Dad's Boyfriend escrita por Bruno Borges


Capítulo 5
Eu te amo


Notas iniciais do capítulo

Então pessoal, eu tenho estado bem desanimado de escrever essa fanfic. Não é por falta de ideias ou porque perdi o interesse na história. É porque me sinto sem público. É chato dizer, mas esse gênero não atende bem aos interesses dos leitores de fanfic Oncers, já que estes são numa maioria esmagadora, garotas lésbicas interessadas em histórias Swan Queen, e uma outra parte, garotas que se interessam por OQ ou CS. Garotos Oncers, sejam de qualquer sexualidade, são uma minoria no site (creio eu), e infelizmente, histórias de amor entre dois homens, raramente atraem leitores nesse fandom que não sejam exclusivamente garotos gays. Então tá complicado, as vezes tenho medo de escrever e ninguém ler, os comentários estão cada vez mais em falta e não vejo tanta gente favoritando, como vejo em fanfics lésbicas. Como eu já havia deixado bem claro, a fanfic “Dad’s Boyfriend” não se trata somente da relação entre os dois caras, já que abrange secundariamente casais heterossexuais e futuramente, lésbicos. Mas por ser o centro de tudo, acho que tá faltando interesse. Desculpem pelo drama, mas precisava me abrir sobre isso.
Ah sim, só outra coisa. Não revisei o texto. Acho que tô bem atrasado e apesar dos pesares, senti que estava devendo este capítulo, então assim que terminei já copiei e colei aqui. Se tiver algum erro, me perdoem, corrijo depois.
Vamos à história.



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(Emma Swan POV)

Todos estavam os preocupados com David. Ele se culpava demais, não só pelo fim do casamento, mas pela decisão de apagar a memória da maioria das pessoas de Storybrooke. Mas ele não tinha feito nada disso sozinho. Se o casamento desandou, foi por culpa dos dois. E a decisão de lançar o feitiço foi difícil e pensada, não só por ele, mas por um grupo de pessoas. Fora que os anões escolheram por conta própria se esquecerem de quem realmente foram e Belle de alguma forma se tornou imune ao feitiço. Oito culpas a menos pra ele carregar. Mas ele sentia culpa por cada demais cidadão que perdeu a memória da Floresta Encantada. Eu queria que Killian conversasse com meu pai. Acho que David o ouviria. Mas Killian estava fora da cidade, prestes a voltar com uma mão protética. Afinal, o que as pessoas iriam pensar agora de um sujeito com um gancho no lugar de uma das mãos?

Sim, tínhamos sido mesquinhos ao decidir isso por outras pessoas, mas foi por um bem maior. E ver meu pai castigando-se internamente por isso me machucava muito.

Mas naquela manhã de sábado, eu me surpreendi. Ele estava bastante aéreo e sorria sem motivos. Estávamos fazendo um piquenique com o Neal no parque, e David não parava de rir sozinho, com um olhar que eu conhecia muito bem. Conhecia cada expressão sua na verdade, porque eu herdei cada uma delas. Eu e meu pai sempre fomos muito parecidos e eu podia ler através de seus olhos. Mesmo que ele não soubesse, estava apaixonado. Eu já tinha estampado no rosto cada uma das expressões que vi nele aquele dia, quando eu era mais jovem. Quando eu estava na adolescência e conheci Lily, tive dúvidas sobre a minha sexualidade porque aquela garota realmente mexia comigo. Acho que pra ser sincera, Lilith foi minha primeira “crush”. Mas eu nunca contei pra ela, e bem, eu conheci caras, superei isso. O sorriso bobo e o olhar perdido do meu pai, entregavam o “adolescente apaixonado” dentro dele, justamente da forma que entregavam aquela jovem Emma.

— Quero torta gostosa! —  Neal veio gritando com as mãos cheias de areia com a qual estava brincando.

