Online Dating escrita por Sunny Deep, Ally


Capítulo 17
Capítulo 17 // little talks


Notas iniciais do capítulo

Heeeey!
Esse capítulo já estava pronto há um tempo, devo admitir, porém como eu e a Ally estamos no meio de uma muvuca de trabalhos, provas, problemas e afins, acabamos deixando pra postar quando o sufoco passasse um pouco haha (no caso, agora).

Siim, esse capítulo, vocês vão perceber, tá mais extenso que o habitual (OLHA SÓ QUE BELEZURA), e a gente pretende continuar com isso, pelo menos. Fica melhor, mais completinho, mas bonitinho. Mas também queremos a opinião de vocês, tudo bem?! Então não deixem de comentar se preferem assim ou se não, a opinião de vocês é muuuuito importante pra gente ^-^

Alguns de vocês devem estar se perguntando "Senhor, cadê menina Ally?!". Então, o computador dela não tá funcionando, por isso os capítulos estão sendo postados ultimamente pela minha conta. Não se preocupem, ela tá viva sim haha!

Capítulo dedicado a todas as pessoas maravilhosas que favoritaram e comentaram o capítulo passado (meu coração é de vocês, ovelinhas)!

Boa leitura a todos!
E pra quem tava curioso pra ver se um certo loiro aparecia na sacada...



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capítulo 17

little talks

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Rose conseguiu convencer duas garotas que estavam namorando na sacada de que ela precisava ficar por alguns minutos sozinha, refletindo com o vento batendo no rosto. Agradeceu por elas terem sido compreensivas, e após voltarem para sala de Albus, Rose sentou no chão, encarando a rua iluminada pelos postes.

Odiava isso. Odiava quando tudo parecia estar indo bem e então alguma merda acontecia em sua vida. Por que tudo precisava ser complicado demais?! Ela não podia passar um tempo simplesmente levando as coisas do jeito como estavam? Levar uma vida, quem sabe, bem humorada?!

Aparentemente não.

Não bastava ela ser aquela bagunça por dentro, as coisas ao seu redor pareciam estar se assemelhando ao caótico mundo da mente de Rose Weasley. Ótimo, era tudo que ela precisava. Além de sérios problemas familiares incluindo afastamento da parte dela, uma lista de pessoas das quais ela definitivamente não deveria ter orgulhado em sua vida, climas esquisitos entre ela e um garoto que acabara de conhecer (ou quase isso), e uma melhor amiga tendo surtos como aquele nos dias mais incomuns. Tudo estava perfeito, que tal uma dose um pouquinho pior do inferno?!

Essas coisas ficavam rodeando e ocupando o tempo da garota. Rose só levantou da sacada quando viu, estupefata, um carro de polícia dobrando a esquina. Só podia ser brincadeira. Deu um pulo quando o automóvel típico parou na frente do prédio. Sem nem pensar duas vezes abriu a porta de vidro e correu para pegar seu casaco e bolsa no sofá. Não queria estar ali quando os policiais subissem.

— Ei, o que foi? — Albus a parou, parecendo realmente preocupado com o aparente estado da prima. Seu estado era tão ruim assim?! Senhor, ela precisava da própria cama. 

— Alguém ligou pra polícia — avisou, passando o casaco jeans pelos braços e a bolsa transversal pelo ombro esquerdo. Bateu duas vezes no ombro do garoto, como se isso fosse ajudar.  — Boa sorte, priminho.

Ele fez uma careta. 

— Ah, não, fala sério! Mas a música nem tá alta... — resmungou, enquanto corria para abaixar o volume de uma banda alternativa desconhecida que tocava no lugar.

Ela desviou rapidamente das pessoas que estavam a sua frente, acenando ou dando um rápido tchau para os que ela conhecia. Os poucos primos que estavam ali — algo nem um pouco surpreendente em uma festa de Albus, aliás — já estavam animados o bastante para não dar atenção a nada além das pessoas que estavam conversando. De longe conseguiu ver Scorpius sentado em uma cadeira de vime, com a cabeça encostada na parede e os olhos fechados. Achou graça daquilo, e apesar da ideia de ir cutucá-lo para checar se ele estava mesmo dormindo passar por sua cabeça, não deu atenção a ela. Aquele não era o momento para pensar em caras, em geral — mesmo que um deles, ah, deveria admitir, tinha quase a beijado.

"Rose, esse não é o momento pra pensar sobre isso" disse uma vozinha no fundo da sua cabeça "Agora não"

Certo, aquele não era o momento. 

