Coração Inglês escrita por FireboltVioleta


Capítulo 10
Declarações, Vitórias, Mais Conversas e Uma Decisão Dolorosa


Notas iniciais do capítulo

Oe, pessoas!
Novo capítulo para vocês, meus lindos e lindas!
Boa leitura! *u*



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Ao contrário das outras apresentações, um pequeno grupo dos alunos do 2° G estava na sala quando Raven e Josh voltaram. Todos se viraram quando os meninos atravessaram a porta, com expressões estranhas. Raven engoliu em seco, esperando ser miseravelmente vaiada pelos colegas.

No entanto, o que aconteceu foi exatamente o contrário: todos aplaudiram vigorosamente os dois, sorrindo.

– Uau, Summer – a menina ruiva que visitara Raven no hospital dias atrás estendeu á ela um bloquinho de folhas de papel e uma caneta, rindo – foi demais! Dá um autógrafo?

– Vocês arrasaram! – Ginevra dava pulinhos ao redor de Josh de tanta empolgação.

Raven sentiu o nó que ainda estava em sua garganta se dissolver até sumir, e sorriu em resposta, relembrando o dueto; ao final da apresentação, alguns aplausos educados correram pela quadra, e foi isso o que deixou Raven ansiosa, já que não sabia se haviam aplaudido por que haviam realmente gostado ou só porque os professores estavam ali do lado e não suportariam que vaiassem os seus alunos favoritos. Quando todo o grupo rodeou Josh e ela, Raven suspirou, aliviada e feliz.

– Você fez curso de canto, Summer... confesse! – brincou Fausto, o rapaz que Raven conhecera no início do ano, levantando um dedo acusador para ela.

– Não fiz, não - sorriu a menina.

– Mentirosa! Não é possível... você cantou como uma profissional lá em cima!

– Hum... vocês acharam minha voz legal?

– Com certeza! – Mila deu um tapinha no ombro de Raven – até parece que eu ia conseguir... “this is real, this is me...” – a menina cantarolou, rindo.

Josh abraçou Raven, também aliviado.

– Daqui á pouco é a minha vez – ele disse para Raven – tomara que dê tudo certo...

– Eu sei que você vai me deixar orgulhosa – Raven puxou o queixo dele para baixo e o beijou, sorrindo.

– Boa sorte, garotão – murmurou Helena para Josh., dando uma piscadela discreta para ele.

– Valeu, Helena – gemeu o rapaz, quando Raven estava longe o bastante para não ouvir – vou precisar...

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A quadra estava cheia de grupinhos de alunas cochichando e olhando sugestivamente para o palco. Com uma pontada de irritação e insegurança, Raven já sabia por quê. Parecia que ela não era a única á estar ansiosa para ver o maior atleta da escola cantar sozinho. Todos queriam saber se Josh se viraria sem a ajuda de sua “namoradinha inglesa”.

Ginevra tinha uma paciência de monja enquanto Raven torcia os dedos ao seu lado, mas quando a menina começou á bater os dentes de tão ansiosa, ela piscou com desgosto e deu um tapa em Raven.

– Ai! – Raven reclamou, massageando o braço.

– Se controla, Ray! – bufou Ginevra – vai ficar tudo bem, sua boba!

– Ela tem motivo pra se preocupar – murmurou Helena, equilibrando as pernas no assento.

– Por quê? – indagou Mila, ao lado de Raven.

Helena olhou de Ginevra – que ainda estava com aquela careta perturbada de quem foi chutada no bumbum – para a expressão confusa de Mila, e de Mila para Raven, que ainda estava em seu transe ansioso. Ela gemeu antes de dizer:

– O Romeu dela tá preparando uma baita surpresa.. quer dizer, isso se ele conseguir can... cantar.

Sing... – Raven murmurou, com as mãos no rosto; ela falou a palavra como se fosse um palavrão – ai, meu Deus... não devia ter metido o Josh nessa minha ideia louca...

Mila deu um tapinha no ombro dela.