— Calma, calma Neal! — tive que segurá-lo pra fora da nossa área de piquenique pra que ele não derrubasse areia na comida. O garotinho simplesmente não tinha sossego pra comer com a gente e depois brincar. Insistia em brincar e correr pra beliscar alguma coisa de tempo em tempo. E o que ele mais gostou foi da torta de maçã que Regina fez pra que eu levasse. Nem quis saber dos sanduíches naturais montadinhos pelo nosso pai de forma perfeccionista. Cheguei a ficar com dó e comi mais de um só pra ajudar ele, porque a atração do dia era mesmo a torta. — Aqui, limpa a mão nesse pano, Neal. E espera um pouquinho que a “tia” Emma já te dá um pedaço de torta.

Mal entreguei num pratinho e ele já foi pegando com a mão, correndo pra brincar. Estava tão estabanado, que derrubou nosso suco pela segunda vez, acabando com todo resto.

Passaram-se alguns minutos e logo nosso pai deixou o orgulho de lado e se entregou a um pedaço da torta. Era difícil saber quem se lambuzava mais, ele ou o filho.

— O que foi? — ele perguntou quando o peguei sorrindo sem motivo pela terceira vez em um minuto.

— Você está com aquele olhar. — enquanto eu respondia, ele limpava a boca às pressas, achando que eu diria algo sobre ele estar sujo.

— Hã? Que olhar? — seus olhos azuis arregalaram-se.

Eu lhe expliquei exatamente o que disse já ter passado e como éramos parecidos, mas é claro, sem citar Lily. Ele ficou muito confuso a princípio, bem acanhado, mas por fim acabou admitindo que talvez estivesse apaixonado e nem sequer tinha notado. Eu queria ter uma conversa madura com ele, explicar que eu o apoiaria, que ele precisava de alguém, mas Neal começou a nos interromper com mais frequência, e precisamos cortar o assunto. Tivemos um bom dia em família afinal. Dali fomos ao centro, compramos algumas coisas juntos, tomamos sorvete, e até brincamos em praça pública que eu era a princesa que Neal tinha de salvar e David o monstro malvado que protegia a torre.

Nosso assunto de adulto foi adiado pra depois. Mas não tivemos esse assunto naquele dia.

Meu pai foi falar com a Ruby no Granny’s enquanto eu estava com o Neal lá em cima, assistindo Bob Esponja, e no próximo minuto estavam me ligando pedindo socorro porque David estava muito alterado, agredindo alguém.

Grumpy foi quem convenceu os anões a assumirem suas identidades de Storybrooke outra vez, nunca entendi o por quê. Mas como Leroy ele era tão pé no saco, até eu me arrependeria de ter concordado com uma medida dessas.

Foi tudo tão rápido e eu fiquei tão nervosa que mal me lembro de outra coisa senão de Leroy me empurrando pra ir atrás do meu pai e em seguida acertando a cabeça dele contra o vidro do próprio carro, como vingança. E então eu saí dirigindo feito uma louca pra levá-lo ao hospital. Confesso que naquela hora desejei coisas horríveis a Leroy. Não conseguia pensar direito, agi impulsivamente em pegar aquele carro e correr pelo bem do meu pai, mas depois de tudo, pude perceber que com o vidro frontal todo trincado e com um buraco no canto, a visão dianteira foi danificada em uns 80% e eu havia dirigido em alta velocidade. Também pudera, o rosto do meu pai se encheu de estilhaços de vidro e ele sangrava pelo menos o dobro de Leroy. Meu coração batia tão rápido que doía, e eu também precisei ser atendida no hospital porque estava passando mal.

Whale foi me atender. Fiquei super sem graça de contar pra ele o que aconteceu, mas foi preciso. Ele foi bastante compreensivo e até se ofereceu pra checar meu pai e me dar alguma notícia pra me deixar mais calma. Eu sabia que seria constrangedor pro meu pai se encontrar ali com o novo namorado da mamãe, mas eu precisava saber que ele não tinha nenhum corte grave e que não tinha nenhum resíduo de vidro em seus olhos, que não abrira hora nenhuma desde que o coloquei no carro e levei pro hospital. 