 Abriu a porta e saiu, apertando o casaco quando sentiu a temperatura um pouco mais fria do corredor. Desceu as escadas com cuidado, temendo acabar tropeçando e provando que ela era extremamente fraca para bebidas alcoólicas. Por favor, ela podia beber alguns goles sem ficar tonta, é claro que podia.

Bom, em parte.

Quando estava no segundo lance avistou dois policiais subindo as escadas, e tentou agir normalmente, assentindo pra eles quando passaram. Não queria estar lá dentro, de jeito nenhum.  Ainda bem que havia visto o carro embicando na calçada a tempo, senão aquela madrugada iria ter mais problemas que sua mente conseguia suportar.

Abriu o portão da frente do prédio em um único movimento, e quase levou um susto com a pessoa que estava sentada nas escadinhas de pedras úmidas. Não precisou ver seu rosto para reconhecê-la. Os ombros largos e os cabelos em pé diziam por si só.

— Pensei que tivesse ido com Dominique pro apartamento — falou, com a voz cortando o silêncio que estava ali fora. Ainda podia ouvir alguns barulhos vindos do andar de Albus, mas nada expressivo.

— Não, ela foi bem direta quando me mandou parar de encher o saco dela, minutos atrás. — James comentou, tentando esconder o ressentimento em suas palavras. Rose respirou fundo, cogitando a ideia de não ser insensível ao deixá-lo sentado ali sozinho, mesmo que o pensamento de se jogar na cama fosse muito atrativo. Segurou a bolsa e sentou ao lado do primo, olhando então para o rosto cansado dele. Então havia sido isso que irritara Dominique a ponto dela agir daquele jeito?!

— Ela faz isso, às vezes, quando está concentrada em odiar alguém por um tempo. Não é o único, você sabe. Ela brigou comigo também. Por algo estúpido, provavelmente. Tão estúpido que eu nem sei o que é.

Ele olhou pra ela, pensativo, talvez cogitando a ideia de dizer algo ou não. Diferente de Rose, que precisava se concentrar um pouco pra falar normalmente, o motivo de sua demora não era a bebida. 

Foram longos segundos até ele tomar fôlego e abrir a boca.

— Nós estamos juntos, eu acho. — soltou o ar dos pulmões. Como Rose não pirou, como deveria fazer ao receber aquela informação, James deu uma risada nervosa. — E, é claro, você já imaginava isso. Eu disse pra ela, você seria a primeira a desconfiar.

A ruiva deu risada, olhando para os postes que iluminavam a rua.

— Na verdade quem descobriu foi a Lily, mas fico lisonjeada a ser a primeira a saber de verdade que vocês estão juntos. — disse querendo soar com certo tom de brincadeira, mas sua voz não saiu com tanta graça assim. — Sabe, mesmo não estando no clima, eu preciso dizer que eu apoiaria vocês desde o inicio. Mesmo com todo o negócio do incesto, que é algo bem estranho, devo dizer... Mas... olhando pra vocês... Combina, sabe?! Eu só acho que vocês não deveriam guardar segredo de todas as pessoas. Eu, por exemplo, odiei ficar sabendo com a Lily através de pistas. — ela respirou fundo. — É a decisão de vocês, eu respeito. Entendo também. Se for pra vocês ficarem juntos, então saibam se é isso que realmente querem. Porque apesar de eu estar louca pra estapear a Domi, eu amo ela, e não quero que ela se magoe. E você não pode magoar ela.

— Uau, você fala, hein! — ele brincou, recebendo uma revirada de olhos da garota ao seu lado. — Tá vendo essa pressão toda que você acabou de colocar em mim? É isso que eu vou ter que aguentar de todo mundo quando nos assumirmos. É por isso que combinamos desse jeito, pelo menos agora.

— Ué, tá com medo, Jay-jay?! — debochou, usando o apelido de criança do primo. — O meu primo corajoso-James-Potter, que zoava os que tinham medo de se arriscar na vida, está com medo justo agora?!

— Ha-há, estar com Dominique me assegura isso todos os dias. Ela é pirada, sério.

Ambos riram, ouvindo então a porta do prédio ser aberta e algumas pessoas passarem por ali. Rose não reconheceu nenhuma, mas com o silêncio vindo do prédio tudo indicava que a festa havia acabado. Pensou no tamanho do problema que Albus teria, mas logo lembrou da boa lábia dele, e em como ele acaba se safando dessas coisas — bem diferente dela

Olhou alarmada para o relógio no pulso, dando um longo suspiro ao ver os ponteiros indicando duas da manhã. Que maravilha, poucas horas para dormir e faculdade no turno da manhã. A cada momento que passava, as coisas estavam indo de pior à pior ainda.

