Sixteenth Moon escrita por Nath Schnee


Capítulo 17
Capítulo 16 – 31 de Outubro


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Capítulo atrasado em relação ao Halloween, sim, mas 16 dias deveria mudar TANTO assim? KKK
Digam-me, como foi o Halloween de vocês? Eu fiz cosplay da Samara Morgan, de O Chamado. Enquanto o Halloween de Lena e Ethan... Bom, se vocês não se lembram, vão lembrar agora.
Boa leitura ♥



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Dia das Wildcats

Embora minha família fosse toda a fonte do meu desconhecimento em relação ao meu próprio mundo, o que me fazia recorrer a meios externos como a Biblioteca dos Conjuradores ou a própria bibliotecária, ela ainda era minha família, e havia momentos que aquele sentimento de pertencer às Duchannes e parcialmente aos Ravenwood preenchia meu peito de uma forma irreparável. Um dos momentos era uma data entre outubro e novembro. Naquele dia eu sempre tinha a mesma sensação de mais proximidade com todos, onde eu sentia como se todos da minha família, vivos ou mortos, todos os Conjuradores do mundo, vivos ou mortos, davam as mãos, compartilhavam poderes e Conjuravam para algo extremamente importante. Era o momento onde eu tinha em mente o tempo todo que eu era uma Conjuradora, eu pertencia àquela família, que eles eram sangue do meu sangue, que eu pertencia aquele mundo. Este era o momento em que eu tinha certeza: eu sou o que sou.

Aquela talvez fosse a única data que eu tinha orgulho de ser Conjuradora.

A chegada de um Ano Novo trazia consigo a realidade de mais um ano viva, e a realidade de que nem todos os Conjuradores puderam sobreviver a uma temporada como aquela. Há muito tempo, os Mortais agiram com intolerância: fizeram com meus ancestrais atrocidades, e hoje tratam do assunto com um dia de fantasias e brincadeiras, e dependendo da religião até um dia importante.

Porém eu tinha certeza. Eles nunca veriam naquela data a importância que nós víamos. Nós nos lembrávamos de nossos ancestrais mortos por serem o que todos nós somos, por usarem seus poderes e serem perseguidos por suas diferenças.

Os Mortais não perderam pessoas importantes no que chamam de "Caça as Bruxas". Nós perdemos, e eles nunca entenderiam aquela sensação.

O Halloween se tratava de uma noite tão poderosa que definia um Novo Ano para nós, os mortos se tornavam muito mais presentes no mundo dos vivos, e os vivos se tornavam ainda mais poderosos. Principalmente se eram das Trevas.

Os Mortais nunca tinham qualquer noção do quanto era perigoso abrir uma porta para um estranho naquela data.

Quando eu acordei naquela manhã, mal me lembrava de qualquer coisa senão na importância daquela data. Eu apesar do perigo, eu gostava da sensação que trazia em ter minha família tão forte e perto de mim.

Demorei um momento para me lembrar de tudo. Eu estava tão habituada a olhar a data no celular e ficar feliz em ver 31 de outubro que demorei a compreender a existência daqueles papéis velhos na última gaveta do meu criado-mudo. Ethan e eu estávamos lendo sobre o medalhão. Eu havia esquecido.

Fechei a gaveta, não queria que tio Macon os encontrasse. Pelo visto, eu havia dormido sem fechar a gaveta. Tomei um banho, peguei minha mochila e desci. Tio Macon não estava na mesa para tomarmos café juntos, mesmo que o rabecão estivesse em casa. Estranhei. Tio M não podia sair durante o dia, onde estava então?

Resolvendo ignorar, peguei minha mochila, as chaves do carro onde sempre ficavam e saí com o rabecão, seguindo até algumas ruas da casa de Ethan. Ele temia que Amma me visse, então eu sempre evitava ficar por perto.

— Você não está fantasiada — Wate parecia espantado enquanto entrava no carro.

Eu não tinha entendido o comentário. Estava esperando por um "bom dia, L".

— De que você está falando?

— Achei que você estaria usando uma fantasia, ou algo assim. — Ethan começou a corar e disfarçou ao virar para colocar o cinto enquanto eu manobrava saindo do meio-fio.

