Sixteenth Moon escrita por Nath Schnee


Capítulo 18
Capítulo 17 – 31 de Outubro


Notas iniciais do capítulo

Não, não vou dar uma desculpa para meu atraso agora. Até tenho (passei boa parte desse tempo fazendo dois TCCs e corrigindo a fanfic para as regras do site), mas não vou falar tanto no assunto. Como exatamente convencer vocês que eu não notei que havia quase um ano que não postava? Eu sei que não, então vamos fingir que não passou todo esse tempo, certo? Afinal, vejam o lado bom! Eu postei exatamente na data do capítulo XD
E agora vocês sabem também que pode passar meses, até um ano, e eu estarei postando! Até o fim da minha vida devo acabar essa fanfic (espero KKKKKK).
Tenham uma boa leitura e um ótimo Halloween!



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Fogo Gélido

As piadas sobre as Líderes de Torcida se tornaram quase infinitas mesmo depois da aula. Enquanto eu andava com Ethan até meu carro, eu podia ouvir inúmeras delas, principalmente sobre todo o tempo que a mancha ficaria no rosto daquelas garotas. Ethan disse que elas andariam pela escola e pela cidade, cantariam na igreja e ainda fariam parte da torcida com a tinta ainda no rosto. Eu estaria comemorando o vexame delas, mas já estava feliz por mim mesma.

Pela primeira vez eu havia conseguido Conjurar.

Era indescritível a sensação. Não era como andar de bicicleta pela primeira vez ou conseguir fazer o carro sair do lugar pela primeira vez. Estas eram situações onde havia um tutor, alguém te ajudando de alguma forma. O que eu havia feito não era apenas algo sem ajuda nenhuma como também era completamente contra as regras impostas pela minha família. E mesmo assim, eu estava feliz.

Eu estava distraída. Ethan havia feito alguma pergunta para mim. Tentei me concentrar. Eu estava sentada no capô do rabecão, mexendo nos cachos das pontas do meu cabelo.

— Você poderia ir na minha casa — disse Ethan —, podíamos ficar atendendo a porta e distribuindo doces. Pensei se você também não poderia me ajudar a ficar de olho no gramado pra que ninguém queime cruzes lá. — Ethan tentava não demonstrar ansiedade e falhava miseravelmente.

Me senti triste por decepcioná-lo.

— Não posso sair de casa. É outra das Grandes Festividades da minha família. Meus parentes virão de toda parte. — Aquilo era mais verdade do que eu conseguia explicar. Ravenwood não teria apenas vivos hoje. Como Ethan havia dito, o Halloween se tratava de espíritos. E o que eu queria dizer com “parentes que vêm de toda parte” era, inclusive, do Outro Mundo. Não haveria apenas Duchannes ou Ravenwood em casa, mas sim todos os parentes mais distantes possível. Não que eu tivesse muito o que fazer quando isso acontecia, eu sequer os recebia em casa, eles só não estavam lá e no instante seguinte estavam. Era muito para explicar para Ethan — Tio Macon não me permitiria nem 5 minutos fora de casa, além do perigo. Eu? Abrir minha porta para estranhos em uma noite como essa, com tanto poder das Trevas? Jamais.

— Nunca pensei assim.

É claro que não pensara.

Entrar em Ravenwood pode ter sido a última coisa normal que eu acontecera daquele dia. Eu apertei a lua acima da porta e esperei ser recebida pelo silêncio de sempre. Não foi o que aconteceu. Ao invés de encontrar Ravenwood vazia, com tio Macon dormindo no quarto e Boo deitado perto da lareira — mesmo que tendo seguido o carro a pé —, como sempre fora desde que me mudei para cá, me deparei com bastante coisa diferente.

A primeira delas era Ryan correndo atrás de Boo. Ela usava uma regata vermelha de alcinha e uma bermuda branca, enquanto segurava uma capa vinho, que combinava um pouco com sua roupa. Eu não sabia se ele estava apenas brincando com ela ou se só não queria vestir aquilo. Talvez ambos. Ela me cumprimentou animada, mas aquilo a fez perder alguns segundos valiosos de sua perseguição.

Reece observava tudo do alto da escada, de braços cruzados, com ar superior. Com um suéter de cashmere azul celeste e uma calça skinny preta. Mesmo que a calça fosse escura, eu sempre percebia o quanto ela fazia questão de usar cores claras e roupas compridas. Ela parecia seguir totalmente o oposto de Ridley.

Apesar de eu acreditar que era Ridley quem não queria ser próxima, nem mesmo em aparência, da irmã.

— Oi, Reece. — cumprimentei.

Reece olhou para mim e eu acabei esquecendo de desviar meu olhar. Foi apenas uma fração de segundo, mas eu sabia que foi suficiente para ela ler meu rosto o suficiente. Ainda assim, Reece não disse nada. Ela apenas hesitou, dando alguns passos para trás, e correu escada a cima. Eu estranhei. Ela até mesmo empalideceu. Perguntei-me se ela teria visto o que fiz na escola. Eu já não duvidava, considerando aquela reação.

