– Impossível. - Josh só pode estar brincando...

– É loucura... porque ela faria isso?

Raven nem havia notado quanto tempo se passara.

Quando ouviu os murmúrios do lado de fora de seu quarto, porém, já sabia o que havia acontecido.

– Você não vai entrar nesse quarto, Mila.

– Eu vou falar com ela – a voz de Mila, banhada pela ansiedade, passou pela porta – isso é... é insanidade...

– Mila, não! – exclamou outra voz, antes que a porta do quarto de Raven se abrisse.

Raven se virou para o outro lado da cama, abafando seus soluços no travesseiro.

– Raven? – Mila olhou para a cama.

A menina não respondeu, e piscou os olhos quando Mila acendeu a luz.

– Raven... – ela sentiu Mila sentando no colchão – por favor... fale comigo.

Raven se virou para Mila, os olhos vermelhos e inchados.

– O que é... Mila? – a garota choramingou.

Mila suspirou antes de falar.

– Que história é essa... de que você t-terminou... – gaguejou Mila, arregalando os olhos - com o Josh?

– Não quero falar sobre isso – soluçou Raven, enfiando o rosto no travesseiro outra vez.

– Só me diga por que, Ray.

– Isso não é da sua conta – Raven murmurou; estava tão abatida que a rispidez mal apareceu em sua voz.

– É sim – Mila não falou de um jeito duro. Era mais como se tentasse ajudar a amiga – é com meu irmão que você terminou. Só quero saber por que, Raven... quer dizer, há sete horas, vocês estavam tão bem... juntos...

– É... complicado... – sussurrou a menina.

– Isso eu deduzi sozinha – Mila ainda falava calmamente – Josh está arrasado... ele não sabe o que fez de errado pra você ter terminado do nada...

Raven mordeu o lábio. “Eu devia me matar por fazê-lo ficar assim...”, ela pensou.

– Sinto muito, Mila. Não posso te dizer nada – murmurou ela – no fim, era o melhor para nós dois...

– Era o melhor para você acabar com sua alegria? – Mila indagou – Raven...

– Fale para o Josh... – Raven soluçou de novo – que eu não... quero vê-lo mais. Acredite, Mila... é o melhor pra ele...

– Raven... – a voz de Mila era uma mistura de histeria e medo.

– Por favor, Mila... – Raven enfiou o rosto com força no travesseiro – saia daqui.

Mila parecia estar tão aflita quanto Raven, mas, no fim, acabou saindo do quarto.

– E aí? Como foi? – a voz ansiosa de Helena voltou á soar do lado de fora.

– Horrível – Mila disse – ela não vai mudar de ideia. Disse que não quer ver Josh... – a voz dela falhou no final – nunca mais.

– Pra mim já chega – Helena falou, num tom exausto – eu vou pra casa. Quem sabe isso é só um pesadelo, sei lá... ela deve estar um pouco... perturbada... ou louca...

– Também vou – Ginevra fungou – amanhã ela vai ter mudado de ideia... ela tem que mudar de ideia...

– Tomara que sim, Gi – Mila murmurou – Bob... fale pra Josh que eu já fui pra casa... não sei que hora ele vai... se recompor...

– Tá bom, Mila – Bob suspirou. Parecia tão infeliz quanto Mila.

Raven deu o maior soluço até o momento quando a porta da frente bateu.

– Ei, Josh – a voz de Bob atravessou o corredor, alguns minutos depois – sua irmã já foi embora. Ela pediu para te avisar.

– Obrigado – Raven sentiu um aperto no peito quando ouviu a voz de Josh, que soou fraca e abatida – também já vou... indo. Valeu, cara.

Alguns segundos depois, a porta bateu outra vez.

Raven choramingou quando a porta de seu quarto se abriu.

– Ray? What has happened (Ray? O que aconteceu)?? – perguntou Bob, entrando no quarto.

– Bob... please... leave me alone (por favor... me deixe sozinha) – Raven nem se virou para o irmão.

– But... Raven...– ciciou o rapaz.

– Leave me (me deixe)! – gritou ela, jogando o travesseiro na direção de Bob.

O garoto se esquivou e saiu do quarto.

Assim que a porta do quarto bateu, Raven deixou a aflição esmaga-la de uma vez.

