Almas Perdidas escrita por S Laufeyson


Capítulo 3
2. O Príncipe, o Guarda e a Dama


Notas iniciais do capítulo

Boa noiteeeeeeeeeeeeee!!
Como estão vocês, meus amores? Espero que estejam muito bem e que não queiram me matar pela demora. Esses dias foram super corridos para mim e por isso peço mesmo perdão. Enfim, agradeço imensamente o carinho de todos vocês e dos comentários lindooooos que recebi. Obrigada mesmo, meus anjos. Obrigada também a todos que favoritaram e que marcaram acompanhar. De verdade, espero que estejam gostando da história... Se quiserem me dizer isso, a tia vai amar.

Sem mais, vamos logo ao que esse capítulo nos reserva e espero que gostem!!



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A cidade dourada apresentava-se imponente enquanto a Deusa da Fidelidade caminhava pela ponte arco-íris, em direção ao palácio. Ela nunca havia visto algo tão belo em toda a sua vida. Sempre foi limitada a estar apenas no comércio de Vanaheim, na lavoura ou na vila onde morava. Nunca havia viajado. Nunca saiu de onde nasceu.

Por isso, avistar o deslumbrante palácio, chamado de Godheim, fez com que se admirasse completamente. Estava impressionada com tudo aquilo. O Sol incidia diretamente nas paredes douradas e, olhar para o enorme lugar, era hipnotizante. Sigyn sentiu-se tão pequena diante daquilo tudo. Sentiu-se no paraíso.

Thor parou diante dela e lhe indicou a escadaria. A deusa assentiu, envergonhada, e subiu ás pressas. Se do lado de fora já era exuberante, do lado de dentro era indescritível. Havia inúmeros quadros pendurados na parede. Quadro de pinturas minimamente trabalhados e retratos pintados a mão. Não sabia quem eram todos aqueles na imagem e por isso aproximou-se mais para conseguir ler a descrição de cada um deles.

No primeiro havia um homem já velho, com cabelos brancos e compridos. Um tapa-olho dourado lhe escondia o olho direito e parecia enfeitar o rosto extremamente sério. Aquele homem lhe transmitia um ar imponente. Sigyn aproximou-se e leu o nome que estava no quadro. Percebeu se tratar do próprio Odin e por isso afastou-se, como se estivesse na presença dele. Demorou-se um pouco encarando-o antes de seguir com sua curiosidade e admirasse o próximo quadro.

Uma mulher sorria logo ao lado do Pai de Todos. Ela parecia ser a mais doce de todas as mulheres, com um sorriso terno nos lábios rosados e os cabelos loiros escuros, puxados para o ruivo, emoldurado um rosto sereno. A sua presença trazia paz. No quadro, o nome Frigga estava escrito. Demorou-se um pouco ali para decorar os traços daquela a quem serviria a partir dali.

Depois de ter certeza que não havia esquecido de memorizar nenhum detalhe, seguiu com seu tour e reparou que imediatamente ao lado da Rainha, estava o quadro do príncipe Thor. A jovem percebeu que o deus de agora era muito diferente daquele da pintura. Não em aparência, porque não havia mudado nada, mas em expressão. O quadro exibia imaturidade e irresponsabilidade. O sorriso dele era do tipo de pessoa que adorava ser o centro das atenções. Divergente daquele que conheceu. Completamente diferente do seu herói. Achou que um novo retrato deveria ser providenciado o mais rápido possível, mas aquilo foi apenas um pensamento em sua mente. Quem era ela para dizer alguma coisa ali dentro?

Balançou a cabeça e passou para o último quadro da parede. Paralisou ao perceber que aquele pertencia ao príncipe Loki. Os cabelos negros estavam devidamente bem penteados para trás, deixando o rosto do homem completamente livre. Um sorriso sarcástico fazia companhia ao belo par de olhos extremamente verdes e ao ar de superioridade. Sentiu cada parte de sua alma sendo decifrada por apenas aquele olhar. Até a parte mais sombria não permanecia em oculto. Sentiu-se exposta.

