Coração Inglês escrita por FireboltVioleta


Capítulo 12
A Casa de Ginevra, Fausto e a Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Oe, pessoas! Novo capítulo pra meus leitores!
Boa leitura!



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– Droga, droga, droga! – rosnava Mila, balançando os longos cabelos loiros – isso está me cheirando á treta da Amanda!

– Você pirou? – disse Helena – o menino que aleijou o Josh é de outra escola, esqueceu? - Ah... – suspirou Mila – é...

Raven choramingava baixinho, com as mãos entrelaçadas uma na outra.

Levou um susto quando Dona Flora, a enfermeira provisória da escola, apareceu na porta da enfermaria.

– Podem entrar, crianças.

As meninas pularam do banco e entraram na enfermaria, enquanto Helena bufava Crianças? Eu, hein....

Raven levantou a cabeça timidamente para o leito no canto da sala e encontrou Josh.

O rapaz parecia estar ainda com muita dor, mas deu um sorriso indecifrável para Raven. A perna esquerda dele estava enfaixada do joelho até perto do calcanhar, cobrindo algo embaixo, visivelmente mais rígido.

Estava engessada.

Raven gemeu.

– Josh, o quê...?

– Quebrou – explicou Dona Flora, fazendo uma careta – aquele rapazinho da Camargo deu um chute e tanto. Quase trincou a perna inteira.

– Não posso discordar, Dona Flora – murmurou Josh, fazendo força para rir.

Raven não riu. Também estava morrendo de vontade de dar um chute no garoto da Camargo, só que em outro lugar.

– Aquele filho da... – começou Helena.

– Tá, entendemos, Lena – Mila deu um tapa de leve na cabeça de Helena, dando á ela aquele olhar olha lá a porcaria que você vai falar.

Dona Flora olhou de Raven para Josh e deu um pigarro desnecessário.

– Ah, bom... acho que vou lá na quadra ver se há mais algum desafortunado... fique quietinho aí, Sr. Santos... eu já volto.

Quando a porta bateu, Raven deu um pequeno soluço.

– Ai, ai – cochichou Mila para Helena – vai começar a choradeira.

Josh sorriu outra vez, e bateu a mão no leito, chamando Raven para se sentar ao seu lado. A menina fungou antes de subir na maca.

– Ai, Josh... – Raven choramingou de novo.

Josh pareceu se envergonhar.

– Me desculpa, Ray – disse ele.

Ela pareceu ficar confusa.

– Desculpa por quê?

– Por não ter ficado no time até nós ganharmos... – Josh suspirou – eu prometi que ia ganhar por você, lembra? – ele sorriu, triste.

– O quê? Não, não, Josh... – Raven balançou a cabeça, surpresa – eu não me importo que você não tenha ganhado por mim. Só... que você perdeu aquela oportunidade de ganhar a bolsa.

Josh revirou os olhos.

– Como se isso estivesse na minha cabeça enquanto eu jogava. Só estava pensando em você, bobinha.

Raven corou, e deu um pequeno sorriso.

– Santo Pai – bufou Helena – até aleijado, esse cara é romântico.

Todos riram.

– Está doendo muito? – indagou Raven, preocupada, pondo a mão de leve na perna engessada de Josh.

– Um bocado – respondeu o rapaz, fazendo outra careta de dor – os ossos quase se soltaram todos.

– Você tá brincando! – gemeu Mila.

– Pois é – afirmou o menino. Em seguida, começou á se virar na maca com dificuldade, tentando ficar na direção de Raven.

– O que você está fazendo, seu louco? – ganiu Raven, alarmada – fique quieto, vai se machucar!

Josh riu, balançando a cabeça.

– Relaxe, Raven – disse ele, segurando a cintura dela, com uma expressão nada cândida no rosto.

Raven sabia exatamente o que significava.

– Josh... a Mila tá aí... – ela riu.

– Dane-se – sorriu Josh, antes de puxar Raven - que já dava risadinhas - para si e beija-la.

Mila parecia estar prestes á ter um ataque cardíaco. Helena só balançou a cabeça e fechou os olhos como se rezasse a Deus pedindo paciência.

– Mais uma dessa, e eu me enforco no pé de couve – bufou Mila.

Raven riu no meio do beijo, fazendo Josh se sacudir todo e rir também.