Resolvi ignorar. Não queria ouvir bronca agora, mesmo que o sermão estivesse vindo rapidamente. Segui até a sala de jantar, encontrando tio M no caminho. Embora estivesse com um puído paletó com calça cinza claros e camiseta preta e sua roupa estivesse, como sempre, impecável em seu corpo, eu podia ver o quanto ele estava exausto. Eu também estava cansada. Como das outras vezes, a Cozinha não dera sossego com o som das panelas, preparando um banquete que quase poderia atender todas as pessoas que me odiavam em Gatlin. E obviamente eram muitas.

— Lena. Que bom que está em casa. Espero que já saiba seu compromisso de permanecer em Ravenwood hoje, se possível longe dos nossos convidados mais... descorteses. — Eu sabia o que ele queria dizer. Por mais que boa parte de nossa família, ou pelo menos a que estaria ali presente, fosse confiável, ainda havia alguns visitantes, de outros séculos, que não agiam como verdadeiros “fantasmas”.

Eu assenti, observando tio Macon seguir para o escritório, mas minha mente estava longe. Eu não estava ansiosa para quando a festa começaria. Não que eu tivesse medo de “fantasmas”. Eles sequer eram isso. O termo verdadeiro era Espectro: Espíritos que não conseguiram Atravessar para o Outro Lado e ficaram assim, entre o Outro Mundo e o nosso. Claro, eles estavam mortos de qualquer forma, mas ainda assim estavam presentes em nosso mundo por conta de assuntos inacabados. E aquilo não era apenas com Conjuradores. Mortais também podiam ficar presos entre os dois mundos.

Todo Halloween os Espectros se tornavam mais presentes em nosso mundo. Ravenwood era o ponto de encontro de vários, desde Incubus a Conjuradores, e alguns sequer estavam mortos, mas se reuniam ali para comemorar o Ano-Novo com os Espectros. Aquele era um dia em que eu geralmente ajudava a Cozinha a servir, apenas como pretexto quando não queria ficar no quarto até a hora dos feitiços, que geralmente iniciávamos tarde da noite.

Enquanto observava tio M se afastar e Ryan passar correndo atrás de Boo, que agora tinha a capa na boca, vi Reece descendo as escadas agitada. Ela hesitou ao olhar para mim de novo, mas dessa vez não pareceu olhar em meus olhos, como se não quisesse tentar. Tia Del estava logo atrás dela, usando um vestido de gola V florido, que se destacava na escada branca. Ravenwood hoje parecia inspirada em marcenaria: as mesas e bancos de mogno contrastavam com o estofado branco, mas combinavam com o soalho com design intrincado. As luminárias e o lustre pareciam de cristal, também dando ênfase ao branco do lugar. Nem mesmo os quadros escaparam da madeira. Genevieve estava estranhamente combinando com a moldura marrom.

Tia Delphine me chamou e fui até ela. Seu cabelo estava desarrumado, mesmo que seu coque fosse uma tentativa de mantê-lo no lugar. Mas ela parecia preocupada com outra coisa.

— Oi, tia Del.

— Lena, querida, você está se sentindo bem? — Este era um raro momento que os olhos de tia Del focavam em alguma coisa, e agora ela encarava meus olhos.

Era uma pergunta um tanto estranha a se fazer segurando os ombros de alguém. Eu tive certeza que ela me sentiu ficar tensa com a indagação.

— Sim. Algum problema? — Mantive-me firme sob o olhar dela.

Ela olhou para Reece, que nos observava do pé da escada, e então para mim de novo. Seus olhos voltaram a perder foco, seus poderes de Palimpsesta provavelmente estavam confundindo ela de novo, trazendo imagens do passado e as misturando com o presente.

— Não... — respondeu baixo, voltando a mexer no coque. — Não se preocupe. Está tudo ótimo.

Eu tinha certeza que não estava, eu só não entendia o motivo de reagirem daquela forma ao saberem que eu havia Conjurado.

Subi as escadas para o meu quarto. O dia ainda estava pela metade e eu já não estava entendendo minha família. Vi Larkin em um dos quartos, brincando com suas cobras de Ilusão. Nos cumprimentamos com um acenar. Tio Barklay saiu de um dos quartos de hóspedes com uma caixa nos braços e me dirigiu um sorriso, que retribuí.

Eu já estava quase no meu quarto quando me encontrei com outra pessoa de minha família, esta sendo alguém que eu não esperava. Era outra mulher, uma que não estava no último Dia de Reunião, e que surgiu do quarto de tio M com um livro em mãos. Ela era pouco mais nova que minha avó, usava vários cordões repletos de contas no pescoço. Tinha cabelos negros cacheados como os meus, mas seu rosto e todo o resto era igual a tio Macon. Era minha tia Arelia, mãe dele.

— Lena, é bom vê-la de volta ao lar. — Ela sorriu. Eu me surpreendia com o quanto ela era bonita para a idade. — Como foi a aula? — perguntou.

Ótima!, eu queria responder, Eu Conjurei!

— Foi normal, tia Arelia. — Ela segurou minhas mãos, ainda sorrindo, mas então hesitou, o sorriso se desfazendo.

Sua expressão era controlada.

