Sixteenth Moon escrita por Nath Schnee


Capítulo 16
Capítulo 15 – 13 de Outubro


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, como vocês estão?

Como só é permitida uma imagem por capítulo aqui no Nyah!, resolvi deixar aqui o link para a outra imagem do capítulo. Ela também está em um dos trechos do capítulo, mas achei que seria melhor deixar aqui também. Nas notas finais deixarei alguns esclarecimentos importantes sobre o capítulo e as imagens:

http://i1159.photobucket.com/albums/p628/Nathalia_Tavares/Ravenwood_zps69tmu9s1.jpg

ATENÇÃO: Ela não é a mesma que está visível durante o capítulo.



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Marian, a Bibliotecária


Mesmo três dias depois, a visão não saía da minha mente. Não era como das outras vezes, onde Ethan e eu víamos tudo e levávamos um tempo pequeno para sumir com os resquícios da visão — geralmente, cinzas no meu cabelo, fuligem do rosto, olhos ardendo da fumaça —, aquilo era fácil de esquecer. Mas a imagem de Ethan morrendo, da luta de Genevieve para reverter o efeito dos ferimentos… Eu quase podia sentir a dor dela percorrer meu peito. Nós duas éramos Conjuradoras apaixonadas por um Mortal chamado Ethan Wate.

Ainda que eu tentasse pensar que ele era apenas um ancestral do meu Ethan, eu não conseguia afastar da minha mente que o Ethan Lawson acabaria do mesmo jeito. A dor de Genevieve continuava parecendo muito vívida. E eu ainda sentia que se repetiria em um futuro próximo, mesmo sendo o passado. Mais próximo do que eu gostaria. Repetiria no dia 11 de fevereiro.

Eu havia pensado novamente em tentar convencer Ethan de se afastar, mas ele mesmo não parecia estar em seu melhor estado. A visão também o havia afetado, e eu podia até imaginar. Deveria ser muito estranho ver praticamente a si mesmo morrer de um tiro na Guerra Civil.

Nenhum de nós estava bem. Depois de tudo, não era apenas Genevieve e Ethan que brincavam com meu humor. Quanto mais tempo eu passava com Ethan, mais eu descobria mentiras sobre meu tio. Logo Macon, o homem que chegava mais perto de um pai para mim, aquele a quem sempre confiei desde que me lembro. Que cuidou de mim toda a minha infância com minha avó... Como ele podia mentir tanto? O que havia de tão errado em toda aquela história que ele não me contava?

A chuva do lado de fora denunciava meu humor, mas eu não estava a fim de conversar. Faltei à escola em alguns momentos e ainda assim permaneci evitando tio M na mansão. Aquele dia não foi diferente. Eu não sabia exatamente o que havia acontecido com Ethan para que ele repentinamente implorasse para que eu fosse à biblioteca com ele, mas não recusei. Se significasse evitar Macon falando sobre meu humor e não envolvesse a escola, então eu iria de boa vontade.

Eu estava esperando por ele do lado de fora da biblioteca de Gatlin. Diferente de esperar na frente do cinema, eu não havia encontrado ninguém. Só havia um carro no estacionamento além do rabecão, e ele não parecia com qualquer um que eu já tivesse visto no estacionamento da escola.

Ethan estava demorando, o que não era novidade. Eu escrevia no caderno enquanto ele não aparecia. Nem eu sabia o quanto minha mente estava flutuando entre realidade e visões quando ia escrever.

Outros — os Mortais — sonham em ter dezesseis

Dezesseis mais perto de um fim mortal

Eu quero sonhar como um Mortal

E não ser mortal para os outros

Eu invejava os Mortais por tanto quererem a maioridade, enquanto eu preferia fugir dela.

E, claro, havia um poema sobre a visão. Eu tinha que escrever, ou ficaria louca com aquilo na minha cabeça.

Mesmo final

Mesma morte

Longe (ou) perto?

 A frase sobre a morte não era algo só da visão como também de um futuro próximo. Eu temia que Ethan Lawson acabasse como Ethan Carter, e isso só se tornava mais próximo conforme meu aniversário se aproximava. Mas também se distanciava, conforme o dia que vimos na visão de distanciava do presente.

Se existisse algo como maldições no Mundo Conjurador, eu poderia jurar que aquela situação era uma.

Quando Ethan chegou, eu pude ver claramente como estava agitado. Seus olhos, mesmo por trás do cabelo castanho, expressavam uma grande esperança e confiança que, admito, eu invejava. Vestia uma camiseta preta da banda Queen, com rostos confiantes que quase combinavam com seus olhos. Estava também com um tênis preto e uma calça jeans azul. Dos joelhos para baixo, Ethan estava com respingos de lama, mas não parecia se importar com isso.

Eu quase podia dizer que estávamos combinando, pois eu usava uma camiseta preta, uma calça jeans e botas de chuva. Eu sentia falta dos meus velhos All Stars, mas não podia judiar tanto assim deles.

Fechei meu caderno, meu dedo entre as folhas para não perder onde parei, e instintivamente levei a mão aos meus pingentes, reconhecendo o contorno do corvo dourado. Eu sempre reconhecia o contorno de cada um, mesmo que eles estivessem tão misturados entre si quanto as pequeninas tranças do meu cabelo estavam em meus cachos.

Tentei usar o Kelt para ouvir os pensamentos de Ethan. É claro que não era como uma Telepatia, mas se havia algum pensamento forte na mente de Ethan, eu podia acabar escutando, e quem sabe descobrir o que ele tinha em mente ao visitar a biblioteca. Eu não conseguia imaginar como uma biblioteca pequena de uma cidade minúscula podia responder qualquer uma de nossas perguntas.

Tudo o que ouvi da mente dele foi sobre mais alguma estratégia de basquete.

Encarei meus poemas uma última vez, desencostei da lateral do prédio e fitei Ethan enquanto jogava meu caderno no banco do rabecão.

— Você acha mesmo que a biblioteca tem algo que pode nos ajudar?

Ele me puxou pela mão.

— Não é algo. É alguém.

A biblioteca não era tão ruim quanto eu pensei. Entenda: Viajar todo ano para cidades diferentes muitas vezes significava visitar bibliotecas diferentes. Muitas das vezes, quando se tratava de cidades pequenas e religiosas como Gatlin, eram prédios abandonados quase sem cuidado algum. Alguns eram até prédios novos, mas que não tinham qualquer coisa de bonito. A biblioteca de Gatlin, ainda que sendo um prédio descuidado, era bonito. Parecia tão velha quanto Ravenwood, era uma construção vitoriana velha e desgastada, com décadas e décadas de hera abraçando as janelas, paredes e portas. Tinha dois andares constituídos de tinta branca descansada, portas e janelas de madeira marrom envelhecida e cheiro de verniz, capas plásticas de livros e papel velho.

Papel velho… O tão familiar e querido cheiro de livro. Existe algo melhor?

Tentei não deixar o ambiente me convencer de que aquele era mesmo o melhor lugar para pesquisarmos.

— Ainda não entendi. Que autor nos ajudaria? Eu posso garantir que não existem livros Conjuradores aí. — insisti novamente. Ethan também parecia ter acabado de sair de um transe.