Para o azar – ou diversão – dos meninos, Dona Flora voltou no mesmo instante em que Raven se entusiasmou demais e se jogou na única perna boa de Josh para beijá-lo com um pouco mais de conforto.

A mulher pareceu meio surpresa com a cena, mas, assim que recuperou a pose, bufou tão alto que os dois se separaram, assustados.

– Summer, saia já daí! Esse rapaz precisa de repouso. Repouso! – disse ela, dando tapinhas nas costas de Raven para que ela descesse da maca, como se enxotasse um cachorro – e as duas mocinhas, ajudem o Santos á ir para a direção, sim? Vamos, vamos!

Mila e Helena amarraram a cara para Dona Flora, mas foram ajudar Josh á descer da maca, apoiando-o nos ombros.

Raven foi logo atrás das amigas e de Josh, segurando a mão do namorado.

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Como Josh estava , segundo o juiz, impossibilitado de voltar ao Campeonato, a diretoria deixou que ele e as meninas saíssem da escola mais cedo.

A Sra. Santos foi buscar os meninos em frente á escola, e concordou em lhes dar carona até a casa de Ginevra, depois que Raven contou-lhe tudo que acontecera com detalhes, desde que Ginevra fora suspensa, até na hora em que Josh quebrara a perna.

A mulher deu um gemido estranho quando Raven terminou de falar

– Imagine só – a Sra. Santos balançou a cabeça – onde está a justiça quando se precisa dela? Coitadinha da Ginevra... e você, filhote? Está melhor?

– Um pouco – Josh sorriu para a mãe no banco traseiro, encabulado. Raven riu ao perceber que ele não gostara nada daquele filhote.

– Você vai querer ir na casa dos Pereira também? – indagou a Sra. Santos.

– Sim.

– Claro – sorriu Mila – Ginevra vai adorar ter uma testemunha á mais no julgamento que vai ter em casa. O difícil é convencer os juízes de que a ré é inocente.

Raven e Josh riram.

– Tem razão.

Não demorou muito para que chegassem na casa de Ginevra. O Palio azul parou suavemente em frente á um jardim muito bem cuidado, cheio de flores.

Raven ficou admirada; nunca havia vindo à casa da amiga antes.

Todo mundo desceu correndo do carro, menos Josh - que saiu com a ajuda de Raven e de duas muletas que pegara emprestado da enfermaria da Hermes.

A menina parecia não querer desgrudar dele nem por um segundo, como se tivesse medo de que ele quebrasse a outra perna. Josh, por outro lado, parecia se divertir imensamente com a excessiva preocupação da namorada.

Todos acenaram para a Sra. Santos antes que ela fosse embora.

Em seguida, Helena bateu duas vezes na porta, tendo as amigas e Josh em sua cola.

Quando ela se abriu, porém, não era Ginevra que estava lá.

Era um garoto alto e moreno, que parecia tão surpreso em vê-los quanto eles estavam.

– Guilherme? – ganiu Mila – o que você está fazendo aqui, assombração?

Raven também ficou curiosa. Guilherme era um aluno do Hermes, que estudava no 2° F.

– Ah.. – gemeu Guilherme – bom... sou um velho colega da Ginevra... Raven Summer, não é?

– É – confirmou a menina.

– Gente, chega de papo – murmurou Josh – temos que fazer um salvamento, esqueceu?

– É mesmo, Josh – Mila disse – aí, Gui, dá licencinha, por favor? Obrigada.

Guilherme curvou as sobrancelhas quando eles entraram na casa, parecendo confuso.

– Ginevra? – chamou Helena – cadê você?

– Tô aqui – disse uma voz fininha, vinda da sala.

As meninas entraram no cômodo, com Josh seguindo-as.

Encontraram Ginevra enroscada no sofá, com o rosto enfiado numa almofada.

Ela levantou a cabeça para eles, e pareceu embranquecer de susto ao ver todas as amigas juntas e Josh com a perna engessada.

– Mas o que foi que aconteceu? – ganiu Ginevra, assustada.

– É uma longa história, amiga – riu Helena – em resumo, esses dois – ela gesticulou para Raven e Josh, que avermelharam – voltarem á namorar, o Josh foi jogar no Campeonato e levou uma porrada de um jogador do Camargo.

Ginevra nem piscou quando Helena disse tudo isso.

– Carambola.

– E aí? – indagou Josh, levantando uma das muletas – os coroas estão aí?

