capítulo 13

these boots are made for walkin'

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O sono da Weasley ruiva que se mexia desconfortável na poltrona de um lado para o outro foi interrompido pelo som de sua notificação preferida, e logo o visor do celular que estava a menos de dez centímetros próximo de seus olhos semiabertos. A única coisa que Rose via eram as letras borradas, esfregou as pálpebras tentando se recuperando do jeito quase que brusco que havia acordado de seu cochilo.

“Voce ssabe q dia é hj?”

— LoiroSexy_

Rose parou por um tempo e olhou em volta, se inclinando para trás e encostando suas costas na cadeira. O relógio mostrava que já havia passado da meia noite, portanto não era mais segunda-feira. Seu trabalho de francês - ainda incompleto - parecia um sacrifício ( e incrivelmente chato) e a única alternativa que seu cérebro encontrou para se livrar dele foi fazendo a ruiva dormir com o laptop no colo e em uma poltrona barata.

Rose ficou com raiva de si mesma.

“É madrugada, não faça nenhuma pergunta difícil”

— Você

“Vamso lá, nerdzinha, pnse um pouco”

— LoiroSexy_

“Madrugada de terça e manhã de quarta”

“Tá bom assim?”

— Você

“Nosssa vc tava dormindo?”

“Eu te chsmei de nerd e você nem reclamou.”

— LoiroSexy_

“É inicio de semana, claro que eu tava dormindo”

“HAHHAHA, amanhã eu te xingo por causa disso”

— Você

“Ya bom, amanha sem falta ok?”

— LoiroSexy_

“Seus dedos estão inchados ou você tá bêbado?”

— Você

“Segnda opcao”

“Meus nvos amigos são tão maneeeeiros”

— LoiroSexy_

“Você embebedou td mundo???”

— Você

“Não, acho q foi contrariio n lembro direito.”

— LoiroSexy_

“Acho que foi vc, impossível acreditar que eles não foram as vítimas”

— Você

“Ai, 3essa doeu”

“N sou do mau caminho, sou legals”

— LoiroSexy_

“Tu não tá dirigindo, né?”

— Você

“nAAAO, MEU MIgao que tá”

— LoiroSexy_

“Ah, tá, ainda bem”

— Você

“Preocupads cmg?”

— LoiroSexy_

“Cê bebeu demais, só pode”

“Tchau, loiroo”

— Você

“Uhum to sabendo”

“Tchsau ruivinha”

—LoiroSexy_

Ela respirou fundo e deu risada do quão boba parecia quando conversava com ele e o poder que ele tinha em fazer ela ficar com o mesmo sorriso no rosto só de pensar nele e nas conversas idiotas que tinham.

Ele era um completo estranho, tirando o fato de que conhecia mais dela do que qualquer outro desconhecido. Um estranho e ao mesmo tempo seu melhor amigo.

O apartamento estava tão quieto que Rose Weasley quase morreu de um ataque do coração quando ouviu a porta abrir em uma batida só. Ela levantou rapidamente da cadeira e se sentiu aliviada ao se deparar com uma Domi levemente alterada tirando suas botas cano alto na sala de estar bagunçada.

— ROSE QUERIDA! — a loira veio em sua direção e a abraçou desajeitadamente. Ela cheirava a álcool. — Aproveitou bastante a noite?

— Você quase me matou de susto Dominique. — resmungou. — E a resposta é não. Eu não aproveitei a noite como todo mundo parece ter feito numa terça-feira!

— Ai Rô, que coisa chata. Qual é o problema de sair no início da semana? E eu nem bebi quase nada, Jay me impediu no final das contas. Ah — ela deu uma risadinha — eu não fui a pior que saiu de lá, tá?

— Eu imagino. Mas viu, agora é Jay? — Rose perguntou, vendo a prima deitar no sofá.

A loira deu outra risadinha como se aquela fosse a pergunta mais idiota de todas. Como se a resposta fosse totalmente óbvia. Ela fechou os olhos, sonolenta, e então respondeu.

— Que pergunta, Rose... Sempre foi o Jay.

“Jay”

Ela sorriu, percebendo o duplo sentido naquela frase. Rose sorriu porquê acabou se dando conta que na verdade era James. E era exatamente por causa disso que Domi não havia dito nada. Porque era James.

— Sabe, Domi, eu acho que vocês já poderiam parar de... — o som de um leve ronco da prima preencheu a sala quase que silenciosa. Rose não conseguiu segurar a risada enquanto se dirigindo para seu próprio quarto. — Acho que James deveria saber que você ronca antes de vocês se casarem...

Bocejou, se jogando na própria cama e sentindo as molas cederem um pouco. De manhã teria de acordar mais cedo para conversar com a prima - se é que aquilo fosse possível - Domi assim que ela acordasse.

E foi não foi exatamente o que aconteceu.