— Isso é verdade, e eu estou indo pro mesmo apartamento que ela está agora então me deseje sorte. — levantou-se, bagunçando ainda mais os cabelos do James. Ele deu risada. —  Até.

— Até, Rose. Ah, eu fiquei sabendo que está trabalhando. Parabéns pela conquista Srta. Responsável, já deve ter percebido que é um saco, né.

Ela riu, já andando, e fez um positivo com a mão direita. Perguntou-se se James não tinha que trabalhar naquele dia, mas não fez nada além de continuar andando. Ele sabia o melhor pra ele, afinal. 

— Valeu!

 Se seu primo já estava sabendo, provavelmente seus pais também. Era como uma pequena batalha vencida, ou quase isso. Era por ela, afinal, que não possuía uma herança da avó materna como Dominique e os irmãos, ou que ainda estava na casa dos pais, como Lily e Hugo. Era por ela, porque seus pais não a ouviam, não respeitavam suas decisões, e porque ela precisava crescer. Ela precisava ser responsável e dona da própria vida, já estava na hora. 

Não se preocupou em fazer o máximo de silêncio possível quando chegou em casa. Se Dominique queria sair por aí mandando e gritando, tudo bem, mas ela tinha o direito de entender o porquê. Bufou ao olhar para a porta de Dominique e encontrar o típico cartaz que a loira usava quando tinha quinze anos, ainda na casa dos pais, com os dizeres “Não pense em me incomodar” em letras garrafais pretas. Andou até lá e bateu na porta sem se importar por estar sendo agressiva e insistente. Ou até mesmo chata.

Domi estava sendo infantil, portanto ela tinha esse direito.

— Dominique! — bateu mais vezes. — Abre a porta e vem conversar comigo.

— Agora você quer conversar? — a voz abafada da garota chegou aos ouvidos de Rose. — Você não parecia querer me acompanhar em qualquer coisa que fosse um tempo atrás. Quase uma hora atrás, pra ser exata.

Rose cruzou os braços se apoiando no batente da porta. Não aguentava mais aquela enrolação, precisava ser direta ou senão Domi continuaria com seu comportamento estranho. Era melhor falar o que já sabia, assim os segredos entre ela e Domi poderiam desaparecer, e pelo menos nessa parte da vida de Rose Weasley as coisas voltariam ao normal.

— E você não parecia querer falar sobre coisas que estão acontecendo na sua vida comigo. E isso já tem quase uma semana, pra ser exata.

Silêncio.

— O que você quer dizer? — a voz da prima parecia mais próxima, e Rose tinha certeza que ela estava quase grudada na porta. Tão Dominique... 

— O que eu quero dizer? — soprou uma mexa que estava em seus olhos. — Que você foi totalmente ridícula escondendo de mim que estava tendo um caso com o James e, ainda por cima, não me contou que Lys tinha voltado pra Londres. E não venha negar ambas as coisas.

A porta abriu abruptamente e a figura loira e descabelada surgiu na pequena fresta que havia sido aberta.

— Eu não sabia que o Lys tinha voltado pra Londres, tudo bem?! — disse, em um fôlego só. — Também 'tô braba com ele por causa disso, ele deveria ter avisado! Não se preocupe, vamos tirar satisfações com aquela criatura logo, logo.

— E sobre James? — insistiu, fazendo Dominique olhar desesperada para qualquer ponto do corredor que não fosse no rosto de Rose. A ruiva agradeceu, naquele momento, pela prima não estar mais usando aquele chapéu verde-musgo, senão de longe conseguiria segurar o riso ou manter a sobrancelha arqueada no estilo de interrogatórios de séries policiais. 

— O que tem James?!

— Sério que você vai insistir nisso?

Nem adiantou tentar esconder, Dominique e sua cara de surpresa e pânico tinha sido, pela visão de Rose, impagável. A loira arregalou os olhos, depois os semicerrou, para logo em seguida forçar suas feições a voltarem ao normal como se não soubesse mesmo sobre o que elas estavam falando.

— Eu não faço ideia... — suspirou, encarando Rose, e então revirou os olhos e abriu a porta por completo, dando-se por vencida. — Não era pra você ficar sabendo, não era. Era pra ser casual, e agora vai parecer que temos que ter algo sério porque os outros já descobriram. Eu não quero que role desse jeito, tudo bem? Não quero que seja forçado, não com ele. E outras pessoas poderiam descobrir e tudo acabaria se somando como uma bola de neve estrondosa!