Pouco tempo depois, Dr. Whale estava de volta. Disse que logo ficaria tudo bem sim, mas que David precisaria passar a noite porque haviam muitos pequenos estilhaços a serem removidos e depois ele precisaria de todo um processo de higienização nos cortes, e com sorte ficaria com poucas cicatrizes. Eu estava morrendo de medo de que tivesse entrado algum caco em seus olhos, porque ele gritava de dor logo após o incidente. Mas Whale garantiu que apenas uma das pálpebras ficou machucada. Eu fui ao banheiro e chorando liguei pra Regina pedindo ajuda. Ela disse que curar com magia não era seu forte pra se arriscar num caso desses e embora ela soubesse alguns truques, e que ainda que o curasse de alguma forma, as pessoas iriam achar estranho a cura de todos ferimentos de uma hora pra outra. Mas ela me prometeu fazer seu melhor quanto às cicatrizes, depois que o tratamento médico acabasse, o que já me deixou aliviada.

Apesar de tudo que aconteceu, quando pude visitar meu pai no quarto do hospital, que estava em repouso depois da retirada de vários estilhaços, não consegui evitar o sermão. Ele tinha sorte de estar numa cidade fictícia controlada “de cabo a rabo” por Regina, porque de outra forma, já teria perdido o emprego e bem provavelmente seria punido criminalmente pelo ato de violência. Eu já sentia dor de cabeça só em imaginar Leroy aos berros no Granny’s sobre impunidade do xerife e como isso era irônico. Mas ele foi muito mais violento, e se eu tivesse que prender os dois ainda que provisoriamente, eu ficaria louca naquela delegacia. Porque ah sim, claro. Eu teria que substituir David por algumas semanas, já que ele seria ao menos afastado do cargo de xerife. Também um escape pra ele descansar corpo e mente, sem que as pessoas pensassem que ficou completamente “impune”. Com sorte ninguém teria conhecimento jurídico suficiente para questionar alguma coisa.

(Kristoff/Christopher Black POV)

David e eu discutimos de manhã quando acordei na casa dele. Não foi uma discussão calorosa ou agressiva, mas... nos desentendemos. Na verdade ele foi super gentil em me preparar um café da manhã digno de um rei, sendo que ele mesmo não iria comer nada, pois tinha planejado um piquenique com Neal, que estava dormindo, e a “filha de consideração” dele. Mas ele começou um assunto que me deixou desconfortável. A forma com que ele me abordou pra falar disso me deixou nervoso, não no sentido de estar “com raiva”, mas de apreensão mesmo. Ele me disse que durante meu sono, agarrei ele pelo braço. E queria saber se aquilo significava alguma coisa. Ele falou num tom tão sério, de tamanha reprovação que... não sei, simplesmente fiquei envergonhado e não sabia como agir. Eu tentei negar que fiz isso, mas ele estava convicto.

— Mas eu não sou gay. — me defendi depressa quando ele reafirmou que eu tinha segurado seu braço.

— Shhh, fala baixo. Vai acordar o Neal. — ele respondeu indiferente à minha resposta, aliás, indiferente a mim e ao quão envergonhado eu estava. Só estava preocupado mesmo com o sono do menino.

— E você, — eu diminuí o tom — é gay por acaso?

— Não. — a resposta foi imediata, eu mal tinha terminado de perguntar.

— Ok.

— Ok.

Eu estava extremamente envergonhado. A primeira vez que fui à casa dele e passei uma vergonha daquelas... Que baita mico.

— Desculpa viu? — eu juntei minhas coisas e me levantei. — Foi mal mesmo, não tive nenhuma intenção de aborrecer você. E valeu pelo café.

Eu saí rumo à porta e ouvi ele murmurar meu nome, provavelmente ia pedir que eu esperasse, mas ele percebeu que eu estava desconfortável. “Blam!”, fez a porta que deixei bater acidentalmente. E eu pensei: “Putz! Agora sim ele vai ficar com raiva de mim”.