— Permaneça em Ravenwood hoje, não importa o que aconteça. — Ela me encarava nos olhos. Eu pude sentir meu coração tropeçar. — Não é seguro para você hoje.

Eu assenti, assustada. O que poderia fazer além disso? Minha tia desceu as escadas, procurando pelo filho. Tio Macon estava no andar inferior, então ela seguiu seu caminho, deixando uma atônita Lena para trás.

Minha tia Arelia, como todos da família, não era Mortal, mas não era uma Duchannes, e mesmo casando com meu avô, pai de tio M e da minha mãe, também não era uma Ravenwood. Adotavam o sobrenome do meu tio apenas quem era Incubus, e ela não era. Sequer era minha tia, considerando a genealogia. Eu a chamava daquela forma porque tia Del a chamava assim, tal qual meus primos também. Ela deveria ser madrasta de minha mãe, o que a tornava quase uma avó para mim. Era uma Conjuradora, com poder de Adivinhação. Ela podia dizer o que ia acontecer conosco só com sua intuição, sem contar que podia ver trechos do futuro quando concentrada ou até em momentos aleatórios. Se ela insistia tanto para que eu ficasse em casa, eu não recusaria. Ela podia ter visto um futuro onde algo acontecia comigo, e eu não tinha certeza se queria saber o que era.

A Adivinhação não era como saber o destino, mas saber o futuro, o que não são a mesma coisa. Adivinhar o futuro era como indicar uma possibilidade: eu poderia ir para a escola no dia seguinte. Este era um futuro, um dos caminhos que eu podia ou não traçar. Já destino era, por exemplo, a certeza de que eu seria Invocada. Aquilo era impossível de se impedir. Mas se uma pessoa tem algo em seu futuro a acontecer, as escolhas dela no presente podem alterar o seu depois. Se tia Arelia Adivinhou que algo aconteceria comigo fora de Ravenwood, eu poderia evitar ficando dentro de casa.

Perceber que eu tinha um futuro ruim foi como saber que eu morreria por um raio. A vontade que senti foi de me esconder de tudo e todos em uma bolha.

E foi quase o que fiz, considerando que passei quase todo o resto do meu tempo livre dentro do meu quarto lendo ou ouvindo música. Aquilo resultou em palavras novas substituindo as antigas. Agora, na cabeceira da minha cama, Alfred Tennyson também estava inconformado com os segredos das pessoas. “Uma mentira que é meia-verdade é a mais sombria de todas as mentiras”.

No teto, U2, minha banda favorita, descrevia tudo o que eu pensava do que aconteceria comigo e Ethan com apenas um verso: “As melhores coisas são fáceis de destruir”.

Edna St. Vincent Millay me fez lembrar de Ethan quando vi seus versos na parede do lado do guarda-roupas. “Eles dizem que quando você está sentindo a falta de alguém que eles provavelmente estão sentindo o mesmo, mas eu não acho que é possível que você sinta a minha falta tanto quanto eu estou sentindo sua falta agora”.

Mas a frase mais marcante daquela minha leitura fora William Blake. “Veja o mundo num grão de areia, veja o céu em um campo florido” estava de um lado da janela, e do outro “...guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida!”.

Eu continuava lendo Blake, com o sol se pondo na janela, quando alguém bateu forte na porta do quarto e eu me sobressaltei, quase derrubando o livro.

— Lena! — Ouvi tia Del chamando e corri até a porta. Eu não sabia quem estava mais assustada. Eu por sua aparição repentina ou ela, que parecia estar em pânico. — Você está bem?! Aconteceu alguma coisa?

— Eu alertei que era melhor não contar a Delphine, Reece. Ela não consegue disfarçar. — A voz de tia Arelia surgiu de algum lugar do corredor. — Um segredo deixa de ser um segredo assim que contamos a ela.

— Mamãe! — exclamou Reece, vindo até tia Del. — Tome mais cuidado, Lena não deveria saber.

— Saber o que? — questionei, começando a me irritar. — O que está acontecendo? — Era incrível como às vezes eu me sentia tão perdida quanto Ethan quando envolvia minha família.

As três se entreolharam com as expressões que todos tinham quando começavam um assunto que não queriam me contar.

— Melhor não. Ela não pode saber de nada. — disse Reece.

— É. O último Dia de Reunião já foi o suficiente. — concordou Delphine com veemência.

— Olá? Não falem de mim como se eu não estivesse aqui! Alguém pode me dizer o que está acontecendo? — Minha janela se abriu com violência de repente e eu hesitei, olhando para trás, mas nenhuma delas deu atenção. Ainda decidiam se me contariam ou não.

Tio Macon surgiu do corredor também. Acho que era seu horário de levantar, considerando o sol quase escondido por completo no horizonte.

— Minha mãe Adivinhou que você correria perigo, Lena, mas não é nada que devesse se preocupar. Principalmente depois dessa demonstração de Delphine.

Tia Del estava envergonhada, eu podia ver pela forma que pediu desculpas e saiu de perto de mim, se afastando de todo mundo, mas tio Macon a impediu de seguir andando ao tocar seu ombro.