Sigyn abraçou o próprio corpo, tentando proteger-se de algo que não fazia ideia do que era. Talvez fosse medo, porque se lembrou dos boatos que surgiu em sua aldeia. Ela sabia exatamente o que ele havia feito em Jotunheim e em Midgard. Achou justa a sentença do Pai de Todos em prendê-lo pela eternidade.

— É um quadro lindo, não é? O nosso pintor fez um trabalho fascinante. — Falou a voz feminina atrás dela. A deusa virou-se assustadamente. Encarou a mulher e então para o quadro. Fez uma reverência desengonçada ao perceber estar diante da própria Rainha.

— Desculpe-me. Não queria destratar a senhora. Não a reconheci de imediato. Perdoe-me.

— Está tudo bem, criança. — Ela pediu erguendo a jovem e sorriu. — E me chame de Frigga.

— Não acho que seja o certo. A senhora é uma Rainha e eu não sou nada além de uma lavradora.

— Não mais. Você agora é a minha dama e, aqui no palácio, elas me chamam pelo meu nome. Vai fazer isso? — Perguntou.

— Sim, senhora. — Apertou os lábios quando percebeu que a mulher ergueu uma de suas sobrancelhas. — Desculpe.

— Tudo bem, você acostuma. — Frigga lhe indicou o corredor e a jovem assentiu. — Qual o seu nome?

— Sigyn, de Vanaheim. — Respondeu, lembrando-lhe que deveria dizer o reino de qual vinha. Era uma regra básica para aqueles que se apresentavam à família real.

— Bem-vinda a Asgard. — A Rainha sorriu ao ver a fisionomia da moça relaxar. Caminharam até chegar a uma sala extensa onde tinha algumas poltronas extremamente confortáveis e uma quantidade absurda de livros. Lá estavam doze mulheres. Ao ver a Rainha, levantaram-se rapidamente. — Sigyn, estas são as minhas damas. Elas te ajudarão a se sentir em casa, quando estiver em seu tempo livre. — Sigyn sorriu, para as várias moças ali presente, quando Frigga calou-se. — mas antes, tenho que lhe explicar algumas coisas importantes. Venha comigo. — A deusa mãe indicou a saída para a moça e ela seguiu porta à fora. As duas passaram novamente pelo extenso corredor e deixaram o castelo. Sigyn maravilhou-se quando entraram naquele imenso jardim. As árvores eram frondosas e o cheiro das frutas inebriou a moça. Instintivamente desacelerou o passo para que pudesse senti-lo por um pouco mais de tempo. Esquecendo-se assim que a Rainha seguia em sua frente. Fechou os olhos para apreciar melhor aquele aroma suave de fruta madura, mas quando a abriu desesperou-se. Frigga a olhava fixamente.

— Perdoe-me. — Pediu apressando os passos e parando ao lado dela. — É que...

— Quando eu me casei com Odin e vim morar aqui, eu fazia exatamente a mesma coisa que você. Depois vieram os meninos, a correria e a responsabilidade de ser mãe e Rainha. Tudo me levou a abandonar esses pequenos momentos. — Frigga fechou os olhos e respirou fundo, tal qual Sigyn havia feito. Ela sorriu abertamente para a menina, quando abriu os olhos outra vez. — Não precisa se desculpar e obrigada por me fazer recordar dos bons tempos. — A garota corou ao ouvir aquelas palavras. Ouviu muito sobre a bondade da Mãe de Todos, mas nunca imaginou que excederia suas expectativas. Ela era uma mulher única. Sentiu-se extremamente orgulhosa em ser sua dama e jurou não a desapontar.

Entraram na cidade dourada, outra vez, e pararam em a uma casinha humilde. Por onde Frigga passava, era saudada com muita reverência e respeito. Não havia nenhuma única pessoa em Asgard que não a amasse e já não tivesse tido a oportunidade de experimentar da sua bondade.