Eu fui pra casa e não me senti bem a manhã toda. Tive embrulhos no estômago e várias vezes tive a sensação de que todo ar que eu respirava estava quente e comprimido dentro de mim, me apertando. Só consegui pensar no quanto eu era idiota e que só sabia estragar as coisas. E quanto mais eu tentava esquecer David, mais eu queria vê-lo. Eu não conseguia ser capaz de entender o que me causava aquela fissura. Eu gostava muito dele, e fiquei me criticando em pensamento por ter sido idiota assim. Como eu iria olhar pra cara dele agora?

Quando Juliet me ligou, dizendo que precisava conversar comigo e que queria que saíssemos juntos à noite, fiquei esperançoso de que eu fosse melhorar. Ela me pediu pra ir até a casa dela e da irmã, disse que estava com saudades e queria me ver. Nós conversamos e achei tudo chato. Odiei o fato de que teria que ir com ela à tal festa. Eu estava com ela, mas meus pensamentos ainda estavam naquele cara.

Durante a festa, eu não aguentei. O amiguinho dela só queria me ridicularizar e eu estava emocionalmente abalado. Eu não estava num dia bom pra lidar com tanta pressão. Foi horrível. Naquele lugar, me senti um estranho, mas não por não conhecer aquelas pessoas. Eu senti que tinha que estar em outro lugar. Com outra pessoa. Sim, junto do xerife. Eu definitivamente não consegui parar de pensar nele. Chegou a um ponto que eu me senti muito pesado por dentro. Eu queria chorar, mas Juliet não podia ver de forma alguma. Por isso corri pro banheiro. Mas o irritante do Peter conseguiu me achar lá, porque ouvi a voz dele. E quando eu finalmente criei coragem pra sair de lá, percebi os dois me olhando da na nossa mesa, muito próximos e íntimos. Peter com certeza tentou beijá-la, mas alguém passou na frente e não pude ver direito a reação dela. Pude perceber que ela não aceitou o beijo, mas ela não parecia brava, só pensativa. Foi quando eles me perceberam ali, na porta do banheiro. Eu corri porque Juliet começou a vir na minha direção e eu não conseguia olhar na cara dela. Não pelo que eu tinha presenciado. Apesar das circunstâncias esquisitas em que os flagrei, eu confiava nela. Não conseguia olhar na cara dela de vergonha de mim mesmo. Porque além de não estar à altura do mindinho do pé de Peter, eu estava começando a achar que eu estava atraído por outra pessoa. Na verdade começando não, porque eu tinha percebido bem antes. Eu estava admitindo. Admitindo pra mim mesmo.

E minha cabeça estava um caos, nem via direito o que estava fazendo. Já na rua eu esbarrei numa mulher com uma menina, provavelmente atravessei uma ou duas ruas sem sequer olhar pros lados e do nada, quando menos espero, sou surpreendido pela camionete de David em alta velocidade. E eu consegui por alguns segundos ver ele no banco do passageiro, com o rosto vermelho de sangue, e os olhos fechados com força, numa expressão de muita dor. Eu não lembro o que eu falei depois, o que eu fiz, só me lembro de ter voltado pra casa e tentar ligar pra David incansavelmente.

No dia seguinte, não consegui prestar atenção na primeira aula, e fui embora na segunda. Eu estava contanto cada minuto pra dar o horário de ir pro estágio. A Sra. Rose (a mulher que meus pais contrataram pra ficar comigo) ficou até brava e preocupada comigo, mas eu não falei praticamente nada, nem comi. Saí de lá uns vinte minutos mais cedo e fiquei esperando David em frente a delegacia, que geralmente estava voltando esse horário, já que fechava tudo pra levar o filho na escolinha durante a semana e abria de novo quando voltava. Mas ele não apareceu. A tal Emma que chegou, um bom tempo depois, e meu mundo desabou. Trabalhei sem qualquer ânimo aquele dia, mas ela até foi legal comigo. E inclusive me contou o que aconteceu com o “Sr. Nolan”. Eu me senti muito culpado e umas cinco vezes tive vontade de dar com o furador de papel na minha cabeça. Eu pedi pra sair mais cedo, pra ver ele no hospital e pra minha surpresa ela deixou, super simpática e compreensiva.