— Ainda assim, entendo a preocupação de minha irmã e quero tomar providências em relação a isso. — Com aquela frase, ele tinha a atenção de todos nós. — Temos de começar logo. — Continuou tio M. — Não podemos esperar mais. Não com uma visão tão alarmante quanto essa. Não podemos permitir que este futuro aconteça. Quanto mais cedo nos protegermos, melhor será. — Apesar de seu olhar para as mulheres ser tão significativo quanto os que elas lançavam entre si, eu havia entendido o que ele queria dizer. — Vamos começar agora.

Nós tínhamos o costume de Vincularmos a casa com Feitiços de proteção todo Halloween a noite, geralmente depois das 22h. Ainda era cedo, o que indicava uma mudança na rotina. Tia Arelia assentiu e foi pegar algo em seu quarto, assim como Reece, que a seguiu para ajudar. Tia Del disse que avisaria a todos e sumiu pela mansão, restando apenas Macon e eu. Nós dois seguimos caminho até o final do corredor e subimos uma escada até o sótão.

Percebi no caminho que a mansão havia mudado de novo, se adequando ao humor do meu tio. As cortinas grossas, agora pretas, impediam qualquer luz de entrar, os tapetes pesados cobriam todos os cantos, os sofás e poltronas de onde eu vi do topo da escada eram de mogno escuro com assentos acolchoados pretos, mesma cor dos tapetes. Tudo continuava repleto de marcenaria, mas mais escuro. Até as paredes pareciam ter sumido no escuro, com papeis de parede semelhantes a uma noite escura sem estrelas e apenas com luas. As sombras envolviam a casa em um abraço apertado que nem mesmo o lustre prata ou os batentes mais claros conseguiam largar. Aquilo não incomodava os convidados, que pareciam bastante satisfeitos dançando.

Não que aquilo realmente parecesse uma festa. A música era completamente diferente do que os Mortais ouviam; Violoncelo, violinos, uma viola de arco como a minha... Não só a língua era diferente, nem mesmo latim era, como os instrumentos eram principalmente de corda.

Ravenwood estava em seu estilo mais comum, mas a escuridão indicava o mau humor de tio M. Olhei para ele nos guiando até um dos outros cômodos. O que estava acontecendo afinal?

Nós fomos até o final do corredor e subimos outra escada, desta vez uma de mão, para o lugar mais alto da casa. Quando eu, alguns anos atrás, havia perguntado o motivo de precisar Conjurar no sótão, tia Delphine explicou que o Feitiço funcionava melhor se feito no centro da propriedade, e não havia lugar mais alto que o sótão. Todo Conjuro era como uma bolha, distorcendo a realidade como a superfície da esfera. Seu tamanho e efeito variavam até mesmo com o local onde era feito. Eu ainda me perguntava o porquê de ter de ser ali, mas não contaram. É claro. Se tratava de um Conjuro, eu teria de ser Invocada para a Luz primeiro para aprender alguma coisa útil. Mesmo se fosse algo para proteção como aquele.

Assim que cada membro da minha família pisava naquele recinto, suas roupas mudavam. Tornavam-se vestes escuras que escondiam seus corpos. Esta era única coisa que eu realmente conseguia imaginar nos aproximar dos “bruxos” que os Mortais tanto nos comparavam. As bruxas dos filmes e contos dos Mortais se tratavam de mulheres feias — o que eu ainda achava ser pura inveja — que faziam rituais pagãos e/ou satanistas. Por mais que houvessem criaturas como tio Macon que era uma espécie de demônio, ele ainda não era como eles tanto descreviam. E nossos poderes, completamente diferente do que eles acreditavam, não surgiam de pacto algum com o Diabo. E eu tinha certeza que as pessoas da Luz da minha família eram muito melhores em caráter do que aquelas que tanto nos criticavam. No entanto, eles nunca entenderiam aquilo, e continuaríamos sempre, não importava a religião a qual o Mortal pertencesse, sendo o mal do mundo.

Mas ali, vendo minha família mudar suas roupas em um piscar de olhos para aquelas vestes negras como a noite, reunidos para uma série de Conjuros, eu quase podia entender o temor dos Mortais.

Eu fui a única que não pôde trocar de roupa com aquela facilidade. Tia Arelia me entregou a minha veste, que coloquei por cima de minha roupa normal. Eu mal podia reconhecer meu corpo olhando por sobre aquela manta negra. Meu cabelo se escondia completamente nela, o que me era estranho. Por que meus primos e tios pareciam tão confortáveis daquele jeito e eu sentia que aquilo só me afundava mais na escuridão? Talvez fosse apenas impressão minha, pois todas as nossas vestes se misturavam com o escuro do sótão

Tia Arelia começou a pegar as velas e entregar para cada um de nós. Tia Del falou algo em latim e a vela dela acendeu, fomos passando de um ao outro. Novamente eu não tinha permissão para aprender aquilo, mesmo que supostamente pudesse controlar os elementos sendo uma Natural.

