Durante toda a noite Hermione não pregou os olhos um minuto sequer. A morena virava para um lado, virava para o outro a procura de uma posição confortável para dormir, mas o que realmente a impedia era sua mente que não parava de fervilhar pensamentos a respeito de Victor Krum, seu ex-namorado, que havia aparecido depois de anos separados. Foram horas imaginando como o moreno havia descoberto seu endereço. O medo a contagiara de tal maneira que sua única vontade era de gritar em desespero, e com toda certeza o teria feito se não fosse Rose dormindo tão calmamente ao seu lado, como um verdadeiro anjinho.

Na sala a situação não era muito diferente. Rony também não havia pregado os olhos. O ruivo tentava achar em sua cabeça uma forma de contar a Hermione sobre o site e as fotos de um jeito que ela não desaparecesse, pois no pouco tempo em que a conhecera, a morena passou a ser essencial em sua vida, assim como a pequena Rose. Rony tinha pela menina um sentimento que beirava ao amor paternal, e ele jamais deixaria que algo de mau lhe acontecesse, o problema era que se Hermione lhe expulsasse de suas vidas, o rapaz não teria como protegê-las do homem que provocava tanto medo na morena, que por sinal era um mistério guardado a sete chaves em seu coração.

Cansado de tentar pegar no sono, o ruivo resolveu levantar, e para sua surpresa já começava a amanhecer. Apesar de passar a noite em claro ele não estava com sono. Arrumou as cobertas que havia usado e foi para a cozinha preparar o café da manhã.

Depois de deixar tudo arrumado, esperando apenas que Hermione e Rose aparecessem, Rony decidiu ir até uma padaria que ficava pouco depois de dobrar a esquina, contudo, assim que passou pela porta o rapaz notou algo estranho. Um carro, diferente do da noite anterior, estava parado praticamente de frente para o portão e havia alguém dentro, que pela sombra parecia ser um homem. Na dúvida, o ruivo preferiu não sair e ao voltar novamente para dentro da casa encontrou Hermione sentada em um dos sofás da sala.

– Acordou cedo. - Ele disse calmamente, enfiando as mãos no bolso da calça. - Sente-se melhor?

– Na verdade eu não dormi. Minha cabeça não parou de trabalhar nem um minuto.

– Não queria lhe dar mais preocupações, mas tem um carro lá fora meio suspeito. - Hermione arregalou os olhos em desespero e Rony se sentou próximo o suficiente para pegar em sua mão, e ficou ali olhando para as feições delicadas e ao mesmo tempo amedrontadas da morena enquanto buscava dentro de si uma coragem que nunca havia tido antes.

– Ele não vai me deixar em paz até me enlouquecer! - Sua voz estava trêmula e suas mãos geladas. - Preciso sair daqui!

– Se for o caso, vocês podem ficar na minha casa o tempo que quiserem.

– Faria isso por nós, mesmo?

– Hermione eu quero lhe ajudar, quero mesmo, mas antes você precisa saber de uma coisa importante da minha vida.

Rony estava prestes a abrir-lhe o coração quando a vozinha sonolenta de Rose ecoou pela sala, tirando-lhes a concentração. A menina, que carregava um ursinho de pelúcia nas mãos, caminhou a curtos passinhos até chegar ao sofá e sentou-se no colo da mãe logo em seguida.

– Dormiu bem, princesinha? - O ruivo perguntou e Rose confirmou com a cabeça.

– Mamãe, eu estou com fome.

– Vamos tomar café. O Rony preparou uma mesa cheia de coisas gostosas pra gente.

– E depois vamos ver desenhos o dia inteiro! - Ele completou divertidamente arrancando um belo sorriso de Rose e um "obrigada" dito aos sussurros por Hermione.

Enquanto iam em direção a cozinha, a morena segurou-lhe pelo braço e disse que também precisava contar sobre uma parte de sua vida que era ainda dolorosa, mas que ele precisava saber para entender melhor o porquê Victor lhe causava tanto pavor.

