More Than That escrita por Reptiliano


Capítulo 2
Logan - Incomplete


Notas iniciais do capítulo

Vamos começar!? :3
Espero que gostem. Boa leitura!



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Então... Minha mãe havia morrido.

O câncer finalmente havia vencido.

Primeiro fiquei sem reação. Sentei-me ao lado dela na cama do hospital e fiquei encarando seu rosto, que já fora belo e delicado como uma flor, enquanto tirava a peruca que minha avó comprara após me ajudar a cortar o cabelo de minha mãe. As horas passaram e eu continuei lá, ao seu lado. Nenhuma lágrima fora derramada, no entanto. Eu não conseguia chorar. Eu não conseguia ficar triste porque finalmente após toda a luta, o sofrimento dela havia acabado.

Havia uma certa tristeza nisso. Não há como não ficar triste ao despedir-se de alguém que amamos muito. E eu estava triste, só não chorei. Só não demonstrei. Não tinha ninguém ali para ver. De que adiantaria?

Despertei de meus pensamentos quando uma enfermeira um pouco gordinha e baixinha me chamou. Provavelmente queriam esvaziar aquela sala e eu precisava contactar meus tios e minha avó.

Assim que ficou sabendo, minha avó foi imediatamente ao hospital e me levou para casa, enquanto o corpo de minha mãe estava sendo levado à capela pelo serviço funerário. Dentro de algumas horas, já de noite, meu tio Josh chegou com sua esposa Chloe e seu filho Chace. Eles estavam tristes e me abraçaram fortemente.

Tio Josh era alto e magro, estava com a barba por fazer e havia aparado o pouco cabelo que já tinha. Sua esposa, Chloe, era bem magrinha, parecia doente às vezes, mas em compensação tinha um cabelo escuro bem volumoso o que disfarçava um pouco. Estava usando um vestido vermelho detalhado com flores. Chace usava um boné, que tirou ao me abraçar. Ele era ligeiramente mais alto que eu e até parecia um pouco comigo. Se não fosse pelo cabelo liso e bem mais cuidado do que o meu e os olhos menores.

– Nash está à caminho. – Disse tio Josh ao desligar o telefone - Aparentemente Mary passou mal ao saber da notícia e por isso ele demorou, mas já está chegando.

– Falando no celular enquanto dirige. Belo exemplo. – Comentou Chace recebendo um olhar sério do pai. – Eu só queria deixar o clima menos tenso. – Ele se justificou.

Eu até ri um pouco. Todos me encararam curiosos. Como eu não estava chorando? Como eu estava numa boa, sentado no canto da sala em uma poltrona tomando café? Por que tia Chloe chorava mais do que eu? Por que tio Josh estava com os olhos vermelhos e tenso? Por quê?

– Ele está vindo sozinho, querido? – Perguntou tia Chloe aproximando-se do marido.

– Sim. Achei um pouco estranho, mas não quis parecer um intrometido na vida do meu irmão. – Ele sorriu para tia Chloe e a abraçou forte pensando na irmã.

Minha avó apareceu com mais café. Eu peguei mais uma xícara e fiquei brincando com meu gato Shazam. Tio Nash e tia Mary haviam me dado um gato de aniversário e, após ver um vídeo na internet sobre um gato chamado Shazam, eu dei o mesmo nome ao meu gato. Minha mãe disse que eu ia me arrepender por isso mais tarde, mas que eu não poderia mudar. Ela não estava errada. Eu queria mudar o nome dele para Zeus quando aprendi sobre os Deuses do Olimpo na escola, mas já era tarde. Shazam até parecia gostar do nome.

– Então... Primo. – Chace estava rindo apesar de saber que não era o momento, mas ainda assim era uma coisa boa. Ele e eu éramos os únicos que não estávamos em lágrimas e isso fazia com que eu me sentisse estranho, mas Chace me fazia perceber que ainda havia graça na vida, então eu sorri para ele, quando o mesmo começou a conversar comigo – O que você vai fazer? Digo, sua faculdade está para começar e você não tem exatamente um sustento...

Eu levantei minhas sobrancelhas sorrindo levemente para Chace. Como eu poderia pensar em algo assim logo após a morte de minha mãe?

– Eu não sei. – Tio Josh parecia ter se interessado na conversa visto que, enxugando algumas lágrimas, começou a olhar em minha direção – Eu pensei em trancar minha matrícula ou talvez tentar novamente numa outra hora.

