Online Dating escrita por Sunny Deep, Ally


Capítulo 18
Capítulo 18 // higher


Notas iniciais do capítulo

HEEEYY!
Chegamos em boa hora? Espero que sim, porque estamos MUUITO ansiosas para saber a reação de vocês depois de lerem tudo. Haverá surtos, ameaças, piruetas e tudo mais? Não sei, estou curiosa hahaha
Para todos aqueles que pediram por capítulos mais frequentes, estamos tentando dar um jeito nisso. Repararam que não demoramos tanto dessa vez? E que esse capítulo tá extremamente GIGANTE?! Pois é, espero que gostem! Não deixem de nos dizer o que estão achando, é muito importante ^-^

Perdoem quaisquer erros e boa leitura, guys s2



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capítulo 18

higher

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Rose sempre foi próxima do pai, na medida do possível. Ela era daquelas filhas meio desgarradas, que não insistia muito, que não era muito receptiva e que gostava de ficar na dela — mas mesmo assim, ela amava seus pais e irmão, não havia como negar. Quando terminou o Ensino Médio conseguia pensar em uma infinidade de faculdades, carreiras e profissões que queria de seguir; e eles disseram que a apoiariam, não importasse sua decisão. Porém, é claro, seus pais tinham a expectativa secreta de que sua filha, uma garota inteligente e sensata, escolhesse algo que garantisse um emprego estável. Ela, é claro, como qualquer adolescente sem saber para qual direção seguir, fez sua decisão pensando no que gostava e acabou não suprindo suas expectativa que, por regra, deveriam ser superadas — pelas regras e patamares de sua mãe, no caso.

Um ciclo de etapa seguindo de etapa fizeram com que o relacionamento de Rose e seus pais mudasse. Principalmente o de Rose e Hermione, que parecia estar sempre por um fio.

Sair da confortável casa dos pais não havia sido uma decisão tomada radicalmente. Ela passou quase um ano ali depois de começar a cursar a faculdade. Poderia dizer que foi uma das épocas mais confusas que ela já tinha passado, era a mais pura verdade. De um lado responsabilidades completamente novas, pessoas diferentes; de outro o sentimento de que sua escolha não havia sido o suficiente.

Com sua mãe, as alfinetadas se tornaram frequentes a partir do segundo semestre da faculdade de Letras. Hermione só então percebeu que Rose não iria desistir da ideia do francês, começou a ficar inquieta, despejando indiretas quando lhe era conveniente. Não que ela achasse que cursar tal coisa não fosse nobre de alguma forma, mas não se encaixava no sonho de ter uma filha de sucesso, em ascensão em alguma carreira. E não se encaixava no sonho de Rose estar no meio de um turbilhão de dúvidas e ainda aguentar sua mãe, quem por anos ela agradara, não aceitar um fato.

Rose não foi discreta quando começou com Dominique a procura de um apartamento legalzinho para se mudarem. Não achou que precisasse. Sua prima, naquela época, morava com a irmã mais velha na cidade — mas aguentar Victorie namorando Teddy na mesma casa por mais tempo estava fora de cogitação, ela dissera.

No meio de tudo isso, seu pai sempre havia sido aquele que tentava amenizar as coisas. Ele não havia sido contra a decisão da filha, havia feito o que prometera: a apoiara. Bom, de certa forma. Ele havia feito a mesma promessa à Hermione, quando se casaram, e quando duas pessoas que você ama estão de lados opostos, não há muito o que se fazer além de deixá-las resolverem seus problemas por si só, com raras intervenções.

Aparentemente, aquela era uma.

Rose entrou na cafeteria apressadamente, fugindo da chuva e do vento frio que deixavam o dia em Londres mais londrino ainda. Algumas gotas enfeitavam seus óculos, pra piorar a situação, e ela teve que respirar fundo para manter o controle. Certo, Rose, essa coisa vai ser esquecida num baú, dentro de um navio em direção à Itália, e você vai poder seguir sua vida fingindo que nunca mais usou esse óculos depois dos treze anos. Nunca.

Largou seu guarda-chuva no suporte ao lado da porta e levantou o olhar, em busca dos cabelos ralos de seu pai. Não conseguiu deixar de sorrir depois de ver o pontinho ruivo sentado em uma das mesas mais ao fundo.

