# Narração Nathaniel (ON):

Depois de tudo o que aconteceu de manhã lá em casa resolvemos ir para a casa de Felipe, tínhamos que ensaiar e espairecer um pouco a cabeça, afinal tínhamos recebido uma quantidade de estresse acima do normal.

Felipe permanecia mudo durante o caminho, sabia que ele ainda não tinha digerido tudo o quê tinha acontecido. Quando chegamos em sua casa não aguentei ficar olhando pra ele enquanto ele permanecia num conflito interno.

– Desiste dela cara... - soltei

– O quê? - ele me olhou franzindo o cenho

– Ela não vale a pena, sabemos muito bem que ela só vai te magoar. Você merece alguém melhor.

– E se eu não quiser alguém melhor? Por um acaso você já pensou nisso?

– Por que insistir nisso se você sabe que ela não quer ver você na frente dela?

– Porque eu sei que um dia ainda ficaremos juntos... É uma questão de tempo... Sabe nós já até nos beijamos.

– Eu já sabia do beijo, bem que vocês estavam estranhos antes de irmos embora do porão, ela não te repelia em momento algum, principalmente quando você ficou cuidando dela.

– Na verdade ela que me beijou, mas isso não importa, o que importa é que eu não vou desistir dela. Não importa o quanto eu apanhe com suas palavras.

– Eu sei que você vai suportar tudo, mas você não pode deixar ela pisar em você, eu meio que escutei o final da conversa de vocês.

– Por isso que vocês discutiram! Cara que droga você brigou com a sua irmã por minha causa.

– Até parece que o meu relacionamento com a Melissa é um dos mais estáveis. Eu até tento ser amigo dela, mas depois de hoje cedo tenho quase que 100% de certeza que ela me odeia, ela falou que o problema dela sou eu, obviamente fiquei irritado e queria que ela se ferrasse com o meu pai, mas ela é sagaz e tem sangue frio.

– Se eu não tivesse presenciado tudo que aconteceu durante a e noite e em um pedaço da madrugada eu diria que era impossível elas estarem mentindo, é incrível como ela e a gatinha conseguem.

– É porque você não sabe da maioria das coisas, você ficaria chocado com o quê acontece, as aparências enganam.

– Como assim, Nathaniel?

– Melhor você ficar sem saber, nesse caso a ignorância é uma dádiva.

Tendo o assunto encerrado decidimos ensaiar, não poderíamos perder tempo. Sabíamos que Lucas demoraria pra chegar, então iríamos aquecendo e consertando algumas falhas.

Resolvemos ensaiar Blackout da banda Faibe, já que gostávamos muito dessa música. Felipe sentou-se em sua bateria e fez sinal para que eu pegasse a minha guitarra no armário, ela ficava aqui porque não queria deixá-la na casa do meu pai.

Tá tudo escuro, não enxergo nada
Quanto mais eu te procuro eu não te vejo
O frio da noite, alta madrugada
Ando a cidade atrás de um desejo

Rodo becos, vielas, palácios, favelas tentando te encontrar
Fico alucinado, desesperado não sei aonde vou chegar
Nem a luz oscilante da lua minguante consegue iluminar
Eu me sinto enganado, sozinho, culpado por não conseguir te encontrar

Fiquei no meio de um blackout, levei um out
Fugir sem sair do lugar

Blackout!

Fiquei no meio de um blackout, levei um out
Fugir sem sair do lugar

Blackout!

Tá tudo escuro, não enxergo nada
Quanto mais eu te procuro eu não te vejo
O frio da noite, alta madrugada
Ando a cidade atrás de um desejo

Rodo becos, vielas, palácios, favelas te vejo em qualquer lugar
Fico alucinado, desesperado por não conseguir te encontrar

Fiquei no meio de um blackout, levei um out
Fugir sem sair do lugar

Blackout!

Fiquei no meio de um blackout, levei um out
Fugir sem sair do lugar

Blackout!

Fiquei no meio de um blackout, levei um out
Fugir sem sair do lugar

Blackout!

Fiquei no meio de um blackout, levei um out

Fugir sem sair do lugar

Blackout!

Blackout!

Quando a música terminou escutamos palmas e nós viramos para ver da onde vinha. Anna Júlia estava na porta.

– Nossa... Vocês arrasaram... - ela aplaudia

– O quê você tá fazendo aqui? - soltei surpreso

– Preciso falar com o Lipe, se não for atrapalhar obviamente.

– Você nunca atrapalha, gatinha. - ele foi em sua direção

– Tem certeza? Parecia que vocês estavam ocupados.

