Kile ainda estava na entrada da ala hospitalar me esperando. Quando eu estava chegando perto ele saltou do banco e me deu um beijo rápido.

– O que você ainda está fazendo aqui? –perguntei sorrindo.

–Preferi não tirar a privacidade de vocês entrando lá, então te esperei aqui para saber se ainda queria minha companhia.

–Hmm –fingi desinteresse mas no fundo eu ainda queria ficar com ele –acho que você pode me acompanhar até meu quarto, o que acha? –sorri e ele retribuiu.

–Acho bom, Alteza. –ambos gargalhamos. Kile nunca me chama assim.

Conversamos sobre os acontecimentos do dia por todo o trajeto até meu quarto.

–Sabe de quem foi a ideia de todos irmos à ala hospitalar rezar com sua família? –ele me perguntou.

–Não sei, de quem?

–Henri, parece que ele gosta mesmo de você Eady... –enquanto falava isso Kile fitava o chão.

–É ... acho que sim, mas não sei se daria muito certo. Nem sequer falamos a mesma língua. –rimos um pouco mas percebi que a risada dele havia sido um pouco forçada, só não entendi o porquê.

–Kile? Você está bem? Ficou estranho de uma hora pra outra... eu falei alguma coisa? –procurei o olhar dele mas ele não olhava para mim.

Já estávamos praticamente na porta do meu quarto então eu puxei o rosto de Kile, o forçando a olhar para mim.

–Não, você não falou nada ruim. É só que... –ele parecia escolher as palavras e estava tentando de todo jeito evitar me olhar.

–Só fale Kile. –eu pressionei.

–Só queria que soubesse que eu gosto muito de você, como amigo é claro... e eu estou aqui para o que precisar. –ele sorriu tentando me convencer mas tenho certeza que não era exatamente isso que ele iria falar antes. Mas não iria pressioná-lo mais, não ainda hoje.

–Obrigada. –respondi com um pequeno sorriso no canto da boca.

–Por nada. Acho que devo ir para o meu quarto...

Kile me abraçou e quando achei que ele fosse me dar um beijo na bochecha ele me deu um selinho. Era um beijinho simples de despedida, mas eu queria mais. Ele me olhou como se perguntasse o que acontecia agora. Então eu segurei seu pescoço e o beijei novamente, mas dessa vez com mais intensidade. Kile abriu a porta do meu quarto e se certificou que Neena não estava mais lá antes de voltarmos ao beijo.

Nos beijamos um tempo na minha cama e quando nos desvencilhamos eu me deitei sob seu peito e acabei pegando no sono de novo.

***

Despertei em alguma parte da noite que não sei determinar. Kile se levantou colocando minha cabeça no travesseiro, me cobriu e deu um beijo na minha testa.

–Boa noite Eady, durma bem.

–Boa noite –eu balbuciei.

Ele saiu e fechou a porta. Eu dormi novamente.

***

Acordei acabada. Meu cabelo, todo bagunçado. Meu rosto, inchado. Meu vestido, completamente amassado. Neena chegou perto de mim e fez uma reverência.

–Bom dia, está tudo bem Alteza? Quer que eu prepare um banho para a senhorita?

–Está tudo bem, e eu gostaria muito de um banho agora. –sorri e ela foi para o banheiro.

Enquanto Neena preparava meu banho eu me sentei ante a minha escrivaninha e peguei as fichas dos garotos. Decidi que se vou procurar mesmo um marido, eu teria que estudar bem minhas opções.

Henri é um cavalheiro, é bonito e sempre agradável, sabe cozinhar e parece realmente gostar de mim, mas seria um pouco difícil manter uma relação com alguém que precisa de um intérprete para te entender...

–Pode vir, senhorita Eadlyn. –Neena me tirou dos meus pensamentos. Guardei as fichas na gaveta e fui tomar meu banho.

***

Estávamos sentadas na minha cama enquanto Neena penteava meu cabelo e eu comia um pouco –já havia passado da hora do café da manhã, então resolvi comer no quarto mesmo. Parece que Nenna não queria puxar muito assunto, acho que ela não queria acabar me perguntando alguma coisa sobre minha mãe e que eu acabasse chateada. Então eu puxei o assunto.

–Você soube do que os rapazes fizeram ontem?

–Claro! Todas as criadas estão falando disso. –ela respondeu animada –De quem foi a ideia? –ela perguntou com um sorrisinho no canto da boca.

–Henri –a expressão de Neena mudou, parece que não era isso que ela esperava escutar.

–Posso ser sincera? –ela me observou.

–Claro. –respondi desconfiada, não fazia ideia do que ela iria falar.

–Meu selecionado favorito é o senhor Woodwork... –não sei porque, mas fiquei completamente sem reação.

Será que mais pessoas achavam que Kile e eu poderíamos formar um bom par? Será que poderíamos? Eu nunca gostei de Kile, na verdade sempre o subestimei. Mas depois do início da Seleção e de tudo o que aconteceu eu passei a gostar dele e eu realmente gosto dos nossos encontros e da nossa nova relação. Mas eu com certeza não estou realmente gostando dele. Tenho certeza disso.

– Já acabei de pentear seu cabelo senhorita, há mais alguma coisa que eu possa fazer para você?

–Não Neena, obrigada. Vou ver como minha mãe está.

Sai de meu quarto. Estava acabando de descer as escadas quando comecei a escutar muito barulho e muita movimentação dos guardas. A porta estava lotada de pessoas da imprensa, fotógrafos e apresentadores tentavam invadir o palácio.

Pensei um pouco e percebi que só poderiam ter deixado vazar a notícia do ataque de coração da minha mãe. Quem será que pode ter feito isso? Todas as pessoas que trabalham no palácio sabem que não podem contar para ninguém sobre o que veem e escutam da família real e os selecionados sabem que esse é um dos mais importantes fatos sobre estarem no palácio. Não tinha tempo para esses pensamentos agora, tinha que ver como minha mãe estava com essa situação toda.

Corri até o quarto real da ala hospitalar, meu pai andava de um lado para o outro passando a mão repetidas vezes no cabelo demonstrando sua preocupação. Minha mãe estava desacordada.