"As alterações de olhar alteram tudo." (William Blake)

Senti as batidas do meu coração falharem, minha respiração parar por um momento e o silêncio tomar conta do meu corpo a não ser pelas minhas mãos trêmulas e tudo isso acabou no momento em que o garoto de olhos pretos brilhantes me encarou—e eu tive certeza. O calor subiu ferozmente até os meus olhos e meu coração batia mais rápido do que nunca

--Phil... —Sussurrei para mim mesma incapaz de falar qualquer outra coisa.

Ele arregalou os olhos quando eu disse o seu nome

--Alice?!—Disse ele surpreso—Meu Deus!

Não consegui disser nada a não ser abraçá-lo fortemente enquanto deixava que as lágrimas escorressem involuntariamente pelo meu rosto.Ele correspondeu ao abraço meio confuso.Senti seus braços à minha volta, com o calor do seu corpo e os seu cheiro me fazia lembrar cada vez mais o passado que eu deixem para trás.

Fiquei ali abraçada com Phil beijando meu rosto--e eu o dele—não sei quanto tempo, Alec deveria estar sem garça por nós o ter deixado ali e por estarmos nos abraçando assim.

Eu chorava nos ombros de Phil agarrada em seu pescoço sussurrando o quanto sentia falta dele.

--Phil, me perdoa?...—eu gaguejava sussurrando em seu ouvido—tentando usar o que ainda restava de voz em minha garganta.

--Pelo que?—respondeu ele agora chorando também.

--Por eu ter te deixado?—as palavras saiam evidentemente com angustia e arrependimento.

Ele não respondeu só me abraçou mais forte para si.

Sentir novamente o cheiro de Phil era o mesmo que tomar um elixir do passado.Ao abraçar Phil instantaneamente eu relembrei das lembranças que eu havia abandonado no tempo.

E isso parecia esfregar na minha cara toda a angustia e culpa que eu havia rogado sobre mim...

Depois de um longo momento ali abraada com Phil, decidimos acordar para a realidade e sentar em alguma mesa e dar explicações a Alec sobre tudo aquilo. E também eu tinha muito o que falar com Phil, eu esperava aquele reencontro por mais de três anos.

--Então vocês são velhos amigos ?—Disse Alec tentando sintonizar-se conosco.

--Exatamente—Disse Phil.

--Fala sério!—Exclamou Alec—Eu nunca imaginaria que o P. seria seu amigo do passado—Disse Alec a mim.

--P.?—Eu disse(Claro que ele obviamente estava falando do Phil, mais por que “P”?)

--É apelido “carinhoso” que eles me chamam—explicou Phil Sorrindo.

Dei um sorriso tímido.

Como Phil mudará! Eu não tinha percebido antes mais agora, olhando desse ângulo, ele cortou o cabelo—o que achei um desperdício por ter um cabelo tão bonito—o cabelo dele de antigamente era meio comprido, naquela época era moda deixar o cabelo crescer ele está bem mais alto—minha cabeça está batendo no ombro dele agora—Agora ele já esta na altura do Robert.

--Alice, Você mudou muito...—disse Phil a mim com um sorriso tímido no rosto.

--Porque?—Fiquei surpresa pelo que ele disse.

-- Acho que seu cabelo, ta mais curto agora...—Disse ele de má vontade.

--Ah isso—Apalpei minhas ondas capilares—Assim é mais prático—sorri sem vontade também. Meu cabelo também não encurtara tanto assim só estava um palmo ou dois mais curto, nada que modifique muito a minha aparência.

Ele me encarou sem expressão, fitava-me diretamente nos olhos e eu correspondi o seu olhar.Por um momento esquecemos completamente que Alec ainda estava ali.

De repente ouvi-se uma música baixa e aguda sem vocal como um toque junto com um som de vibração, claro um toque de celular.Phil parou de me encarar para checar se era o seu celular que tocara, eu tinha certeza que não era o meu pois o do meu era um toque totalmente diferente daquele era apenas um triim triim. Olhamos para Alec  era o seu celular provavelmente que tocara.

--Com licença—disse Alec--Vou atender.

--Claro—Eu disse Sorrindo para ele.

Phil não disse nada.E voltou a me encarar novamente com a mesma expressão indecifrável.Eu nunca o vi tão sério, e isso me dava um certo arrepio por perceber o quanto ele realmente mudara, para alguém que vivia pulando feito um garotinho de 8 anos...é ele realmente está diferente.

Encaramos-nos novamente sem disser nada por um longo minuto. Alec continuava falando ao celular. Ele falava alto, parecia até estar discutindo com alguém, mais não dei muita atenção a isso, continuei fitando, incrédula, os olhos negros de Phil. Era ele realmente que estava ali?Ainda não sei a resposta... Talvez por que isso seja bom demais para ser verídico.

Finalmente assim que Alec terminou de falar ao celular, Alec voltou seu olhar para ele, eu também fiz isso.

--Bom, gente vocês vão ter que me desculpar mais eu tenho que ir agora—Disse Alec rapidamente a nos pegando a sua mochila e casaco apressado.