– Estávamos ensaiando, mas o Nathaniel não vai se importar se dermos uma pausa.

– Ué pra vocês ensaiarem não teria que estar a banda toda reunida? - ela indagou

– Sim... Mas eu acho que ele não vem, porque já falamos com ele tem um tempo e nada dele chegar... - Felipe disse

– Ele deve estar com problemas pra sair de casa. - Anna falou e deu de ombros

– Queria te pedir desculpas por hoje mais cedo, sabe você não tá acostumado com aquilo e eu sei que a Mel exagerou e também ela falou algumas besteiras de manhã.

– Você acha que é só pedir desculpas que tá tudo bem, Anna? - explodi

– Sabe existem muitos motivos pra isso ter acontecido e eu espero que você não veja outra cena dessas. E Nathaniel me admira você que sabe como tudo funciona e mesmo assim põe lenha na fogueira.

– Anna, não precisa pedir desculpas, eu entendo, ou melhor, eu tento. - ele sorria sinceramente pra ela

# Narração Nathaniel (OFF):

# Narração Felipe (ON):

Anna estava aqui em casa, foi uma surpresa receber a visita dela. Ela parecia sentida com tudo o que aconteceu.

– Anna, você não acha que as mentiras uma hora passam dos limites?... Você pensa que é só vir aqui na casa do Felipe e pedir desculpas depois do teatrinho que rolou de manhã que ele vai entender tudo o quê aconteceu? Sinceramente eu espero que ele só te desculpado da boca pra fora - Nathaniel estava chateado

– Depois a gente conversa sobre isso... Isso é maior do que eu, você e Melissa. Agora eu tenho que ir, já atrapalhei demais, depois passo aqui pra falar contigo melhor Lipe.

Antes que ela virasse de costas e fosse embora eu tive uma ideia e arrisquei.

– Fique... Canta com a gente, eu não aceito não como resposta.

– Felipe... Eu...

– Já disse que não aceito não como resposta...

– Tudo bem...

– No armário tem um teclado apesar de eu não saber tocar, o Nathaniel vai pegá-lo pra você.

– Para que pegar o teclado? A Anna não sabe tocar nenhum instrumento.

– Felipe... Você realmente não sabe guardar segredos... - ele ria e me olhava como se tivesse brava

– Tá de brincadeira né cara? A Anna toca piano e eu já vi... Quer saber cala a boca e pega logo o teclado junto com ele tem algumas partituras e aproveita e pega o violão pra você.

– Beleza... - ele revirou os olhos

– Me lembra de nunca mais contar nada pra você e pedir segredo... Sabe... Quase ninguém sabe disso e também quem sabe nem lembra, fazia tanto tempo que não chegava perto de um piano.

– Se quiser desabafar fica a vontade...

– Sem chance, Lipe. Não tenho o costume de desabafar meus problemas, procuro resolvê-los e também não tenho o costume de pedir desculpas e nem fazer o quê as pessoas querem, mas olha... Você deu sorte, fiz contigo duas das três coisas que são incomuns. - ela ria e falava como se aquilo fosse algo natural

Nathaniel demorou um pouquinho, mas conseguiu pegar os instrumentos e já ligou o teclado, voltei para a minha bateria e já via que Anna se posicionava no teclado e Nathaniel pegava o violão esperando qual seria a música que iríamos tocar.

– Vamos tocar que música, Anna?

– Você inventa isso e ainda quer que eu escolha alguma música? Você é realmente louco garoto!

– Realmente eu sou louco. Pela sua amiga, também conhecida como irmã desse mané. Escolhe uma das musicas, eu sei que você sabe ler partituras e relaxa todas as musicas que estão aí sabemos tocar.

– Beleza... - ela respondeu e pegou as partituras - Eu escolho Just a Kiss do Lady Antebellum.

Sorri com a sua escolha e Nathaniel verificou rapidamente se o violão estava afinado corretamente e logo fez um sinal avisando que estava pronto, olhei pra ela e avisei pra ela que também estava, recebi um sorriso meio torto dizendo que tinha compreendido o sinal e assim deu-se início as primeiras melodias da música.

Lyin' here with you so close to me
It's hard to fight these feelings
When it feels so hard to breathe
I'm caught up in this moment
Caught up in your smile

I've never opened up to anyone
So hard to hold back when I'm holding you in my arms
We don't need to rush this
Let's just take it slow

Nathaniel meio que ficou de queixo caído quando ela começou a tocar, ele já sabia que ela cantava bem principalmente depois da apresentação no refrão, mas ela cantando e tocando era incrível.