Eu só entendi o que ele disse ao me lembrar que havia visto adolescentes e crianças fantasiadas indo para a escola. Soltei uma risada, que quase soou debochada. Mortais…

— Ah, você acha que os Conjuradores se arrumam no Halloween e voam em suas vassouras? — Ri enquanto Ethan se encolhia no banco.

— Não era minha intenção... — O interrompi.

— Desculpe desapontá-lo. — Eu estava sorrindo, apesar de tudo. Talvez fosse um sorriso arrogante, porque eu realmente me sentia diferente quanto aos Mortais naquele dia, mesmo que fosse a primeira vez que eu iria passar aquela data na escola. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que eles nunca entenderiam a importância real e o perigo verdadeiro da noite que nos aguardava. — Apenas nos arrumamos para o jantar, como fazemos em qualquer outro dia especial. — esclareci para Ethan, ocultando todos os Feitiços de Proteção que nós fazíamos.

— Então é um dia especial pra vocês também. — disse, provavelmente ele estava torcendo por isto.

Eu tentei ser mais legal com ele, explicando meio por cima como era aquele dia para nós.

— É a noite mais sagrada do ano, e a mais perigosa. A mais importante das Grandes Festividades. É nossa versão do Ano-Novo, o final do ano velho e o começo do novo.

— O que você quer dizer com perigoso? — Era exatamente como eu imaginava. Os Mortais não tinham noção da quantidade de tubarões ao mergulhar naquelas águas.

— Minha avó diz que é a noite em que o véu entre este mundo e o Outro Mundo, o mundo dos espíritos, fica mais fino. É uma noite de poder e uma noite de lembranças.

— O Outro Mundo? É como uma vida após a morte? — perguntou confuso.

Percebi o quanto Ethan era inocente em tantos termos. O Outro Mundo era algo que eu sabia da existência desde que conseguia me lembrar.

— Mais ou menos. É o reino dos espíritos.

Eu ainda me lembrava de vovó explicando sobre o Outro Mundo. "Não é como uma vida após a morte. É como o lugar ao qual os espíritos vão quando se perdem no caminho para o Depois. É onde eles permanecem até conseguirem resolver o que têm de pendente… ou até morrerem uma segunda vez lá". Eu me perguntava se meus pais estavam lá ou se tinham Atravessado. Eu não queria imaginar uma segunda morte deles.

— Então o Halloween na verdade se trata de espíritos e fantasmas. — Ethan disse como se tivesse certeza.

Eu revirei os olhos. Ele estava resumindo tudo como mais um dos filmes que ele deveria assistir aquela noite. Era muito mais que isso. Aquela noite poderia se tornar uma noite de Caça aos Mortais se nós, Conjuradores, fôssemos tão idiotas quanto eles.

— Nos lembramos dos Conjuradores que foram perseguidos por serem diferentes. Homens e mulheres que foram queimados por usarem seus dons.

— Você está falando dos julgamentos das Bruxas de Salem? — Ethan estava indo de mal a pior.

— Acho que é assim que vocês os chamam. — Fiz uma careta. — Houve julgamentos de bruxas por toda a costa leste, não só em Salem. Em todo o mundo até. Os julgamentos das Bruxas de Salem são apenas aqueles que os livros de vocês mencionam. — Não pude evitar tratar "vocês" como um xingamento. Ethan era e estava agindo como o resto dos Mortais aquele dia, e aquilo estava tirando minha paciência. Talvez eu estivesse de TPM, ou de repente realmente estivesse apegada ao meu mundo.

Passando no Pare & Roube, começamos a ser seguidos por Boo, que estava esperando embaixo da placa de pare na esquina, como se soubesse que passaríamos ali. Ele começou a andar lentamente atrás do rabecão. Deveria ser uma cena estranha um cachorro preto tão semelhante a um lobo marchando em direção a um carro funerário. Ethan sentiu dó dele, pelo visto.

— Devíamos dar uma carona a esse cachorro. Ele deve ficar cansado de seguir você dia e noite.

Olhei pelo retrovisor, observando Boo se distanciando. Eu sabia a verdade. Meu cachorro sempre agiria daquele jeito.

— Ele jamais entraria.

Depois de algum tempo em silêncio, Ethan olhou para mim, o misto de vergonha e curiosidade em seus olhos castanhos transbordavam por entre os fios do cabelo que lhe caíam na visão.

— L, posso fazer duas perguntas?

Ergui uma sobrancelha, olhando para ele de esguelha, e assenti.