– Devia sim, Ray... e mesmo se você não quisesse, ele iria ajudar... sem exagero, sério... meu irmão iria até a Lua... literalmente... por você.

Raven deu um sorriso amarelo.

– Eu sei. Ele é terrível.

– Não olhem agora – gemeu Helena – mas o cara já está no palco.

As meninas se viraram mecanicamente para o palco, onde Josh já se posicionava em frente ao microfone. O rapaz deu um sorriso nervoso, fechou os olhos por alguns segundos e os abriu quando a música começou. Ginevra deu um gemido quando reconheceu a música.

– Putz.... When It’s Time, Green Day? Agora é que você vai pirar, Ray.

Raven já ia perguntar “por quê?”, quando Josh começou á cantar.

Words get trapped in my mind (Palavras ficam presas na minha cabeça)

Sorry I don’t take the time to feel the way I do (Desculpe se eu não tomar tempo pra me sentir desse jeito)

‘Cause the first day you came into my life (Porque no primeiro dia que você entrou na minha vida)

My time ticks around you (Todo tempo fica em torno de você)

But then I need your voice (Então eu preciso da sua voz como uma chave pra)

As the key to unlock all that’s trapped in me (Desprender todo o amor preso em mim.)

So tell me when it’s time to say I love you (Então me conte quando for a hora de dizer "eu te amo”)

All I want is you to understand (Tudo o que eu quero é que você entenda)

That when I take your hand (Que quando eu seguro a sua mão )

It’s ‘cause I want to (É porque eu quero)

We are all born in a world of doubt (Todos nós crescemos em um mundo de dúvidas)

But there’s no doubt (Mas não há dúvidas)

I figured out (Eu percebi)

I love you (Eu te amo)

Ninguém despregava os olhos de Josh, principalmente Raven, que estava á beira das lágrimas de carinho. A maioria das meninas ao seu redor estava enraivecida, pois sabiam muito bem á quem Josh estava dirigindo aquela música. O rapaz olhava direto para onde ela estava.

And I fell lonely for (Eu me sinto solidário por todos os perdedores que)

All the losers that will never take the time to say (Nunca vão tomar o tempo pra dizer)

What was really on their mind instead (O que, afinal, se passa na cabeça deles)

They just hide away (O que realmente passa em suas cabeças)

Yet they’ll never have (Porém eles nunca terão)

Someone like you to guard them (alguém como você para pegá-los)

And help along the way (E ajudá-los por todo o caminho)

Or tell them when it’s time to say I love you (Ou conte pra eles quando é a hora de dizer "eu te amo”)

So tell me when it’s time to say I love you (Me conte quando que é a hora de dizer "eu te amo”)

Uma enxurrada de aplausos eclodiu da plateia quando a música terminou. Quase todos, estavam emocionados; algumas professoras até estavam chorando, enxugando os olhos na aba do avental. Josh sorriu, triunfante e aliviado, antes de descer do palco e correr até as meninas.

– Josh, foi... demais! – disse Mila, abraçando o irmão.

Mila mal havia se afastado do rapaz quando Raven puxou Josh para um abraço apaixonado, com lágrimas nos olhos.

– Foi l-lindo, Josh – soluçou a menina no ombro dele – eu n-nem acredito que você fez isso p-pra mim... o-obrigada...

Josh também a abraçou, sorrindo.

– Você merece – sussurrou ele.

Raven soltou um gemidinho carinhoso antes de acolher o garoto num beijo. Alguns alunos assobiaram, enquanto Helena sorria, Mila batia palmas e Ginevra piscava como quem não entendeu nada.

Y love you – riu Raven, ainda abraçada com Josh.

– Ih, Ray.. – Josh também riu – agora melou... como se diz “idem” em inglês?

Em vez de responder, Raven o abraçou mais forte ainda, com ternura, pensando que, mesmo se não ganhasse o Concurso, ainda assim aquele dia seria um dos melhores de toda a sua vida.