– Josh! Olha o respeito! – censurou-o Raven, batendo em seu peito. Ginevra riu.

– Não. Ainda não levei o sermão... papai ainda está no trabalho e mamãe me ligou para dizer que daqui á uns dez minutos está aqui pra me enforcar.

– Nossa – gemeu Mila.

– É bom que vocês tenham vindo – Ginevra deu um sorriso afetado – vocês são uns amigões, mesmo.

– Que isso, Gi... é um prazer.

Guilherme apareceu na sala, parecendo chateado.

– O.K., Ginevra, você vai me dizer agorinha mesmo o que está acontecendo!

– Entre para o clube – disse Raven.

Ginevra riu.

Não demorou muito, e os pais de Ginevra chegaram em casa, achando que estavam lá só para dar bronca na filha. Porém, ficaram surpresos ao verem cinco adolescentes esperando por eles na sala.

Josh revirou os olhos quando a Sra. Pereira se assustou com seu estado de quase-aleijado.

Assim que eles se recuperaram do susto e se sentaram no outro sofá, Raven começou á contar toda a história outra vez, desde o dia anterior, até a desafortunada saída de Josh do Campeonato.

Ambos não disseram nada – só ouviram a maior parte do tempo.

Quando Raven concluiu a defesa de Ginevra, o Sr. Pereira olhou de um jeito indefinível para a filha, que mexia ansiosamente nos longos cabelos ruivos.

Para a surpresa de todos, ele sorriu.

– Foi um gesto muito legal da sua parte defender a sua amiga, Ginevra – disse o Sr. Pereira – mas também seria bom você ter defendido ela sem cair em cima da menina, não acha?

– Ah... – Ginevra corou – é, tem razão, papai.

– Minha filhinha é tão altruísta – riu a Sra. Pereira.

– É – Raven disse, sorrindo – ela é uma amigona.

Ginevra corou, mas sorriu também. Todos de descontraíram, aliviados.

Josh assobiou, rindo, e Raven se forçou a olhar para ele.

Apesar de estar feliz com que tudo tivesse dado certo para as amigas, ela se lembrou de que Josh não voltaria á participar do Campeonato, e um nó nasceu em sua garganta.

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Para comemorar o sucesso do resgate Ginevra, todos - até mesmo Guilherme, que ainda não sabia o que acontecera direito - combinaram de ir para a casa dos Summer.

Raven ajudou Josh á subir os degraus da varanda, tocando a campainha em seguida.

Foi a Sra. Summer que atendeu, vestida com um avental florido.

A mulher deu dois passos para trás e deu um ganido estranho ao vê-los. Nunca havia visto tantos adolescentes em sua casa.

– Oi, mãe – riu Raven – será que a turma podia passar a tarde aqui?

A Sra. Summer fez uma careta de quem preferia enforcar o gato, mas revirou os olhos e assentiu.

Um a um, eles foram entrando, em fila indiana. Quando todos já estavam na sala, uma voz alegre os recebeu.

– Raven! Helena!

Todos riram ao ver Bob correr de encontro para Raven e, após ele abraçar a irmã, acolher Helena num beijo nada discreto.

Passaram a tarde inteira em diversas atividades. Após pôr Bob, Guilherme e a Sra. Summer á par de todas as novidades do dia, os meninos se divertiram jogando Perfil por mais de uma hora. Em seguida, todos passaram os dez minutos seguintes amaldiçoando e xingando Amanda Silveira, até que Guilherme soltou um palavrão sem querer e quase matou a Sra. Summer do coração, antes de pedir as mais humildes desculpas á mulher.

Logo após, ficaram duas horas inteiras baixando músicas e vendo vídeos no computador.

Finalmente, após Guilherme ir embora, alegando que sua rinite atacara, e depois de Mila e Ginevra terem ido jogar Twister na sala de estar, Helena e Bob resolveram passar um tempinho grudados um no outro, assim como Raven e Josh também fizeram, sentados do outro lado da sala.

A Sra. Summer fingiu, por longos cinco minutos, não estar vendo as cenas românticas, mas decidiu que não podia ignorar mais a situação quando Bob deu uma mordidinha carinhosa no pescoço de Helena, fazendo-a corar loucamente e dar um gritinho histérico.

– Bob! – ralhou ela – um pouco mais de decência, por favor!