— Fale.

— Nas últimas semanas eu estou com muita sorte na quadra, até virei capitão, você sabe... — Eu sabia mesmo. Ethan havia ficado tão feliz que praticamente comemorava o tempo todo por Kelt, só estava preocupado quanto a Earl, que parecia prestes a cair numa briga com Ethan. Um dia eu até tinha assistido o jogo, mas não entendia nada, o que me fizera ficar perguntando tudo a ele por Kelt. Nunca mais assisti a jogo algum depois daquilo, mas ele insistia em falar comigo enquanto jogava, inclusive contar quantos pontos já havia feito. Em comparação a pontuação que ele fazia antes, havia um grande avanço ali. — É você? Quero dizer... É algum Conjuro?

Revirei os olhos, aquilo era absurdo.

— Não há magia alguma nisso, Ethan. Pelo menos não minha, juro, e acredito que nem nenhuma magia de Conjuradores. Talvez você só esteja tendo muita sorte. — Era verdade. Eu não sabia nem como era exatamente um jogo de basquete. Se eu quisesse que ele fosse bem, provavelmente acabaria mudando a trajetória da bola para a cesta errada. Não que eu saiba fazê-lo. — E a outra pergunta?

— Se vocês não se fantasiam... — Ele estava voltando ao assunto do Halloween. Ele deveria se sentir muito estranho estando com uma bruxa ao lado. —… não há mesmo magia na brincadeira? Nada de espantar os fantasmas com as fantasias ou algo assim? Eu jurava que afastavam o mal. Será que não tem mesmo nada mágico em Gostosuras ou Travessuras?

Acabou que eu podia usar quase a mesma resposta para ele.

— Também não. O verdadeiro Mal não vai se assustar com fantasias em um dia como esse. Os Mortais permanecem Mortais, e os Conjuradores se tornam mais fortes. Os das Trevas então? Duvido que se preocupem em correr de crianças que estão quase se tornando diabéticas. Se há algo mágico nisso, não é vindo dos Conjuradores. Talvez a imaginação de vocês seja a verdadeira magia, mas não é a que eu conheço de verdade.

Ethan passou o resto do tempo calado. Eu ainda esperava que ele me perguntasse o que havia de mágico naquele dia então, mas ele não perguntou. E talvez fosse melhor assim. Eu ainda tinha que me preparar para todos os Feitiços para o Ano-Novo, não queria explicar tudo para ele.

Quando chegamos ao estacionamento da escola, demorei alguns minutos para decifrar a figura que ali estava. Usando uma peruca loura, pompons e um suéter das Wildcats, o nome da equipe de líderes de torcida da Jackson, Link estava horrível e assustadoramente parecido com a mãe, exceto pelas peludas pernas finas que aumentavam toda a falta de graça da sua fantasia.

Pelo visto, os atletas do basquete haviam combinado de se fantasiar em grupo das próprias líderes de torcida. Olhei para Ethan de relance. Admiti para mim mesma que queria ter visto uma cena dele vestido daquela forma. Seria hilário e inesquecível.

— Você é um babaca — disse Link, enquanto se aproximava entre os carros. Ele era ainda mais terrível de perto. — Onde está sua fantasia?

— Desculpe, cara. Esqueci.

Nem eu conseguia acreditar em Ethan. Link também percebeu que ele não estava exatamente falando uma verdade.

— Mentira. Você não queria vestir toda essa porcaria. Conheço você, Wate. Você deu pra trás.

— Juro, eu só esqueci.

Antes que os dois começassem a brigar, resolvi sorrir para Link. Não tinha como não fazê-lo, ele estava engraçado.

— Você está ótimo.

— Não sei como vocês garotas usam todo esse lixo no rosto. Coça pra caramba.

Fiz uma careta. Ele estava me comparando àquelas meninas da Jackson, e eu não chegava nem perto do reboco que elas passavam em forma de maquiagem.

— Sabe, nem todas nós assinamos um contrato com a Maybelline quando fazemos 13 anos. — Eu me referia a mim. Não gostava de usar maquiagem. Na verdade, mal me lembrava da última vez que usara senão por insistência de Ridley em me ver "melhor produzida", vários anos atrás.

Link arrumou a peruca, que em nada mudou, e enfiou outra meia dentro do suéter, que obviamente só ficava mais longe de parecer conter algum seio ali.