— Rose! — ele sorriu, erguendo-se da cadeira e a abraçando. Ficou feliz por ter ele ali, naquele momento, fazendo exatamente como quando ela era criança. Mesmo sem conversarem por tanto tempo, nada impediria que o Abraço-de-Urso-Weasley tirasse o peso das costas dela. Não era como se o cansaço dos últimos dias e os problemas que rodeavam a mente de Rose tivessem ido embora do nada, eles continuavam ali, mas parecia que seu pai a ajudava a carregá-los. Pelo menos um tantinho deles. Pelo menos naqueles segundos em que ficaram abraçados. — Que bom te ver, filha.

— Também, pai. Como estão as coisas? O Hugo está bem?

Ele riu enquanto sentavam-se.

— Inventou que agora quer fazer vídeos para a internet, acredita?! Até me pediu ajuda esses dias, mas não fui muito útil. Acho que um idoso como eu não têm mais esse tipo de capacidade.

Ela riu, ajeitando a armação preta no nariz. Sentia falta de Hugo, por incrível que parecesse. Eles não estavam tão próximos assim, mas ouvindo aquelas asneiras que o pai continuava contando sobre o irmão — e que faziam total sentido já que eles estavam falando sobre Hugo Weasley — o aperto no peito foi inevitável.

Ela sequer se esforçara pra manter alguma relação com eles depois que saiu de casa, achando que daquela forma seria melhor, seria mais fácil. Sim, havia sido fácil, mas não o certo. Não pode deixar de dizer, em seus pensamentos, que maravilhosa pessoa ela era...

— De idoso o senhor não tem nada, pai, não precisa exagerar.

Orgulhoso como era, ele sorriu com a sentença da filha.

— Vi que voltou a usar óculos, eles não estão desajustados?

Tudo bem, era normal seu pai reparar naquela coisa tão chamativa que estava na cara de Rose, mas internamente esperava que ele não citasse os óculos na conversa. Pigarreou, coçando a bochecha.

Sim, estão — murmurou, envergonhada.

Um garoto com ar jovial mostrou o cardápio para ambos, e saiu logo em seguida após anotar os pedidos. Ela analisou o modo rápido e eficiente com que ele os tratara, pensando que talvez pudesse melhorar isso quando voltasse ao B&B. Ela sempre se confundia com alguma coisa. Principalmente com os nomes dos lanches, eles eram bem esquisitos.

A voz de seu pai lhe chamou a atenção.

— Sua mãe está pensando em dar a si mesma uma folga, já que fazem alguns anos que ela não para de trabalhar. — Rose retesou-se na cadeira, ao ouvir a menção de sua mãe. Seria sempre assim tão desconfortável? Esperava que não. — Acho que vai ser bom pra ela, talvez eu a convença de ir para algum país divertido dessa vez.  

— Tipo qual? — curiosa, esperando pela resposta. Eles viajavam para lugares divertidos, quase sempre.

— Um em que não tenhamos que visitar museus, talvez.

— Qual o problema com museus? — questionou, rindo. Era típico da mãe de convencê-los a visitarem locais históricos quando viajavam, tanto que até mesmo Rose havia se acostumado. — Museus são suportáveis, pai.

— Eu vejo gente velha todos os dias, já me dá alergia. — disse como se fosse um segredo ou uma sabedoria de vida, fazendo ela revirar os olhos. O garçom voltou e colocou dois croassnans e um café puro para seu pai, depositando a sua frente um cappuccino. Ronald suspirou, mexendo no café. — Mas então, Rosinha, como está sua vida?

“Minha vida, pai? Confusa, tirânica, estranha, complicada, confusa em dobro, e extremamente inesperada.”

Certo, não podia dizer aquilo.

— Acho que... diferente. — bebeu do cappuccino. Estava meio morno, mas decidiu não reclamar. — Com toda a certeza mais corrida e estressante, mas é final de semestre, tudo pode piorar agora. Ou depois. Mas tô me ajeitando, não se preocupe.

Ele sorriu.

— Eu sei. Você sempre deu um jeito nas próprias coisas, desde pequena, lembra?

Não. Era diferente. Aos doze anos suas preocupações eram diferentes, ela era mais confiante porque e sabia que seus pais ajudariam se precisasse. As coisas haviam mudado agora, ela sentia isso. Obviamente eles a ajudariam caso necessário, mas era a vida dela, ela tomava as próprias responsabilidades. Havia entendido já há um tempo.