– Oh, mammy... – disse Bob, entre irritado e bem-humorado – leave me! Im in love! (me deixe! Estou apaixonado!)

– OK... so... will be a decent boyfriend (OK então seja um namorado decente!) – bufou a Sra. Summer.

Raven deu uma risadinha ao ver a cara que Bob fez quando a mãe saiu da sala.

Josh pareceu se deliciar com a risada dela, e a abraçou ainda mais forte.

A menina avermelhou levemente, mas sorriu, e encostou a cabeça no ombro do namorado, tomando todo o cuidado para não pressionar a perna engessada do rapaz.

– Coitado do Bob – riu Josh.

– Coitado? – Raven riu, olhando para a expressão meio abobada de Helena, que estava no colo do Bob – ele estava mordendo a coitadinha!

– Eu não a vi reclamar – Josh deu um sorriso um tanto malicioso, erguendo a sobrancelha...

Que seja – bufou ela, despreparada para o bote que Josh deu nela em seguida, acolhendo-a num beijo carinhoso.

Raven retribuiu o abraço, sorrindo mentalmente ao ver que Mila tinha razão; parecia realmente que o que Josh considerava a coisa mais importante do mundo estava bem ali, aninhada nos braços do rapaz.

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No dia seguinte, toda a escola comentava o que acontecera no dia anterior.

Muitas das narrações tinham vários boatos e coisas fantasiosas - que o ataque do garoto da Camargo á Josh era uma conspiração para desestabilizar a Hermes e transforma-la numa academia militar, que Raven só voltara á namorar com Josh por que o rapaz a obrigara, ou que Ginevra só descera a mão na Amanda por que vinha de uma longa linhagem de pessoas loucas e perigosas.

Porém, todas as histórias concordavam em um ponto: a chance da Hermes de ganhar o Campeonato sem Josh era a mesma de um pinguim viver no deserto.

– A escola pode se virar sem mim – era o constante refrão de Josh quando lhe perguntavam o que é que iria acontecer com o time.

– Ah – Mila suspirou – talvez ainda haja chance um fulano entrou no seu lugar quando você saiu e o jogo terminou empatado. Vai ter um desempate hoje.

– Bom, talvez a sorte esteja do nosso lado – disse Helena – vai ser difícil ganhar sem você, atleta, mas não é impossível, não é?

Raven se virou para Josh, e começou a afagar delicadamente o joelho engessado do rapaz. Josh riu ao notar a expressão penalizada dela.

– E aí, minha enfermeira? – brincou ele - o aleijadinho aqui tem que tomar alguma vitamina?

– Que vitamina? – indagou Raven..

Josh fez um biquinho, e Raven riu quando a ficha caiu.

– Ah, não sei - o tom de voz dela era inconfundivelmente sedutor, ainda que de um modo inocente – talvez possa ter efeitos colaterais sabe, o impacto cardíaco

– Não, acho que não vou correr o risco de ter um infarto - sorriu o rapaz.

Mila já revirava os olhos como quem está morrendo estrangulada antes dos dois se beijarem.

Helena fez uma expressão enojada e divertida, e Ginevra nem piscou.

– Vocês me fazem passar vergonha, sabia? – bufou Mila.

Raven jogou a cabeça para trás, dando uma gostosa risada.

– A Mila é mal-amada – cantarolou a menina.

Mila amarrou a cara para ela, mas desfez a expressão na hora ao se virar para frente.

Raven e Josh notaram, e também olharam para a direção que Mila virou.

– Fausto? – murmurou Mila.

O vermelho que inundou suas bochechas era claramente um rubor.

– Oi, Mila – cumprimentou-a Fausto – será que você podia vir comigo até o pavilhão?

Raven e Josh se entreolharam.

Raven viu que ambos estavam pensando na mesma coisa.

– Ah pavilhão...? – gemeu ela, de um jeito abobado – claro, Fausto tá

Raven esperou Mila e Fausto desaparecerem na curva que levava para o pavilhão para explodir em risadas.

– Qual é a graça, Ray? – indagou Ginevra, confusa.

Raven se levantou e fez um gesto com a mão para que as amigas a seguissem.

Josh, que já conseguia usar apenas uma muleta e já pegara o jeito para andar mais rápido, foi ao lado dela.

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– Eu ainda não estou entendendo, Raven – bufou Helena – mas o que é que..?