— Eu não ia contar pra ninguém, você sabe disso! — se defendeu.

— Eu sei, tá bom?! — respirou fundo. — Não me faça sentir culpa por ter tomado uma decisão que era a mais certa.

Ambas ficaram se olhando, sem abrir a boca pra falar nada, por um bom tempo.

— Desculpa, tá?! Não quis ser uma vaca, mas... — a batida característica da Beyoncé surgiu em algum ponto de dentro do quarto de Dominique, interrompendo-as. — Olha, a gente precisa conversar sobre umas coisas. Coisas importantes. Me lembra amanhã, tá?

Rose abriu a boca pra contrariar, dizer que era melhor falarem tudo o que precisavam naquele momento, porém sua prima já havia pego o celular de cima da cômoda e encarava atentamente a tela.

— Foi mal, eu tenho que atender — disse, fazendo uma cara de desculpas e fechando a porta lentamente, ainda olhando para Rose.

— Não acredito, Domi! Nós precisamos... — grunhiu, fazendo um gesto com a mão, como se deixasse pra lá. — Vai, atende isso daí logo. 

Domi vez um positivo com o dedo, sorrindo agradecida. Disse um “valeu” mudo e fechou a porta por completo. Tempo o suficiente para Rose ouvir sua voz.

— Oi, James.

Pronto. Aquele era o aviso de que Rose deveria deixar aquela conversa para outro dia, ou então ficar ali na porta do quarto da prima por mais duas horas, esperando a garota terminar seu assunto com o “namorado secreto” — ou qualquer outra definição que não expressasse tanto compromisso assim.

Mesmo não gostando da ideia, ela se desencostou do batente e foi para seu quarto, largando suas coisas e sentindo a maciez do colchão. Não demorou muito pra que ela começasse a sentir seu corpo mole e pesado.

Ah, dormir era a solução pra todos os problemas! Principalmente aqueles os quais ela não queria pensar, nem um pouco. 

+

— O que é isso na sua cara?! — Domi arregalou os olhos em direção à prima, largando a caneca que estava lavando na pia, com surpresa. O barulho fez a cabeça da Rose doer um pouco, mas de uma forma suportável. 

 Ah, Rose quis que aquele dia não tivesse acontecido. Que houvesse alguma forma de voltar no tempo, de impedir a si mesma de ser tão problemática e desligada. Por favor, o que ela tinha feito de errado?!

— Não ria. Eu bato em você se ouvir qualquer risada — falou entredentes, largando a mochila transversal em uma das cadeiras e abrindo a geladeira em busca de alguma coisa pra comer. Enfiou sua cabeça dentro da geladeira, mas então sua visão ficou embaçada e ela não conseguiu se segurar: bufou logo em seguida. — Eu não mereço isso.

Retirou aquela coisa do rosto, encarando o objeto como se fosse o vilão de sua história. Ele era, definitivamente, o vilão — principalmente de seu orgulho. Não entendia como havia esquecido aquilo, mas quando se jogou na cama, ainda naquela madrugada, nem pensou em ir retirar suas lentes de contato, e agora estava assim. Olhos vermelhos, lentes estragadas e aquela monstruosidade para lhe fazer companhia.

— Eu tô realmente curiosa pra entender porquê você voltou a usar o Theodor. — a loira secou as mãos e se inclinou para pegar uma fruta na geladeira, alcançando para Rose logo em seguida. Com a careta da ruiva, colocou a pera na mão dela, como se a forcasse a comer. — É saudável, e nós estamos quase atrasadas.

— Eu não posso aparecer na faculdade assim — ela apontou para o próprio rosto, agora já equipado com seu antigo amigo da adolescência: Theodor, seu óculos de armação preta obsoleta e estranha.  — Eu tô horrível com isso aqui.

Domi não segurou o riso, assentindo. Não podia negar, ver Rose usando aquele óculos a lembrava da prima de uns dez anos atrás, que era bem diferente da que estava em sua frente agora — mas no fundo ainda continuava do mesmo jeitinho.

— Dominique, eu ainda tenho que ter uma conversa muito séria com você, e eu não te perdoei por completo, então... Você não pode rir da minha desgraça. — falou, largando a fruta em cima da mesa.

