheus e ele só está aqui por minha causa. Nós nos conhecemos quando eu tinha três e ele cinco anos e crescemos juntos. Ele sempre esteve lá. Nós temos uma conexão que você não acreditaria nem se eu tentasse te explicar.

—E onde ele esteve esse tempo todo? - Perguntou Miguel.

—Um dia, no centro que a gente treinava, descobriram uma coisa…

—Espera! Achei que você não estivesse num centro antes.

—Me obrigaram a dizer que não estava. É uma história complicada que prometo contar assim que estivermos em segurança. Bom… Acharam que era importante me manter para eles. Me prenderam, me mandaram para um centro onde ele não me acharia e me ameaçaram. Eu tive que treinar com você como parte do acordo para ser liberada entre outras coisas. Desculpe mentir pra você, mas não tive escolha. É por isso que eu tenho isso. - Mirela mostrou o bracelete. - É um rastreador, caso eu queira fugir. Você tem que tentar entender. Eu não posso ficar sem ele e eu preciso da minha vida de volta. Eu descobri algumas coisas, coisas que você não vai achar que são verdade. Eu preciso de ajuda.

—O que eu posso fazer pra ajudar?  – Perguntou Miguel prestativo.

—Não posso deixar você me ajudar, você não sabe no que está se metendo.

—Então me conta, Mirela. Assim eu posso julgar se eu posso ou não te ajudar.

—Não dá! Eu não posso te colocar em perigo.

—Acredite em mim, eu já estou em perigo. Me deixe ajudar, Mirela.

—Não posso arriscar a sua vida também. Entenda.

—Entenda você, Mirela. Minha vida e a vida de uma pessoa muito importante para mim já estão em perigo. Eu PRECISO ajudar!

—OK, - Mirela fez uma longa pausa - por onde eu começo? Nós fomos tirados dos nossos pais, treinados e estamos passando por isso, essa convivência com os mortais. Bom… Depois eles vão apagar o que quiserem da sua memória e te juntar ao exercito que estão montando para dominar a raça humana.

—Mirela, esse é um assunto sério, sem brincadeiras. Me conte o que está acontecendo.

—Miguel, por que você acha que eu brincaria com uma coisa dessas?

—Porque se isso fosse verdade e soubessem que você sabe disso já teriam apagado a sua memória. - Respondeu Miguel.

—Vamos apenas dizer que eu sou diferente. Uma hora você vai perceber. E por algum motivo não podem me controlar. Por isso a pulseira.

—Se isso for algum tipo de pegadinha… - Mirela o cortou.

—Não é. Por que eu faria isso?

—Então me explique melhor.

—Você tem que jurar que não vai contar pra ninguém.

—É claro que não, Mirela.

—Eu ouvi, há alguns meses, numa noite em que estava treinando, alguém entrar no centro. Eu achei que fosse um jeito de escapar levando em conta que ninguém estava me vigiando, mas era a pessoa menos provável. Era O Líder. Ele entrou e eu não consegui ver seu rosto, mas ele não estava sozinho. Tinham pelo menos cinco outros elementares com ele. Eles foram direto pra sala da diretora e eu deixei de escapar para descobrir o que estava acontecendo. Ele entrou na sala dela e começou a gritar brigando com ela e perguntando como ela ainda não tinha conseguido encontrar os gêmeos. Demorei para entender o porquê deles serem tão especiais, mas finamente, depois de muito pesquisar, consegui descobrir. Eles são o último par conhecido que controla o ar. Eles são quase tão importantes quanto… Uma outra pessoa aí. Pelo que entendi, a mãe deles era uma elementar e sabia que eles seriam procurados no momento em que nasceram, por isso ela separou os dois e os colocou para adoção, assim poderiam ter mais chances de não serem pegos. A diretora falou que não precisava deles para cumprir a parte dela no plano e disse que logo eles conseguiriam mostrar o quanto os elementares são superiores aos seres humanos ganhando a guerra futura. Tem bem mais do que isso, mas acho que é o que você precisa saber.

Miguel passou alguns minutos pensando até então responder:

—Sabemos de uma coisa: Eles não podem encontrar os gêmeos. Qual é o seu plano?

—Eu e o Matheus vamos resolver isso. Tudo o que você precisa fazer por enquanto é se proteger e não falar sobre esse assunto com ninguém, nem com os meninos.

—Certo, mas quando souberem o que vão fazer eu quero ajudar.

—Claro! Vamos precisar de toda ajuda possível.

Disse Mirela e retornou a seu quarto para terminar sua conversa com Felipe.