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– Alguém tem horas aí? – disse Mila de repente, três horas depois.

Érica revirou os olhos e fez um gesto para o corredor, de onde soou o sinal. Ao ouvir o som, Raven ficou tão paralisada que parecia uma estátua esculpida em pedra.

– Ai – ganiu Fausto, se endireitando; até o momento, ele estivera dependurado entre a carteira e a cadeira – está na hora da premiação.

– Ou melhor – gemeu Ginevra – de saber quem ven... venceu – ela gaguejou.

Raven pareceu congelar mais ainda quando ouviu a palavra venceu. Josh pareceu notar, e deu um tabefe de leve na nuca de Ginevra.

– Ai! Josh, sua anta...

– Pare com isso, Gi... está deixando a Ray nervosa – ralhou ele.

As meninas olharam para ela. Raven pareceu despertar de sua preocupação e olhou para todos de um jeito assustado. A menina soltou um longo suspiro e murmurou:

– É agora ou nunca, Josh.

O rapaz pegou a mão dela e a apertou.

– Nós vamos nos sair bem, Ray. E mesmo que a gente não ganhe, eu quero que saiba... foi uma das melhores semanas da minha vida.

Ela deu um leve sorriso e o abraçou.

– Tudo bem, galera... agora vamos lá – sorriu Helena – estou querendo ver vocês ganharem e não estou á fim de me atrasar.

– Valeu, gente – Raven riu, mais animada e esperançosa – você tem razão, Lena. Vamos lá.

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A quadra parecia estar prestes á explodir de tanta gente. Quase toda a escola estava na premiação: os alunos, os professores, até as serventes e as “tias”. Os competidores de todas as categorias estavam ao redor do palco – as meninas dando pulinhos de ansiedade, e os meninos, conversando em voz alta. Raven e Josh, assim como Amanda e Thiago, estavam no meio deles. Amanda dava olhares raivosos e presunçosos para Raven toda vez que podia, mas até ela ficou quieta quando o coordenador pediu a atenção de todos.

– Bom... agora, como todos sabem, vão ser anunciados os nomes dos vencedores de todas as categorias do Concurso Musical.

“Na categoria de Melhor Dança, os vencedores, tanto da dança em dupla como individual masculino e feminino, foram: em 3° lugar, Gabriela Dante e Paulo Coelho, do 2°A.”

Alguns aplausos educados seguiram o casal que subiu no palco para receber um troféu de cor bronze.

“Em segundo lugar, temos Amanda Silveira e Thiago Oliveira, do 2° G.”

Amanda deixou o queixo despencar, e foi pegar o troféu prateado com uma expressão incrédula e odiosa, principalmente quando Raven lhe deu um sorriso alegre por ela não ter ganhado o primeiro lugar. Os aplausos foram mínimos.

“E o primeiro lugar, como um acontecimento inédito na escola, pertence á Josh Santos e Raven Summer, também do 2° G.”

Do nada, uma gritaria saiu da plateia junto com uma salva de palmas, enquanto Raven ainda digeria o que o coordenador dissera. Ela ganhara a primeira categoria.

Josh correu com ela até o palco e ergueu no alto o belo troféu dourado para que todos vissem. Mila, Helena, Ginevra e os colegas de Raven e Josh gritaram de novo, junto com os outros.

Raven desceu do palco correndo em seguida, se jogando nos braços das amigas com o troféu nas mãos.

– Conseguimos! Conseguimos! – entoava Ginevra, enquanto Helena e Mila bagunçavam o cabelo de Raven – você ultrapassou a Amanda, Ray!

– É. E ela não gostou nadinha – comentou Helena, olhando para uma Amanda furiosa com um sorrisinho quase cruel.

– Olha só a cara da víbora – riu Mila.

Amanda andava de um lado para outro, bufando feito um touro raivoso.

– Pois é. Só falta saber se conseguimos passar na categoria Melhor Cantor e Cantora – suspirou Josh, abraçando a cintura de Raven.