A porta foi aberta e uma senhora, que aparentava ser mais velha que Frigga, aproximou-se eufórica das duas.

— Minha Rainha. — Fez uma reverência extremamente graciosa. — A que devo a honra de sua presença?

— Tadír, minha velha amiga, preciso de alguns vestidos para essa jovenzinha. — A mulher olhou rapidamente para Sigyn e sorriu. Deu a volta na garota e parou de frente para ela.

— Acho que tenho alguns aqui que pode servir. Por favor. — Ela deu passagem para que as duas mulheres entrassem no local e fechou a porta atrás de si. Sigyn maravilhou-se ao se deparar com incontáveis vestidos pendurados. De todas as cores, de todos os modelos e de todos os tamanhos e tecidos existentes.

Era uma verdadeira aquarela com brilhos e bordados. Tão minimamente trabalhados que tornava a peça ainda mais delicada e bonita. Sigyn jamais teria um vestido como aquele se não fosse Frigga. Os trapos que vestia, dados por Zia quando chegaram a Vanaheim, indicavam isso.

— Quero que faça com ela o que faz comigo. Trate-a como uma Princesa. — Respondeu Frigga seriamente. Sigyn a encarou perplexa e a Rainha sorriu para a menina.

— Sim, Majestade. — A mulher fez uma rápida reverência com a cabeça e esticou a mão para Sigyn. — Venha por aqui, criança. — A jovem concordou e seguiu com a mulher para próximo de alguns vestidos, enquanto Frigga apenas as observava sentada em uma das poltronas da entrada.

Sigyn provou incontáveis vestidos e alguns deles lhe caiu como uma luva. A costureira apenas fez alguns ajustes rápidos e os entregou para que a jovem já tivesse o que vestir.

Frigga pagou a Tadír e seguiu com a dama para comprar sapatos e encomendar as peças metálicas da armadura. Retornaram ao palácio e pelo restante do dia, a Rainha lhe mostrou o lugar e pediu para que a jovem lhe falasse sobre a sua vida. Queria saber quem era Sigyn.

Antes de anoitecer, o ferreiro levou as peças da armadura para a menina.

— Que rápido. — Comentou abrindo o embrulho e dando de cara com uma parte do peitoral, que cobria todo o colo e um dos seios, terminando em apenas um lado de sua cintura. Já estava no dormitório com as outras doze mulheres. Sigyn era a décima terceira.

— Tem que ser feito rápido. Vê os desenhos na armadura e todos os detalhes em arabescos? — Perguntou uma mulher, de longos cabelos loiros, e a jovem assentiu. Saga era o nome dela. — É a nossa marca. Você não pode andar pelo palácio sem que esteja usando isso ou os soldados vão te prender por invasão.

— Eu já fui levada até a presença do Rei por ter esquecido de usar a minha. Não é nada agradável. — Comentou a outra mulher, já deitada na cama. O nome era Fulla e tinha os cabelos tão vermelhos quanto o sangue.

— Sugiro que seja a primeira coisa a vestir amanhã, Sigyn. — A outra a falar foi Var. Parecia ser a mais velha de todas aquelas mulheres. — Mas não se preocupe que se você esquecer, uma de nós te lembra.

— Agradeço muito por isso. — A recém-chegada colocou a armadura ao lado de sua cama e deitou-se. — A que horas levantam?

— Antes da Rainha, é claro. Cada uma de nós tem uma função e temos que fazê-la antes que ela acorde. — Vor, irmã gêmea de Var, comentou cobrindo-se.

— Eu não tenho função. — Concluiu Sigyn e as doze olharam para ela. Geralmente a Rainha dava as funções nos primeiros minutos da dama no palácio.

— Eu acho que... — começou Fulla a falar, mas foi interrompida.

— Será? — Perguntou Eir. Uma mulher de cabelos tão brancos como a nuvem em um dia de céu claro.