— Diga isso para Savannah.

Apesar de estarmos atrasados para o primeiro horário, não parecia fazer diferença para ninguém. Aparentemente, mais da metade dos alunos havia matado aquele horário. Ethan, Link e eu seguimos em direção a aula de inglês. Eu achava que apenas o time de basquete seria o centro das atenções naquele dia, que nada poderia superar algo como aquilo, até que eu descobri os outros estudantes que optaram por fantasia em grupo.

Enquanto seguíamos pelo corredor, eu parei ao vê-las. Ethan foi o último a perceber.

— Puta merda. — Link bateu em Ethan com as costas da mão, eu vi pelo canto do olho.

— O que?

Eu não fiz questão de responder o que era. Estava incrédula com o que via. As Líderes de Torcida marchavam pelo corredor em fila, vindo em nossa direção, com os sorrisos doces que me davam tanto nojo. Emily era a primeira, seguida por Savannah, Eden, Charlotte e todos os membros da torcida da Jackson Wildcats. Ethan havia dito que elas estavam tendo um péssimo ano desde que eu havia chegado, e de repente eu desejava que elas se machucassem gravemente depois daquele Halloween.

Elas estavam idênticas. Vestidos pretos extremamente curtos, botas de bico fino da mesma cor e chapéus de bruxa com a ponta dobrada. Portavam vassouras, fingindo varrer o chão enquanto desciam em procissão pelo corredor. O pior eram os detalhes. Usavam perucas pretas com cachos selvagens, delineador e batom pretos tornavam seus rostos exagerados, e tudo só piorava quando se via mais de perto: todas haviam desenhado uma exagerada lua crescente com a mesma maquiagem preta embaixo dos olhos. Imitando a inconfundível marca de nascença que eu tinha embaixo do olho esquerdo.

Elas estavam vestidas de bruxas, mas não qualquer bruxa. Estavam fantasiadas daquela forma imitando a única Conjuradora daquela escola.

Bruxas? No Halloween? Que criativo.

Ethan estava assustado, sem conseguir se mover.

Mas eu não estava assustada. Eu estava sentindo raiva. O ódio lentamente surgia no meu peito e se enraizava através do resto do meu tórax, como se lentamente criasse pernas como uma aranha e as esticasse através dos meus vasos sanguíneos. Eu já podia sentir a familiar pressão na boca do estômago de quando eu usava meus poderes. Mas tentei me controlar. Se havia algo que eu não podia fazer era permitir que elas soubessem quem eu era.

Aquelas Mortais não sabiam com quem estavam lidando. Se elas sequer soubessem o que eu podia fazer, como meus poderes eram descontrolados, eu duvidava que me tratariam daquela forma. Porém, perder o controle naquela hora não ajudaria em nada. Minha expressão era a mesma o tempo todo. O orgulhoso de ser Conjuradora que sentira pela manhã estava me ajudando a manter minha expressão fria, apesar de ter certeza que Ethan sentiu minha mão tremendo quando a apertou.

Lamento, Lena.

Ethan parecia preocupado. Eu apenas ignorava seu olhar.

Se elas soubessem...

Se elas soubessem o que sou capaz de fazer, eu estava pensando sem me permitir usar Kelt, nunca me tratariam assim.

Ethan olhou em volta. Talvez esperando que eu estivesse destruindo alguma coisa acidentalmente. Não aconteceu. Eu estava concentrada pensando em como elas poderiam pagar pelo que estavam fazendo comigo.

Ethan seguiu até elas para encontrá-las no meio do caminho, eu apenas segui seus passos.

— Onde está sua fantasia, Emily? Esqueceu que era Halloween? — perguntou ele.

Emily assumiu uma expressão de confusão, e então sorriu. Aquele sorriso doce e nojento de uma arrogância que visivelmente a tornava ainda mais podre do que já era.

— De que você está falando, Ethan? Não é disso que você gosta agora? — rebateu ela.

— Estávamos tentando fazer sua namorada se sentir em casa — disse, dessa vez, Savannah, fazendo uma bola de chiclete.

Olhei para Ethan. Por mais que eu quisesse enfrentá-las, ele não merecia aquilo.

Ethan, pare. Só vai piorar as coisas pra você.

Não ligo.

Posso lidar com isso.

O que acontece com você acontece comigo.