– Esse negócio de vem comigo..? já está ficando batido, Helena – riu Raven – ah, Joshé melhor preparar o coração

– Já está e minha muleta também – Josh levantou a muleta ameaçadoramente, mas brincando.

– Estou boiando – disse Ginevra.

Quando Todos viraram no corredor do pavilhão, Raven levantou o braço para frente, com uma expressão vitoriosa.

Ginevra e Helena gemeram, e Josh riu.

Fausto e Mila estavam perto das escadas, abraçados, inclinando os rostos como se fossem se beijar.

– Santo Deus – Helena ganiu baixinho.

– É o quê?? – baliu Ginevra.

Raven e Josh riram.

A risada de Raven foi suficientemente alta para chamar a atenção de Mila, que se virou para as amigas e o irmão, assustada.

– E aí, Mila? – riu Raven, acenando para a colega.

Mila corou e abriu levemente a boca, como se fosse gritar.

Fausto também avermelhou, mas riu.

– Ei, marmanjo – disse Josh, indicando a muleta para Fausto – é bom você cuidar bem da minha irmã, viu?

Se é que era possível, Fausto ficou ainda mais vermelho, mas deu um sorriso envergonhado.

– Pode deixar, chefia.

Helena pareceu se recuperar da surpresa, e sorriu para Mila, que decididamente parecia um semáforo vermelho.

– Ah... – choramingou Ginevra, cruzando os braços, fazendo beicinho e batendo o pé, como uma criança birrenta – será que só eu que não me amarro nesse mundo?

Raven deu um tapinha nas costas de Ginevra e riu.

Ginevra revirou os olhos, mas também sorriu para a amiga.

– Você vai ganhar o Campeonato pra mim, não é? – indagou Mila para Fausto, sorrindo, após se recompor do ataque de vergonha.

– Ah, não sei – Fausto deu uma risadinha estranha – preciso de um incentivo... – inconscientemente ou não, ele olhou para Josh.

– Um incentivo? – Mila murmurou, confusa.

A menina olhou para Raven, que piscou um olho e indicou Fausto com a cabeça. Josh completou fazendo um biquinho, e Mila riu ao entender.

Antes que Ginevra pudesse sequer revirar os olhos, ela se jogou para Fausto e o beijou sem cerimônia alguma.

– Fala sério. Isso é muito bizarro – gemeu Helena.

Todos riram.

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Já na sala, durante a aula de Química (que, para a felicidade dos meninos, seria aula eventual, e o professor não passaria nada), Josh e Raven juntaram suas carteiras uma do lado da outra e puseram-se á conversar.

– Bom, agora que Mila e o Sr. Ronaldinho Perfeitinho (era assim que Josh se referia á Fausto agora) estão namorando, e o dito está no Campeonato, com a minha irmã em mente, é bem capaz que ele dê duro e acabe ganhando pra gente.

– É verdade... assim como você teria ganhado se aquele... – e Raven rosnou algo que fez Helena gemer, lá do fundo, Ô, Ray, olha a boca! - ... do Camargo não tivesse arrebentado você...

– Relaxa, Ray – sorriu Josh, parecendo nem ter notado o que Raven falara – você sabe que o que eu acho mais importante...

– Sou eu. Sei, sei – suspirou a menina – Ah, sei lá, Josh... ainda acho muito estranho que ele tenha quebrado sua perna só por acidente...

– Como se tivesse sido um acidente – disse uma voz na fileira ao lado.

Raven e Josh se viraram na direção da voz, e encontraram uma menina de cabelos curtos e pretos, que Raven se lembrou do nome, Ingrid.

– Como assim? – indagou Raven.

– Não foi um acidente – falou a garota.

– Como é que você sabe? – Josh murmurou.

Ingrid suspirou, e olhou para Amanda – que estava no fundo da sala, absorta na música que berrava nos fones do seu celular.

– Outro dia, eu vi Amanda Silveira escondida debaixo da escada, conversando com um menino, vestido com o uniforme da Camargo.

– O quê?? – exclamaram Mila, Helena e Ginevra, que conseguiram ouvir o que Ingrid dissera lá de suas carteiras.

– É – continuou Ingrid – e aí ela deu uns quarenta reais pra ele, dizendo que era o pagamento para ele se livrar de Josh e tira-lo do Campeonato. Se ele fizesse o serviço bem feito, ela pagava mais cinquenta.