— Não é autor de livro algum. É uma autora aqui de Gatlin mesmo. Marian Ashcroft.

— A bibliotecária? — perguntei, lembrando das cartas dela para tio M. — Ela é uma amiga de tio Macon.

— Marian era parceira de pesquisa da minha mãe, e também sua melhor amiga. — respondeu Ethan, e eu pensei em como aquele lugar podia ter tido algum significado imenso para ele. Não apenas aquele lugar, mas a Dra. Ashcroft em si. — É a única pessoa do condado que o conhece tanto quanto minha mãe. E possivelmente a pessoa mais inteligente da cidade.

Dizer que uma bibliotecária era uma pessoa inteligente não me surpreendia, mas dizer que era a mais inteligente de Gatlin… Era como duvidar das capacidades de Macon. Encarei Ethan com ceticismo.

— Mais inteligente do que meu tio M?

— Ok. Ela é a Mortal mais inteligente.

Quando entramos na biblioteca, ela estava tão vazia quanto o estacionamento, o que não parecia ruim para a bibliotecária. Aparentemente, ela aproveitava a cidade fantasma que a biblioteca se tornara para recitar. Falando sozinha daquele jeito, ela realmente parecia uma louca de alguma tragédia grega, tal qual ela recitava.

— "Sabeis de alguma coisa?"

Ethan e eu começamos a seguir a voz dela pelas estantes.

— "Vós ouvistes?"

Quando a encontramos, ela estava na esquina onde deveria ser a parte de ficção. Estava se balançando, apenas de meias, segurando uma pilha de livro nos braços. Ela olhava para Ethan, mas não parecia realmente observá-lo. Eu conhecia aquele olhar. Era o mesmo que eu via quando tio Macon ou eu estávamos lendo.

— "Ou está escondido de vós..."

Saí de trás de Ethan, esperando que aquilo a trouxesse para a realidade. Ela olhou para mim por cima dos óculos de leitura quadrados.

— "... que nossos amigos estão ameaçados..."

Dra. Ashcroft definitivamente estava com o olhar de quem viajava através dos próprios pensamentos. Eu reconhecia completamente aquele olhar. Era o que eu tinha quando lia meus próprios poemas na parede e me deparava com o espelho.

— "... com o destino dos nossos inimigos?"

Eu não sabia ao certo se deveria levar aquela citação como algo além de uma citação. Talvez até mesmo fosse melhor levar como apenas algo recitado, pois eu não queria pensar naquilo. A única interpretação que eu era capaz de fazer é que nosso inimigo era a mim mesma, e que meu amigo ameaçado era Ethan.

Tentei fingir que era Ismênia, uma das personagens da peça, e que não estava sabendo de nada além da perda mais recente. Ou pelo menos achei não saber nada até Ethan se mostrar não ser um conhecedor das tragédias de Sófocles.

Édipo-Rei? — disse, em tom de dúvida, Ethan.

Ainda que por cima da pilha de livros, a Dra. Ashcroft e ele se abraçaram firme. Mesmo que eu não estivesse no lugar de Ethan, pude ver que aquele fora um abraço bem apertado. Deveria ser até incômodo, considerando a gigante biografia do General Sherman entre os dois.

Antígona — corrigi, atrás dele de novo.

Ethan havia acertado o autor, Sófocles, mas não a peça. Édipo-Rei era a primeira peça das três, enquanto Antígona a última.

Exibida.

Pensei em responder o Kelt dele, mas fiquei quieta.

— Muito bem! — Dra. Ashcroft deu um sorriso para mim por cima do ombro de Ethan.

Ele me fez uma careta, eu apenas dei de ombros.

— Fui educada em casa. — Não havia algo que melhor descrevesse o motivo de eu saber daquilo. Ainda lembrava quando estava lendo a segunda peça, Édipo em Colona, por ordens de nosso professor particular quando Ridley tomou o livro de mim, dizendo que eu estava me salvando do tédio certo de uma leitura como aquela e começamos a seguir uma a outra enquanto eu tentava pegar o livro de volta. O que era um jeito de me impedir de ler "livros chatos", como ela dizia, acabou se tornando uma brincadeira.

— É sempre impressionante encontrar uma pessoa jovem que conhece Antígona. — comentou a Dra. Ashcroft.

— Só o que lembro era que ela queria enterrar os mortos. — respondi, e fui sincera. Eu não lia nada de Sófocles há anos.

A bibliotecária sorriu para nós dois. E então, como se nós de repente fôssemos ajudantes, jogou metade da pilha de livros nos braços de Ethan e a outra metade nos meus braços.

Isso ainda assim não me distraiu do quanto ela parecia uma atriz, alguém que apareceria em uma capa de revista. Seus dentes eram muito brancos e tinha uma linda pele morena. Não se parecia realmente com uma bibliotecária. Pelo menos, não com aquele clichê dos filmes de senhora branca com cabelos grisalhos e óculos de leitura semelhantes ao de Harry Potter. Marian tinha uma beleza exótica, como se misturasse todas as características das pessoas do sul, como das Antilhas, do Caribe, e até da Inglaterra, da Escócia e Estados Unidos até chegar a ela e, ali, fazer aquela linda miscigenação. Marian Ashcroft se vestia como se fosse dar aula em alguma universidade importante. Sua roupa e jóias pareciam vir de algum outro lugar e ainda combinar com o cabelo curto simples, também bonito. Era óbvio que ela não nascera em Gatlin, assim como eu, mas provavelmente estava lá havia tanto tempo que ninguém mais estranhava ela.

Eu só esperava que aquilo também significasse que ela não iria me estranhar, como todo o resto da cidade.

— Senti tanto sua falta, Ethan. — Seus olhos castanhos seguiram de Ethan até mim. — E você... Você deve ser a sobrinha de Macon, Lena. A famosa garota nova na cidade. A garota da janela. Ah, sim, ouvi falar de você. As senhoras, elas andam falando.

Seguimo-la até o balcão e colocamos os livros no carrinho para guardá-los.

— Não acredite em tudo que ouve, Dra. Ashcroft. — Foi tudo o que consegui dizer, considerando que talvez ela não acreditasse nem no que eu dizia.

— Marian, por favor.

Não pude deixar de ter a sensação de um engasgo com minha própria respiração. Era a primeira vez, exceto com Ethan e o amigo dele, Link, que alguém demonstrava algum tipo de gentileza ou se permitia alguma intimidade comigo. Ou pelo menos tentava.

Olhei para Ethan, prestes a perguntar por Kelt se ela era assim com todo mundo, mas ele também parecia surpreso. Na verdade, estava arrumando um livro que quase derrubou. Fitei Marian novamente e resolvi apenas aceitar sua simpatia.

— Marian. — Eu sorri.

Perguntei-me se aquela era a suposta hospitalidade sulista que eu tanto desconhecia. Pelo menos uma vez ela deveria existir, certo?

— A única coisa que quero saber é se, quando você quebrou aquela janela com sua vassoura, exterminou as futuras gerações da FRA? — Marian começou a baixar as persianas, e gesticulou para ajudarmos. Ethan foi até outra janela e eu uma terceira.