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No dia seguinte, as aulas voltaram ao normal, e a maior parte da bagunça deixada pelo Concurso Musical já fora arrumada.

Os alunos cochichavam e fofocavam sem parar, mas não era sobre a animada semana do Concurso.

– Eu ouvi falar do Fausto...

– As meninas do 2º G andaram falando...

– É, eu ouvi falar também... o Josh...

– A Summer e o Santos... terminaram...

– É impossível... aqueles dois eram queijo e goiabada...

Mila parecia querer refrear a intensa vontade de socar cada aluno que comentava o arrasador acontecimento. Um segundo de descuido enquanto conversava com Ginevra, e a escola inteira já sabia do ocorrido.

– Isso precisa parar! – gemeu Helena, batendo as mãos, exasperada, nas pernas.

– Não depende de nós – suspirou Mila – só Deus pode dar um jeito nisso agora...

De repente, Helena virou a cabeça em direção á entrada da Hermes. Mila se virou também, junto de Ginevra.

– Raven... – murmurou Mila.

Raven entrou na escola sob os olhares de vários alunos, cabisbaixa.

Seus olhos castanhos pareciam levemente inchados, indicando que havia dormido tão bem quanto um morcego. Ela não levantou a cabeça nem para cumprimentar as amigas.

Amanda também olhava para Raven, e parecia deliciada com a infelicidade dela.

– Raven! – chamou Helena.

Raven ignorou-a, e começou á correr em direção á sala de aula.

– Mas que droga – choramingou Mila.

Mais tarde, quando todos já estavam na sala, as meninas conseguiram falar com Raven, que fingia estar cochilando na carteira.

– Raven... fale com a gente – Ginevra suspirou.

A menina se virou para trás.

– O que vocês querem comigo?

– Saber o que podemos fazer pra ajudar você á tomar juízo e voltar á ficar com Josh – bufou Helena.

– Nada. Deixem-me em paz.

– Pô, Ray... – começou Mila, mas parou no mesmo instante; Josh passou pelas carteiras delas e se sentou na sua própria carteira.

Seu rosto estava para baixo, impossível de se ver.

Raven soluçou baixinho, sem olhar para Josh.

– Então, Summer – a voz de Amanda interrompeu os pensamentos das meninas – quer dizer que seu patético namoradinho te deu o fora?

Mila se levantou da carteira, como se fosse espancar Amanda, mas Helena e Ginevra a detiveram.

Raven parecia nem ter ouvido Amanda; se ouviu, ignorou.

– Não é que eu esteja surpresa, sabe... – Amanda deu uma risadinha desprezível – quem é que aguentaria ficar com você por mais de meio ano, não é? Ele fez a primeira coisa decente desde o começo do ano, te dispensando.

Raven parecia não ouvir som algum, absorta em seus próprios pensamentos. O pior que poderia acontecer agora era Amanda enforca-la com arame farpado.

– Cale a boca, Amanda – rosnou Ginevra, amarrando a cara.

– Ui, que medo – zombou Amanda – sabe, garota, dizem que andar com gente da laia da Summer pode causar sérios problemas mentais. Já vi que isso é verdade.

Então Ginevra fez algo que ninguém esperava: pegou seu estojo, pulou da cadeira, foi até Amanda e bateu o estojo com força na boca dela.

Até mesmo Raven olhou para Amanda, que caíra no chão, a boca começando á inchar e avermelhar.

Quis o azar do destino que tudo tivesse acontecido no mesmo instante em que o professor de Geografia entrou na sala.

O professor olhou para Ginevra, que ficou tão chocada que mal pôde falar. O olhar dele já dizia tudo.

– Está suspensa, Ginevra. Vá para a direção.

Raven arfou, e não foi a única; mesmo Josh teve que olhar assustado para a colega, que em vez de se defender, assentiu, o rosto vermelho como se segurasse o choro.

A menina olhou para as amigas, sem dizer nada, e saiu da sala.

Amanda se levantou do chão, uma mistura de satisfação e dor no rosto.

Para o ódio das meninas, o professor ajudou-a á voltar ao seu lugar.

– Quer um pouco de gelo, Amanda?

Amanda acenou com a cabeça, olhando em seguida para Raven.