— Desculpa, é que... — ela tentou controlar suas feições, pigarreando logo em seguida. — Certo, eu concordo, precisamos conversar. Mas agora a gente precisa meter o pé daqui, anda!

— Tá, já tô indo! — resmungou, abrindo a prateleira e puxando um pacotinho de biscoitos. Analisou a embalagem e suspirou, não era o seu favorito, mas por causa do horário teve que se contentar com as tortinhas sem gosto e sem glúten que havia pego. Puxou a bolsa de cima da cadeira e correu até a porta, esperando Dominique sair também para que as duas não se atrasassem.

Rose Weasley estava, até então, controlada. Tentou não pensar muito na coisa presa entre suas orelhas e nariz, e o quão feia ela a deixava. Nossa, como nutria ódio por aqueles óculos! Se não tivesse esquecido seus outros, os de reserva, na casa de praia dos tios, não precisaria aturar o vexame pelo qual passaria até conseguir lentes de contato novas.

Merda.

Lentes de contato não eram baratas. Ela ainda nem tinha recebido o próprio salário e a primeira coisa que precisava já incluía algo nada acessível se comparado a que estava ganhando. 

Tentou não parecer paranoica consigo mesma, mas era praticamente impossível quando quase todos seus colegas de disciplina resolveram encará-la por tempo suficientemente desconfortável. E, ainda por cima, ela morreu de vergonha quando percebeu que o grau de seus óculos não condiziam mais com o que ela precisava pra enxergar, e teve que sentar bem a frente para começar a decifrar a letra de um de seus professores.

Exatamente como quando adolescente.

Sim, estava tudo dando errado naquele dia.

— Não sabia que usava óculos — Stella comentou quando acabaram se esbarrando na porta de uma das salas. Rose estava preparada para ouvir um comentário maldoso, como uma repetição de sua época colegial. — Acho que você devia mandar ajustar eles, estão meio... — Fez um gesto estranho com as mãos que Rose não soube interpretar. A garota não parecia estar caçoando dela, mas também não estava sendo querida para Rose considerar Stella um amor de pessoa (principalmente depois de sua conversa sobre um estágio em um escritório).

— É... Eu não costumo usar óculos, só quando imprevistos acontecem. — disse, desconfortável. — Por isso eles...

— É, eles não caem bem pra você. — completou Martinez, rapidamente, como se não fosse nada. — Deveria mandar trocar.

— Um dia desses, quem sabe. Tenho que me preocupar com algumas coisas antes, então... — estava pronta para ir em direção à sala XI, onde teria a próxima aula, mas a garota parecia realmente querer conversar. Estranha atitude, devido sua última experiência com ela.

— Você levou a diante aquela história de trabalhar em algum lugar? — Stella pareceu surpresa.

— Sim, e meio que meu trabalho não é um dos melhores. — respondeu, olhando para os lados. Stella havia debochado dela da última vez, dizendo que Rose ficaria bem sendo garçonete. Se a garota descobrisse que ela realmente havia se tornado uma, seu dia melhoraria mil vezes mais. — Preciso ir para a matéria da Helena agora, se não se importar...

— Até mais. — assentiu, entrando na sala em que Rose estava antes enquanto a garota seguia em frente.

No meio de uma das aulas chatas de Interpretação Linguística seus olhos captaram uma notificação quando a tela de seu celular ligou. Puxou o objeto para perto de si discretamente, e não impediu o sorriso quando viu a foto com o rosto cortado do loirosexy_ no push. Seus óculos deslizaram até a ponta de seu nariz, o que a fez colocá-los pra cima rapidamente.

“Afffffeee”

“Dor de cabeça, aulas teóricas e um péssimo humor matinal”

“Eu também esperava mais da vida”

“Ambos fomos iludidos”

— Loirosexy_

“Humor matinal?!”

“Eu não sei o que é, desculpe”

“Acho que acordei com oitenta pés esquerdos hoje”

“Quero minha cama”

— Você

“Isso é humanamente impossível”

“Mas a vida abre uma exceção pra você, ruiva”

“Eu acho, pelo menos”

— Loirosexy_

“Hahaha”

— Você

“Também quero minha cama”

“Não”

“Eu quero uma cama macia”

“A minha é horrível”

— Loirosexy_

Falar com loirosexy a fazia sorrir, e de alguma forma a ajudava com seu humor. Mas daquela vez, por algum motivo, falar com loirosexy a fez lembrar da noite passada. Ou melhor, da madrugada e da pessoa com quem ela passou boa parte dela — e lembrar de Scorpius, por algum motivo também, a deixava  estranha.