Pensei em como ela se referira as meninas da minha classe. Era realmente a descrição perfeita. As Filhas da Revolução Americana, assim como o nome dizia, aparentemente era um grupo que reunia todas as senhoras do condado que eram descendentes de algum patriota da Revolução Americana. Eu quase podia me sentir uma Adivinhadora, um Conjurador que vê trechos do futuro, e dizer que o destino de Emily Asher e as outras era exatamente parar no mesmo lugar que as senhoras do FRA: julgando tudo e todos da cidade como se mandassem no mundo.

Mas Marian obviamente não pertencia ao FRA. Ela estava levando na piada. Então achei que deveria também.

— Claro que não. Se eu tivesse feito isso, como teria essa publicidade gratuita? — Sorri um pouco.

O resultado foi uma gargalhada de Marian, que me fez sorrir mais a vontade. Ela passou o braço ao meu redor. Por algum motivo, eu realmente estava gostando da companhia dela.

— Bom senso de humor, Lena. É isso que você precisa para aguentar essa cidade.

Eu suspirei, me perguntando como ela conseguia aguentar aquele lugar.

— Ouvi muitas piadas. A maioria sobre mim.

— Ah, mas... "Os monumentos de humor sobrevivem aos monumentos de poder."

— Isso é Shakespeare? — Eu havia até esquecido que Ethan estava ali. Ele não estava acertando.

— Quase. Sir Francis Bacon. Mas se você for uma daquelas pessoas que acha que ele escreveu as peças de Shakespeare, acho que acertou então. — ela respondeu.

— Desisto. — Dessa vez, Ethan foi quem suspirou.

Marian bagunçou o cabelo dele.

— Você cresceu meio metro desde a última vez que nos vimos, EW. O que Amma dá pra você comer? Torta no café, almoço e jantar? Parece que não vejo você há uns cem anos.

Ethan olhou para Marian. Seu olhar era o mesmo de quando me contou sobre sua mãe, e meu coração apertou.

— Eu sei, desculpe. Só não senti muita vontade de... ler. — Era óbvio que ele estava mentindo, e nós duas sabíamos o que ele queria dizer.

Marian foi até a porta e trocou a plaqueta. De "aberto" se tornou "fechado". Em seguida, trancou. Eu estranhei, estava prestes a perguntar quando Ethan se pronunciou.

— Achei que a biblioteca ficasse aberta até as 21 horas. — disse Ethan.

— Não hoje. A bibliotecária-chefe acabou de declarar que hoje é feriado na Biblioteca do Condado de Gatlin. Ela é espontânea. — Marian piscou. — Para uma bibliotecária.

— Obrigado, tia Marian. — agradeceu Ethan.

— Sei que você não estaria aqui se não tivesse um motivo, e suspeito que a sobrinha de Macon Ravenwood é, se não for nenhuma outra coisa, um motivo. — Tentei não me sentir desconfortável com aquelas palavras. Às vezes eu não queria ser motivo de nada. Nem de alertas meteorológicos, nem de janelas quebrando, nem de tornados invadindo uma sala de jantar. — Então por que não vamos todos para a sala de trás, fazemos um bule de chá e tentamos ter motivação? — Marian brincou com as palavras.

— É mais uma pergunta, na verdade. — disse Ethan, levando a mão ao bolso. Eu o observei com atenção. Não queria que dissesse a verdade a ela. Mesmo que Marian fosse simpática comigo, eu ainda não confiava nela.

Se eu não podia confiar em tio Macon, como poderia acreditar em qualquer outra pessoa?

— "Pergunte tudo. Aprenda alguma coisa. Não responda nada." — recitou Marian.

— Homero?

— Eurípedes. É melhor você começar a acertar algumas dessas respostas, EW, ou terei que ir às suas reuniões de pais.

— Mas você disse para não responder nada. — Ele tinha razão.

Marian nos levou até uma porta escondida atrás das estantes. O nome já explicava tudo. "ARQUIVO PARTICULAR".

— Eu disse isso?

Eu sorri. Entendia o sentimento de Ethan com relação àquela mulher. Ela era divertida, inteligente e tolerante com pessoas de fora, diferente de todos de Gatlin.

Eu me perguntei se a mãe de Ethan teria sido como ela.


Ao abrir a porta, a luz da biblioteca atrás revelou uma sala escura, coberta de lambris. Não tinha janelas, dando uma sensação quase claustrofóbica. Talvez o fato de ser uma sala completamente isolada em um dos mais velhos prédios de Gatlin reforçasse aquela sensação.

Era grande o suficiente para que houvesse quatro longas mesas de carvalho paralelamente. As paredes eram cobertas de livros, cada centímetro com trechos e páginas inteiras. O arquivo lembrava meu próprio quarto, mas as semelhanças paravam ali. Meu quarto tinha poemas, enquanto aquela sala tinha livros para pesquisas preenchendo tudo, salvo apenas uma parede, que portava quadros com mapas. Alguns pareciam mapas atuais, outros antigos. Os mais velhos até pareciam desenhados. Meu quarto me dava a sensação de conforto. Aquele lugar, de muito trabalho e pesquisa. Era como comparar uma casa na árvore com um laboratório de química. Aos fundos, uma sala menor adjacente continha manuscritos e arquivos lotados, dentro de gavetas de metal em grandes estantes.

Enquanto Ethan olhava em volta e Marian se ocupava com o aquecedor e um o bule de chá, eu me aproximei dos mapas, de um que havia chamado minha atenção. Não precisei ver o nome para reconhecer.

— Olhe, Ravenwood. — Sem resistir, contornei com o dedo os limites da propriedade de tio Macon, até chegar à ponta do caminho que eu lembrava ter seguido quando encontrei Greenbrier pela primeira vez. Era muito mais fácil de ver agora em que parte eu havia deixado Ravenwood para trás. — E ali está Greenbrier. Dá pra ver os limites da propriedade bem melhor nesse mapa.

Comecei a ver os livros nas paredes. Civil War Artillery and Munitions. King Cotton: White Gold of the South. A Carolinian goes to war. Confederates in the Attic.

Genevieve.

Franzi o cenho. Não me lembrava de Genevieve estar relacionada a livros de não-ficção sobre a Guerra Civil, até que percebi que Ethan se referia a outra coisa.

Ele estava em uma extremidade do arquivo. Havia uma mesa coberta com uma camada fina de poeira e algumas teias de aranha. Um livro, o nome sendo da Sociedade Histórica, estava aberto. Aproximando-me, notei nomes circulados e um lápis separando as páginas. Pensei em como Ethan tinha dito separar as páginas dos livros a primeira coisa que via era um hábito de sua mãe, e eu quase pude imaginar o quanto visitar aquele lugar trazia ela à sua mente.

Havia um dos mapas desenhados, aparentemente em um papel de seda, e um mapa de Gatlin, um atual. Tudo servia de apoio para um grande quadro.

Um quadro que me perseguiu por toda a infância.

Aqueles cabelos ruivos, aqueles olhos dourados, expressão enigmática…

Tem que ser Genevieve. Temos que contar para ela, L. Temos que perguntar.