Como outras vezes, nós nos posicionamos em círculo. Tentei não pensar no quanto aquele círculo já fora maior. Ridley, que antes fazia parte daquele círculo, agora se tornara exatamente um dos motivos pelo qual nós Conjurávamos. Ela agora era uma das ameaças, mas considerando que ela havia ultrapassado o último Feitiço de Ligação, eu não duvidava que ela pudesse passar por este também. Além disso, vovó também não estava ali. Eu estava sentindo muita falta dela. Era como uma mãe para mim. Às vezes eu pensava se ela não estava viajando para longe para evitar que eu me apegasse daquela forma.

Achei que começaríamos naquele momento, mas tio Macon tinha outros planos.

— Desta vez, peço que façamos tudo um pouco diferente. É cedo, então a lua ainda não está no alto do céu. Deixaremos este momento quando a lua estiver mais poderosa para enfim Vincularmos a casa. Até lá, devemos começar pelos mais simples, desde o Conjuro da Casa e da Cozinha, e todos os outros necessários, para Conjurarmos o mais importante. — Todos nós estávamos confusos com o que tio M tinha decidido. Aquilo era algo que não mudávamos nunca. — É claro que espero compreensão de todos, pois isto se deve ao fato de que recentemente tivemos pequenos problemas com o Conjuro de Ligação, recebendo abertamente Conjuradores das Trevas no primeiro dos Dias de Reunião.

Meu tio lançou um olhar na minha direção, mas nada me atrevi a dizer. Pensar em como Ridley havia entrado sem qualquer dificuldade ainda me atormentava um pouco. O que garantia que ela não voltaria a Ravenwood a qualquer momento? Eu só percebi o quanto aquilo também preocupava Macon naquela hora. Ele mesmo queria garantir sucesso ao proteger a casa dessa vez. E talvez ele tivesse razão em fazê-lo. Eu não tinha certeza se era possível, mas talvez, quando Ridley entrara, o Conjuro Vincula estivesse sem funcionar. Estávamos perto do Halloween, afinal, e se Feitiços passavam da validade?

Aquilo me soou tão ridículo que quase ri, e talvez tivesse rido se minha mente não estivesse lenta. Eu começava a sentir sono, ainda que não fosse meu horário de dormir. Minha cabeça latejava fraco, talvez devido à luz das velas incomodando meus olhos.

Como de costume, eu não repeti as palavras do Conjuro para dar vida à Casa e à Cozinha, pois não sabia como era aquele Feitiço. E mesmo se tentasse aprender ouvindo, eu só estaria cometendo um erro grave ao tentar repetir. Quem pode adivinhar o que poderia acontecer se eu começasse a falar palavras desconhecidas em latim, sem sequer conhecer a língua?

Eu apenas mantive meus olhos fechados, ouvindo a todos. Não tinha muita opção — quando é que eu tenho? —, mas ao acabarem de Enfeitiçar a casa e eu precisar prestar atenção, pois agora começaríamos a Conjurar o Vínculo, eu comecei a notar algo estranho. Minha cabeça estava latejando ainda mais forte, e eu mal consegui abrir os olhos quando tentei.

Concentrei-me em tio M, que estava bem na minha frente, mas eu tinha cada vez mais dificuldade em fazê-lo.

Cur noctis hac Vinctum convenimus?

— Por que nessa noite nos juntamos para o Feitiço?

Quod Vinculare sanguinem nostram volumus.

Todos olharam para mim, esperando que eu respondesse em nossa língua. Os Conjuros, em sua maioria, eram assim. Primeiro em latim, depois em inglês, e aquele era um dos poucos momentos em que me ensinaram algo do gênero. Eu deveria traduzir o que minha tia havia falado. Eu tinha memorizado desde os oito anos e nunca errara.

Mas por algum motivo, eu não lembrei o que deveria falar.

Forcei minha mente, mas tudo não passava de uma densa névoa, que lentamente envolvia meu corpo naquele mesmo torpor. Minha cabeça doía e eu achava ser apenas devido ao cheiro das velas, mas a dor aumentava conforme eu tentava lembrar e se espalhava tal qual a névoa. Tudo parecia mais pesado e incômodo; a luz irregular, o cheiro, o escuro, o ar. Minhas pernas bambearam e eu já mal conseguia ficar de pé. Tentei focar minha visão, eu mal via o rosto de Ryan, que pelo visto me encarava.

— Lena? Está tudo bem?

Abri a boca para responder e de novo não consegui. Minhas pernas fraquejaram de vez e me vi caindo no chão, amparada por pouco por tio Macon. O chão estava frio, mas meu corpo sequer sentia a diferença. A sensação gélida que se espalhava intensa e violentamente pelo meu corpo já me impedia de sentir as extremidades. Todos estavam falando ao mesmo tempo, mas eu não conseguia discernir palavras. Minha visão oscilava. Ora eu via Reece tocando meu rosto, ou tio Macon me segurando pelos ombros, ou tia Arelia tocando minha testa, ora eu via escuridão.

— ..., mas Sarafine não deveria ter poder aqui! — A voz de alguém ecoou, mas não pude ouvir a resposta.

Minha consciência se afastou e voltou de novo.

— ... Acorde! Lena! Não permita... — Novamente não pude ouvir o resto. Eu sequer entendia o que enxergava. Minha cabeça estava doendo demais para que eu pudesse ouvir. Meu corpo estava gelado demais para que eu pudesse me mover.