– Não senhor! – Disse tio Josh se aproximando e sentando do meu lado enquanto Chace revirava os olhos – Sua mãe não ia querer isso! Chace ainda não está na faculdade então eu acho que posso ajudá-lo com isso. Isso vai lhe dar tempo. Mas tudo o que eu posso lhe dar é um ano!

– Eu aprecio a oferta, tio. Mas eu quero mostrar para algumas pessoas que...

– Você não precisa provar nada ao seu pai. – Disse minha avó – Você não disse que era ele por minha causa, eu entendo... – Eu abaixei a cabeça. Não conseguia encarar minha avó. Como poderia? Meu pai me chamou de fraco e disse que eu seria um ninguém após chegar bêbado em casa, mas eu sabia que ele disse algo que queria dizer à muito tempo. Eu queria mostrar à ele quem era o verdadeiro fraco – Você já provou ao lutar com sua mãe e não abandonando-a. Infelizmente meu filho é o fraco da história.

– Onde ele está agora? – Perguntou Chace antes de desviar do tapa de tio Josh.

– Ele está longe. Não sei ao certo. – Respondeu minha avó rindo para Chace. Nem ela conseguia manter-se séria perto do meu primo.

Alguém tocou a campainha dando um leve susto em todos. O que foi particularmente engraçado. Eu ia me levantar para atender à porta, mas tia Chloe foi mais rápida. Era tio Nash, que chegou um pouco molhado. Estava chovendo? Eu não tinha notado. Olhei para a janela rapidamente sem nem ter tempo de notar meu tio, de olhar em seus olhos e abraçá-lo.

– Está chovendo. – As palavras saíam de minha boca sem que eu pensasse. Foi involuntário. Chace pareceu notar, visto que me encarava curioso.

Tio Josh e Nash se abraçaram demoradamente. Tio Josh cedeu às lágrimas novamente e tio Nash o acompanhou. Eu sabia porque podia ouvir seu choro, mesmo sem encará-lo.

– Eu estou aqui, irmão. – dizia tio Josh tentando consolá-lo.

– Eu ia dizer isso à você, seu chato. – tio Nash falou entre as lágrimas.

Os dois se recompuseram e tio Nash cumprimentou as minhas visitas. Ele abraçou a todos, para então fitar-me e apertar minha mão. Talvez fosse doloroso para ele me abraçar. Ela era sua irmã. Eu não quis forçar um abraço. Na verdade fiquei feliz por ele não me abraçar.

– Como estão as coisas? – Ele perguntou – Vocês já decidiram algo?

– Nós estavamos... uh... Logan estava para dizer o que fará daqui para frente. – respondeu tio Josh.

– Tem uma faculdade lá perto de casa... Você poderia pedir transferência e ficar conosco por um tempo. – Sugeriu tia Chloe

– Eu acho que é uma grande ideia – Falou tio Josh

– Acho que seria ótimo também. – Concluiu tio Nash – Mas minha casa também é bem vinda e você pode ir à sua faculdade daqui mesmo. Minha casa não é longe mesmo. Uh... Logan, você pode alugar a sua casa e com o dinheiro você pode pagar o transporte. Eu não ligaria se você fosse morar comigo.

– Muito obrigado, tios, mas... uh... vou me deitar, se vocês não se importam. Vou pensar na oferta de vocês. ‘noite.

Fui ao meu quarto e deitei-me na cama. Joguei-me, na verdade. Com os braços para cima e com a blusa um pouco levantada deixando um pouco da barriga à amostra.

Ao longe pude ouvir as vozes dos meus parentes. Das minhas visitas. Minha avó parecia estar se despedindo. Eu deveria estar lá e perguntando se ela não queria ficar um pouco mais, porém, estava gostoso ficar ali sozinho ouvindo a chuva bater contra a janela.

Onde será que meus tios iriam dormir? Eu é quem deveria oferecer-lhes uma cama confortável, mas eles eram meus tios. Já eram de casa... Mas eles foram tão legais ao me chamarem para morar com eles, eu deveria mostrar agradecido pelo menos oferecendo uma boa cama. O barulho da chuva, no entanto, era hipnotzante.

Por um momento, ou pelo menos foi o que me pareceu, eu cochilei. Estava mesmo cansado. Acordei com um pouco de frio. Estava descoberto e a porta do meu quarto estava semiaberta.

