"O amor é um mestre admirável que nos ensina a sermos o que nunca fomos; e, muitas vezes, com as suas lições, muda completamente, num instante, os nossos costumes." (Jean-Baptiste Poquelin - Molière) 

Nem um de nós dois dormiu aquela noite, ficamos deitados na cama abraçados – ficávamos em silêncio enquanto os minutos passavam.Eu estava deitada em seu peito.Ele fitava o teto enquanto eu estragava sua camisa com minhas lágrimas silenciosas, eu fitava o vazio —emergida profundamente em meus pensamento assim como ele também deveria estar-- as lágrimas escorriam sem pausa pelo meu rosto. Eu suplicara em minha mente para que aquilo que estava acontecendo fosse apenas um pesadelo e eu estava prestes a acordar. Eu queria acordar e ver que tudo estava normal, que tudo estava como deveria estar, acordar com o bip irritante do meu despertador barulhento, descer as escadas da minha casa, tomar meu café e ver David tocar a campainha pronto para irmos juntos à escola e eu abrir a porta para ele e ele der aquele sorriso perfeito que eu adorava, aquele sorisso que me fazendo sonhar...

                     “Por favor... alguém me acorde!”

Quando fui deixar David na estação de trem fui com Robert e Phil-- nossos dois melhores amigos-- eles estavam sempre conosco nas melhores e nas piores horas.E é isso que eu mais admirava neles.Eu tenho muito a agradecer a eles, mais não tinha as palavras certas naquele momento. Os últimos dias não foram fáceis, eu ficara ao lado de David o tempo todo – mais do que costumava ficar. Não falávamos muito sobre a “nossa separação” e nem sorrimos como sempre sorriamos um para o outro sem motivo aparente, apenas damos as mãos um para o outro e rezávamos em nossos pensamentos para que o nosso tempo juntos expandisse. David, Robert, Phil e eu conversávamos na estação como se nada estivesse acontecendo, como se fossemos nos ver amanhã para sair mais uma vez— apesar de nós quatro sabermos que aquilo provavelmente nunca mais iria acontecer(pelo menos não com nós quatro especificamente). -- Que sede!Meus lábios estão secos preciso beber alguma coisa.—Disse Phil David e Phil o encararam meio feio.Até que eu falei:

--Quer que eu compre uma água para você?—eu disse sorrindo.

-- Não.Quero um refrigerante, é melhor—disse Phil como um menininho mimado pedindo pra mãe que lhe compre um doce.

--ta, ta qual refrigerante você quer?

-- Não Alice! Deixa ele comprar com o dinheiro dele.—disse Robert advertindo

--Não! Robert seu estraga prazeres!—disse Phil nervoso

--Phil, você deveria tentar ser menos folgado sabia? — Intrometeu-se David

Phil deu de ombros e nós: David,Robert e eu rimos

Ficamos conversando — falando besteira na estação,Até quando foi feita a ultima chamada para o embarque dos passageiros do trem de David.

--Está na hora — eu disse com um sorriso tímido na boca junto com a tristeza em meus olhos.

Naquele momento veio a lembrança na mente de nós três dos dias felizes e tristes que passamos ao lado de David (como um flash back )— e nós sabíamos que aquelas lembranças provavelmente nunca seriam vivenciadas de novo depois que ele cruzasse a porta daquele trem.

Após o sinal de embarque David aproximou-se de Robert e Phil para despedir-se de nossos amigos, Phil franziu o rosto e deixou que as lágrimas escorressem visualmente pelo seu rosto enquanto Robert baixou a cabeça e a única coisa que se era possível ver eram gotículas brilhantes caírem de seu rosto escondido. David manteu-se sereno ao despedir-se de nossos amigos pelo menos é o que ele transmitia pra mim—serenidade.

Logo após David se despedir de Phil e Robert ele me encarou com seus olhos brilhantes feito esmeraldas e senti um forte calor úmido nos olhos, mais apenas franzi a testa e respondi ao seu olhar.Ele me deu a mão e nos dirigimos até a porta do trem deixando para trás nossos queridos amigos, David virou-se para mim enquanto andávamos e ele me mandou um sorriso tímido como se quisesse me confortar eu retribui o sorriso com o calor nos olhos a ponto de transbordar. Paramos na porta do trem e David me abraçou, pude sentir a respiração irregular dele em meu pescoço, senti seu coração batendo rápido demais, senti o cheiro que vinha dele—o cheiro da perfeição. Ele me apertou para mais perto de si enquanto eu apoiava minha testa em seu ombro. As lágrimas escorriam pelo meu rosto—elas surgiram sem eu a o menos perceber. Eu apertara seu ombro com tanta força que devia estar sufocando-o, mais ele não reagiu a isso.Nos beijamos em um beijo tão intenso que acelerou ainda mais nossos corações.Aqueles abraços e beijos eram claramente os últimos. E quando meus lábios pararam de se movimentar em sincronia com os de David. Ouvi uma sirene indicando que os passageiros embarcassem.