Eu estava com frio demais para que pudesse lutar.

As vozes continuavam, eram como flashes, minha mente vagava entre a consciência e a inconsciência e eu já não conseguia mais suportar lutar contra a última. A dor estava forte demais para que eu pudesse continuar acordada.

Ainda que com medo de não acordar mais, eu fechei meus olhos e mergulhei na escuridão.

***


Acordei assustada, engasgando com o ar. Era como se tudo não tivesse passado de um sonho, mas eu sabia que aquilo tinha sido real, pois eu estava em uma mesa pesada de pedra. Levantei um pouco zonza, sentindo como se tivesse dormido demais, de um jeito ruim. Saí da sala ao seguir por sólidas portas duplas de carvalho. Ou elas eram pesadas demais para serem portas comuns, ou eu estava perdendo minhas forças. Torci para que não fosse o último caso.

Acima de mim, não havia teto, e o céu azul me encarava com frieza. As paredes eram de pedra, como dos castelos antigos, as verdadeiras fortalezas. Os candelabros não iluminavam o corredor, e sim jogavam longas sombras nas paredes, quase como se suas velas fossem a fonte da própria escuridão da casa. Ainda que eu nunca a tivesse visto assim, eu sabia onde estava. Ravenwood podia mudar o quanto quisesse, eu sempre saberia reconhecê-la.

Eu só não entendia o porquê de estar tão vazia.

— Tio Macon? — chamei, seguindo pelo corredor a procura dele. Tentei abrir a porta de seu quarto, mas estava trancada.

Talvez ele estivesse dormindo, mas hoje era um Dia de Reunião, certo? Onde estava o resto da minha família?

— Tia Del? Reece? — chamei ainda mais alto enquanto descia pela escada. — Boo?

Tudo só piorava conforme eu andava. As sombras das paredes estavam se tornando mais escuras, e eu podia jurar que onde havia móveis antes, agora simplesmente estava vazio. O céu, antes luminoso como uma manhã ensolarada, agora se mostrava sendo escuro como antes de uma forte tempestade, e não parava de escurecer. A temperatura do ambiente também parecia estar descendo alguns graus com o tempo.

Tentei abrir a porta de entrada, mas também estava trancada. O que estava acontecendo? Embora estivesse considerando a ideia de que não veria nada com tantas heras invadindo a mansão pelo lado de fora, puxei as cortinas pretas e olhei pela janela.

O jardim estaria normal, se não fosse por algo estranho próximo ao portão. Eu mal podia ver o ferro intrincado do portão de onde estava. Todas as plantas estavam mortas, como se carbonizadas. Árvores sem folhas e quebradas, grama seca, inúmeros galhos no chão. E era como se a causa daquilo se movesse lentamente, pois eu podia ver as plantas seguintes começarem a se transformar também. Era como fogo, porém um fogo sem calor, com único e verdadeiro intuito de destruir. Mas o que me incomodava não era necessariamente a forma como aquilo se assemelhava a uma chama, e sim a cor.

Não havia cor, não havia luz, não havia nada. Tal qual meus sonhos com Ethan, eu podia ver como aparentavam ser as Trevas. A diferença é que eu não estava sendo puxada, nem caía em direção a elas. Era a escuridão que estava vindo atrás de mim.

Aquilo só podia ser um sonho.

Ethan?

Não houve resposta, minha mente estava vazia. Era a primeira vez em muito tempo que eu não encontrava Ethan por Kelt. Era como se ele nunca tivesse existido ali.

Encarei a sombra avançando sobre o jardim, na metade do caminho até a porta. Meu coração estava disparando, mas uma parte de mim ainda tentava ficar calma. Ravenwood era protegida por inúmeros Conjuros, mesmo que nós não tivéssemos feito eles por completo, ninguém pararia por minha causa. E mesmo o Feitiço anterior ainda seria forte para aguentar, certo? Era isso o que eu tentava acreditar, mas meu coração recusava a concordar.

As chamas negras ainda avançavam, e eu comecei a verificar todas as janelas, fechando uma a uma. Aquilo não estava acontecendo. Logo tio Macon apareceria e me salvaria, certo?

Conforme eu olhava pela janela, senti algo no fundo da mente. Como um Kelt distante, escondido o mais longe possível. Não era como uma única voz, e sim como várias, entoando algo familiar, mas que eu não conseguia me lembrar de onde era, nem conseguia entender o início.

... tutela tua est!

E ao mesmo tempo, havia outra coisa. Uma voz mais fria, feminina, que eu simplesmente não sabia de quem era. Não era como de várias pessoas como a outra cantilena, e sim algo vindo de uma pessoa só. Havia algo dentro de mim que me fazia estremecer em ouvir aquela voz, ainda que curiosa para saber de onde estava vindo.

... mens nostrum vinculare!

Quanto mais alto aquela voz feminina falava, mais rápido a sombra se aproximava. O contrário ocorria quando eram as vozes em uníssono que se elevavam. Concentrando-me nelas, pude perceber a do meu tio.

— Tio Macon! — chamei de novo, ainda mais alto do que antes. Não adiantou, as duas vozes competiam entre si, e ainda que em desvantagem numérica, a voz das Trevas estava vencendo. Se aquilo era um sonho, era pior que todos os outros. — ETHAN!