— Ficamos sabendo que você começou a transferir a conta da faculdade para o próprio nome, mas Rose... Eu sei que você está dando seu máximo em busca da independência. Sei disso. Sei que está trabalhando e que a última coisa que quer fazer é aceitar nossa ajuda, principalmente depois de sua briga com a Mione. Só me permita te ajudar. — ela o encarou, ele estava sério, porém não parecia de forma alguma irritado. Falava como se estivesse a ensinando a andar de bicicleta. Ela gostava de bicicletas. — Sou seu pai, quando você nasceu eu sabia que não importava a situação, minha obrigação sempre seria te proteger e ajudar.

— Pai, onde...

— Me deixe te ajudar, você sabe que não é viável querer pagar coisas básicas com um pouco mais que um salário mínimo e ainda acrescentar uma mensalidade nisso. Eu prometi a mim mesmo, quando você estava no colégio, que pagaria. Você não pode tirar essa responsabilidade dos meus ombros.

— Eu não posso deixar você fazer isso, pai, eu tenho que...

Ele assentiu, como se ela não precisasse dizer mais nada. Como um Weasley, porém, não desistiria.

— Não precisa me responder agora, que tal combinarmos de você ir almoçar em casa, nessa semana?

Estava tudo indo muito rápido. Merda, ele continua esperto — reparou Rose. Seu pai costumava fazer aquilo quando queria convencer alguém: dizer várias coisas, deixar sua mente zunindo sem respostas concretas, e então lhe fazer aceitar alguma que não quer. Ou nem sequer dar a chance de se dizer “não” para algo.

Ela respirou fundo, deixando seus ombros caírem para a frente. Havia alguma possibilidade dele não a convencer de algo? Com anos de prática, certamente não.

— Certo, talvez isso eu possa fazer.

Ronald sorriu, como se dissesse para a filha que sua decisão havia sido espetacular. Ela, por outro lado, não tinha tanta certeza. Almoçar na casa dos pais? Óbvio, tudo daria certo, principalmente as conversas com sua mãe. Ah, sim, tudo seria espetacular.

Ela só esperava que nada acabasse quebrado, ou mutilado.

Pensou consigo mesma que estava sendo bastante otimista aquele dia.

 

.

 

Ronald a deixou na frente do Campus de Hogwarts, algo que ela agradeceu internamente (por causa da chuva), mas se recusou a admitir. No caminho aproveitou para ligar para os tios perguntando se conseguiriam enviar pra ela seu óculos reserva que estava na casa do Lago, quando fora visitá-los nas últimas férias. Após ouvir alguns relatos da tia ao telefone sobre os problemas que os inquilinos do pequeno apartamento (na França!!!) do qual era dona, conseguiu abrir uma brecha sobre o óculos. Não precisava colocar na ponta do lápis para saber que não conseguiria comprar novas lentes naquele mês, então a única alternativa que restava era continuar usando óculos. Não Theodor, é claro.

— Eu ligo pra você para marcarmos o almoço, Rosinha! — seu pai avisou breves segundos antes de manobrar o carro e serpentear pela rua cheia de poças irregulares. Ela agradeceu por ele não ter feito comentários exagerados sobre a armação preta no rosto, deixando-a mais confortável.  Bom, isso tudo bem, mas há chances de eu arrumar uma desculpa no último momento — pensou.

Sem querer se deter muito ao assunto, apressou o passo em direção à construção onde ficava o núcleo de Linguagens. Era uma caminhada e tanto, precisava admitir, e aquela garoa inclinada estava destruindo com qualquer expectativa de conseguir manter-se seca.

— Guarda-chuva inútil — resmungou para si mesma, se refugiando no prédio da secretaria, bem no inicio do campus. Checando o horário no relógio de pulso percebeu que ainda havia quinze minutos sem precisar se preocupar em chegar atrasada para sua próxima matéria. Ainda bem.

Deu uma olhada rápida nos informativos presos no mural de avisos sem saber ao certo o que procurar, simplesmente passando o tempo até o ritmo da chuva diminuir. Seus olhos brilharam quando viu um anúncio de doação de felinos, mas sabia que não havia chances de Domi concordar com aquela ideia. Riu também ao olhar o guia do campus de Hogwarts aberto, mostrando um conjunto de linhas e blocos coloridos, enumerados e citados mais ao canto inferior.