--Mais como assim?—perguntou Phil a ele meio confuso—O que aconteceu?—desse vez ele expressava preocupação.

--É a minha mãe—Disse ele de mal gosto já preparado para “sair correndo“--Nada demais só aqueles chiliques que ela tem de vez em quando,você sabe, amanhã a gente conversa.

Phil deu um risinho provavelmente sobre o assunto –alguma piadinha interna que eu não sabia--e Phil deu de ombros.

--Acho melhor você correr então—disse Phil irônico—a Mamãe ta te esperando.

--Engraçadinho—Phil revirou a gente se fala—Ah e Alice, depois eu falo com você também ta?—Disse ele sorrindo pra mim.

--Ta--Fiz que sim sorrindo também.

Então Alec deu as costas e começou a caminhar tão rápido que em poucos segundos ele saiu de nossa vista cruzando a esquina.

Phil deu uns risinhos baixos encolhendo o corpo me fazendo lembrar um pouco o garoto que ele tinha deixado pra trás.

Depois de rir bastante, voltou seu olhar para  mim nos encaramos sorrimos um para o outro e nos abraçamos sem sentido. Phil abraçou-me tão forte que contraiu minhas costelas, eu não reclamei, esperei anos por aquele abraço.

Estava ficando escuro então decidimos ir embora dali também, pagamos nossas coisas e pagamos à conta. Não sabia onde Phil morava agora, e nem tive a delicadeza de perguntar, ele apenas disse que me acompanharia até minha casa e eu fiz que sim sorridente feito a idiota—que eu sempre sô (e ultimamente venho superando).

Caminhamos conversando sobre tudo o que pudemos durante tudo o que nos vinha à cabeça enquanto andávamos.Perguntávamos as perguntas do qual nós sabíamos as respostas pra ver se tinham algumas diferenças.

--Sua cor favorita ainda é azul?—perguntei a Phil rindo feito uma tonta, na verdade nós dois riamos sem sentido, e gargalhávamos a cada pergunta idiota.

--Sim, mais agora também gosto muito do preto—Respondeu ele.

--Ainda tem medo do escuro?—Perguntou ele agora.

--Sim, muito mais do que antes eu diria...Ainda continua chorão?

Ele riu.

--Hmm... acho que não—disse ele—pelo menos não tanto quanto antes... E você ainda gosta de dormir sobre as estrela?

--Claro—sorri como se a pergunta fosse uma coisa obvia, ele sorriu—Ainda gosta de pular em poças d´agua em um dia de chuva?—perguntei com ironia, ele adorava fazer isso, mais dava raiva por que ele sempre molhava também quem estava do lado dele, ou seja, eu.

--Não...—ele sorriu timidamente—Sua pizza favorita ainda é metade calabresa metade Romeu e Julieta?

Parei de andar com essa pergunta e a expressão de antes fugiu do meu rosto. Essa pergunta me fazia lembrar da lembrança de três anos e meio atrás quando eu caminhava com David em uma alameda e nós riamos e nos abraçávamos como se fosse nosso ultimo encontro... E realmente era o nosso ultimo encontro.A pergunta dele fez subir umidade aos meus olhos ao recordar-me da lembrança, mais contive-me e respondi naturalmente.

--Sim...—disse sorrindo timidamente

Ele viu minha expressão e entendeu depois...Ele baixou a cabeça e não vieram mais nenhuma pergunta, ficamos parados ali no meio da calçada imergidos no passado.

--Você mudou muito—disse ele de repente a mim.

--Você já disse isso ...—deu um sorriso tímido—Você também mudou demais.

--Não é isso!—prosseguiu ele—A cor dos seus olhos mudou.

Eu levantei minha cabeça e o encarei confusa evidentemente.

--Você perdeu o brilho dos seus olhos—continuou ele—Você não sorri mais como antes, seus olhos se opacaram e você parece muito abalada.. e está—ele respondeu por mim.

Baixei a cabeça novamente com calor subindo aos olhos pela veracidade daquelas palavras.

--Você parece ter morrido...—continuou ele—Não queria te ver assim...

Aquele foi meu ultimo esforço as lágrimas escorriam pelo meu rosto.E Phil me abraçou.

--Me desculpa...—eu disse quase suplicando apertando-o para mais perto de mim—Eu tentei ser forte, mais eu não consegui...—As lágrimas caiam mais intensamente e um nó se formava na minha garganta.

--Tudo bem...—Disse Phil me consolando—“Seremos amigos pra sempre”—Disse Phil relembrando-me da promessa.

Ficamos ali abraçados banhados pela serenidade das estrelas que pairavam sobre nós. As lágrimas com as palavras amigas de Phil traziam de volta o que restara da minha sanidade.

“Phil, você realmente não mudara!” as suas mudanças eram levianas, pequenas e tão insignificantes comparados ao que você realmente é.

Você não mudara nada continuava a mesma criança companheira, amável e consoladora  que eu havia conhecido há muitos anos atrás, o motivo de eu não ter pecebido isso foram os meus olhos que não me deixavam ver a verdade.  

"Me desculpa por eu ser tão fraca..."