– Com a sorte de vocês, eu não duvido nada – disse Érica, que conseguira passar pelo grupinho barulhento de alunos do 2º G e chegar até os meninos – é bom que vocês deem uma lição na Amanda... aquela Barbie desprezível tem que levar um belo de um castigo!

– É isso aí, Érica! – sorriu Mila.

– Calem a boca, vocês duas – bufou Ginevra – já vão anunciar os vencedores da terceira categoria!

Raven e Josh se viraram para o palco outra vez. Amanda se voltou na direção do coordenador com tanta violência que empurrou uma menina da sétima série e a fez cair no chão.

– Agora, vamos anunciar os vencedores da categoria de Melhor Cantor e Cantora. Curiosamente, também nessa categoria, os vencedores são os mesmos tanto nos duetos quanto nos solos masculino e feminino.

“Em 3° lugar, estão Rosana Carvalho e Carlos Dúbio, do 1º D.”

Um casal de meninos ruivos correu até o palco e ergueu alegremente a taça bronze no ar. Várias pessoas aplaudiram.

“Em segundo lugar, estão Fabiana Graziela e Caíque Reis, da 7° C.”

Dois alunos da sétima série subiram ao palco e receberam o troféu prata, quase caindo no chão com o peso do objeto. Todos riram e aplaudiram.

Raven sentiu um nó de ansiedade e desespero nascendo na garganta. Nem ela nem Amanda haviam recebido o segundo lugar. Ela tinha certeza que o primeiro lugar seria de uma delas, e não sabia se seria possível ela ter ganhado também nessa categoria.

Amanda lhe lançou um sorriso desprezível. Pelo visto, ela pensara na mesma coisa. A expressão no rosto dela era de quem sabia que o prêmio já estava no papo.

O coordenador correu os olhos pelos competidores, como se não tivesse coragem de anunciar os ganhadores do primeiro lugar, aumentando ainda mais a tensão..

“O primeiro lugar foi difícil de decidir, já que ambos os casais deram uma espetacular apresentação aos nossos juízes. Mas, ao fim, a decisão foi unânime. Os vencedores da categoria de Melhor Cantor e Cantora, impressionantemente... foram Raven e Josh, do 2º G!”

Alguém do lado de fora da escola teria achado que acontecera uma explosão na Hermes, tamanha foi a gritaria que irrompeu na quadra quando Josh ergueu Raven até o palco para que ela sacudisse, triunfante, o troféu da última categoria. O rapaz subiu ao palco também e deu um grito alegre que mal foi ouvido no pandemônio de berros e aplausos. Raven começou á chorar baixinho quando seus colegas do 2º G levantaram Josh e ela no alto, cantando um bizarro refrão de vitória.

Ela é a tal, ele é o maioral

Vamos comemorar até o Natal!

– Que macumba é essa? – riu Ginevra, fazendo uma careta ao ouvir a cantoria.

Josh e Raven riram também quando desceram da “montanha” de alunos que haviam erguido os dois.

– Ganhamos! Não dá pra acreditar, Ray! – sorriu o rapaz, agarrando a cintura de Raven e rodando-a.

– Não dá mesmo! – exclamou ela, para que ele a ouvisse no meio da barulheira. A garota dava pulinhos de alegria.

– Vocês dois são demais! – disse Helena, fazendo uma festa encima da cabeça de Josh.

Raven percorreu com os olhos toda a quadra, vendo quem compartilhava com ela aquela alegria e quem parecia querer torcer seu pescoço. Entre tantos olhares admirados e raivosos, ela encontrou o de Amanda.

Não era surpresa, mas o modo como Amanda a olhava, mesmo assim, fez o medo se agitar fraquinho no estômago de Raven. Era um olhar homicida, tão colérico que faíscas pareciam saltar dos olhos dela. Foi o que fez Raven concluir que não havia mais nada do que Amanda não fosse capaz para se vingar; a guerra estava declarada.