Onde estaria Scorpius naquele momento?  Talvez perdido em algum lugar ou meio de alguma aula chata e entediante? Estudando a anatomia teórica ou a de alguma colega?  Ou, e não conseguiu refrear esse pensamento, estava tão concentrado nessa última possibilidade que nem lembrava mais de Rose?

Na festa de Albus eles haviam quase se beijado, certo?! Ele não poderia ignorar sua existência ou algo assim. Mas... será que havia sido impressão da ruiva, e agora ela estava gastando suas sinapses com informações e pensamentos desnecessário sobre um garoto que nem sequer conhecia direito?!  Porque, obviamente, eles só... haviam passado por algumas situações constrangedoras. E definitivamente haviam começado com o pé esquerdo. Nada além disso.

Só alguns momentos estranhos em que se provocavam, ou alguém olhava fixamente para os olhos do outro e...

Estava tão concentrada que levou um susto quando sentiu mãos a chacoalhando pelos ombros. Sentiu os olhos saírem rolando das órbitas. Assustar as pessoas não é algo que boas pessoas fazem.

— Olha quem nós encontramos, maninho! — a voz animada de, e não demorou muito para reconhecer, Lorcan, invadiu os ouvidos da garota. Ela olhou para sua figura ingênua e divertida, e viu Lysander mais atrás, com um olhar hesitante.

Apesar do susto, conseguiu abrir um leve sorriso.

— Oi, gêmeos — abraçou Lorcan, o irmão que não a havia ofendido até então e o fez meio a contragosto com Lysander. Tentou não parecer tão ressentida com Lys por causa dos comentários da festa de Albus, mas não podia controlar sua mente, como já havia percebido. Ela pensava bastante, em muito pouco tempo, sobre infinidade de coisas. — O que estão fazendo aqui? Não se avisa aos amigos quando vocês estão voltando para a cidade onde viveram desde sempre? Isso é falta de consideração, viu.

Eles trocaram um olhar cúmplice, constrangidos.

— Bom, foi meio rápido... — iniciou Lys.

— É, exato, e nem estamos ainda em Londres, só viemos cuidar da papelada da transferência para Hogwarts no próximo semestre.

Rose piscou, percebendo o que eles estavam falando. Atônica, balbuciou o que conseguiu.

— Depois de anos sem uma mísera visita vocês vão morar aqui de volta?! Que merda é essa?

Talvez sua reação os tivesse assustado, porque as explicações vieram torrencialmente, emboladas entre uma frase incompleta e outra completando a seguinte. Tipicamente Scamander, como Rose se acostumou a chamar a peculiaridade dos irmãos quando estavam no colegial, eles tentaram explicar de sua maneira. Ela não os culpou, mas não deixou de demonstrar que havia ficado sim sentida por ninguém ter avisado a ela (e aparentemente nem a Dominique) da volta de ambos.

— Espero que não esteja querendo nos bater — Lysander apelou, talvez por saber que se alguma agressão acontecesse ele seria o primeiro a sentir na pele.

Rose manteve o olhar firme por mais alguns segundos, para logo então sorrir e puxar ambos, os abraçando. Talvez ela estivesse sendo querida demais, algo não muito sua cara, mas mesmo assim saber que poderiam voltar a conversar seguidamente com aqueles doidos era uma notícia que havia a deixado imensamente feliz.

— Vocês não mudaram em nada, sempre muito enrolados — comentou rindo ao soltá-los. 

— Você também não, continua com esses ótimos óculos aí — Lys falou, tirando qualquer sorriso do rosto da garota. Droga, aparentemente aquilo era a primeira coisa que todos iriam falar pra ela? Deveria ser menos trouxa com as pessoas, talvez elas parassem de ser ridículas com ela.

— Eles são provisórios — falou, decidida.

O barulho da chuva incessante parou, fazendo Rose olhar agradecida para o céu.

— Bom, vou indo pra minha aula, garotos. Nos falamos depois, viu?!

Eles assentiram.

— Sabe — ela ouviu Lorcan falar, com uma voz pensativa enquanto ela lhes dava as costas — Não sei bem ao certo se vou me acostumar de novo com essa cidade que chove demais.

— Você disse a mesma coisa quando a gente se mudou de Londres, lembra? Que nunca iria se costumar com uma cidade que não chove todo dia.

— Bem, somos exagerados.

O outro riu.