Quer dizer, era normal ela sentir suas mãos dando sinais de suor, certo?! Eles quase haviam se beijado, portanto era uma ação normal e completamente protetora, necessária para sua sobrevivência, e nada fruto de alguma ansiedade ou expectativa em relação ao garoto e seus quase beijos.

Rose Weasley era uma péssima mentirosa. Até mesmo para si mesma.

O que a deixava em parte aliviada era que seus prédios eram opostos. Medicina e Linguagens?! Muito pouco provável que se vissem ali, ou no enorme campus da universidade. Ainda bem, disse a si mesma, lembrando que ainda usava aquela coisa feiosa no rosto. Por algum motivo não quis que ele a visse usando o vergonhoso Theodor. 

Mas por algum motivo, também, se sentiu frustrada quando terminou seu expediente na Butter & Burguer sem nenhuma visita inesperada.

— Parece desanimada — comentou Florence, suspirando. Parecia mais tranquila depois de perceber que Rose já estava indo embora e até então nenhum prato ou copo havia ido ao chão.

— Cansada, mesmo. Tenho que conseguir uma consulta com meu oftalmologista ainda pra essa semana — disse calmamente, tirando o avental da lanchonete. Indicou o óculos. — Necessito de lentes novas, as minhas acabaram estragando.

A mulher assentiu, parecendo entender.

— Você fez um ótimo trabalho hoje, Rose. Está pegando o jeito.

A garota deu uma risada estrangulada, sem acreditar no que estava ouvindo. Ela era péssima como garçonete, apesar de se esforçar e dar seu melhor. Naquele dia ela só tentara não remoer seus problemas e se concentrar ao máximo no que estava fazendo. Pelo menos Florence a havia elogiado, era um início.

— Tudo bem, talvez eu esteja. Obrigada.

Saiu da lanchonete quando já estava escurecendo, e deu graças por haver lugares para sentar no ônibus. Estava morta, necessitada de um banho, de lentes — e ainda por cima precisava comprar apostilas novas e começar trabalhos que haviam sido distribuídos naquele dia. E conversar com Dominique. Precisava mesmo conversar com a prima.

Ouviu seu celular apitar, e deu risada quando leu a mensagem de Lily.

“como anda nosso plano Jaynique?!”

“alguma novidade depois da festa de ontem”

“?”

(Liloca P)

“Anda mais avançado do que imagina”

“OS DOIS me contaram a verdade”

“Acho que você deveria ajudar seu irmão, ele tá bem

tenso com essa história de compromisso com a domi”

“Teste suas habilidades com psicologia, não é seu sonho?”

(Você)

“ele é o cara formado em psicologia, idiota”

“eu sou só mais uma sonhadora que será futuramente ofuscada pelo brilhantismo do meu irmão”

“que droga pensar nisso”

(Liloca P)

“É...”

“Não tá sendo um dia fácil pra ninguém”

(Você)

Suspirou, bloqueando o celular. Seu dia tinha sido muito inferior à qualquer expectativa que pudesse imaginar ter, e ali estava ela, de novo pensando nos problemas. Ela, seus inferiores vinte e poucos anos, e uma mente pior que a bagunça familiar das irmãs ciganas que estrelavam em seu seriado favorito.

Sem nem pensar direito, por puro gesto automático, nem olhou para o visor da tela de seu celular quando ouviu o toque genérico que indicava uma chamada.

— Alô?

— Ah, Rosinha, tudo bem com você?!

Franziu o cenho, ouvindo aquela voz tão conhecida por ela. A mesma voz que embalara suas canções de ninar, suas histórias para dormir, e os sermões depois de alguma burrada. Ela não o havia ouvido fazia um tempo. Um sentimento reconfortante invadiu seu peito, junto com um comichão atrás do ouvido.

— Pai?!


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Notas finais do capítulo

Eu tava morrendo de saudades das aparições da Lily, por isso tive que colocar ela de alguma forma nesse capítulo haha :3

NÃO ME MATEM PELA FALTA DE SCOROSE, VIU, ACALMEM O CORAÇÃO QUE... Uh, spoilers... Não posso dá-los. Mas prometo uma coisa pra vocês: para capítulo que vem é melhor estarem preparados para algumas coisinhas por aí, viu.
Deixo no ar.

Theodor tem uma história bastante complicada com Rose. Vocês ainda vão ficar sabendo dela.

Um beijão pra todos vocês, até o próximo capítulo, viu!
Vejo vocês nos comentários :3