Raven queria, no fundo, fazer o mesmo que Ginevra fizera, e procurar a amiga para conversar com ela, mas ainda estava tão deprimida que apenas desviou o olhar para seu caderno e fungou outra vez.

Mila e Helena se entreolharam. Parecia que todas concordavam com uma coisa: que tudo não podia piorar ainda mais.

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– Aquela cobra, nojenta, asquerosa! – grunhia Helena, no intervalo, ao lado de uma Raven totalmente desligada do mundo e de Mila – A Raven termina com o Josh, e agora Ginevra vai ficar de suspensão por três dias! Como se não bastasse, agora todos os professores estão com pena daquela garota horrível! Qual é a próxima? Um meteoro vai atingir a escola? O PCC vai atacar de novo?

Mila parecia ignorar Helena, como se sua mente estivesse em um planeta totalmente diferente.

Helena pulou e Raven ergueu a cabeça quando ela começou á chorar baixinho, o rosto escondido nas mãos.

– Mila? – murmurou Raven, a voz lastimavelmente tristonha.

– O que foi, Mila? – indagou Helena.

Mila olhou para Raven. Seus olhos claros estavam suplicantes.

– Raven... por favor... pare de esconder isso de mim.

– Isso o quê? – Raven suspirou.

– O que te levou á terminar com o Josh! – exclamou Mila – eu sei que foi por um motivo...

Raven suspirou outra vez, mas, para a surpresa de Helena, se inclinou e começou á cochichar no ouvido de Mila.

O queixo de Mila ia caindo aos pouquinhos, e estava quase no seu peito quando Raven terminou.

– O quê? – ganiu Helena, desesperada.

Mila olhou para Raven como se nunca tivesse a visto antes.

Ela gemeu, as palavras saindo quase engasgadas.

– Raven Summer... – Mila quase rosnava - você terminou com meu irmão para ele não perder uma bolsa de faculdade?

– É importante para ele – choramingou Raven – pode mudar a vida dele, Mila.

– Você não sabe o que é importante para ele, Raven. Muito menos o que pode mudar a vida dele – Mila disse.

– Mas Mila...

– Ele pouco se importa com a bolsa de estudos, Ray. Quer dizer, ele até que gostaria de ganhar, claro. Mas tem uma coisa que, para Josh, é a mais importante que pode acontecer na vida dele. Que perto dela, a faculdade é bobeira.

– O quê? – Raven indagou.

Mila ergueu as sobrancelhas, como se a garota tivesse deixado passar algo óbvio.

Raven gemeu quando pensou.

– Eu?

Mila assentiu, sorrindo.

– Por que você acha que ele iria largar o Campeonato? Raven, você é o que pode mudar a vida dele, não uma boa faculdade.

– E depois – completou Helena – mesmo que fosse por um motivo decente, Josh não ia te deixar sozinha só porque você terminou com ele. Assim que se recuperasse, ia te vigiar ás escondidas, já que você... disse que nunca mais queria vê-lo.

Raven engasgou com um soluço quando Helena disse as últimas palavras.

– Francamente, Ray – Mila balançou a cabeça – no que você estava pensando?

Foi aí que Raven desabou nos braços de Mila, chorando.

A amiga lhe deu tapinhas nas costas.

– O que eu faço, Mila? – soluçou Raven.

– O que mais, sua boba? – Mila deu um sorrisinho amarelo – chispa daqui, corra até o vestiário masculino e fala com ele!

– Ele não vai me perdoar... e depois de tudo que eu disse... – Raven quase sufocou ao lembrar – fiz ele se sentir culpado por nada...

– Se ele realmente gostar de você, ele vai te perdoar – disse Helena, sorrindo.

Raven pareceu levemente mais animada, mas ainda estava um pouco sôfrega.

– Vocês têm razão. Ah... your fool, fool, fool (sua idiota, idiota, idiota)! – Raven bateu de leve a mão na testa – eu tenho que falar com ele...

– E o que está esperando? – Helena riu como não fazia desde o dia anterior, e empurrou Raven para fora do banco – sai correndo, inglesinha!

Raven deu um leve sorriso esperançoso, e correu em direção á quadra.