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A comemoração não parou quando Raven saiu da escola com as amigas e Josh, e se estendeu até chegarem á casa dos Summer. Desde quando haviam voltado de Londres, se tornara comum Mila, Helena, Ginevra e Josh passarem várias tardes na casa de Raven.

Helena se adiantou e abriu teatralmente a porta da frente, fazendo uma paródia de reverência para Raven e Josh. O rapaz revirou os olhos antes de puxar a menina para dentro da casa.

Bob estava sentado no sofá da sala, mas pulou de lá assim que viu os meninos e correu até eles. Depois de dar um beijo nada discreto em Helena e cumprimentar as meninas com um aceno, ele se virou para Raven.

– E aí, como foi?

– Sinto muito, Bob... –Raven fingiu tristeza... mas é que...- e então ela sorriu – nós vencemos! Vencemos o Concurso!

Bob sorriu também e a abraçou.

You won? Demais, maninha!

– Olhe só que belezinhas – riu Ginevra, tirando os dois troféus dourados da mochila de Raven e enfiando na cara de Bob.

– O.K., estou vendo. Não precisa furar meus olhinhos – brincou ele.

Nesse momento, a Sra. Summer apareceu na sala.

– O que aconteceu?

Raven tirou os troféus das mãos de Ginevra e balançou na direção da mãe. A Sra. Summer piscou confusa por alguns segundos, mas logo depois sorriu e foi abraçar a filha.

– Ah, Ray... que bom que vocês conseguiram! Espere só eu mostrar essas gracinhas para seu pai – ela pegou os dois troféus e os colocou na prateleira que estava um pouco acima do sofá.

–É, o daddy vai ficar orgulhoso da little doll dele – Bob sorriu ironicamente.

– Engraçadinho – sorriu Raven, dando um tapinha brincalhão na orelha do irmão.

– Ainda bem que chegaram, crianças – disse a Sra. Summer – acabei de terminar o almoço.

– Vamos ver se meu faro está bom – brincou Josh, dando algumas “fungadas” em direção á cozinha – peixe, batatas assadas, milho enlatado, e mais alguma coisa...

– Acertou, querido – riu a Sra. Summer – só esqueceu da salada de tomates e da feijoada.

– Esse é o meu detetive – Raven apertou carinhosamente a mão do rapaz, e riu quando a mãe bufou de um jeito impaciente e meio divertido.

– A conversa está boa, meninos, mas agora chega. Todo mundo para a mesa, senão a comida vai esfriar. Vamos, vamos!

– Nossa – Mila riu.

– Mamãe quer encher vocês de comida – Raven também deu uma risadinha, enquanto eles iam para a cozinha – ela acha que vocês que nascem aqui no Brasil são muito magrinhos.

– Não se pode dizer isso da Bruna – comentou Helena.

Raven riu; Bruna era uma das meninas da sala deles que era um pouco mais “cheia” do que os outros alunos e vivia se queixando das loucas dietas que a mãe tentava lhe impor, entre farinhas estranhas, pós de feijão branco e sopas que nem pareciam ser comestíveis..

– Parem de cochichar – bufou Josh.

– É – completou Ginevra – é colorido, é gostoso e é de graça. Calem a boca e comam.

– Nossa – repetiu Mila – comer de livre e espontânea... pressão.

Josh riu, acompanhado de Raven. Helena parecia querer dar uma pancada na testa de Ginevra, mas limitou-se á revirar os olhos.

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Depois do almoço, cada um se separou para realizar alguma atividade. Ginevra disse que iria fazer uma “pesquisa de campo” no jardim dos Summer (o que na verdade era dar uma olhada nos bichos e insetos que aparecessem por lá) para a aula de Biologia. Mila falou, do nada, que lhe aparecera uma dor de cabeça, e pediu para ir deitar um pouco no quarto da Sra. Summer. Helena dera um sorrisinho malicioso antes de desaparecer com Bob dentro do quarto do rapaz e não dar mais nenhum sinal de vida pelas seguintes duas horas. Raven e Josh, enfim, foram sentar juntinhos no banco da varanda depois que as meninas se separaram.