Tentei evitar olhar para Marian. Seu sorriso simpático podia me fazer, de alguma forma, mudar de ideia quanto a desconfiar dela.

Não podemos. Não podemos confiar em ninguém. Nem sabemos por que estamos tendo as visões.

Era verdade. Por que deveríamos contar a alguém sobre as visões se sequer sabíamos do que elas se tratavam?

Lena. Confie em mim.

— O que são todas essas coisas aqui, tia Marian? — Ethan perguntou. Sua voz soou curiosa.

Hesitantemente encarei Marian. Temia que ela de alguma forma notasse que eu não confiava nela, e isso a fizesse desconfiar de mim também. Mas Marian não pareceu notar nem que eu evitava seu olhar. A expressão de Marian estava ainda mais receosa que a minha, encoberta por algo sombrio, mas familiar. Demorei a perceber que era o mesmo olhar que todos tinham quando eu perguntava sobre meu pai.

— É nosso último projeto. Da sua mãe e meu. — respondeu.

Por que minha mãe tinha uma foto da pintura de Ravenwood?

Eu não sabia se Ethan estava mais assustado com a coincidência ou com o fato de estarmos falando sobre a mãe dele. Eu não sabia o que dizer.

Não sei.

Caminhei até a mesa e peguei a foto da pintura. Eu quase temia encará-la. Aqueles olhos dourados continuavam observando minha alma assim como eu sentia quando criança.

— Marian, o que vocês estavam fazendo com esse quadro? — perguntei.

Marian entregou as xícaras com o chá para nós. Pelo visto, as pessoas de Gatlin tinham o mesmo costume de todos da minha família. Não importa a situação, usa-se o pires. E aquela hora também estava inclusa.

— Você devia conhecer esse quadro, Lena. Pertence ao seu tio Macon. Na verdade, ele mesmo me mandou essa foto. — Marian me observou, como se esperasse que eu soubesse.

— Mas quem é essa mulher? — perguntei em seguida.

— Genevieve Duchannes, mas eu esperava que você soubesse disso. — Marian parecia incrédula.

Balancei a cabeça.

— Na verdade, eu não sabia. — Não era mentira. Nós não tínhamos certeza de nada.

— Seu tio não ensinou nada a você sobre sua genealogia?

— Não falamos muito sobre meus parentes mortos. — Tentei não mostrar o quanto aquilo me incomodava. — Ninguém quer falar dos meus pais.

Marian não pareceu ter reação quanto à menção dos meus pais, então achei que não os conhecesse. Ela simplesmente andou até uma das estantes com gaveta e começou a vasculhar em busca de algo.

— Genevieve Duchannes foi sua pentavó. Era uma pessoa interessante mesmo. Lila e eu estávamos traçando a árvore genealógica de toda família Duchannes, para um projeto com o qual seu tio Macon estava nos ajudando, até... — Marian encarou o chão por um momento. — Ano passado.

Marian podia ser simpática e sorridente, mas o luto ainda lhe assolava, como a todos que conheciam a mãe de Ethan.

— Você deveria conhecer sua genealogia. — disse ela, continuando.

Marian mexeu em papéis amarelados como pergaminhos. Duas imagens apareceram lado a lado. Aproximei-me e percebi serem árvores genealógicas. Árvores genealógicas que, por mais que eu tanto quisesse, eu nunca vira na vida. Traçavam todo o caminho até eu e meu tio. Traçavam galhos que se enroscavam em certo momento, juntando uma enorme linhagem de Incubus com uma linhagem de Conjuradores.

Ethan apontou para a minha.

— Que estranho. Todas as garotas na sua família têm o sobrenome Duchannes, mesmo as que se casaram.

— É uma coisa da minha família. As mulheres ficam com o sobrenome mesmo depois de casadas. Sempre foi assim. — murmurei em resposta, mas minha voz estava longe. Eu estava concentrada nas páginas, absorvendo tanto detalhe quanto eu conseguia.

Eu não podia evitar. Afinal, era a primeira vez que eu via o nome dos meus pais. Ou o nome de qualquer pessoa que minha família nunca citara. Segui observando desde Genevieve, no topo. Ela se casara com outro homem, afinal. Trace Church. Perguntei-me por um momento se ela sentira falta de Ethan. Todos os meus instintos diziam que sim.

Aparentemente, Genevieve teve duas filhas com aquele homem. Uma de suas filhas e uma de suas netas também tiveram duas filhas, sendo suas duas bisnetas minha avó Emmaline, uma Empata da Luz, e minha tia-avó Althea, a suposta Evo das Trevas.

Observei com ainda mais atenção a partir de vovó. Ela teve duas filhas com Silas Ravenwood, e este por sua vez também teve, com Arelia Valentin, mais três filhos. Tio Macon e um homem chamado Hunting que eu desconhecia, além de uma mulher que eu também não conhecia chamada Leah. As duas primeiras eram minha tia Delphine, que tanto se perdia em suas visões de Palimpsesta e a outra era… Minha mãe.

Izabel Duchannes

Izabel. Então este era, afinal, o nome de minha mãe. Tentei imaginar alguma aparência que poderia combinar com aquele nome, e também com o resto da minha família. Tentei imaginar alguém que tivesse as feições semelhantes às que todos diziam que eu tinha em comum com minha avó. Quanto ao cabelo, tentei imaginar como o de tio Macon ou de tia Del. Preto. Olhos verdes, provavelmente. Esforcei-me para imaginar algo que fizesse sentido. No final, eu quase não consegui nada concreto. Era como tentar me imaginar mais velha, e nada parecia certo.

Também havia a outra pessoa que, até aquele momento, fora desconhecida para mim. Meu pai.

John Wyatt Eades… Izabel Duchannes e John Eades… O que aconteceu com vocês afinal?

Meus devaneios foram cessados quando Marian virou a página e olhou para mim. Tentei focar novamente na conversa.

— É comum no caso de linhagens em que as mulheres são consideradas particularmente poderosas.

Desviei o olhar e tentei encarar Ethan para ver se ele pensava o mesmo que eu. Pelo visto sim, pois ele parecia tão desconfortável quanto. Também não queria falar sobre o assunto, principalmente quando uma das mulheres poderosas da minha família era a Duchannes ali presente. Eu.

— Por que você e mamãe estavam fazendo a árvore da família Duchannes? Qual era o projeto? — perguntou ele.

Marian mexeu o chá, tentei levar aquilo como hesitação.

— Açúcar?

Observei Marian olhar para outro lado enquanto Ethan colocava colheres em sua xícara. Pelo visto, Wate gostava do chá bem doce. Voltei a fitar Marian enquanto esperava Ethan acabar para eu pegar açúcar também.

— Na verdade, estávamos mais interessadas nesse medalhão. — Ela apontou para onde olhava, outra foto, e vi que dessa vez Genevieve usava o medalhão. — Uma história em particular. Era uma historia bem simples, na verdade, uma história de amor. — Seu sorriso era triste — Sua mãe era uma romântica, Ethan.

Como se combinado, Ethan e eu prendemos nosso olhar. Sabíamos o que ela estava prestes a dizer.

— O que é interessante para vocês dois é que essa história de amor envolve um Wate e uma Duchannes. Um soldado Confederado e uma bela dama de Greenbrier.