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't want to push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright, with just a kiss goodnight

I know that if we give this a little time
It will only bring us closer to the love we wanna find
It's never felt so real
No, it's never felt so right

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't wanna push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright, with just a kiss goodnight

No I don't wanna say goodnight
I know it's time to leave
But you'll be in my dreams
Tonight
Tonight
Tonight

Ele não desprendia os olhos dela, certas horas parecia que ele estava morrendo de amores por ela, eles até que formariam um casal bonito, mas nem ele e nem ela gostam um do outro daquele jeito.

Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch in the fire burning so bright
And I don't want to mess this thing up
I don't wanna push too far
Just a shot in the dark that you just might
Be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright

Oh, let's do this right
With just a kiss goodnight
With a kiss goodnight
Kiss goodnight

Quando terminamos a música ela levantou, mas antes que ela saísse levantei rápido da minha bateria e quase derrubei tudo, porém consegui abraçá-la.

– Obrigado... - sussurrei em seu ouvido

– Por que você está me agradecendo? - ela me perguntou surpresa

– Por protegê-la... E também por vir aqui tentar meio que explicar a história toda... Eu sei que você não pode me contar tudo e eu entendo.

– Não precisa agradecer isso, sabe um dia você entenderá tudo e também pode ter certeza que sempre estarei com ela tentando evitar que ela se ferre assim como ela faz quando é comigo. - seu olhar era meio vago e meio triste, porém logo se tornou nebuloso e eu não sabia o quê ela estava sentindo

A soltei do abraço e ela foi embora, Nathaniel guardava o teclado novamente em seu lugar junto com as partituras. Provavelmente ele devia estar achando que eu sou um trouxa por compreender e aceitar tudo o quê aconteceu facilmente.

– Não falei que ela tocava bem... Cara ela arrasou!

– Realmente ela arrasou... To surpreso até agora!

– Acho que isso até ela percebeu, você estava de queixo caído no começo da música.

– Não exagera...

– Não estou, é sério tinha momentos que parecia que você estava apaixonado por ela.

– Cala a boca cara... - ele corou

# Narração Felipe (OFF):

# Narração Lucas (ON):

Tinha ensaio com os meninos hoje na casa do Felipe, mas acabei não indo porque estava um pouco ocupado. Amanda dormiu aqui, isso já está virando rotina, chegamos do jantar bem tarde e apagamos. O jantar por sinal foi peculiar, antes de chegarmos pontualmente para encontrar a avó da minha prima, um sem noção esbarrou nela e ainda resolveu brincar, parecia até que no final das contas ela tinha gostado da brincadeira, durante o jantar ela ficou fofocando com Melissa enquanto Nathaniel e Felipe ficavam as observando, aquilo era uma cena esquisita, já eu fiquei de papo com Amanda estava evidente que somos um "casal", mas cada um estava imerso em seus próprios assuntos e a dona Angela ficou o tempo inteiro conversando com o tal Daniel e a amiga dele que era indiferente pra mim.

Depois que Amanda foi embora fiquei tentado a descobrir o que meu pai fala tanto com a minha tia principalmente porque ela não fala com a filha. Fui no escritório do meu pai mexer em seu computador que por um acaso eu sei a senha, aproveitaria o fato que ele está na rua para fazer a minha investigação.

Foi fácil entrar no escritório sem que uma das empregadas me vissem, sabia que se tivesse sido visto meu pai saberia que eu tinha ido lá e me questionaria, isso seria problemático.

Abrir o seu computador fácil, sabia que estava invadindo a sua privacidade, mas era para um bem maior, pesquisei no Skype dele o contato da minha tia e anotei, dei uma olhada em seu e-mail para ver se achava algo relevante, precisava falar com a minha prima sobre isso tudo, talvez ela queira encontrar a mãe.

Achei muita coisa relevante, eles se correspondem por e-mail por pelo menos uns 3 meses, comecei a abrir um por um e não tinha nada muito interessante, mas no último mês eles conversaram basicamente sobre o casamento do tio Carlos com a Miriam e como a Anna Júlia reagiu a isso tudo, o engraçado é que meu pai não sabe de nada, ou pelo menos parecia não saber, mas vejo que me equivoquei, ele sabe de alguns detalhes que não lembro de termos comentado e isso não é bom.