Eu fiquei tão feliz que dei um abraço nela e um beijo no rosto, agradeci com um sorriso enorme e tive que me conter pra não sair pulando. Mas a alegria não durou muito tempo porque logo eu lembrei de que ele estava no hospital por minha culpa.

Foi um inferno pra conseguir entrar. A mulher da recepção disse que eu só poderia entrar se eu fosse parente dele ou com uma autorização. Eu estava prestes a fazer um escândalo quando vi um médico passando pelo corredor, com o crachá de “Dr. Whale”. Emma tinha mencionado ele pra mim, e eu sabia que ele conhecia o paciente que eu tanto queria ver. Expliquei pra ele que tinha saído mais cedo justamente pra ver ele e que eu estava muito preocupado. Ele fez uma cara de “tanto faz” como se já soubesse de toda a história da briga e estivesse deduzindo que eu era o garoto que causara tudo isso. Que droga, eu era. Eu fiquei com muita vergonha, mas ele me disse pra esperar e logo voltou me dizendo que David me autorizou a entrar.

— Quarto 42. — o doutor disse. — Você vai passar por um corredor onde vai ver os quartos de 4 a 16 . Tem uma escada à esquerda que vai te levar pra um corredor maior. Após o quarto 23 você só vira à esquerda de novo que vai achar a ala onde ele se encontra. Você entendeu certinho?

— Sim! Sim, obrigado! — na verdade eu tive que sair perguntando porque esqueci tudo, mas aprendi o caminho.

Eu abri a porta do 42 devagar e lá estava David olhando pra mim, me esperando curioso.

— Oi. — falei num sorrisinho frouxo, enquanto fechava a porta. O rosto dele estava limpo agora, um pouco inchado e com vários cortes e sinais de roxo. Ele tentou sorrir de volta pra mim, mas acho que parou porque doía.

— Oi Chris. — ele respondeu baixinho.

Eu pedi desculpas pra ele e fiz um discurso enorme sobre como eu era idiota e tudo era culpa minha. Ele tentou me dizer que não precisava e que eu não tinha nada a ver com isso, mas eu fui chatinho e insisti mesmo assim. Eu só parei porque seus olhos encheram de lágrimas e eu não conseguiria vê-lo chorar.

— Chega pra lá. — eu disse empurrando ele delicadamente, que cedeu lugar pra mim na beirada da cama. Eu me sentei com ele e meu braço esquerdo ficou meio perdido, eu teria que tomar cuidado pra não dar uma cotovelada nele. — David, eu preciso te contar uma coisa.

— O quê? Pode falar. — ele estava com uma carinha tão inocente e bondosa que só me deixava mais nervoso.

— Você pode me odiar se quiser mas... sobre o que aconteceu ontem... olha, eu estava acordado.

— Hã? — ele realmente não entendeu nada.

— Eu fingi que estava dormindo. Eu queria abraçar você. Sério, me desculpa, eu jamais iria querer te causar qualquer problema. Só que sobre ter “te agarrado” de noite, eu realmente o fiz. Eu precisava saber se você sentia alguma coisa por mim também, só que... eu não sei, eu tinha tanto medo de admitir pra mim mesmo que gosto de você mais que como um amigo, que acho que fiz inconscientemente, eu juro, não planejei. Tipo, eu realmente cochilei de leve, mas despertei quando você deitou do meu lado. — ele estava me olhando sério, sem nenhuma reação, o que me fazia querer sair correndo — Eu sem perceber o que estava fazendo, me aproveitei da situação. Eu sei que soa confuso. Mesmo te contando isso agora, eu gostaria de não ter feito isso e te causado qualquer incômodo. Aliás, lógico, preferia não ter dormido na sua casa pra que esse assunto bobo não tivesse surgido e você não tivesse se metido em encrenca, eu...