Já parecia ser de madrugada. Eu queria saber como ficou a situação depois que saí. Para onde meus tios se mandaram? Fui até a cozinha, onde bebi um pouco de água antes de revistar minha própria casa e depois fui até a sala. Havia uma coberta sobre o sofá maior, porém nenhum corpo. Olhei em volta e percebi que a luz da sacada estava acesa. Pensei bem se deveria ou não ir até lá, até que o pior passou pela minha mente, onde eu vi a necessidade de, pelo menos, dar uma olhada.

– Tio Nash?

Tio Nash estava apoiado na grade de metal da sacada encarando as luzes da cidade. Pelo rosto um pouco inchado, devia estar chorando novamente.

– Logan...

Me aproximei, ficando lado a lado, e apoiei-me na grade gélida sentindo um enorme arrepio. Como ele aguentava ficar ali?

– Onde está tio Josh?

– Foi para um hotel. Eu.. achei que você... talvez... precisasse de uma companhia.

Eu não queria, mas ele foi tão carinhoso comigo que não disse nada. Ele sempre foi carinhoso comigo. Sempre foi brincalhão e compreensivo também. Eu não queria companhia, mas não dispensaria a do tio Nash. Ele era... diferente.

– Obrigado. – Respondi – Como suas lágrimas, seus dedos... você, não está congelando aqui fora?

– Quem disse que não?

Nós rimos. Era bom ver tio Nash sorrir.

– Sabe... Eu... Não, deixa pra lá. É bobagem. Eu pareço um desesperado.

– Bom, você acabou de perder sua irmã. Está tudo bem parecer um desesperado.

– É que... Eu te chamei pra morar lá em casa e gostaria muito que você fosse, mas... eu não sei como dizer isso, eu... – Ele me fitou. Encarou meus olhos tentando encontrar em mim palavras para dizer o que queria. Eu sabia disso porque já havia passado por momentos assim antes... E aqueles olhos! – Eu preciso me desculpar. Não que você não seja bem vindo lá em casa, mas é que... Eu pensei mais em mim do que em você.

– Pelo menos você está sendo sincero. Eu aprecio isso. – Falei sorrindo sinceramente. Tio Nash tinha esse efeito sobre mim. Ele fazia com que eu me sentisse seguro, firme e, no caso, menos triste. – Você quer conversar?

– É que... Eu estou... Tenho me sentido sozinho, sabe? Eu e Mary, estamos nos divorciando e eu não suporto a ideia de ficar sozinho. Eu estava desesperado... Me desculpe.

Eu queria dizer à ele que ia ficar tudo bem, mas eu sabia que não. Eu não sabia o motivo da separação dos dois, visto que só fiquei sabendo disso agora, mas eu sou uma pessoa realista. Eles não me chamavam de “heartless boy” à toa.

– Não vou dizer à você, tio, que as coisas vão ficar bem, mas... Tudo o que nos resta é continuar remando. As pessoas sempre se perguntam se há vida após a morte. É claro que há. Não estou falando apenas da morte da minha mãe. Eu estou falando de qualquer morte. A morte de um animal, de um relacionamento, de um seriado na televisão, de uma história... Há sempre vida após o fim.

– Então o fim é uma ilusão?

– Mais ou menos. Sim... Minha mãe está morta, mas a vida continua. Não podemos parar só por causa disso. Desacelerar um pouco, talvez. Afinal ela é uma pessoa importante e todos nós amamos ela, mas isso não devia nos parar de vez. A morte é algo natural... Me desculpe se eu estou sendo rude, porque não sei ao certo se o seu relacionamento está morto ou não, mas...

– Tudo bem. Acho que entendi o que você quis dizer.

Eu me afastei um pouco da grade de metal e fitei meu tio, que me fitou de volta, tentando entender o que eu estava fazendo.

– Se a oferta de morar com você... ainda estiver de pé...

– Claro que está. As portas da minha casa estarão sempre abertas para você.

Eu o abracei. Seu abraço era forte e, apesar do frio, quente. Seus braços, que pareciam maiores do que ele próprio, eram aconchegantes e fortes. Eles me apertavam de um jeito confortável. O que me assustou um pouco foi sentir as batidas de seu coração. Ele estava triste. Estava. Parecia menos triste agora. Fiquei um pouco feliz por isso. Foi quando uma única lágrima escorreu de um olho meu.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos na casa do Nash! Bye! o/