As visões, a pintura que apareceu com medalhão. O incêndio e as mortes de Greenbrier durante a Guerra Civil… Eu mal podia imaginar o que Ethan sentia em pensar naquilo. Que sua mãe morrera enquanto escrevia um livro sobre o tio pentavô dele e a minha pentavó. Olhei para ele. Ethan parecia prestes a vomitar, ou desmaiar. Ou ambos. Eu não me sentia muito melhor. Meu coração parecia ter parado de bater. Como poderia a mãe de Ethan, já morta, estar de alguma forma envolvida nisso tudo? Ou melhor dizendo, por que estávamos tendo visões de algo que a mãe de Ethan estivera estudando para um livro antes de morrer?

Eu me inclinei e toquei a mão de Ethan, que estava na mesa empoeirada, tentando trazê-lo de volta à conversa. Em parte tentando me concentrar também.

— Aqui. Essa carta que chegou a nós fez com que começássemos o projeto. — Marian não pareceu notar nossas expressões. A bibliotecária colocou dois pergaminhos sobre a mesa de carvalho mais próxima. — Podem ler, só não toquem. — advertiu ela. — É uma das coisas mais velhas de Gatlin.

Eu me inclinei sobre a mesa para ler, segurando meu cabelo para que não se encostasse às páginas.

— "Eles estão desesperadamente apaixonados, mas são diferentes demais. — Li em voz alta, passando os olhos sobre a carta. — 'Separados por espécie' é como ele os chama. A família dela está tentando mantê-los separados, e ele se alistou, apesar de não acreditar na guerra, na esperança de que lutar pelo sul faça com que ele conquiste a aprovação da família dela."

Ainda que eu pensasse ser impossível, quanto mais eu descobria sobre Ethan e Genevieve, mas eu me identificava.

Marian recitou de olhos fechados:

"Eu podia muito bem ser macaco em vez de homem, pois não faria diferença em Greenbrier. Apesar de meramente Mortal, meu coração se parte com tamanha dor ao pensar em passar o resto da minha vida sem você, Genevieve."

Aquelas palavras pareciam poesia. O tipo de poesia que eu poderia passar um dia inteiro lendo. Mas também era trágico ao ponto de não ser agradável, porque sabíamos o final daquela história.

— Como se fosse Atlas carregando o peso do mundo nas costas. — lamentou Marian.

— É tão triste — admiti e fitei Ethan. Eu não sabia se ele se sentia como eu, mas cada vez mais eu sentia meu coração apertado em ouvir tudo aquilo.

— Estavam apaixonados. Havia uma guerra. Odeio dizer isso a vocês, mas termina de uma maneira ruim, ao que parece. — Marian acabou de tomar o chá, e eu encarei o resto do meu com pesar, pensando nas tentativas de Genevieve de acordar Ethan Carter.

— E esse medalhão? — Ethan apontou para a foto de Genevieve.

— Supostamente, Ethan o deu a Genevieve como símbolo de um noivado secreto. Jamais saberemos o que aconteceu com ele. Ninguém voltou a vê-lo depois da noite em que Ethan morreu. O pai de Genevieve a forçou a se casar com outra pessoa, mas a lenda diz que ela guardou o medalhão e que ele foi enterrado com ela. Diziam que era um poderoso talismã, o elo partido de um coração partido.

Olhei para Ethan. Ele pareceu tão pálido quanto eu provavelmente estava. O poderoso talismã não estava enterrado. Estava ali, no bolso dele.

Parte de mim torcia para que o poder daquele medalhão não fosse das Trevas. A outra parte dizia que não adiantava ter esperanças sobre algo impossível. Afinal, o cordão que Amma fizera para que eu usasse afastava as Trevas, e as visões não funcionaram quando eu o usara.

Ethan novamente levou a mão ao bolso.

Ethan, não.

Eu sabia que ele não estava prestes a mostrar o medalhão. Ele mostraria a visão para Marian, e aquilo nos colocaria em risco. Marian era Mortal, Ethan já correra perigo com a aparição de Ridley. Eu não duvidava que Marian corresse os mesmos riscos. Além disso, eu já não conseguida confiar em mais ninguém, considerando como parecia que todos mentiam para nós. Mas Ethan insistia.

Temos que fazer isso. Ela pode nos ajudar. Minha mãe teria nos ajudado.

Não pude impedir que ele tocasse o medalhão no bolso e em seguida segurasse a mão de Marian. Ela deixou a xícara cair no chão e repentinamente pareceu ficar tonta.

— Ethan! — gritou Marian.

Segurei a outra mão de Marian, assim como o braço de Ethan. Logo minha visão começou a girar também, mas eu já estava quase acostumada com aquilo.

— Não se preocupe. Estaremos com você o tempo todo. — Minha própria voz soava distante, nem parecia minha.

Em pouco tempo, as paredes da biblioteca desapareceram, revelando um muro de chamas ao longe e som de tiros…

A chuva caía forte sobre nós. O vento diminuiu, as chamas estavam lentamente sendo aplacadas pela água dos céus, mas eu sabia que era tarde demais. Se aquele era Deus tentando amenizar a desgraça, para mim nada faria diferença.

Eu apenas olhava para o que tinha sobrado da minha casa grande, as chamas ainda devorando tudo o que conseguiam lá dentro, e eu tinha certeza de que não eram apenas objetos perdidos no fogo. Tudo estava perdido. Mamãe. Evangeline. Não havia restado nada. O único que eu ainda poderia ter era Ethan, que estava, muito possivelmente morto, aos meus pés.

Eu não podia perdê-lo também.

Ajoelhei-me ao lado do Confederado, sentindo que tudo em mim permanecia onde estava por puro transe. Meus movimentos pareciam sem nexo, sem uma real razão para estarem ali, mas estavam, e eu sabia o porquê. Ainda havia uma parte de mim, uma parte crescente como as labaredas do fogo antes haviam crescido, que dizia saber reverter o que havia acontecido.

Passos na lama vieram em minha direção. Ivy novamente. Ela segurava a saia precariamente, trazendo consigo o que identifiquei serem meus pertences, antes jogados ao relento quando eu saíra correndo.

— Cheguei tarde demais, meu Deus do céu! Cheguei tarde demais, meu Senhor! — gritou Ivy. Ela olhou em volta, nervosa. E então, vendo em que estado eu estava, vendo meu amado jazido ao chão, ela segurou meu braço. — Vamos, Srta. Genevieve, não tem nada mais que possamos fazer aqui. Não há o que fazer. Precisamos ir embora.

Ela estava errada. Havia uma coisa. A voz dentro de mim estava saindo, ganhando de todo o torpor, e eu sabia o que fazer.

— Não é tarde demais. Não é tarde demais. — Comecei a repetir sem parar, como repetiria a um Conjuro em busca de resultados.

— Você está falando uma loucura, criança. Ele está morto. Todos estão.

Mamãe e Evangeline realmente não poderiam voltar, não para um mundo sem seu corpo, mas Ethan... Ethan estava ali, em minha frente, e eu não podia deixá-lo quando havia sim uma forma de resolver. Eu sabia o que fazer.