A garota acordou com o barulho de algo caindo no chão, e pela janela pôde ver que era bem cedo. Checou no relógio. Seis e meia.

Cedo demais.

Levantou e depois de sair do banheiro, dirigiu-se a cozinha.

— O que está fazendo?

Se Dominique possuía um pouco de olheira quando acordara naquela manhã, a maquiagem foi o suficiente para sumir com elas. Apesar dos olhos um pouco inchados, nenhum indício de ressaca aparecia em seu rosto.

— Acordei cedo, apenas isso. — respondeu com um sorriso maroto no rosto e mostrava com a cabeça alguns pedaços do que antes era uma caneca, na pia. — Deixei cair sem querer. Era a minha favorita.

— Meu Deus... Tem que colocar no lixo. Uma pena ter sido essa e não aquela coisa que você chama de caneca que eu ganhei de amigo secreto no Natal.

— Nossa, bem que poderia ter sido aquela, né? — deu uma risada fraca. — Que droga. – Dominique falou com um tom pesado como se a culpa tivesse tomado lugar de toda a sua energia. Ai ela voltou a ser Dominique.

— Na minha opinião você só acordou porque ainda tem um pouco de bebida alcóolica na sua corrente sanguínea.

— Rose, eu não fiquei bêbada, só estava animada além do normal. — ela desligou a cafeteira. — Quer café?

Rose assentiu, e após pegarem xícaras, as duas sentaram na mesa.

— Não consegui terminar nem 50% do meu trabalho sobre a importância da cultura francesa para ingleses, e também não dormi direito. Espero que minha cara melhore ao longo do dia, não posso aparecer na lanchonete parecendo um bicho atropelado como agora.

Dominique arregalou os olhos e bateu a palma da mão na boca como se tivesse acabado de se lembrar de um segredo de estado.

— Droga, droga, senhor como eu sou burra!

— O que foi, Domi?

Ela levantou e apontou diversas vezes em direção à Rose, que estava começando a pensar se sua prima estava louca ou não.

— Fala logo!

— Tá, assim, Rose. Eu deveria ter dito isso ontem pra você, mas a questão é que... — ela revirou suas mãos e fez uma cara de mistério. — Prepare seu coração para a informação que vem a seguir. Ela é forte. Pesadíssimaa.

Rose deu risada, imaginando que finalmente sua prima iria contar seu caso de amor com James para ela. Seu humor até melhorou. Dessa forma seria muito mais fácil do que a Weasley chegasse para a prima e contasse que já sabe de tudo.

— Tudo bem, fala. O que aconteceu?

— O que aconteceu?! Rose, tudo aconteceu! – a estudante de medicina exclamou.

Rose assentiu novamente, esperando que ela continuasse. Dominique revirou os olhos e colocou a mão na cintura.

— Meu Deus Rose, agora você tenta chutar o que aconteceu....

— Ah, tá... Ahm, alguém morreu?! Finalmente descobriram que nosso vizinho tem um gato de estimação? A inflação diminuiu? – Rose fingiu tentar enquanto sua prima só negava com a cabeça. — Desculpa, não sei.

Mesmo sabendo que Dominique era a definição de “Drama Queen” na Terra, não imaginava que ela faria todo esse show para contar sobre James... Certo, Dominique era seu nome, seu apelido era Furacão e sobrenome Levemente Narcisista. Ela sempre dava um jeito de fazer as coisas mais dramáticas do que elas realmente eram, e deixar todo mundo ao redor ansioso e nervoso poderia ser considerada sua especialidade. Rose sabia muito bem que Dominique adorava fazer aquilo e ter atenção para si.

— Rose... Você... Meu Deus... Você não tem ideia do que eu descobri. – A loira falou arrumando o cabelo bagunçado para trás e se mexendo de um lado para o outro como se ainda não conseguisse acreditar no que havia descoberto. Ou melhor, lembrado que havia descoberto.

— Direto ao ponto, Domi.

— É o Scorpius! – Domi revelou ansiosa. — Scorpius! Rose, é o Scorpius! Eu deveria ter contado antes, mas...

E então por um segundo o mundo parou um pouquinho para os devaneios de Rose Wealsey. Que merda o Scorpius estava fazendo naquela equação toda? Era Dominique + James sendo revelado naquele exato momento, e o que aquele mutante estava fazendo na conversa? Um intruso, claro. Ou não? Será que todo aquele tempo Domi estava tendo algo com Scorpius e a gravata de James só estava lá por coincidência? Meu Deus... Dominique estava saindo com Scorpius, o mutante?

— Espera, espera. O que ele tem a ver com tudo isso?

Rose tinha ficado tão vidrada e animada com a ideia de sua prima lhe contar sobre seu relacionamento escondido que nem havia percebido que o assunto não era esse.

— Como assim? Tudo a ver, garota!

“Que, como assim?” pensou a ruiva. “Não faz nenhum sentido.”