Link resolveu salvar a pátria, se posicionando ao nosso lado e ajeitando a meia-calça.

— Ei, garotas, pensei que vínhamos de piranhas. — Link brincou. — Ah, espere, isso é como vocês vêm todo dia.

Não consegui não sorrir para ele. Link estava muito engraçado, mas enfrentar as Líderes de Torcida também não lhe faria bem.

— Cale sua boca, Wesley Lincoln. Vou contar pra sua mãe que você está andando com essa aberração e ela não vai deixar você sair de casa até o Natal. — ameaçou Savannah.

— Você sabe o que é aquela coisa no rosto dela, não sabe? — Emily estava rindo enquanto apontava para minha marca de nascença, a mesma que ela havia desenhado em si mesma. — É chamada de marca da bruxa.

— Você pesquisou isso na internet ontem? Você é mais idiota ainda do que eu pensava. — Ethan riu.

— Você é o idiota. Está saindo com ela. — retrucou ela.

Ethan estava ficando vermelho, o que só iria piorar tudo ainda mais. Eu entendia. Nós estávamos mesmo saindo, tínhamos até dado um beijo uma vez, e pelo visto estavam todos pensando que estávamos namorando, o que não era verdade. Pelo menos não realmente. Ethan não havia pedido, e eu obviamente não ia falar sobre com ele. Se havia o chamado de namorado na frente da minha família, foi para manter Ridley longe. Eu ainda não queria Ethan tão apegado a mim. Ele era legal, eu gostava dele, e talvez tivesse aceitado namorar algum tempo atrás. Mas com menos de cinco meses para minha Invocação? Eu não queria me tornar a assassina dele. Se eu não estivesse sentindo tanto ódio daquelas garotas, estaria tão vermelha quanto Ethan em considerar a possibilidade de namorar ele.

— Emily, por que vocês todas não vão pular de uma janela? Pra ver se conseguem voar. Ou não. — Ethan estava se recuperando.

As meninas semicerraram seus olhos com raiva.

— Espero que se divirtam sentados em casa juntos à noite, enquanto o resto da escola estiver na festa de Savannah. Será o último evento dela na Jackson.

Emily deu meia volta e a formação das garotas se desfez enquanto elas voltavam para seus respectivos armários.

— Elas me odeiam mesmo. Nunca vai passar, vai? — Eu suspirei.

Link estava brincando comigo, tentando me animar. Eu tinha que admitir que ele estava conseguindo. O significado de ridiculamente engraçado havia mudado para mim com Link daquele jeito. Iniciou uma coreografia completamente aleatória com pulos, piruetas e balançar de pompons.

— Elas odeiam você, odeiam sim. Odeiam todo mundo, e você? — cantarolou.

— Eu ficaria mais preocupado se elas gostassem de você. — respondeu Ethan, se inclinando e passando o braço em torno de mim. Eu recuei, desviando, sem deixar que ele sequer me tocasse.

Aqui não.

Por que não?

Você só está piorando as coisas pra si mesmo.

Sou faminto por punição.

— Chega de agarração em público. — Link nos interrompeu, dando uma cotovelada nas costelas de Ethan. — Você vai conseguir fazer com que eu me sinta mal agora que estou fadado a mais um ano sem uma namorada. Vamos nos atrasar pra aula de inglês, e eu preciso tirar essa meia-calça no caminho. Fica entrando na minha bunda.

Olhei para trás. À direita, havia o corredor que iria até os banheiros e que também era caminho para aula de inglês. Olhei para frente também, onde estavam todas as Líderes de Torcida, tirando a maquiagem. Uma memória antiga voltou a minha mente ao ver aqueles lenços de papel ficando pretos ao tirar o batom do rosto delas.

E se eu…?

— Só preciso parar no meu armário pra pegar meu livro — disse eu, olhando cada uma delas, com memórias repetindo em minha mente.

Ethan me encarou. Ele sabia que meu armário ficava depois de passar por todas elas.

— Apenas as ignore. — Ethan pediu.

Não, pensei.

