"Amar alguém é ser o único a ver um milagre invisível aos outros." (Mauriac)

--O que você vê? – Perguntou –me David ao “pé do ouvido” deitado ao meu lado no imenso gramado do parque.

--O Sol, um imenso Céu azul... —Eu respondi.

--Não é isso que eu estou falando... —Ele retrucou—é outra coisa que há no céu

--As nuvens?--Eu perguntei reparando que não havia mais nada além disso.

--É – ele sorriu feito uma criança feliz olhando para elas agora—E então o que você vê?

--Como assim o que eu vejo? Eu já disse—Disse á ele virando o rosto para seu lado encarando-o agora

--Não acredito que nunca brincou disso!—Ele disse ainda com um sorriso infantil estampando o rosto—Olha vou disser o que eu vejo e você vai entender...

Eu aguardei confusa e curiosa o que ele ia falar. Não estava entendendo nada, ele vem em minha casa com um sorriso enorme e diz para eu ir ao parque com ele que era importantíssimo mais no final das contas foi só para eu ficar deitada ao seu lado na grama, provavelmente só para passar o tempo. Mais tudo bem, eu não estou incomodada (pelo contrário). Ultimamente não temos dado muita atenção um pra ao outro com as provas finais chegando... Sempre vínhamos a esse parque nesse mesmo lugar, principalmente à noite para nos abraçar e conversar. Bom isso não está mais tão freqüente nos dias de hoje... Será que isso é o que dizem de uma relação que esta “esfriando”? Já estamos ficando velhos? Acho que não, pois tenho apenas 15 anos. Ainda quero abraçá-lo muito neste gramado.

--Um sorvete—Ele disse do nada.

--O que?—Perguntei mais confusa do que nunca—Pirou é?

--Não—Ele riu—Um sorvete olha ali—Ele apontou para o céu em direção a uma nuvem que tinha um lado mais “gordinho” e o outro mais fino

—Você não ta falando sério... né? —Eu disse revirando os olhos

--Mais parece mesmo né?—Ele disse forçando a voz para uma criançinha—Que falta de senso de humor... Ta agora é a sua vez...

--Eu... —Eu disse revirando os olhos novamente

--Vai por favor —Ele disse com ternura—Deixa de ser chata—Ele riu

--Ta... —Eu disse entre dentes pra ver se ele se aquietava. Olhei as várias nuvens branquinhas no céu e tentei achar uma que trouxesse algum objeto, alguma há minha cabeça. —Já sei!

--O que?—Perguntou ele.

--Ali olha!—Eu apontei para uma das nuvens no canto esquerdo da nossa visão—Um algodão doce!

Ele não respondeu... Mais o senti revirar os olhos agora.

--Um algodão doce?!—Ele exclamou—Que criatividade!É a única coisa que você consegue ver?

--Ta, ta... –Eu disse—Deixe-me ver

--Olha bem direitinho, por que eu já to vendo umas dez coisas—Ele disse sorridente.

--Então fala você

--Não, está na sua vez!

--Aff... Cada um que me aparece...

Eu o senti rir baixinho, deve estar se divertindo muito com a minha cara. Mais eu estava feliz também... “Só ele me deixa feliz irritada”

--Ali!—Eu apontei para o céu

--Não é um algodão doce de novo né?

--Não

--Um algodão?

--Muito menos

--Então... é um sorvete?

--Não, não é um sorvete!—Eu exclamei

--Então, eu desisto, não faço a mínima idéia do que seja... —Ele disse com uma pitadinha de ironia e um certo humor que eu não entendia.

--Um coração... Parece com um... Coração... —eu disse um tanto hipnotizada com a nuvem imensa

--Não parece com um coração—Ele disse retrucando ainda com humor.

--Você perguntou o que eu via...     E eu estou vendo um coração.

David olhou para a nuvem e a admirou meio confuso e um tanto também admirado talvez até um pouco hipnotizado feito eu.

Eu estiquei as mãos para o alto tentando pegá-lo inutilmente.

Repentinamente a doce brisa daquela tarde ensolarada tornou-se um vento cortante, mesmo deitada meus cabelos esvoaçavam, assim como os de David.

--Não... —Eu sussurrei. Meus braços ainda estavam esticados para o alto

A nuvem estava se dissipando lentamente. E isso doía muito em mim...

--Isso é muito triste—Eu disse a mim mesma com olhos úmidos prestes a transbordar.

--O que foi? –ele sentou-se no mesmo instante em que notou que eu estava chorando dessa vez ele falava sério e não mais como um garotinho de 8 anos.

--O coração ele... —Eu disse chorosa

--Tudo bem... É só uma nuvem—tentou me confortar

--Não, não é... É você e eu, é nós dois.

Ele olhou para a nuvem que agora se separava em vários pedaços e aos poucos ia desaparecendo.

--Não somos nós... —Ele disse olhando nos meus olhos.

--Então por que eu te sinto cada vez mais distante?—retruquei—Não somos mais os mesmos de antes...

--O que você está querendo dizer?—Ele perguntou confuso enquanto eu agora encarava a grama

--Ás vezes eu acho que... Você não gosta mais de mim... Por favor me diz que eu não to certa...

--Claro que não!De onde você tirou essa idéia tola?—Ele me abraçou.

--Então me prometa que nunca vamos nos separar... —Agora eu olhava profundamente em seus olhos—Assim eu... Poderei dormir tranqüila todas as noites.

Ele não me respondeu, apenas deu um grande suspiro e beijou minha testa Olhou profundamente em meus olhos e disse:

            --Nunca...

No final das contas tecnicamente o Nunca que ele sussurrou durou apenas três semanas... “Você tinha cruzado os dedos quando me disse isso?” Bom não importa qual seja a resposta...

Só queria que soubesse que naquelas últimas semanas eu dormi muito bem, E sonhei com você... Não sei se isso se põe ao fato de ter mentido há tanto tempo mais eu ainda tenho os mesmos sonhos de antigamente, os mesmos das ultimas três semanas que te vi pela ultima vez... Obrigada, não conseguiria viver sem eles.