Parece que foi ontem e havia o vazio…

   O peso já estava lá entre as palmas dos parabéns e os desejos de mais um ano concluído.

   Isso foi em março… Uma semana depois da “semana que vamos comemorar o aniversário de todos os aniversariantes do mês juntos.”

 Não preciso dizer que não houve comemoração.

   Só o vazio…

   O vazio e os números.

   Muitos deles.

   A cada dia que passa, sinto que envelheço uns dez anos. O peso do mundo pesa nas costas e me sinto como um prego. Um prego sendo a cada golpe enfiado mais e mais na madeira.

   A cada dia que passa o caos está dentro de mim e fora de mim.

   “-Onde ela está?

   -Ela quem Dhéssy?- Minha companheira de trabalho pergunta.

   -Ela! Minha criança interior.

   -Você está bem? Não há nenhuma criança aqui. E bem… poderia olhar esse aqui? Não entendi bem o que fazer.

  -Tudo bem. Eu olho.”

   E olho. Olho em volta. Não vejo mais aqui. Parando para pensar faz muito tempo que não a vejo.

   Acho que é desde que ela sumiu que me sinto assim… Vazia.

   Será que é essa rotina doida?

   “-Você viu o preço do feijão?

   -Vi. Está caro, né? Tá quase dez conto.

   -E nem tão bom assim, né? Tá parecendo que foi colhido antes do tempo do pé. Tá meio verde.”

   Quando minha vida passou a se rodar apenas ao redor do preço do feijão!?

   Onde ela está? Eu já não sei dizer.

   Pesa tanto o mundo. O meu mundo pesa tanto. A noite me sinto como um barco sem direção que não consegue ver nada a sua frente.

   A tempestade em mim e as certezas viraram incerteza. As conversas se silenciaram. As lágrimas preenchem meu semblante enquanto uma mensagem brilha na tela do celular

   Se precisar conversar, estou aqui. Ta bom?

   Eu digito. Tentando não libertar mais o choro que por tanto tempo quis segurar, mas agora não há mais volta.

   Obrigado. Muito obrigada por estar do meu lado, mesmo longe.

   Quando tudo isso passa. Eu sei que vai passar. Assim como a certeza de que o sol vem logo após os dias de chuva.

   Só espero que você esteja bem. Que nós fiquemos bem, nem que seja para telefonar…

   “ Alô! É do consultório? Gostaria de marcar uma consulta com o psicólogo. Meu mundo está pra desabar .”

Acho que todo o mundo não vai precisar de fim de contas. Inclusive eu mesmo.