E sabia do que precisava.

— Eu preciso do livro.

Não precisei especificar qual era. Ivy andou para trás, sacudindo a cabeça, ela sabia bem qual era, para que servia e o porquê de eu querê-lo. Só haviam três pessoas que sabiam onde estava aquele livro. Mamãe, papai e Ivy. Os outros dois não estavam ali, mas Ivy estava.

Não é tarde demais.

Meu coração estava voltando a acelerar, acordando do torpor, sentindo a urgência de trazer Ethan de volta antes que ele fizesse a Travessia.

— Não. Você não pode mexer naquele livro. Não sabe o que está fazendo. — rebateu.

Eu agarrei Ivy pelos ombros com toda a firmeza que seu corpo frágil de uma velha mulher me permitia.

— Ivy, é o único jeito, Você tem que entregá-lo para mim.

— Você não sabe o que está pedindo. Não sabe nada daquele livro...

— Dê para mim ou vou encontrá-lo sozinha.

Eu tinha certeza de que o livro não estava na casa. Quando sozinha com Evangeline, nos escondíamos e procurávamos pelo livro pela casa. Éramos proibidas de pegá-lo, e ainda assim, por pura curiosidade juvenil, queríamos tê-lo em mãos. E eu sabia que aquele era um livro poderoso demais para  simplesmente ser queimado em um incêndio. As chamas podiam até continuar queimando o que restara da casa, a fumaça negra subindo atrás de mim, mas eu sabia que nada daquilo realmente significava o fim para Ethan.

Ivy cedeu, puxando as saias agora esfarrapadas e me guiando pelo que costumava ser o pomar de limões de minha mãe. Eu nunca tinha passado daquele ponto. Não havia nada lá além de campos de algodão, ou pelo menos era isso que sempre tinham dito para mim. E eu nunca tinha tido uma razão para ir até aqueles campos, exceto nas raras ocasiões em que eu e Evangeline brincaram de esconde-esconde e íamos para além daqueles limites. Na verdade, mesmo que tendo noção de que o livro não estava na casa, nunca me passara pela cabeça procurar por aquelas bandas. Afinal, o que poderia haver ali além de árvores e, alguns metros depois, a fazenda vizinha?

Embora perdida, eu soube que o caminho de Ivy era certeiro. Ela sabia exatamente para onde estava indo, e eu soube pela forma como desviava das árvores e seguia por um trecho sem trilhas. Ao longe, eu ainda podia ouvir o som de tiros e os gritos agudos dos vizinhos ao verem suas casas arderem em chamas.

Eu não podia me permitir ceder para a dor deles também, tampouco à minha. Eu precisava aguentar por Ethan.

Não é tarde demais.

Ivy parou perto de um emaranhado de arbustos de vinhas selvagens, alecrim e jasmim que subiam pela lateral de uma velha parede de pedra.  Havia um pequeno arco escondido por trás das plantas. Ivy se abaixou e passou sob o arco. Eu não sabia da existência daquilo e nem o porquê de estarmos ali, mas fui atrás. O arco devia estar preso à parede, porque a área era fechada. Um círculo perfeito, as paredes escondidas sob anos de vinhas selvagens.

— Que lugar é esse?

— Um lugar sobre o qual sua mãe não queria que você soubesse nada, ou você saberia o que é.

Sem entender o que ela queria dizer, olhei em volta. Eu podia ver pequenas pedras aparecendo no meio da grama alta. É claro. O cemitério da família. Eu me lembrava de ter ido lá uma vez quando era muito nova, quando minha bisavó morrera. Lembrava-me que o enterro tinha sido à noite, e que mamãe tinha ficado em cima da grama alta, sob a luz da lua, sussurrando palavras em uma língua que eu e minha irmã não reconhecemos.

— O que estamos fazendo aqui?

— Você disse que queria aquele livro. Não disse?

— Está aqui?

Ivy parou e olhou para mim, confusa.

— Onde mais estaria?

Mais ao longe havia outra estrutura sendo estrangulada pelas vinhas selvagens. Uma cripta. Ivy parou na porta.

— Tem certeza de que quer...

— Não temos tempo para isso! — Eu estiquei a mão em direção à maçaneta, mas não havia nenhuma. — Como isso abre?

A mulher idosa ficou na ponta dos pés e esticou o braço para tocar acima da porta. Lá, iluminada pela luz distante do fogo, consegui ver um pequeno pedaço de pedra lisa, com uma lua crescente entalhada nela. Ivy colocou a mão sobre a pequena lua e empurrou. A porta começou a se mover, abrindo com o som de pedra arrastando sobre pedra. Ivy pegou alguma coisa do outro lado do portal. Uma vela.

A luz da vela iluminou o pequeno recinto. Não podia ser maior do que alguns poucos metros de largura. Mas havia velhas prateleiras de madeira de cada lado, repletas de pequenos frascos e garrafas, cheias de flores de plantas, pós e líquidos turvos. No centro do aposento havia uma mesa de pedra gasta, com uma velha caixa de madeira sobre ela. A caixa era modesta vista por qualquer padrão, o único adorno sendo uma pequenina lua crescente entalhada na tampa. O mesmo entalhe da pedra acima da porta.

— Não vou tocar nisso — disse Ivy baixinho, como se achasse que a própria caixa pudesse ouvi-la.

— Ivy, é só um livro.

— Não existe nada como só um livro, especialmente na sua família.

Eu ainda não via motivo para medo. Ivy, sendo a Mortal que era, sempre iria temer minha família, Vidente ou não. Levantei a tampa devagar. A capa do livro era de couro preto rachado, agora mais cinza do que preto. Não havia título, só a mesma lua crescente em alto relevo na frente. Ergui o livro da caixa, hesitante. Sabia que Ivy era supersticiosa. Apesar de ter zombado da mulher idosa, também sabia que ela era sábia. Lia cartas e folhas de chá, e mamãe a consultava para quase tudo: o melhor dia para plantar os legumes e verduras para evitar que congelassem, as ervas certas para curar um resfriado.

O livro estava quente. Como se estivesse vivo, respirando, em minhas mãos. Chamando-me para abri-lo.

— Por que não tem nome? — perguntei.

— Só porque um livro não tem título, não significa que não tenha nome. Esse aí é o Livro das Luas.

Não havia mais tempo a perder. Eu seguiu as chamas pela escuridão. De volta ao que tinha sobrado de Greenbrier e de Ethan.

Folheei as páginas. Havia centenas de Conjuros. Como encontraria o certo? Então ela o viu. Estava em Latim, uma língua que conhecia bem; a mãe tinha trazido um tutor especial do norte para garantir que ela e Evangeline aprendessem. A língua mais importante na opinião de sua família.

O Feitiço de Atar. Para Atar a Morte à Vida.

Eu coloquei o livro no chão ao lado de Ethan, o dedo sob o primeiro verso do encantamento.

Ivy segurou meu braço e o apertou com força.

— Não é em qualquer noite que se faz isso. Meia lua é para fazer magia Branca, a lua cheia é para fazer magia Negra. Lua nenhuma é outra coisa.

Puxei meu braço para soltá-lo.