— Você é, eu sou maravilhoso.

Riu baixinho também, caminhando até o prédio de Línguas. Estranhou a movimentação e os burburinhos quando chegou em frente à sala onde ocorreria sua próxima aula, e quando se colocou na ponta dos pés pra tentar ver alguma coisa, alguém suspirou ao seu lado.

— Nem tentaria se fosse você. O professor passou mal e o pessoal da ambulância já deve estar chegando — Stella murmurou, estalando uma unha na outra em um ritmo irritante. — Ah, olha aí.

Os alunos que estavam em volta abriram espaço para os socorristas vestidos de branco, que entravam na aula.

— Se você teria aula com o Sr. Slughorn acho melhor arranjar outro passatempo, porque isso não vai acontecer tão cedo — aconselhou a garota Martinez, como se soubesse tudo. Rose franziu o cenho.

Quando a maca passou por eles com um professor com a face esverdeada nela, Rose não impediu uma careta. Esperava que ele ficasse bem, mesmo depois da nota deplorável que dera para sua última dissertação. Não sentiu muita raiva dele por ter feito aquilo. Não naquele momento, pelo menos.

— Certo, até depois, Rose — Stella sorriu, indo em direção à outra sala. Estranhando a atitude, porém sem vontade nenhuma de questionar, pegou o celular e mandou uma mensagem para Lily.

“Conversou com james?”

(Você)

“conversou com a domi?”

(Liloca P)

“Hm, não”

Realmente não haviam conversado. Depois da ligação do pai, na noite anterior, chegara muída em casa, louca por um banho e sua cama — mas dormir, mesmo, só aconteceu depois de enviar um edital para sua colega e imprimir seu trabalho de quinze páginas. Dominique não parecia muito animada com a ideia de fazer algo além de se trancar no quarto e estudar para suas cadeiras da faculdade, também. Rose soube o quanto ela estava concentrada nisso quando a ouviu inventando uma musiquinha para lembrar-se de alguns conceitos.

Tão Dominique.

Por isso, como em um acordo mútuo, deixaram a tal conversa que deveriam ter para outra oportunidade.

“Mas podemos fazer isso mais tarde, o que acha?”

“Passa lá em casa”

(Você)

“uh, pressão na loira pra nos contar toda a história?”

(Liloca P)

“Hahaha, não sua louca”

“Pra dizermos que apoiamos ela”

(Você)

“que injusto”

“eu tenho que apoiar domi transando com meu irmão e ele nem sequer pode apoiar meu namoro com felix pra dar uma ajudada lá em casa”

(Liloca P)

“Lily, dps você reclama”

(Você)

“certo, plano Jaynique primeiro”

“passo lá depois das cinco, já vai estar liberada até lá?”

(Liloca P)

“Só depois das sete, mals”

(Você)

“ih, tudo bem, posso posar aí?”

(Liloca P)

“Lily vc é mto enfiada”

(Você)

“mas nunca atrapalho”

“vou ficar quietinha no meu canto, juro”

“até dps”

 (Liloca P)

Deu risada, bloqueando o celular o colocando no bolso do jeans que usava. Suas aulas com Slughorn seriam as últimas do dia, então pegaria o ônibus em direção à Butter & Burguers e começaria a trabalhar. Talvez fosse mais cedo, ou perambulasse meio avulsa pelas ruas de Londres pra passar o tempo.

Não precisou de um minuto completo para que, no caminho até a rua, enxergasse de longe uma dupla de garotos que parecia conversar animadamente em sua direção, porém alheios a sua presença. Arregalou os olhos, os reconhecendo — mesmo com as péssimas lentes daquele óculos, era difícil não identificar o gingado do primo ao andar, e mais difícil ainda não se lembrar da aparência daquele outro garoto.  Girou rapidamente, dando meia volta e torcendo para que nem seu primo, nem Scorpius tivessem a visto.

Por algum motivo, o pânico a dominou.

Merda, não estava preparada pra encontrar o garoto, não naquele momento. Bastava andar mais rápido e entrar no primeiro banheiro feminino que enxergasse e não precisaria fingir que nada tivesse acontecido, nem mesmo que estivesse decepcionada por não ter realmente acontecido nada — e por ele não ter feito nada sobre isso também.

 Espera... O quê?!

— Hey, Rose!