Dois ou três anos atrás, quando eu estava morando no Massachusetts, mais especificamente em Salem, eu tinha me tornado o alvo de garotas como Savannah, Charlotte e Emily, mas o nome delas era Katherine, Lizzie e Abigail. As três provavelmente eram as alunas mais populares da oitava série. A professora de história havia pedido um trabalho sobre o Julgamento das Bruxas de Salem. Devido a um rumor que vovó era uma bruxa, aquelas garotas começaram a me provocar, mesmo depois da aula. Elas me cercaram no meu armário e Julia apareceu. As quatro começaram a brigar até dizer Jules dizer que as Bruxas de Salem tinham marcas que podiam identificá-las.

Foi aí que Julia se comportou como a Ridley de hoje. Ela disse duas simples palavras que ainda me lembrava serem do Conjuro Notati, para Marcar o Não Marcado. Um Conjuro que tio Macon brincava conosco.

Vendo aquelas marcas de nascença, o que aconteceria se eu mudasse um pouco as palavras do Conjuro? O Conjuro original dizia "Marque o Não Marcado", em latim. Mas elas estavam marcadas. Eu só queria que aquelas marcas aumentassem.

As palavras vieram a mim como se eu as conhecesse desde sempre.

Notatam eius Nota

Mesmo sem realmente falar em voz alta, eu quase podia ver seguirem através do corredor, alcançando cada uma como pequenas bolhas guiadas por minha mente.

Marque sua Marca

Eu não estava criando uma marca em pessoas imaculadas como Ridley havia feito. Eu estava tornando pior a marca que elas já tinham feito em si mesmas. O tempo havia ficado lento enquanto eu caminhava até meu armário e tudo aquilo acontecia. Desde a memória preenchendo minha mente até as palavras surgirem em latim. Eu não tinha conhecimento algum da língua, mas depois de várias vezes onde Ridley havia roubado livros de vovó e tio Macon (se é proibido, ela gosta) e alguns deles tinham palavras em latim, acabei por me habituar um pouco.

Apesar de palavras poderem mudar muita coisa, apesar de saber que eu corria um grande risco se estivesse pensando nas palavras erradas, apesar de saber que apenas pensar nelas e não falar para Conjurar talvez não adiantaria, eu não temia qualquer consequência. Eu só queria uma vingança, e se elas queriam tanto ser bruxas como eu, teriam que aguentar minha primeira tentativa de Conjurar de verdade.

Eu havia me concentrado em cada uma, o ar, o tempo, tudo o meu redor enquanto eu andava só voltou a se mover quando cheguei ao meu armário e o abri, apesar de observar as meninas por detrás da porta aberta.

Emily estava tentando tirar o desenho da bochecha, esfregando o lenço de papel com força. A lua só ficava maior e mais preta, não saía.

— Charlotte, você tem removedor de maquiagem? — perguntou.

— Claro. — respondeu Charlotte, entregando.

Emily esfregou a bochecha mais algumas vezes, dessa vez com o produto da amiga.

— Isso não está saindo. Savannah, achei que você tinha dito que esse negócio saía com água e sabão.

— Sai.

— Então por que não está saindo?

Olhei para dentro do meu armário, encarando uma caneta permanente que havia na beirada. Fechei meus olhos e me concentrei, com uma nova ideia em mente, e empurrei-a para o fundo com o dedo, para o escuro do espaço que havia ali dentro.

Reponere

Substituir.

Minha caneta não voltou.

Asher bateu a porta do armário, irritada, o que chamou atenção de Link e eu, apesar de eu estar prestando atenção no showzinho delas desde o início.

— O que aquelas quatro estão fazendo ali? — perguntou Link.

— Parece que estão tendo algum tipo de problema. — respondi, apoiando no meu armário para assistir tudo com mais atenção ainda.

Savannah começou sua luta contra a lua preta também.

— A minha também não está saindo. — Assim como Emily, Savannah estava com quase metade do rosto manchada. Ela começou a revirar a bolsa. — Estou com o lápis bem aqui.

Emily também pegou a bolsa. Provavelmente estavam procurando por algo que indicasse como tirar aquilo de seus rostos.

— Esqueça. O meu está na minha bolsa.

— Mas o que... — Savannah tirou algo da bolsa. Ela segurava algo fino.

Minha caneta.

— Você usou caneta permanente? — Emily começou a rir.

Savannah segurou a caneta na frente do rosto.

— Claro que não. Não tenho ideia de como isso veio parar aqui.

Eu tenho, pensei, ainda bloqueando meu Kelt para Ethan não escutar.

— Você é tão burra. Isso nunca vai sair antes da festa de hoje.