Imprimi o que precisava, botei numa pasta e apaguei o histórico do computador antes de desligá-lo. Sai do escritório sem ser visto e fui para o meu quarto, comecei a ler tudo novamente, dessa vez prestando atenção em cada detalhe. Isso tá cada vez ficando mais assustador e interessante, eles sabem de quase tudo.

# Narração Lucas (OFF):

# Narração Anna Júlia (ON):

Depois de voltar da casa do Felipe minha avó mandou eu me arrumar pra tal entrevista dela, não sabia o porquê dela me querer junto já que queriam falar com ela, apesar de eu ter falando com a jornalista de ontem que eu estaria.

Provavelmente ela vai perguntar sobre a minha relação com a minha madrasta e isso vai ser interessante, afinal meu pai não vai estar me regulando o tempo inteiro e a minha avó talvez não se importe.

Subi para me arrumar, precisava causar a melhor impressão possível. Demorei bastante para sair do banho e para escolher a minha roupa, coloquei um vestido verde tomara que caia com um scarpin preto, passei uma maquiagem básica, nada muito chamativo somente rímel, blush é um batom rosa claro e coloquei uma tiara com um laço preto.
Meu celular tocou e corri para atender, era o meu primo.

– Fala, Luke.

– Preciso te encontrar agora.

– Agora não posso. Impossível.

– Faz virar possível Anna Júlia é sério o assunto.

– Sério tipo nível de vida ou morte?

– Não, mas é sério.

– Não tem como eu sair agora, minha avó vai receber uma jornalista e ela também vai me entrevistar, se eu sair agora minha avó me mata.

– Tudo bem... Mas preciso falar contigo o mais breve possível.

– Merda Luke... Tá me deixando curiosa e nervosa, adianta o teor do assunto por aqui.

– Impossível AJ... Tchau

Que saco ele desligou na minha cara, a sorte dele é que não posso sair de casa agora senão ia enfiar esse celular na garganta dele pra ele aprender que não faz isso comigo.
Respirei fundo algumas vezes e coloquei o meu melhor sorriso antes de descer a escada, sabia que estava na hora e aquele momento eu estava disposta a arrasar.

Quando cheguei na sala percebi que a jornalista já se encontrava entrevistando a minha avó, me sentei ao seu lado e cumprimentei-as.

– Boa tarde... Perdoem a minha demora, recebi uma ligação importante.

– Aconteceu alguma coisa, Anna? - minha avó pareceu ficar preocupada

– Não. Era só o Lucas querendo me encontrar para contar algo o mais rápido possível.

– Depois daqui você encontra ele. - ela olhou no fundo dos meus olhos Minha filha podemos continuar. - se dirigiu a jornalista

– Pois bem, agora que você chegou Anna Júlia podemos continuar, as perguntas que eu tinha pra fazer à sua avó foram feitas e respondidas e agora é a sua vez certo?

– Certo. Prossiga.

– Ontem tivemos um breve encontro na casa do seu pai e na ocasião a sua madrastra Miriam falava que vocês todos vivem juntos e bem apesar dela dizer que você tem um temperamento difícil e que é um pouco rebelde, na hora você desmentiu essa afirmação dela quando você chegou. Então qual o motivo de você não morar mais com o seu pai? E qual o tipo de relacionamento que você tem com a sua madrastra e as filhas dela.

– O motivo de eu não morar mais com o meu pai foi porque ela o convenceu que eu fazia a vida dela um inferno e que ela não aguentava mais, hoje em dia eu moro aqui porque a minha avó achou um absurdo mandarem para um internato no exterior. Meu relacionamento com a Miriam é esquisito, na frente das pessoas ela me trata bem, afinal ela precisa manter a aparência de que é alguém amável, mas por trás é um caos, ela me odeia por ser filha da minha mãe e eu nem sei o quê isso significa, já com Larissa nós nunca nos demos muito bem, digamos que somos meio rivais, principalmente no fato que ela quer tudo o quê eu tenho, porém isso não me abala e a Jennifer é um amor, meu xodó, é a irmã que eu gostaria que fosse de sangue, ela é totalmente o oposto da mãe, é amável com qualquer pessoa, definitivamente ela é a pessoa que eu sinto mais falta junto com a Dorothéia naquela casa.

– Me descreva como é o seu relacionamento com o seu pai e a sua mãe. Também gostaria de saber como é o seu relacionamento com os seus amigos.