Raven olhava para o jardim, no lugar onde Chuchundra havia sido enterrado. A pequena lápide já dava os primeiros sinais de maus-tratos causados pelas garoas que haviam caído durante aquela semana, e vários matinhos começavam á nascer na terra fofa.

Josh olhou para a expressão indecifrável da garota; uma ruga de confusão e curiosidade apareceu em sua testa.

– O que foi, Ray?

Ela pareceu despertar de seus pensamentos, e se virou para o rapaz.

– Hum... estava pensando...

– No quê?

Raven suspirou antes de responder.

– Como é que eu vou passar na frente da Amanda outra vez sem ser... digamos... esquartejada, esfaqueada... coisas do gênero.

O garoto engoliu em seco e arregalou os olhos, mas logo em seguida sorriu de um jeito estranho.

– Acho que você só esqueceu de uma coisinha de nada nessa equação.

– O quê? – Raven indagou.

O sorriso de Josh ficou mais comprido.

Eu. Bobinha, acha mesmo que vou deixar aquela menina horrorosa chegar perto de você?

Raven bufou.

– Eu sei, Josh... mas você não vai estar sempre do meu lado para me ajudar. Não pelos próximos e catastróficos um ano e sete meses.

Josh revirou os olhos.

– É só você pedir, que eu viro um chulé – ele riu – não largo mais do seu pé.

Raven deixou escapar uma risadinha indefinível.

– Ah, Josh... eu não quero você perto daquela mula idiota – a histeria apareceu levemente em sua voz – ela vai prejudicar você também. E principalmente agora, que o Campeonato Intercolegial de Esportes vai começar amanhã...

Ele deu de ombros.

–E daí? Já ganhei alguns troféus – Josh acenou em direção á casa – e não preciso de mais um.

O queixo de Raven caiu.

– Josh Santos... você não se atreveria á sair do Campeonato por minha causa...

– Quer saber? – o rapaz a olhou de um jeito estranho, intenso mas carinhoso – sim, eu me atreveria.

Raven tremeu, mas não foi de frio.

– Você não pode fazer isso... você sabe que tem chance de ganhar, e que os vencedores ganham bolsas de estudo para as melhores faculdades... você não pode jogar uma chance dessa fora por mim... não pode.

Josh fechou os olhos, a boca tremendo de leve. Raven gemeu quando viu até que ponto ele seria capaz de chegar para ajudá-la.

– Não, não... – a menina balançou a cabeça.

Foi nesse momento que ela encontrou a única saída para que Josh não cometesse tal loucura. A saída mais horrível e dolorosa, que ela jamais imaginou que sequer insinuaria na vida. Cada molécula do seu corpo doeria quando ela dissesse o que estava para dizer, mas parecia ser o único jeito. Não podia deixar uma oportunidade dessas escapar de Josh.

– Você não vai fazer isso, Josh – Raven disse, dando tudo de si mesma para parecer convincente.

– Vou – Josh abriu os olhos – você é minha garota, lembra?

Raven respirou fundo, mas discretamente. Parecia prestes á chorar, mas sabia que precisava se manter firme.

Não – ela disse baixinho – não sou.

O rapaz olhou para ela de novo, desta vez assustado e confuso.

– Como assim, Ray?

Raven se esforçou ao máximo para não fraquejar antes de dizer o que nunca pensou que sairia de sua boca. Pensou que iria morrer ao endurecer a expressão.

– Estou terminando com você, Josh.

Josh piscou, a confusão se espalhando pelo rosto, seguida pela dor.

– Ray... não...

– Sinto muito, Josh – murmurou a menina, se levantando e entrando na casa, deixando Josh sozinho.

Assim que a porta bateu, Raven saiu correndo para o quarto, se jogou em sua cama e deixou as lágrimas caírem.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Pedradas? gritos?
Beijinhos com lágrimas e até o próximo!



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