— Possivelmente. — Saga sentou-se na cama. — Não contem a ninguém, mas ouvi a Rainha comentando que precisava de uma pessoa para fazê-lo. Ele expulsou todas as outras que tentaram e elas desistiram e partiram. Sigyn como dama, não pode partir.

— Você está falando sério? — Levantou-se uma das moças, que dormia em uma das camas mais afastadas. O nome era Snotra.

— Foi o que eu ouvi.

— De quem vocês estão falando? — Perguntou Sigyn.

— Do príncipe Loki. — Sussurrou Eir.

— O que tem o príncipe Loki a ver com a minha função?

— Elas estão apenas supondo, Sigyn. Talvez a Rainha tenha apenas esquecido de lhe dizer o que deve fazer. — Comentou Var e olhou para as outras meninas. — Agora acho que está na hora de todas irem dormir. Desligue as lamparinas, Gna.

A mais jovem de todas assentiu e apagou-as com sopros. Não parecia passar dos doze anos de idade.

O quarto ficou na intensa penumbra, enquanto os cochichos e suposições tomaram o lugar. Sigyn encolheu-se em sua cama ao pensar no que as meninas falaram. Imaginar que teria alguma função relacionada ao Príncipe, lhe causava arrepios na espinha. Se aquilo se comprovasse verdade, não saberia o que faria. Talvez pedisse para a Rainha lhe mudar de função ou trataria de ser expulsa por Loki também. Assim ela não teria mais obrigação com ele.

Arregalou os olhos ao pensar no que seria aquela função. O que ela teria que fazer que poderia causar uma ira no príncipe, tão grande, ao ponto de expulsá-la? Ficou com medo, mas acabou dormindo enquanto sua mente pensava nas mais diversas situações.

...

Acordou quando percebeu o movimentar das outras moças no quarto. Estavam correndo para se arrumar e deixar o quarto o mais rápido que conseguissem. Como Sigyn ainda não tinha o que fazer, imaginou que poderia ficar na cama até a Rainha acordar, mas Var puxou seus lençóis e lhe entregou o vestido e a armadura, que havia separado na noite anterior.

Tomou um banho extremamente rápido, vestiu-se com o vestido de cor vinho e com a peça metálica do peito. Seguiu a mais velha para fora do quarto, auxiliando-a no que fazia. Uma dessas coisas era preparar o café da manhã da Rainha e do Rei. A menina estava terminando de lavar algumas louças quando Frigga entrou no lugar. Ela raramente aparecia por lá e assustou a todos com a sua presença. Sigyn não a notou. Precisou Var lhe dar uma cutucada para que ela percebesse e fizesse uma reverência rápida.

— Bom dia. — falou sorridente e todos responderam praticamente em uníssono. — O café da manhã de meu filho já está pronto?

— Sim, majestade. — Respondeu um dos cozinheiros e lhe apontou uma das bandejas douradas em cima da mesa.

— Excelente. — Respondeu Frigga e dirigiu-se até a bandeja. A pegou e caminhou até ficar de frente para Sigyn. — Eu não lhe disse o que teria que fazer ontem e lhe peço perdão por esse deslize, mas aqui está. — Entregou a bandeja para a jovem que arregalou os olhos. — Seu dever é levar as três refeições ao meu filho, o Príncipe Loki, na prisão. Espere que ele termine e traga a bandeja de volta. Simples assim. — A mulher respirou fundo quando recebeu suas ordens. Estava aliviada em ser aquela a sua tarefa, embora a expressão no rosto de Var e dos empregados a tenha deixado ainda mais nervosa.

— Desculpe o incomodo, minha Senhora, mas não será constrangedor para o príncipe me ver assistindo-o comer? — Perguntou em um sussurro.

— Você tem razão. — Concordou Frigga. — Leve um livro e distraia-se.

— Eu não sei ler. — Respondeu rapidamente. Frigga a olhou e Sigyn teve a certeza que havia contrariado a Rainha, embora o rosto dela demonstrasse surpresa. Deveria apenas ter pego a bandeja e feito o que lhe mandou fazer. Amaldiçoou-se por ter aberto a boca.