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Os meninos dos times da Hermes estavam se arrumando para o Campeonato, que começaria dali á alguns minutos.

Vários garotos estavam no centro do vestiário, colocando os uniformes.

Josh estava prestes á colocar a camiseta quando uma maré de risinhos dos jogadores eclodiu ali perto.

Entre os rapazes, uma forma de longos cabelos castanhos abriu caminho até ele.

Josh gaguejou quando reconheceu quem era.

– Ra-raven?

A menina arfava, levemente intimidada com tantas presenças masculinas e – ela corou, quase desviando o olhar - pelo fato de Josh estar sem camisa.

– Posso... falar com você... á sós?

– Ahn... – o rapaz suspirou, ignorando os risos dos colegas – bem... galera, pode dar uma licencinha pra nós dois?

Os rapazes riram e cochicharam, mas acabaram saindo daquela parte do vestiário, deixando os dois sozinhos.

Josh olhou para Raven, confuso.

– Raven... eu queria...

A menina pôs o dedo indicador na boca dele.

– Espere, Josh. Tenho que te dizer uma coisa.

Josh deu alguns passos para trás.

– Raven, se tiver á ver com o que... que aconteceu ontem... – ele arfou.

– Tem á ver... mas não é o que você está pensando! – ela gemeu.

– Não entendo... – Josh deu outro suspiro, com uma expressão triste – o que foi que eu fiz?

– Você não fez nada, Josh... fui eu.

Raven tremeu antes de dizer tudo ao rapaz. Quando ela terminou de contar, ele andou para trás outra vez, os olhos arregalados.

– Raven... você... – Josh balançou a cabeça.

A menina soluçou antes de começar á chorar.

– Me perdoe, Josh! Me desculpe!

Raven desabou no banco do vestiário, chorando.

Só parou, de repente, quando sentiu os braços de Josh puxando-a para perto dele.

O rapaz acariciou os cabelos dela.

– Raven... sua bobona.. – ele riu baixinho, abraçando-a.

– Ah, Josh... você não está com raiva de mim? – choramingou a menina.

– De você? Eu nunca teria coragem de ficar com raiva de você, Ray... – sorriu Josh – só queria que você tivesse me dito aquilo... que não tivesse... sabe...

– Magoado você.. ter feito você sofrer á toa... – soluçou ela – Amanda tem razão. Eu sou uma...

– Não, não é – disse Josh, sério, olhando para o rosto dela – você não fez nada de errado, Raven... está tudo bem...

– Você ainda quer... ser meu namorado? – Raven olhou para Josh, apreensiva.

– Claro, sua bobinha – riu o rapaz, beijando-a.

Raven pulou como se tivesse levado um choque, mas não demorou nada para ela retribuir com um entusiasmo totalmente novo. Era como se ela tivesse ficado mais apaixonada por ele do que sempre fora, se é que era possível.

– I love you – murmurou a menina no ouvido de Josh.

– Olha só... – uma voz apareceu do nada, assustando os dois.

Os rapazes do time haviam voltado, e olhavam para o casal, rindo mais do que nunca.

– Ei, Romeu, veste a camisa e vem logo – riu Fausto, que também fazia parte do time – o jogo vai começar daqui á pouco. E a Julieta, é melhor sair.

– Dá um tempo – bufou Josh, revirando os olhos, quando os jogadores saíram de lá outra vez.

– Já sei – Raven parecia completamente mais alegre, quando viu que tudo dera certo. Josh colocou a camiseta do time, e mesmo assim não desviou os olhos dela – nada de meninas no vestiário masculino, não é?

– Ah, talvez – Josh murmurou – malditas regras escolares...

– Bom, só queria te dar algo... pra dar boa sorte, antes de ir – sorriu a menina.

– O quê? – perguntou Josh.

O rapaz riu baixinho quando ela o puxou para si e o beijou mais entusiasmadamente do que antes.

– Win – sussurrou ela – ganhe deles, garoto.

– Mas Raven... eu não posso ir... lembra... a Amanda...

– Pode sim – Raven riu, sorrindo – eu sei sobreviver três dias perto da Amanda. Vai lá e ganhe aquele troféu pra mim. Vou estar ali, só te esperando.