Apesar de ter passado a sexta-feira inteira dentro de casa, Hermione não pôde negar que o dia estava sendo divertido. Rony fazia de tudo para que as duas se sentissem a vontade em sua presença, o que não era muito difícil, já que ambas possuíam por ele um carinho especial. No final da tarde, enquanto a morena separava algumas roupas, o ruivo, como um cão de guarda, observava o lado de fora da casa, e Rose brincava com Perebas, o cachorrinho vila-lata.

– Rony quando eu vou ver o vovô e a vovó Weasley de novo, e o James?

– Prometo que o mais rápido possível, tudo bem? - Indagou ele sorridente e ela respondeu com um abraço apertado.

Qualquer um que visse tal cena na certa imaginaria que o rapaz era o pai da menina, contudo, aquele que observava de longe, bem escondido atrás de um poste, reconheceu nela algo de si mesmo: os olhos, exatamente no mesmo formato e cor, e naquele momento o homem notou que havia um laço entre eles, um laço sanguíneo que ele nunca imaginou ter.

Victor sabia que, se aparecesse naquele momento não conseguiria chegar perto de nenhuma delas, então apenas esperaria a hora certa para falar com Hermione, e enquanto esperava aproveitava para vigiar um pouco mais a casa.

Já começava a anoitecer quando a morena apareceu do lado de fora. Carregava nas mãos uma bolsa grande de viagem que foi colocada na mala do carro de Rony. Rose e Perebas foram os primeiros a entrar no veículo. Hermione certificou-se de verificar se todas as portas e janelas da casa estavam trancadas e o ruivo procurava por algum movimento suspeito na rua. Victor, astuto como uma raposa, escondeu-se ainda mais para que não fosse visto e conseguiu, Rony não notou nada de diferente, e o carro que havia visto ali durante a manhã já não estava mais lá.

Durante o caminho Hermione pouco falou, estava concentrada demais, em suas dolorosas lembranças de um passado que preferia arrancar de sua memória, que mal prestou atenção no caminho. O rapaz até tentou falar-lhe algumas asneiras, mas era em vão, a morena sorria por um breve momento e em seguida fechava-se novamente.

O prédio em que Rony morava era de um total de quatro andares, localizado em um condomínio fechado na Zona Norte da cidade, relativamente perto de onde Neville e Luna, os padrinhos de Rose, moravam.

– Chegamos, é no terceiro andar. - Ele disse enquanto desligava o motor do veículo.

Rose estava encantada com o lugar, tudo porque havia um playground com piscina e quadra de futebol.

– Rony eu vou poder brincar ali? - Indagou ela, apontando para o parquinho com os olhinhos brilhando.

– Prometo leva-la todos os dias, mas primeiro vamos conhecer a casa, além disso, está tarde e as crianças já devem ter entrado.

O apartamento não era muito grande, entretanto, era confortável, bem arejado e iluminado. Rony mostrou todos os cômodos, exceto um, o quarto que usava como estúdio. Aquele o ruivo só mostraria depois de contar a Hermione sobre seu site e as fotos usadas.

– Onde eu vou dormir? - Questionou Rose confusa.

– Você e sua mãe ficarão no meu quarto.

– Mas e você, vai dormir no chão de novo? - Tornou a questionar.

– Não, hoje eu vou dormir no sofá. Sabia que ele se transforma em uma cama?

– Nós podemos ficar aqui na sala, não se preocupe com isso, Ron. - Hermione tentou argumentar com o rapaz, mas acabou sem sucesso, ele insistia em ficar na sala.

Vencida pelo cansaço, a morena decidiu ir dar banho na menina enquanto Rony pedia uma pizza. Segundo ele, não havia nada na dispensa que desse para preparar um bom jantar e que no dia seguinte passaria no supermercado.

Depois que Rose dormiu Hermione apareceu na sala novamente. O ruivo terminava de arrumar o sofá cama quando notou a presença da morena. Diferente do dia anterior, o rapaz vestia apenas um short e uma camiseta que deixavam as pernas e braços expostos. Hermione pigarreou limpando a garganta, e disse-lhe que precisavam conversar.

– Sinto que vou explodir se não contar a alguém. - Ela disse. Em seus olhos o ruivo podia ver que o medo e o desespero lhe perseguiam.

– Quer se sentar? - Ela apenas confirmou com a cabeça e ele a acompanhou.

– Eu vou te contar!