— Não sabe ler? — Perguntou e a jovem apenas balançou a cabeça. Não falaria mais nada. — Então façamos o seguinte: leve o café da manhã do Príncipe e deixe lá a bandeja. Peça para um dos guardas, que ficam nos portões recolhê-la, quando Loki terminar, e trazê-la para cá.

— E quanto a mim? — Perguntou entristecendo-se.

— Você irá me encontrar na biblioteca. Suas aulas começarão ainda hoje. Vou te ensinar a ler e a escrever. — Frigga sorriu abertamente e saiu da frente da moça, que permanecia estática sem acreditar em tudo aquilo. — Agora ande, não podemos perder tempo. E se ele se recusar, por favor, insista.

— Sim, minha senhora. — Respondeu de súbito, ainda em choque pela proposta da Rainha. Seguiu a passos rápidos pelos corredores, equilibrando a bandeja nas mãos, e desceu as escadas que daria acesso às masmorras. Era incrivelmente perceptível como o ambiente ia mudando conforme ela se aproximava do lugar. O palácio iluminado e completamente ornamentado, dava lugar a corredores sombrios e pouco movimentados. Não havia nenhum quadro nas paredes ou decorações que alegrassem aquele lado, era tudo apenas em tons de cinza escuro. Sentiu seu corpo arrepiar.

Desceu as últimas escadas e agradeceu grandemente por ver, parados na porta, dois soldados. Soltou o ar dos pulmões e aproximou-se, mas foi barrada antes de sequer tocar na maçaneta. Olhou rapidamente para a sua armadura e encarou os dois homens em sua frente.

— Desculpe-nos, senhorita, mas até mesmo as Damas da Rainha precisam dizer o motivo de vir aqui embaixo. — Comunicou um deles, enquanto a encarava. Os dois usavam a armadura completa dos soldados, de modo que poucas partes de seus rostos eram visíveis. Os olhos azuis intensos não se desviaram dela em nenhum momento.

— Estou aqui a mando da Rainha, para trazer o café da manhã do Príncipe Loki. — Se explicou e os soldados se olharam, tirando as lanças cruzadas da frente da porta.

— Pode entrar. — Mandou o outro homem, mas quando Sigyn deu um passo à frente, o soldado que havia falado com ela primeiro, colocou a lança em sua frente outra vez.

— A barreira de energia não reconhecerá o seu DNA e por isso não te impedirá de entrar e sair da cela, mas seja rápida. Coloque a bandeja em cima da mesa e saia. Não fale com ele mais do que o essencial e não fique muito tempo por lá. Você me entendeu? — Perguntou. Sigyn assentiu. — Você, estando no mesmo ambiente que ele, sem as barreiras para impedir, é suscetível a um controle mental. Por isso pedimos para que seja rápida.

— Eu entendi. Obrigada. — Agradeceu e o soldado sorriu para ela, dando espaço para que passasse. Sigyn respirou fundo e desceu as escadas rapidamente. Passou pelos corredores, repletos de homens que gritavam e aproximavam-se das paredes de energia. Sorte que não se escutava o que falavam lá dentro, mas só o comportamento deles já despertava um medo tremendo na jovem. Os passos apressaram-se ainda mais até que chegou na última cela.

Reparou no lugar e no homem deitado na cama, com um livro nas mãos e lendo distraidamente. Pensou que ele não a havia notado, mas percebeu que equivocou-se quando os olhos verdes correram até ela.

— Bom dia, Alteza. — Falou baixo. Loki fechou o livro e levantou-se, caminhando até o limite da sua cela. — A Mãe de Todos pediu para que lhe trouxesse o café da manhã.

— É o novo bichinho de estimação dela? — Perguntou apontando para os símbolos na armadura de Sigyn.