As sombras, àquela altura, já chegavam aos degraus próximo a porta, e continuavam avançando, como se não houvesse proteção alguma na casa.

— TIO MACON! ETHAN! SOCORRO!

Tentei correr até a porta, ignorando as sombras para sair da casa, mas assim que pisei na pedra coberta pela escuridão, uma onda de dor percorreu todo o meu corpo e eu não pude evitar o grito, caindo para trás. Eu nunca sentira nada assim na vida. Eu tinha certeza que havia pisado na sombra, mas a dor começava não apenas por onde toquei o fogo, mas pela cabeça também, e se espalhava com velocidade incrível pelo corpo. Eu podia sentir o fogo, gelado como nunca havia visto, lentamente avançar pela minha roupa, tornando ainda mais insuportável a dor onde tocava. Meus olhos estavam cheios de lágrimas que não demoraram a escorrer. Eu tentei aguentar e recuar, rastejando no chão, mas só consegui porque a sombra se afastou, pois em um breve momento a voz feminina hesitou e o outro som, que agora eu reconhecia como minha família, se tornou mais forte.

E agora que eu sabia que aquela era minha família, eu me senti ainda mais desesperada, como se toda o desespero estivesse guardado dentro de mim.

— Alguém, por favor, me ajude!

Assim que a sombra saiu de cima de mim, eu levantei e saí correndo escada acima. Meu pé mal aguentava tocar o chão, o que me fez cair algumas vezes. A voz voltou, e agora eu podia jurar que ela dizia mais coisas, ou talvez eu apenas estivesse ouvindo melhor do que antes. Não que isso fosse bom.

Incantamentum interficere, mens nostrum vinculare!

Eu também podia distinguir as palavras que minha família dizia.

Sanguis sanguinis mei, tutela tua est!

Mas quanto mais as vozes aumentavam na minha cabeça, mais difícil se tornava para me manter focada na realidade. Eu sentia que a qualquer momento perderia minha sanidade.

Consegui subir as escadas aos tropeços e olhei para trás. A sombra ainda avançava. Eu ainda não conseguia acreditar. Como ela tinha conseguido invadir Ravenwood com tantos Conjuros de proteção?

— Achei que você tivesse dito que era seguro aqui!

Corri para o meu quarto, já que o de tio Macon estava trancado, mas também não tive sucesso com a porta. As sombras dos candelabros já começavam a apresentar tamanha densidade quanto aquelas que avançavam pela escada. Eu estava ficando sem tempo.

Me apressei, testando cada porta do corredor, até mesmo a do banheiro. Nenhuma foi útil. Também tentei usar do meu medo para fazer chover, mas ainda que não existisse teto, o céu ainda se mostrava um eterno breu, sem nuvens, estrelas ou lua. Além das vozes Conjurando na minha mente, eu podia ouvir algo ainda mais distante, uma voz familiar que eu sentira falta, por mais que estando apenas alguns minutos longe.

Lena!

— Ethan! — chamei, não apenas em voz alta, como por Kelt também, mas não houve resposta, como se a voz fosse apenas um eco, tão distante que ele nunca me ouviria.

Houve um momento em que eu estava tentando abrir uma das portas e não vi a sombra da parede se aproximar. Eu só percebi a proximidade dela tarde demais. O fogo avançou através do meu braço e rapidamente envolveu todo o meu corpo. Eu gritei de novo, mas já estava perdendo o fôlego. A dor era insuportável, me fazia me contorcer no chão sem que eu pudesse fazer parar. Eu já mal ouvia meus gritos, apesar da certeza de que ainda gritava.

Não sei como cheguei ao quarto de antes, sei apenas que não fiquei de pé em momento algum até lá, rastejando pelo chão de Ravenwood por um puro instinto de sobrevivência. Eu fechei as portas com tanta dificuldade que não duvidava ter perdido a pouca vantagem de distância que eu tinha da chama. Eu ainda sentia muita dor, mas minha garganta já mal me permitia pedir por socorro. E mesmo assim eu estava tentando.

— Ethan! Corra! — Forcei minha garganta, ainda que minha voz não chegasse mais a ser tão alta quanto antes. Comecei a sentir a madeira da porta gelar, o fogo pelo visto chegara a porta. Eu apoiei meu corpo contra ela, tentando impedir que as sombras passassem ali. Parecia haver uma dificuldade a mais naquele quarto, como se ele fosse o único lugar da mansão que chegava perto de ter uma proteção. Mas eu podia sentir essa barreira cedendo. — Não consigo aguentar por muito tempo... — Minha voz se tornou um sussurro.

Eu já estava sem forças. Mal podia entender meu corpo. Meu braço e perna que haviam tido contato físico com o fogo ainda não haviam voltado ao normal, meu vestido estava aos pedaços, meu pé, assim como meu braço esquerdo, estava inerte. Eu ainda podia sentir a dor, mas minha pele estava sem cor, meus dedos roxos, como se faltasse circulação.