– Pode deixar. Tome cuidado – Josh a abraçou outra vez e foi atrás dos colegas do time, deixando para trás uma Raven cansada e ansiosa, mas mais feliz do que nunca.

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Mila e Helena estavam esperando Raven do lado de fora do vestiário masculino.

Quando viram a amiga sair de lá com um sorriso no rosto, deduziram que tudo correra bem.

– E aí, Ray? – sorriu Helena.

– A gente... é... – riu Raven.

– Reatou... se é que o maldito verbo existe – murmurou Mila, fazendo Raven rir.

– É... estaria tudo um mar de rosas, se a coitada da Ginevra estivesse aqui.

Raven suspirou.

– Eu devia ter feito alguma coisa... ela se enrascou por minha causa, só porque quis me defender...

– Ginevra sabia que ia se meter em algum problema, não é burra. E depois, ela também não aguentava mais ouvir a Amanda te xingando – disse Mila, com um meio sorriso.

– Ela é uma amigona mesmo – Raven também sorriu, pensando na amiga – tomara que a Gi não esteja muito chateada.. podíamos ir á casa dela depois, não é? E explicar para o Sr. e a Sra. Pereira o que aconteceu.

– Ótima ideia, Ray – Helena aprovou.

– Gente, a conversa está ótima, mas o Campeonato já vai começar – informou Mila, indicando a quadra coberta.

– É mesmo! – falou Raven – é melhor a gente ir! Em seguida, as meninas saíram correndo para a quadra.

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Para a sorte de Raven, a partida ainda não havia começado quando finalmente haviam se acomodado junto dos espectadores.

O juiz fez sinal para que os times entrassem na quadra.

Um por um, os jogadores da Hermes saíram do vestiário.

Josh apareceu por último, e, ao se virar para as pessoas que assistiam, encontrou Raven. A menina corou, mas sorriu quando ele lhe acenou.

Algumas meninas deram risadinhas zombeteiras, como se dissessem “tinha que ser esses dois”.

O jogo começou poucos segundos depois, e bastaram apenas alguns minutos para nascer uma gritaria dos torcedores, incluindo das garotas.

– É pra lá, pra lá, seu burro! – berrou Helena, agitando as mãos.

– Trucida o cara, Fausto! – disse Mila.

– Mira essa bola, Felipe! Você está jogando igual a minha bisavó, seu pamonha! – ganiu Ginevra.

Raven mordia o dedo indicador de ansiedade, olhando para ninguém mais que Josh e a bola.

O rapaz gingava a tal velocidade que a menina quase o perdia de vista.

Só despertou para a situação do jogo quando vários gritos encheram a quadra.

– GOOOOOL!!

– Gol de quem? Gol de quem? – murmurava Raven.

– Da Hermes! – sorriu Helena. - Foi o Fausto! – Mila batia palmas – foi lindo!

– O que foi lindo? – indagou Helena, zombeteira – o gol ou o Fausto?

Mila fingiu que não ouviu, mas Raven jurou ter a visto avermelhar levemente.

– Ali! – ganiu Érica, que estava atrás delas – o Josh está com a bola!

Raven voltou a atenção instantaneamente para a partida. Josh estava de posse da bola, ambos tão sincronizados que a bola parecia fazer parte de seu corpo.

Raven estava tão hipnotizada, olhando para o rosto concentrado do namorado, que mal teve tempo de absorver a hora em que Josh caiu no chão da quadra, com o corpo contorcido num ângulo estranho.

Demorou para notar que ele se machucara.

– Josh! – gritou ela, aflita.

– Foi aquele filho da mãe, da Camargo! – rosnou Helena – ele chutou a perna do Josh!

Raven choramingava de preocupação quando o juiz ergueu o cartão vermelho.

Ouviram-se assobios da escola adversária, Camargo, e vaias dos alunos da Hermes.

Fausto largou a bola e correu para ajudar Josh, que tinha o rosto contraído de dor.

– Levem-no pra enfermaria! – disse o juiz – ele não está mais em condição de jogar...

– Não! – disseram Mila, Raven e Helena.

Dois garotos da plateia apoiaram Josh. O rapaz mal conseguia andar.

Raven correu atrás dos meninos, seguida por Helena e Mila, sentindo as lágrimas de raiva e preocupação inundarem seu rosto.