Sim, mas é claro que eles a reconheceriam. Seu primo tinha uma intuição preciosa e invejável de fazer exatamente o contrário do que deveria, e Rose deveria estar acostumada com isso naquele ponto de sua convivência, mas não conseguiria o fazer em mil anos (provavelmente).  

— Que droga, Albus — sussurrou, sabendo que ele não a ouviria dali. Em mais um pânico extremo percebeu que não poderia se virar e esperar algo além de piadinhas do primo por causa de Theodor. Da última vez que eles haviam se visto ela estava normal, sem resquício nenhum de uma armação estranha e conhecida no rosto. Só algumas doses de álcool, nada demais.

Arrancou os óculos do rosto em um movimento brusco e os colocou da mesma forma do bolso do casaco, virando e sorrindo enviesado para os borrões que se aproximavam. Aja normalmente, Rose Weasley — pensou — como se você estivesse vendo tudo.

Os dois contornos andaram, lado a lado, e ela percebeu que odiou não poder enxergá-los direito. Porém, talvez, se semicerrasse os olhos discretamente, conseguiria vê-los melhor. Conseguiu focar no rosto de Albus, que sorria pra ela.

Ah, como Rose gostaria de enfiar aquele cara de pau na lama ali ao lado e ver se ele aprendia que não era pra incomodar os outros nas horas mais indevidas!

Não se atreveu olhar para o amigo dele. Estava evitando ao máximo qualquer coisa constrangedora (como, por exemplo, corar) depois da festa, e estava receosa, acima de tudo. Não o conhecia direito para saber se ele estava interessado nela ou havia sido algo puramente provocado pela bebida.

Ela era uma idiota insegura, mas não podia fazer muita coisa quanto a isso. O maior problema, porém, era que a presença dele ali era desconcertante, e a fazia lembrar perfeitamente dos detalhes daquela noite — como, por exemplo, das luzes coloridas que refletiam em seus olhos cinzas e...

— Matando aula? — o primo levantou uma sobrancelha. — Que feio, priminha, esperava tudo de você, menos isso.

Certo, ela precisava parar de pensar naquilo, parar de pensar nos dois na mesma frase. Não havia sido nada, havia?! Ele nem sequer havia a procurado depois, então tudo bem, tudo resultado da bebida e do clima envolvente daquela madrugada.

Não era a melhor conclusão a qual poderia chegar, e a última da qual ela queria que fosse verdade, mas tinha que parar de pensar nele. Não era normal.

— Meu professor passou mal, não tenho mais nenhum período agora. Então não, não estou matando aula, Albus. — respondeu, fazendo uma careta.

Ele pareceu empolgado com sua resposta, como se fosse fazer muita diferença para sua vida.

— Bom, se você não está, eu estou — falou, colocando uma mão no ombro de Scorpius logo em seguida, com uma cara séria. — Agora que eu achei alguém pra cuidar de você enquanto eu não tô perto, cara, vou aproveitar meu tempo livre pra tentar falar com aquela gata de Artes Cênicas. Sério, ela tá me dando muito mole. — encarou então a ruiva, que estava com a maior feição de surpresa, e estalou os dedos. — Rose, sua responsabilidade, tudo bem?! Você sabe, ele tem sérios problemas de localização...

Alarmada, tentou encontrar algum indício de que Albus estava sacaneando com a cara dela, e para sua infelicidade, não encontrou nenhum. Aquilo não iria dar certo, podia jurar que não iria. Ela e o cara que estava liderando seus pensamentos, juntos?! Estava perdida.

— Não, esper... — começou, com a voz engasgada quando o primo se afastou, mas logo olhou constrangida para Scorpius. Droga. Ela não precisava de muito para saber que aqueles olhos cinzas dele a fitavam, curiosos e questionadores. Pensando rapidamente, falou a primeira coisa que poderia reverter uma possível situação de desconforto. — Ele não tinha uma namorada?!

Ele ficou em silêncio por um tempo, pensando, então estalou a língua.

— Eleonor, eu acho, né?! Ah, sim, ele tinha. Parecem que estão em um momento complicado, mas acho ele não vai fazer nenhuma besteira. Albus não é um babacão.

Rose assentiu e deu uma risada pensando que, na verdade, Albus era um babacão em diversos sentidos. Ter deixado Scorpius com ela, por exemplo, o tornava um extremo babacão que não sabia nem ao menos disfarçar que estava praticamente empurrando um para o outro em um claro gesto de “se beijem”.