— Não tenho escolha. É a única noite que temos.

— Srta. Genevieve, você precisa entender. Essas palavras são mais do que um Conjuro. São uma troca. Você não pode usar o Livro das Luas sem dar algo em troca.

— Não ligo para o preço. Estamos falando da vida de Ethan. Perdi todo mundo.

— Aquele rapaz não tem mais vida. Foi tirada dele com um tiro. O que você está tentando fazer não é natural. E isso não pode estar certo.

Eu sabia que Ivy estava certa. A mãe tinha avisado a ela e Evangeline com frequência sobre as Leis Naturais. Eu estava cruzando um limite que nenhum dos Conjuradores da família dela jamais ousaria.

Mas eles todos estavam mortos agora. Ela era a única que tinha sobrado.

E tinha que tentar.


— Não! — gritei e soltei as mãos de todos, me afastando. — Ela foi para as Trevas, vocês não entendem? Genevieve estava usando magia das Trevas.

Ethan insistiu e segurou minhas mãos, eu o afastei.

— Lena, ela não é você. Ele não sou eu. Isso aconteceu há mais de cem anos.

Eu não conseguia me acalmar. Ethan não entendia com o que Genevieve lidara. Existem limites para Conjuradores, e era óbvio que Genevieve ultrapassou. Eu não precisava perguntar a ninguém para saber daquilo. Trazer alguém de volta à vida com certeza era algo que não deveria ser feito, e se feito provavelmente não teria um bom resultado. Foi aquilo que a tornou das Trevas, eu tinha certeza. Aquilo significava que eu seria como ela.

— Ela sou eu, é por isso que o medalhão quer que eu veja isso. Está me avisando para ficar longe de você. Para que eu não sofra por você depois que for para as Trevas. — Talvez eu estivesse histérica, mas eu não me importava. Ethan não entendia? Ele teria o mesmo final de Ethan Carter Wate se continuasse ao meu lado. Era isso o que significavam aquelas visões.

Quem me respondeu foi Marian.

— Você não foi Invocada, Lena. Não é boa nem ruim. O que você sente é por ter 15 anos e meio na família Duchannes. Conheci muitos Conjuradores na minha vida, e muitas Duchannes, tanto das Trevas quanto da Luz.

Ela me encarava, seus olhos estavam, de alguma forma, cheios de vida, mesmo parecendo exausta. O cabelo curto estava revirado para várias direções, assim como o meu ficava depois das visões. Mas sua aparência não me importava. Eu não consegui responder, estava espantada demais para formular palavras. Marian tentou recuperar o fôlego. Ainda falava.

— Você não vai para as Trevas. Você é tão melodramática quanto Macon. Agora se acalme.

Como ela sabia sobre tudo aquilo? Sobre minha família, sobre meu aniversário, sobre minha Invocação, sobre Conjuradores?

— Vocês dois têm o medalhão de Genevieve? Por que não me contaram?

— Não sabemos o que fazer. Cada um nos diz pra fazer uma coisa. — Ethan respondeu ao ver que eu não conseguia.

— Me deixe vê-lo.

Ethan novamente enfiou a mão no bolso. Foi naquela hora que eu acordei do meu torpor e coloquei a mão no braço dele, fazendo-o hesitar. Ainda não conseguia confiar em Marian. Ela definitivamente tinha muito conhecimento sobre o assunto, conhecimento até demais. Como eu poderia saber se ela não era, por exemplo, uma Conjuradora das Trevas? Meu primo Larkin era um Ilusionista, e por vezes eu o vi brincar de mudar seus olhos para olhos de répteis. Não seria difícil para outro Ilusionista esconder olhos dourados substituindo por uma cor de olhos dos Mortais.

— Como vamos saber que podemos confiar em você? — perguntou Ethan, e pude ver o quanto aquilo o machucava. Ele queria confiar nela, e não confiava por minha causa.

— "A melhor maneira de descobrir se podemos confiar em alguém é confiando." — respondeu ela, citando novamente.

— Elton John? — chutou Ethan.

— Quase. Ernest Hemingway. À maneira dele, foi como um rock star daquela época.

Ethan sorriu. Era óbvio que Marian era como uma fraqueza dele, mas não era a minha.

— Por que deveríamos confiar em você se todo mundo esconde coisas de nós? — questionei, confrontando-a.

Qualquer coisa que representasse um sorriso sumiu do rosto dela, como se eu tivesse feito a pior pergunta possível.

— Precisamente porque não sou Amma e não sou tio Macon. Não sou sua avó e nem sua tia Delphine. Sou Mortal. Sou neutra. Entre magia Negra e magia Branca, Luz e Trevas. Tem que haver alguma coisa intermediária, alguma coisa para resistir à influência, e essa alguma coisa sou eu.

Eu me afastei, era inaceitável. Ela não podia ser Mortal. Não sabendo tudo aquilo. Como poderia ser Mortal em uma cidade como aquela sabendo sobre tudo? Como podia ter tanto conhecimento, e Ethan não saber de nada? Ela era mesmo a melhor amiga da mãe de Ethan, ou era alguém no lugar dela? Como eu poderia confiar em alguém que sabia tudo pelo qual passava e, ainda assim, vivia naquela cidade sem sequer seu sobrinho de consideração saber de nada?

— O que você é? — Aquela era uma pergunta capciosa. Não era como perguntar qual a profissão de alguém. Era literalmente perguntar que criatura era.

— Sou a bibliotecária-chefe do condado de Gatlin, como tenho sido desde que me mudei para cá e como sempre serei. Não sou uma Conjuradora. Apenas guardo as informações. Cuido dos livros. — Marian falava com tranquilidade e confiança enquanto arrumava o cabelo. — Sou a Guardiã, apenas uma em uma longa linhagem de Mortais a quem se confiou a história e os segredos de um mundo do qual jamais poderemos fazer parte completamente. Sempre tem que haver um, e agora sou eu.

Voltei a ficar sem palavras ou reação.

— Tia Marian? De que você está falando? — Se eu não sabia do que ela estava falando, eu mal podia imaginar o que Ethan sentia. Eu não sabia quem estava mais próximo de desmaiar entre nós dois.

— Vamos apenas dizer que há bibliotecas e bibliotecas. Sirvo a todos os bons cidadãos de Gatlin, sejam Conjuradores ou Mortais. O que funciona muito bem, já que o outro ramo é mais um trabalho noturno, na verdade.

— Quer dizer...?

— A Biblioteca de Conjuradores do Condado de Gatlin. Eu sou, é claro, a Bibliotecária dos Conjuradores. A Bibliotecária-Chefe dos Conjuradores.

Ethan a encarava pasmo, os olhos arregalados, como se a visse pela primeira vez. Essa era a minha situação também, em todos os sentidos. Eu não sabia o que Ethan sentia em relação a ela, mas tentei fazer meu máximo para focar minha mente no assunto principal. Não era algo que eu fazia com raridade, considerando que metade do tempo na escola eu estava tentando não usar meus poderes e tentava focar na aula.