— Lembra que você me contou que tinha alguém que ia competir a vaga com você nessa lanchonete que você tá tentando arrumar um emprego? Então... — ela sorriu abertamente quando o rosto de Rose finalmente se clareou para aquilo.

— Espera aí, como assim? Nada mais tá fazendo sentido, café não te faz bem Domi — disse colocando a xícara o mais distante que podia da loira, se virando completamente para a prima. — Explique melhor Dominique. – Rose falou com voz quase como a de uma autoridade.

— Então, ontem eu fui jantar com Ja... os garotos. Tava tudo muito bom, tudo ótimo, até que eles começaram a implicar demais com Scorpius e resolveram fazer um ritual de iniciação muito louco. E no meio disso tudo, Albus fazia piadinhas do novo trabalho do Scorpius, e aí eu me toquei que era no mesmo lugar que Lily te levou!

— Você só pode estar pirando, Domi. O mutante não parece o tipo de pessoa que trabalha, você sabe, Albus já comentou com você que os pais dele são bem riquinhos.

“Será que o papai cortou a mesada?” Rose pensou internamente, se recuperando daquela informação de que seu concorrente era ninguém mais, ninguém menos, que o cara que (por pura zoação do universo) fazia ela passar vergonhas inimagináveis.

— Eu sei! Também achava que ele, sei lá, cagava Iphone... Mas acho que você deveria ser menos maldosa com o coitado, você já conversou com ele, sabe que ele é legalzinho.

Legalzinho. É.

— E o que Albus tem contra garçonetes? — perguntou, puxando a xícara e tomando um gole.

— Eu não sei, quer dizer, elas são muito importantes e é um trabalho muito digno para nosso estômago. – Domi disse refletindo, mas logo voltando o foco para a história. — Agora espero ansiosamente por um “obrigada” da minha prima por eu ter dado essa informação crucial para ela ficar com esse trabalho, e para estar com vantagem e seu querido mutante não. De nada.

— Ele não é “meu querido mutante”. Sequer meu ele é. Se você continuar com esse papo de Scorpius e Rose pra lá e pra cá eu vou te fazer se arrepender.

— Ui, que medo! — gargalhou, fazendo a prima rir um pouco também. — E eu nem tinha começado com a implicância. Eu deveria implicar mesmo é com você e o loirosexy_, não pense que me esqueci dele.

— Sério, Domi, você deveria se arrumar para dar uma caminhada pelo quarteirão enquanto dá tempo. — apontou para a porta da frente. — Loirosexy é meu amigo e só isso.

— Nossa, você nem hesitou em afirmar isso. Acho que a presença de um certo mutante por aí...

— DOMINIQUE!

— Parei, parei.

Rose deu risada, percebendo o quão absurda sua semana tinha começado. Seus primos indo à uma pizzaria em plena segunda; loirosexy bêbado; Dominique bêbada também; e tudo contribuindo para sua prima contar sobre seu caso secreto não tão secreto, porém o mais incrível ainda era o fato de que Scorpius era seu concorrente na Butter and Burger — droga.

Ela não sabia se assim era melhor, ou se ter uma pessoa desconhecida deixaria a situação mais fácil. O que ela tinha certeza era de que conseguiria o emprego. Se o mutante podia sair numa segunda-feira a noite para beber, era injusto ela ter de ficar em casa fazendo trabalho da faculdade para no final das contas ter que ir atrás de anúncios nos jornais novamente. Ah, não.

Rose Weasley queria aquele trabalho mais que tudo, ah se ela queria.

Na faculdade Rose sequer viu Scorpius — provavelmente porquê ele estudava em um dos prédios opostos do dela, e preferiu não perguntar à Dominique se ela havia o visto, sabendo que a garota faria alguma piadinha desinteressante. No final do dia, após conversar com alguns colegas sobre as atividades para aquela semana de seu curso, Rose saiu apressada para não chegar atrasada na lanchonete.

No final das contas teve que pegar um ônibus até lá, e deu graças a deus por chegar apenas três minutos atrasada na parada mais próxima do local. Diminuiu o passo ao chegar perto da porta de entrada, e conseguiu ver a cabelereira loira de um certo garoto.

Por um momento deu risada. Apenas Lily e Dominique sabiam que ela tentariam a vaga, e as duas não haviam contado para ninguém. Como a prima mesmo havia dito, ela estava em vantagem.

Abriu a porta e o sininho tocou, indicando sua chegada. Florence estava com seus cabelos cacheados presos em um coque e sorriu para ela, amistosamente.

— Ah, querida, que bom que já chegou!

Ela balançou a cabeça, cumprimentando-a também. Scorpius virou para ela e arregalou os olhos, desnorteado.

Definitivamente ela estava em vantagem. Uma vantagem mínima, mas mesmo assim uma vantagem.

— Olá, Scorpius. — sorriu abertamente e estendeu sua mão para ele.