 Não que ela estivesse contrária a ideia.

— Ah, só um pouquinho — brincou, sabendo que Scorpius estava certo, mas sem conseguir se segurar. Mordeu o lábio, nervosa, mas as palavras pareciam sair facilmente de sua boca. — Então... eu virei babá agora?!

Ele riu, fazendo Rose se perguntar como poderia estar perdendo uma coisa dessas. Seus óculos pesaram no bolso, e ela sentiu uma coceirinha na mão que insistia em fazê-la ficar com vontade de colocar a armação para conseguir ver os traços de Scorpius mais uma vez — só por simples apreciação da biologia, claro.

— Você está livre agora, então?! Acabei de sair de uma prova, podemos fazer algo, o que acha?

Não conseguiu esconder o sorriso no rosto. Queria tanto não sorrir pra qualquer menção àquelas palavras dele, mas parecia impossível. Scorpius estava a convidando pra sair?! Aquilo pareciam extremamente interessante. Tão interessante que, simplesmente por ser interessante, ela sentiu uma revirada gostosa no peito.

— Tinha planejado ir mais cedo pra lanchonete, mas acho que tenho tempo até lá. Se eu fosse agora teria que trabalhar mais ou até mesmo morrer de tédio, então tudo bem.

— Ah, sim, eu posso deixar sua tarde nada entediante enquanto não chega o horário de ir pra B&B, fique tranquila — sorriu — e ainda te dou uma carona, que tal? Aceita?

Lembrou-se da moto de Scorpius, e de que nunca havia andado em uma antes. Na verdade ela acabaria aceitando o convite dele mesmo que envolvesse um cemitério e estranhas conversas, e perceber isso a deixou um pouco assustada, mas não a impediu de dizer sim. Um sim de sua maneira.

— O que as pessoas hoje em dia não fazem por caridade, né?!  — ajeitou sua bolsa no ombro e o acompanhou, sabendo que ele ria baixinho ao seu lado. Ela falava bobagens absurdas, não conseguia se controlar, ou controlar suas péssimas tiradas de humor perto dele. Tomando muito cuidado para não tropeçar em nada, andou ao seu lado em direção ao estacionamento onde sua moto estava.

Quando estavam chegando perto da moto, ela tropeçou em algo no chão e se desequilibrou um pouco. A mão de Scorpius segurou seu braço, a ajudando.

— Tudo bem aí? — ele questionou, sorrindo de canto.

Ele não podia sorrir daquele jeito pra ela. Era imoral.  

— Ahm-rã — balbuciou, constrangida, enquanto ele pegava o capacete e sentava distraidamente na moto. Era imoral também ele parecer tão bonito fazendo simplesmente aquilo. — Acho importante dizer que nunca andei de moto antes.

Scorpius fixou o olhar nela por uns instantes, sorriu e estendeu o capacete em sua direção.

— Me sinto honrado, Rose Weasley. Prometo levá-la em segurança.

Ela olhou para o capacete preto por uns instantes, meio hesitante ao segurá-lo.

— Preciso mesmo usar?! — questionou, sabendo que, mesmo sendo o correto, nos livros e filmes os personagens descreviam a sensação do vento batendo no rosto como inesquecível.

Ele riu, assentindo.

— Tudo pela segurança, ruiva.

Não deixou de sorrir com o apelido, mas então, enquanto colocava o capacete, algo a fez parar. O encarou estranho, como se algo no seu subconsciente tentasse lhe dizer algo, lhe alertar de algo. Lentamente colocou o capacete e se acomodou na moto, dizendo a si mesma que tinha caraminholas demais na cabeça e deveria parar de pensar tanto.

— Acomodada? — ele virou um pouco o rosto, ela reparou que ele sorria. Sorriu também, respirando fundo e sentindo o perfume dele impregnado no capacete.

— Claro. Pra onde vamos?

 

.

 

Rose sentiu a moto parar, mas não conseguiu soltar seus braços de onde quer que eles estavam agarrados — e sim, eles estavam agarrados no indivíduo a frente, que parecia não conseguir parar de rir do fato de ter uma garota assustada e provavelmente sem voz depois de gritar palavrões eternos àquela moto. E à ele.