A existência de uma Biblioteca de Conjuradores não me surpreendeu. Eu já vira livros de Conjuradores. Era proibida de pegá-los, apenas Ridley o fizera uma vez. Foi a primeira vez que ela tocara em um livro, considerando que odiava ler tanto quanto eu amava. Eu nunca parara para pensar no assunto, mas fazia sentido. Livros como aqueles não podiam ser guardados em uma biblioteca normal.

— Então você pode nos ajudar. — declarei por fim. Se ela sabia tanto assim, se tinha acesso, deveria saber como nos ajudar. — Temos que descobrir o que aconteceu com Ethan e Genevieve, e o que isso tem a ver comigo e com Ethan, e temos que descobrir antes do meu aniversário. — Pela primeira vez, eu me senti esperançosa em relação à Marian. — A Biblioteca de Conjuradores deve ter registros. Talvez o Livro das Luas esteja aqui. Você acha que ele poderia ter as respostas?

Marian evitou nosso olhar.

— Talvez sim, talvez não. Sinto muito, mas não posso ajudá-los. Me desculpem.

— O que você quer dizer? — Ethan também se recuperou do assombro.

— Não posso me envolver, mesmo que eu queira. Faz parte da descrição do meu trabalho. Não escrevo os livros, nem as regras, apenas os guardo. Não posso interferir.

— Esse trabalho é mais importante do que nos ajudar? — A voz de Ethan transmitia mágoa, por mais que ele tentasse esconder. — Mais importante do que eu?

— Não é tão simples, Ethan. Há um equilíbrio entre o mundo Mortal e o mundo dos Conjuradores, entre a Luz e as Trevas. O Guardião é parte desse equilíbrio, parte da Ordem das Coisas. Se eu desafiar as leis às quais fiz um Juramento, esse equilíbrio fica ameaçado. — A voz de Marian estava trêmula. Ela parecia querer dizer algo nas entrelinhas enquanto encarava Ethan, mas não pude entender o que era. — Não posso interferir nem que isso me mate. Mesmo que machuque as pessoas que amo.

Ethan não parecia convencido, mas respirou fundo, como se amasse a ela o suficiente para respeitar o que dizia. Admirei sua atitude. Eu raramente tinha aquela facilidade quando se tratava das pessoas da minha família escondendo coisas de mim. Marian podia não ser família de sangue de Ethan, mas era óbvio que ele a amava como se fosse. A relação dos dois era como a dele com Amma, ou a minha com tio Macon e vovó. Os dois eram como pais que eu nunca tive. Marian pelo visto era como a mãe que Ethan perdera.

— Tudo bem. — concluiu ele. — Você não pode nos ajudar. Só me leve até essa Biblioteca de Conjuradores e vou descobrir sozinho.

— Você não é Conjurador, Ethan. Essa decisão não é sua.

Ethan não era Conjurador, mas eu era. Segurei sua mão de maneira firme, ficando ao lado dele.

— É minha. E eu quero ir.

Marian assentiu. Talvez fosse aquilo o tempo todo. Ela não podia ajudar e não podia levar Ethan à biblioteca, mas ela me levaria se eu pedisse. Era como obedecer às regras sem deixar de ajudar o sobrinho de consideração.

— Tudo bem, vou levar vocês na próxima vez que abrir. A Biblioteca de Conjuradores não opera nos mesmos horários que a Biblioteca do Condado de Gatlin. É um pouco mais irregular.

É claro que era. O que no Mundo Conjurador era regular, afinal?

Mas pela primeira vez em muito tempo, eu estava feliz com aquilo. Alguém finalmente iria me permitir conhecer mais sobre o meu mundo. Pela primeira vez, me senti capaz de descobrir uma maneira de mudar meu destino.


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Notas finais do capítulo

Observações importantes sobre o capítulo:

Durante a releitura e escrita, percebi vários erros que achei mais do que necessário corrigir. Não é como expressões nos diálogos, mudar coisas como essas tornaria a leitura, a meu ver, maçante e monótona. Ninguém está aqui para ter uma leitura técnica. O que realmente achei necessário mudar foi o que direi abaixo, mas se você nunca leu o livro e se sente incomodado com algum tipo de Spoiler, aconselho pular todos os 4 primeiros losangos abaixo:

♦ Termos da genealogia: Em certo momento, é citado no livro que Genevieve e ECW eram tatara-tios, respectivamente, de Lena e Ethan L. Wate. Não está completamente errado... Mas a Genevieve não é tatara-tia de Lena, e dizer que é sua tataravó é algo errôneo. O termo correto seria pentavó, assim como o ECW é tio pentavô do Ethan do presente.
♦ Corrigi vários erros que encontrei na versão traduzida do livro, como, por exemplo, um trecho da visão onde Ivy "segura o próprio " e em seguida Genevieve "puxou o próprio braço para se soltar". Outro exemplo foi durante a digitação do nome de Genevieve na árvore genealógica. Estava como "Geneviere".
♦ Corrigi, também, um erro de enredo que achei necessário. Ele existe no livro original também e, ainda que tenha que mudar bastante coisa até o final, até mesmo pode ser considerado um pouco ilógico. Nas árvores genealógicas, a mãe de Lena está como "Sara Duchannes" e todos nós, leitores, sabemos bem que esse não é o nome dela. Durante quase todo o livro, o casal SABE que há alguém maligno atrás de Lena, "Sara alguma coisa", e mesmo que a árvore genealógica diga que o nome da mãe da Lena é Sara, ela não associa nada. Não consegue somar 1 + 1. Por isso, substituí Sara por outro nome, Izabel. Para quem leu pelo menos o Dezoito Luas, sabe bem quem foi Izabel. Assim como Lena é chamada de Lena antes de ser Invocada, Sarafine era chamada de Izabel antes dos 16 anos. Em certo momento é mencionado que a árvore está errada, e não é completamente mentira caso eu substitua desse jeito.
♦ Quanto ao tópico anterior, queria só acrescentar que para mudar tudo, precisei mudar a imagem da árvore genealógica dos Duchannes, mas achei justo também mudar dos Ravenwood. Quem leu Dezessete Luas também deve ter se sentido confuso com a repentina aparição de um novo nome nos Ravenwood, Leah, e eu não acho que o objetivo fora esconder sua existência. Na verdade, também acredito ter sido um erro de continuação.


♦ Não é exatamente uma mudança, mas resolvi disponibilizar a versão em inglês dos poemas que tentei fazer. Eles obviamente não ficaram como os dela, e um deles só chegou perto porque eu pedi ajuda a outra pessoa, mas aqui estão:
https://docs.google.com/document/d/1qogu9LRH6TG-IWE4SQSWASvaJRz5XHbL_ptMo8K5OCY/edit?usp=sharing


Enfim, acabando a parte chata, espero que tenham gostado! Esse capítulo foi um dos que mais me deram trabalho, mas sinto que valeu a pena! Com certeza não será o único complicado, o próximo é meu favorito e é bem complexo, então acreditem em mim: Ainda tem muita coisa original a surgir.
Afinal... Halloween é a melhor época para o pior lado da minha imaginação surgir ♥

Cuidem-se! Comentem qualquer coisa; observações, reclamações, dicas, correções, e até um "oi", amo muito vocês ♥

Tenham um bom dia e/ou bons sonhos ♥



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