A porta tremeu junto com todo o resto do quarto. As paredes agora tinham musgo, os candelabros eram tochas, tudo se tornara ainda mais rústico do que antes. Poeira caía de onde deveria ser o teto como se ele estivesse ali, mas eu sabia o que significava. A barreira estava quase no fim. Mas eu já não tinha forças para lutar. Meu corpo ainda estava dolorido e fraco, então resolvi usar apenas meu peso para apoiar a porta, ficando de costas para ela. Minhas lágrimas e meu suor frio que surgiram quando atingida já me encharcavam por completo. Mais lágrimas vieram, mas já não eram mais de dor. Eram de medo, desespero. Escondi meu rosto com o braço, deixando-as cair. Eu já soluçava. Minha família, àquela altura, já havia sumido completamente da minha mente. O outro cântico também havia sumido, mas apenas porque a voz estava agora me chamando.

Lena.

Não era a voz de Ethan, e eu temia que ele também tivesse sumido. Eu não queria ficar sozinha, não suportaria encarar tudo aquilo sem ninguém comigo. Solucei de novo e tentei focar no Kelt. Meus esforços continuavam inúteis. Cada vez mais eu me sentia sozinha e impotente como nunca havia sentido.

Ethan...

Eu estava prestes a pedir socorro de novo quando senti a dor voltou, a onda me invadindo desde as costas, onde o fogo se alastrava, até o resto do meu corpo. Eu teria gritado se tivesse fôlego.

Novamente tentei rastejar para longe, ainda que não tivesse mais como fazê-lo. Deixei-me cair no canto do quarto e me rendi a dor, ao cansaço, às sombras e às lágrimas.

— Per... — Minha voz falhou. Eu continuei tentando. — ... perdão, tio Macon, não consigo mais. — Eu já podia sentir o fogo me atingindo de novo, subindo pelo meu corpo. Eu me contorcia, mas não adiantava.

Vi o fogo subir pelo meu abdômen, e então pelo meu peito. Fechei meus olhos outra vez. A escuridão sob as minhas pálpebras também havia mudado, e eu sabia que as chamas negras haviam atingido meu rosto àquela altura.

***

Lena.

Estava tão escuro que eu não podia enxergar nada. Minha mente e meu corpo também estavam estranhos. Eu não conseguia lembrar onde estava, ou o que tinha acontecido, e eu não sentia meu corpo, não sabia dizer se estava deitada ou de pé. E havia aquela voz também. Eu não a conhecia, só sentia que estava vindo do fundo da minha cabeça.

Tentei abrir a boca para falar e não consegui. Meu corpo não estava me obedecendo.

Quem é você?!

Antes que eu pudesse ouvir a resposta, outra voz surgiu, e com ela um clarão repentino, como o sol forte entrando pela janela.

Ethan estava me chamando.

Estou indo, Lena! Aguente firme!

A luz aumentou a intensidade, e de repente eu me vi dividida. Eu mal podia aguentar a claridade nos meus olhos, mas podia enxergar. Metade de mim estava na luz, a outra metade estava no escuro, de uma maneira que sequer parecia sombras reais, e sim uma parede intangível de escuridão. A voz de Ethan ainda me chamava, enquanto a outra voz estava em silêncio, hesitando, mas eu sabia que ainda estava ali, pois eu podia ver uma silhueta na parte mais profunda. Parecia a silhueta de uma mulher.

Eu não queria saber quem era.

Tentei caminhar até o lado claro, de onde eu ouvia a voz de Ethan, mas mal consegui dar dois passos, caindo no chão logo em seguida.

Ethan. Eu...

Minha mente estava lenta de novo, eu estava desmaiando, mas pude sentir. Bem de leve, eu podia sentir os dedos de Ethan tocando os meus. E com esse toque, fagulhas surgiram e eu finalmente vi sua mão estendida, procurando pela minha.

Minhas últimas forças se esgotaram quando pude finalmente entrelaçar meus dedos nos dele e senti-lo encostar o corpo deitado ao meu. Submergi na inconsciência logo depois, um raro sono sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim, e também espero que se houver alguém aí que saiba latim, que me perdoe, pois eu fiz tudo isso completamente às cegas na luta com um dicionário da época do João Goulart, Google Tradutor e sites aleatórios para tirar dúvidas que no final permaneceram KKKKKK
Caso a curiosidade bata naqueles que não entendem, ou caso não tenha feito sentido o que escrevi, vou traduzir agora o que significa (na minha cabeça).

"Sanguis sanguinis mei, tutela tua est!"
Esse vocês já conhecem do livro.
(Sangue do meu sangue, a proteção é tua!)

"Cur noctis hac Vinctum convenimus?"
(Por que nessa noite nos juntamos para o Feitiço?)

"Quod Vinculare sanguinem nostram volumus."
(Porque queremos Vincular nosso sangue)

"Incantamentum interficere, mens nostrum vinculare!"
(Mate o feitiço, vincule nossa mente!)


É isso. Espero de verdade que tenham gostado, pois eu me empenhei nesse capítulo como nunca antes me empenhei em nenhum (porque nunca precisou tanto de estudo também). Este é meu capítulo favorito no livro e espero que vocês também gostem dele na fanfic ♥
Comentem! Até mais!



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