— Rose, tá tudo bem, nós já estacionamos — ele segurava suas mãos, que não pareciam querer desgrudar uma da outra, e seu polegar fazia círculos nas costas delas (o que realmente eram um bom motivo pra ela não querer se mexer).

A garota abriu os olhos, respirando fundo. Não imaginava que reagiria daquela forma, por isso soltou-se de Scorpius e tirou o capacete.

— Tudo isso por um café? — questionou.

— Pelo que, aparentemente, é o melhor café de Londres. Eu pesquisei, sabia?

Ela riu, olhando para a fachada velha e descascada.

— Pesquisou o caminho também? — riu, vendo a careta que ele dava. Haviam perdido meia hora apenas tentando encontrar o café em que ele queria levá-la, mantendo absoluto segredo sobre qual era. No fim, bastava ele ter dito o nome do local e descobriria que a tal cafeteria havia fechado uns meses atrás.

Percebendo o suspiro de decepção dele, Rose deu uns tapinhas desajeitados nas suas costas. Era óbvio que queria sentar em algum lugar agradável com ele e passar uma hora fingindo estar em um filme francês. Sem preocupações, só boemia. Mas não se importou com o fato de não ter dado certo. Na verdade não se importou nem um pouco. Só a companhia dele, ali, havia tornado seu dia ainda melhor.

— Não têm problema, Scorpius, sério. — sorriu pra ele, que estava com o rosto virado em sua direção para vê-la. — Só que agora vamos ter que ir pra Butter direto, tudo bem pra você?

Ele assentiu, fazendo uma careta. Deu partida na moto e, sem dizer nada, foram em direção à lanchonete. A ideia de logo se despedir dele fez Rose querer não precisar trabalhar naquele dia, mas precisava cumprir com o combinado.

Quando ele desligou o motor pela segunda vez e ela desceu da moto meio desengonçadamente, faltavam apenas dez minutos até o inicio do horário dela na B&B.

— Bem a tempo — disse ela, sorrindo, sem saber ao certo o que fazer. — Valeu pela carona, apesar da experiência ter sido bem... diferente.

— Acabei destruindo sua tarde, né? — ele falou, com a voz desanimada. — Desculpa, sério.

— Que nada, fica pra uma próxima — respondeu, retirando então os óculos do bolso e colocando no rosto, para pelo menos não passasse por aquele dia sem vê-lo de verdade. Quando estavam na moto os detalhes eram perceptíveis e sua visão não lhe preocupou, mas seria como mentir para si mesma deixar de usar a armação feia para fingir algo. Aquela era ela, certo?! Gostasse ele ou não, ela era aquela Rose. A que usava armação feia e falava muitas bobagens.

Por mais incrível que fosse perceber aquilo, Scorpius não mudou de expressão ao vê-la de óculos. Continuou com a mesma mansidão no olhar, fazendo Rose querer muito sorrir. Talvez porque ele a fizesse sentir assim, tranquila e extremamente risonha. Ela gostava disso. Era bom admitir isso, pelo menos, para si mesma.

— Não, sério, desculpa — ele falou mais baixo, mantendo o olhar no rosto dela com uma intensidade que só ele poderia ter.  — Pela tarde, por ser meio bobão, e por não ter feito isso ainda.

Rose não entendeu a última parte, e quando estava pronta para questioná-lo sentiu a mão quente de Scorpius em sua nuca, a fazendo se aproximar, e então a pressão calorosa contra seus lábios, fazendo seu coração pular sem pressa nenhuma de parar com aquilo. Queria gritar um “MEU DEEEEUS” em plenos pulmões e não parar nunca mais.

Quando entreabriu os lábios e puxou-o pela camisa para ficarem ainda mais juntos, deixando o beijo se aprofundar, percebeu então o que eles realmente estavam fazendo. E, pelas ciganas barraqueiras que ela tanto adorava, ele poderia se desculpar quantas vezes quisesse que ela não se importaria nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

TEVE BEIJO SCOROSE SIIIIIM!

Alguém aí quer surtar comigo? sim? claro? Para os que quiserem, espero vocês nos comentários, super ansiosa pela reação haha!
E para os que quiserem me presentear (algo que eu super apoio, aliás), meu aniversário é no próximo final de semana e nós duas (eu e menina Ally) super apoiamos ganhar uma e outra recomendaçãozinha por aí, viu hehe :3

Obrigada, de coração, a todos que estão comentando e favoritando OD!

Um beijão, adoramos vcs s2



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