– Eu não acredito! – choramingou Raven, enfiando o rosto nas mãos.

Josh abraçou-a, também chocado.

– É sério, Ingrid? – indagou o rapaz.

Ingrid assentiu.

– Eu sabia que ela ia fazer uma coisa tão ruim como essa para se vingar de mim depois que vencemos no Concurso Musical, e depois de Ginevra ter batido nela... – Raven soluçou, olhando para Josh – mas eu não imaginava isso! Que ela se atrevesse á te machucar... e nem que ela tivesse coragem de sabotar o time da própria escola!

– Tudo bem, Ray... olhe por outro lado...agora pegamos ela com a boca na botija – Josh acariciou suas costas.

– Acho que não, Josh – bufou Mila, que ajoelhou do lado da carteira de Raven – sem provas, não há crime.

– Não necessariamente – Ingrid sorriu, tirando algo de sua mochila, branco e retangular, e levantando na direção dos meninos.

– E onde é que o seu MP4 entra nessa história, Ingrid? – disse Helena, agachada na carteira da garota.

Ingrid deu um sorrisinho misterioso.

– Gravei toda a conversa bem aqui.

– Sério?? – ganiu Helena.

Raven pegou o aparelho de Ingrid com tamanha rapidez que o objeto pareceu se teletransportar para sua mão.

Olhando para trás e conferindo se Amanda estava impossibilitada de ouvir a gravação, ela esperou todos se juntarem em sua carteira e, colocando no volume mínimo, apertou o play.

– O quê? – disse uma voz de menino na gravação, claramente indignada – eu tirar esse garoto do jogo? Nem pensar! Vou causar problemas pro time! Pra minha escola! Foi pra isso que você me chamou aqui, Amanda?

– Ah, não estou pedindo isso sem que você ganhe nada – riu uma voz feminina, que era inconfundivelmente a de Amanda – eu vou pagar quarenta agora, pra você tirar aquele rapaz nojento do time. Se você conseguir fazer parecer que foi um acidente e arrebentar ele, eu vou pagar mais cinquenta.

Houve um pouco de silencio na gravação.

E aí o garoto voltou á falar; seu tom de voz ainda era aversivo, mas parecia mais resignado.

– Não sei... a minha escola vai me vaiar, ou pior... mas... eu realmente preciso desse dinheiro... minha mãe tá doente...

– Então ajude a sua mãe – a voz de Amanda ficou horrivelmente melosa, como se ela tivesse tentado parecer gentil e simpática – não é um preço muito grande pra ajudar ela, não é? É só machucar aquele imbecil e fingir que foi sem querer. Só isso.

Mais silêncio. E então:

– OK... qual dos jogadores é o garoto?

– O nome dele é Josh – disse Amanda, com uma indisfarçável nota de vitória na voz.

A gravação emitiu alguns chiados e terminou.

Todos se entreolharam, chocados e indignados.

– Puxa... – disse Helena.

– Pensando bem... o garoto da Camargo não é exatamente o vilão... – refletiu Mila – o coitado só queria ajudar a mãe...

Raven fechou os olhos, o MP4 de Ingrid ainda em suas mãos trêmulas.

Quando os abriu, ela levantou da cadeira e foi até a mesa do professor.

– Professor Pedro... posso ir até a direção? É urgente...

O professor fez cara de quem já ouvira essa antes.

– Não, Summer... se for realmente importante, me diga, e aí eu resolvo. Sabe que os alunos não podem sair depois da segunda aula.

Raven não ficou desapontada; ao contrário, a ideia de um professor já saber da verdade era reconfortante e animadora.

– OK, professor... eu queria que você ouvisse essa gravação aqui...

Amanda pareceu notar alguma ameaça, e olhou para a mesa do professor, á tempo de ver a expressão dele ir de tranquila á alarmada.

– Santo Deus... – murmurou o professor Pedro, com o MP4 de Ingrid nas mãos, antes de se levantar e dizer: - fiquem todos na sala... eu já volto. Summer, os dois Santos... venham comigo.

– Nós vamos também! – exclamou Helena, puxando Ginevra.

Amanda ficou confusa, mas quando entendeu o que tudo aquilo poderia significar, ao sair correndo da sala, o professor e os meninos já estavam longe.


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Notas finais do capítulo

Comentário?
Beijins e até o próximo capítulo!



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