A semana passou voando e o último sábado dos seis amigos no instituto havia chegado. Estavam todos em uma sala reservada somente àqueles em treinamento. Miguel estava deitado no colo de Mirela, Rafael e Henry estavam sentados no sofá e Sophia e Belle estavam jogadas em puffs.

—É o nosso último sábado aqui. O que querem fazer? - Perguntou Mirela.

—Eu e a Belle temos que terminar de arrumar nossas coisas. E pelo visto Henry e Rafael vão melhorar suas habilidades no videogame. - Disse Sophia.

—Parece que somos só eu e você… O que quer fazer? - Perguntou Mirela para Miguel.

—Podemos ver um filme… Assim que eu voltar. - Respondeu Miguel.

—Onde você vai? - Perguntou Mirela desapontada.

—Tenho que sair por um minuto. Antes das seis estou de volta. Aí eu fico até a hora de dormir te fazendo companhia, pode ser? - Respondeu ele e ela assentiu.

***

Uma voz ecoou por todo o instituto chamando Mirela a comparecer na direção. Ela saiu de onde estava e foi até lá.

—Bom dia, Mirela. Serei breve. Preciso que coloque está pulseira. É um rastreador travado com código. Uma vez colocada você não conseguirá retirar.

—Isso não faz parte do nosso acordo! Eu não vou colocar! - Respondeu Mirela irritada.

—Não é uma opção. Você continuará fazendo tudo o que eu mandar até que nosso acordo seja cumprido.

—Mas eu cumpri. O combinado era que eu viria para cá e treinaria com quem quer que estivesse precisando. Assim que o momento da inclusão chegasse eu poderia voltar para a minha vida. E eu cumpri a minha parte, Diretora.

—Não, você esqueceu uma parte muito importante. Você só seria libertada se atingisse o nível 20 nos treinos individuais. - disse a diretora com sarcasmo.

—Mas eu atingi. Eu estou no nível 20, exatamente como o combinado.

—E quem está mantendo as informações desses treinos particulares no meio da madrugada atualizadas? - disse a diretora sorrindo.

—Você não fez isso! Não pode me manter como sua propriedade. Eu sou uma pessoa! - Respondeu Mirela revoltada.

— Você é um ser humano muito especial e eu não vou te deixar ir até explorar a capacidade total dos seus poderes.- A diretora fechou a pulseira no punho de Mirela.

—Você sabe que se um dia eu tiver a capacidade total dos meus poderes eu acabo com você num estalar de dedos. - Mirela disse com ódio.

—Não se estiver sozinha. E eu vou garantir que fique. Se sair do Campus sem autorização a pulseira irá me avisar e vou fazer questão de matar seu amiguinho pessoalmente. Então, é melhor para os dois que você não o procure. - A diretora sorria com a vitória.

—Eu estou aqui há 1 ano 11 meses e 19 dias… e a cada dia eu vou ficar mais fraca até que você não consiga mais tirar nada de mim. Eu preciso de liberdade! Você vai me matar se me deixar aqui. Me deixe ir! Eu fico alguns dias no campus e depois digo que não posso mais e sumo. Não falo pra ninguém o que fez comigo se me deixar ir. Por favor. Eu preciso dele, é como se eu estivesse sobrevivendo sem ar. Eu estou implorando. Me deixe ir.

—Implorar não vai adiantar, já disse que preciso de você aqui. Veja pelo lado bom, você está sobrevivendo. E porque não esquece esse garoto? Você e o Miguel ficariam tão bonitinhos juntos. - Retrucou a diretora.

—Quando você vai me soltar? É isso o que eu preciso fazer? Ficar com Miguel? Então você me solta? - Disse Mirela desesperada.

—CHEGA! Ele fugiu, não te quer. Eu não vou te soltar, não até conseguir todas as informações que preciso. Agora saia antes que eu te proíba de ir para a inclusão na segunda-feira. 

—Quando eu tiver toda a capacidade dos meus poderes você vai ver quem vai mandar e quem vai obedecer! - E fechou a porta num estrondo.

***

Quando Mirela chegou em seu alojamento desabou em lágrimas. Não conseguia entender como tudo aquilo tinha acontecido nos últimos anos:

"Ele havia saído para se encontrar com os pais. O diretor recebeu um telefonema. Foi tudo que precisou, um telefonema. Assim que chamaram seu nome no microfone ela sabia, haviam descoberto. Ela se preparou para mentir, mas sua palavra não valeria mais nada. Seu novo objetivo era protege-lo. Ela entrou na sala e respondeu todas as perguntas tomando cuidado para deixá-lo de fora de qualquer suspeita. Aceitou o acordo em troca de proteção para os dois e arrumou as malas. Sobre a cama dele deixou um bilhete com uma palavra e um desenho: A palavra fuja e um coração. Pegou as coisas e saiu. Um mês depois descobriu que ele havia conseguido fugir. Ela sorriu."

Mirela ainda estava chorando quando a porta de seu alojamento abriu. Miguel entrou e olhou para ela. Quando percebeu, foi até ela e ajoelhou ao seu lado. Nenhum dos dois disse nada. Só ficaram ali. Miguel se sentou na ponta da cama dela e ela colocou a cabeça no colo dele. Depois de alguns minutos ela adormeceu. Ela sonhou que ‘Ele’ estava sendo assassinado na frente dela e acordou com um grito. Miguel levantou a cabeça assustado e ela voltou a chorar:

—Ei, já chega. Eu sei que você está sofrendo, mas você precisa se distrair. O que quer fazer? - Perguntou Miguel.

—A única coisa que eu quero você não pode me dar. - Chorou mais ainda.

—Eu posso te dar isso- Miguel se aproximou dela lentamente até seus lábios encostarem. Depois de alguns poucos minutos ela o afastou.

—Isso é errado. Nós dois sabemos que você não gosta de mim. - Disse Mirela- E a única vez que fizemos isso foi quando os dois estavam sofrendo. Me conte. O que aconteceu?

—Não posso ter meus segredos assim como você? - Perguntou Miguel.

—Acho justo. - Respondeu Mirela. - Só não acho certo ficarmos nos usando mutuamente para nos sentirmos melhor.

—Não? Tem certeza? - Mirela negou com a cabeça. - Então vem cá. - E voltaram a se beijar.