— Sou a Dama da Rainha, não um bicho de estimação. — Respondeu seriamente. Desviou-se do olhar do príncipe e subiu as escadas da cela, passando facilmente pela barreira de energia. Colocou a bandeja em cima de uma das mesinhas e virou-se para sair, mas encontrou Loki atrás dela. Instintivamente deu um passo atrás e encostou-se na mesa.

— Não tem um pingo de modos. Onde ela conseguiu você? — Perguntou e forçou Sigyn a lembrar-se do mercado de escravos e da morte de sua avó. Os olhos azuis marejaram-se. Loki percebeu que aquele assunto era desconfortável e não queria que ela começasse a chorar, na verdade era o que menos queria no momento. Não tinha paciência. — Retorne e leve a bandeja com você. Não quero comer nada. — Deu as costas para ela e seguiu de volta até a sua cama, pegou o livro e deitou-se outra vez.

— A Rainha me pediu para insistir. — Comentou com a voz trêmula. Tentava fazer com que suas pernas lhe obedecessem e saíssem correndo o mais rápido que conseguissem.

— Nesse caso, pode deixar a bandeja. Se eu sentir fome, como mais tarde. — Respondeu Loki, voltando sua atenção para o livro, mas alternando a visão entre ele e a jovem. — Algo mais?

Sigyn virou a cabeça em sua direção, no mesmo instante em que uma das lagrimas, que permaneceram presas, lhe escapou e escorreu pela bela face.

— Não. — Respondeu. — Alguém vem retirar a bandeja. Com licença. — Respirou fundo e seguiu rapidamente em direção a barreira, sem esperar nenhuma resposta do Príncipe. Nem sequer olhou para trás, apenas continuou andando pelo corredor e de volta até a porta. Não comentou nada com os soldados e continuou com seu passo firme, mas soluçou alto o suficiente para que o mesmo que lhe alertou ouvisse e fosse atrás dela.

— Está tudo bem? — Perguntou segurando-a pelo braço. Sigyn passou a mão no rosto e fez que sim com a cabeça. O homem não questionou.

— A Rainha pediu para que um dos soldados recolha a bandeja da cela do Príncipe e que a leve até a cozinha. Pode fazer isso?

— Sim, senhorita. Eu mesmo faço. — Ele a olhou enquanto Sigyn evitava encará-lo. — Mas só se a senhorita me prometer parar de chorar.

— Está bem. — Respondeu limpando o rosto. Uma das lágrimas ela não conseguiu enxugar e foi o soldado que o fez.

— Qual o seu nome? — Perguntou.

— Sigyn.

— Sigyn. — Repetiu para ver como soava em sua voz. — É um nome muito bonito e me faz pensar em coragem. Deve ser uma mulher tão forte e corajosa quanto o nome me faz crer. — Ela sorriu ao ouvi-lo. — O meu é Tyr e é um prazer conhece-la. — O jovem beijou a mão direita da Deusa da Fidelidade.

— O prazer é meu e muito obrigada. — Respondeu envergonhando-se. — Agora devo-me ir. A Rainha me aguarda.

— Nos veremos de novo em breve.

— Eu espero que sim. — A jovem fez um breve aceno de cabeça para ele, e para o companheiro de guarda que ficou na porta, e seguiu apressadamente até a biblioteca. As pernas ainda tremiam quando pensava no Príncipe e em como ele foi tão invasivo. Pegou-se imaginando se ele havia entrado em sua mente, visto tudo aquilo que lhe aconteceu e por isso resolveu brincar com as suas emoções. Sigyn não teve a menor chance de se defender daquilo e de como a fez se sentir. Decidiu que Loki era realmente o monstro que todos falavam e pediria a Rainha que não permitisse que fosse mais ali. Não queria vê-lo nunca mais.


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Notas finais do capítulo

É isso, anjos! Se gostaram, e quiserem, comentem e recomendem, está bem? É muito importante e farão uma autora tremendamente feliz... o/
Um beijão enorme nos corações de vocês e até o próximo...