— Não posso ficar com essa coisa no meu rosto a noite toda. Vou vestida de deusa grega. Afrodite. Isso vai arruinar minha fantasia.

Está mais para a feiúra de Hefesto, pensei comigo mesma. Estava me divertindo com a cena, mesmo que tentasse esconder a expressão.

— Você devia ter tido mais cuidado. — Emily revirou a pequena bolsa prateada mais um pouco, derrubando todo o conteúdo no chão do armário, com tubos de gloss, vidros de esmalte e batons rolando até o chão. — Tem que estar aqui.

— De que você está falando? — Charlotte estava confusa.

— A maquiagem que usei hoje de manhã não está aqui.

Àquela altura, Emily estava atraindo uma grande atenção. As pessoas estavam parando e formando uma platéia no meio do corredor para ver o que estava acontecendo.

Outra caneta permanente rolou da bolsa de Emily até o meio do corredor, onde ela encarava incrédula.

— Você usou caneta permanente também?

— Claro que não! — gritou Emily, esfregando o rosto freneticamente, só fazendo a mancha preta preencher ainda mais seu rosto. Eu já mal podia ver o que havia de sua pele branca por baixo da marca. — Que diabos está acontecendo?

— Sei que estou com o meu — disse Charlotte, girando a tranca do armário. Quando abriu a porta, ficou ali parada encarando o interior alguns segundos.

— O que é? — perguntou Savannah.

Charlotte também tirou uma caneta permanente de seu armário. As três, desesperadas, olharam para Eden em busca de respostas para silenciosas perguntas se ela tinha conseguido fazer diferente delas. Com toda a bochecha preenchida, Eden as encarou, balançou a cabeça negativamente e ergueu uma caneta permanente que havia acabado de tirar do bolso lateral da mochila.

Link sacudiu os pompons.

— As líderes de torcida são demais!

Eu voltei a olhar para meu armário. Por mais que estivesse escuro ali no fundo, eu podia ver um monte de lápis de olho que não estavam ali antes. A maquiagem das garotas, substituindo minha caneta.

Ethan me encarava. Não tinha mais como esconder.

Caneta permanente?

Ele conhecia minha marca registrada para poesias. Pensar no quanto aquilo estava sendo bom de se ver, pensar na sensação de prazer em vê-las arrependidas pelas fantasias, me fez sorrir maliciosamente.

Pensei que você tivesse dito que não conseguia controlar seus poderes.

Sorte de principiante.

Pelo que eu ouvi aquele dia, as Wildcats haviam, mesmo com a enorme mancha, conseguido arrumar suas fantasias para a festa de Savannah. Mas eu não me importava com o final. O fato de terem sido o centro das atenções como tanto queriam desde o início, mas por um motivo muito mais merecido, já valia a pena toda a pressão no estômago que senti durante um bom tempo e todo o esforço para improvisar o latim.

Tudo valeu à pena. Disso eu tinha certeza. Eu não sabia o que podia significar usar meus poderes logo no Halloween, mas pouco me importava. A verdade era que… Se o ato Conjurar trazia consigo aquela sensação tão boa de satisfação, eu não via a hora de usar meus poderes de novo.

Todo o medo que eu senti quando Ridley Conjurou o Notati? Havia sumido. Eu entendia perfeitamente seu ato agora.

Naquela hora, se eu pudesse voltar no tempo, teria feito o Conjuro junto com minha prima.


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Notas finais do capítulo

Admitam. Vocês também queriam ter visto o Ethan vestido de Líder de Torcida!
Aliás, queria dizer que o Conjuro Notati é referência ao e-book Before the Claiming, um dos quatro livros da saga paralela Beautiful Creatures: The Untold Stories. O e-book não foi traduzido ainda, então não expliquei muito da história porque meu inglês é bem limitado e eu não queria dar mais spoilers do que o necessário.
Quanto aos Conjuros... Juro que tive mais trabalho com eles do que a própria Lena. Eu devo ter errado feio no latim, mas saibam que a intenção de fazer algo bom, pelo menos, eu tive KKKKK. Se alguém tiver melhor conhecimento da língua, estou disposta a corrigir.
O capítulo ainda tem uma segunda parte, que vou começar a escrever e quando for possível eu posto. Não queria que ficasse tão grande de novo.
Até mais!



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