– Meu pai é uma pessoa maravilhosa, apesar de tudo, não tenho do que reclamar, entendo ou tento entender os motivos dele, já com a minha mãe eu não possuo contatos nem sei se gostaria, não faz falta e eu sei que isso pode até parecer frio e insensível da minha parte, mas a ausência uma hora para de doer e também quem estava na maioria dos momentos comigo foi a Dorothéia, então eu tive uma pessoa que sempre esteve comigo para me ajudar. Sobre os meus amigos eu poderia falar um milhão de coisas, mas somente irei dizer que eles são sensacionais cada um à sua maneira e com toda certeza eles são a extensão da minha família, até porque a maioria dos meus momentos mais felizes eles estavam comigo, sem contar nos tristes, nós apoiamos muito e é isso que faz a nossa amizade forte e indestrutível.

– Você demostra amar muito essas pessoas descreveu fatos onde eles estavam consigo, me conta um pouco da sua relação com a sua avó.

– É fácil lidar com a minha avó, é só não sair da linha, disciplina é fundamental, até porque nem tudo que as pessoas fazem convém a nós, eu sei que ela quer o meu bem acima de tudo e que me ama demais.

– Para finalizar essa curta entrevista, gostaria de saber se você gostaria de anunciar os prêmios de personalidade do ano, o seu pai e a sua avó vão ganhar por serem personalidades importantes e que fizeram coisas importantes para a sociedade.

– Seria uma honra anunciar o prêmio pra eles. - sorri genuinamente, naquele momento eu não poderia querer mais

– Esperamos um discurso lindo de sua parte, muito obrigada pela entrevista e por me receberem, ambas são amáveis e gostaria de entrevistá-las outras vezes.

– O prazer foi nosso, sei que a minha avó concorda comigo, nós também esperamos uma próxima oportunidade de conversarmos como hoje.

Me retirei e decidi passar na casa do Lucas, precisava saber logo o que tinha acontecido, ele não me contou nada por telefone, mas sabia que ele estava aflito e isso não era bom sinal. Pedi pro Sr. Matias me levar até a casa dele e o disse que ele não precisava me aguardar, iria demorar.

O caminho levou mais ou menos vinte minutos e quando cheguei em seu prédio subi direto sem ser anunciada, afinal todos me conheciam naquele lugar.

Quando cheguei bati na porta três vezes e a empregada veio atender, quando ela me viu logo deu passagem para eu entrar, segui até o quarto do Luke e sai entrando sem bater na porta.

– Não sabe bater na porta não? - ele disse assustado

– Saber eu sei, mas não estava afim. Vai logo desembucha o quê aconteceu.

– Sua mão não ia cair se você batesse na porta sabia?

– Sem rodeio Luke, anda logo... - disse entredentes

– Sua mãe tem falado com o meu pai sobre você, acho que ela quer falar contigo...

– Não brinca com isso... - só podia ser sacanagem da cara dele, eu o olhava incrédula

– Não estou brincando, eu o vi no outro dia no Skype com ela e também hoje mexi no computador dele escondido e peguei algumas coisas importantes.- ele disse naturalmente

– Não quero saber... Quero distancia dela, você sabe muito bem que eu não tenho mãe, Lucas. - estava ficando irritada, não quero saber dela

– Pelo menos olha o que eu coletei... - ele me estendeu uma pasta

– Ouça Lucas... Eu não quero saber de nada, isso era a tal coisa importante? Não acredito que você me fez perder tempo com isso... Eu vou embora! - disse raivosa

Saí da casa dele quase que correndo e meus olhos começaram a marejar, parecia que um dos meus fantasmas estava tentando voltar.

Precisava beber e tomar minhas pílulas, senão ia perder o controle.

Meu celular tocou e reconheci número de Bernardo, o atendi rapidamente.

– O quê você quer? - fui grossa e falava com a voz embargada

– O quê aconteceu? - ele disse preocupado

– Nada...

– Você tá aonde? Vou te encontrar!

– Não...

– Não discute comigo... Onde você está?

– Saindo do prédio do Luke.

– E qual é o prédio dele?

– O Riverside...

– To chegando ai em cinco minutos... Não vai embora...

– Tá...

Justo no momento que achava que iria ficar sozinha e afogar a minha dor dentro de um copo de whisky vi que não conseguiria escapar do meu novo "tormento", parecia que teria mais uma babá no meu encalço.

Eu espero que um dia toda essa minha vontade de ir embora e sumir se torne paz e calmaria e que essa tensão que me assola e me corrói por dentro seja extinta, mas na verdade o quê eu mais espero é que o convívio comigo mesma se torne mais suportável e que um dia eu consiga ver novamente o sorriso que eu esboçava na infância.

# Narração Anna Júlia (OFF):