— Chris... — ele finalmente sorriu pra mim. — Tá tudo bem. — Mas então ele piscou rápido algumas vezes, e se mostrou estranho à situação, como se só agora entendesse o que eu estava falando. — Mas isso quer dizer que... ?

— Eu acho que eu sou gay então. — respondi rápido, como tinha sido nosso primeiro diálogo sobre isso. — E você... ? Não?

Ele suspirou nervoso e abriu a boca sem produzir som. E então tentou de novo. — Sim. — ele sacudiu a cabeça positivamente também, várias vezes pra deixar bem explícito, mesmo que estivesse morrendo de dor. — Eu... eu também gosto de você mais que como um amigo.

Eu fiquei extremamente feliz, apesar do nervosismo. Abracei ele, meio de lado, muito forte e soltei correndo com dó por ter esmagado o rosto dele.

— Mas e agora? — ele disse preocupado.

— Não sei.

— Vamos ficar dois bobões sem saber o que fazer?

Soltei um risinho. — Não vamos pensar nisso agora, ok? Do que você quer falar?

— Não sei. — ele retrucou, me imitando.

— Para de me imitar! — ri, apesar de ligeiramente irritado.

— Eu não estou te imitando! — ele abriu o sorriso mais lindo do mundo, e eu nem sequer me importava que ele tivesse todo roxo ou machucado. Ele era todo muito lindo. Muito lindo.

— Você vai receber alta logo? — perguntei sem graça, tentando desviar de assunto.

— Vou, não é como se eu fosse operar um rim. Juro que apesar da cara de bobo, sou mais forte que pareço. Só estou aqui até agora porque estou em observação, acho que estão procurando alguma infecção, alergia, não sei. Já retiraram todos estilhaços do meu rosto, vou poder sair hoje ainda e me cuidar em casa. Não se deixe iludir pela cama, só estou repousando.

Ele me deu um soquinho no ombro, acompanhado de um sorriso sofrido.

— Entendi.

— Entendeu?

— É. — eu não tinha resposta alguma.

— E ficamos sem saber o que fazer de novo.

— Não. Espera. — eu me ajeitei na cama, passei o braço que tanto me incomodava por trás da cabeça dele e comecei a fazer-lhe carinho. – “Asked a girl what she wanted to be... She said “Baby, can’t you see?...

— O que está fazendo?

— Cantando, oras. É a única música que sei que gosta, é o toque do seu celular. - Ele assentiu, segurando pra não rir e eu continuei. — “I wanna be famous, a star on the screen... But you can do something in between, Baby you can drive my car… Yes I'm gonna be a star… Baby you can drive my car… And maybe I love you…”

— Ok Chris, já chega. — ele ria de mim e eu também. — Eu nem gosto tanto assim. Eu só... gosto. Mas obrigado por me animar.

— Mas tem algum motivo em especial pra gostar? — eu ainda estava acariciando seus cabelos.

— Não, só gosto da musicalidade. Na verdade acho a garota da música uma vaca.

Deixei escapar uma risada alta.

— Por quê?

— Ué, olha que cara de pau, ela é tão metida e esnobe que fala pro cara que quer ser famosa e ele pode ser o motorista dela, que talvez, só talvez, acabe amando ele. — David falava como se fosse algo muito sério, mostrando que ela era uma pessoa muito ruim. Eu estava morrendo de rir. — Chris... — ele chamou minha atenção enquanto eu olhava pra baixo, evitando contato visual. — ...me beija?

Tudo parou. Menos meu coração. Eu podia escutá-lo batendo com ritmo  acelerado. Eu estava morrendo de medo, mas era um pedido que eu não devia, não podia e nem queria negar. Eu olhei para a porta, não vi ninguém pela estreita janelinha nela. Eu aproximei meu rosto do dele lentamente, na esperança de que ele me beijasse primeiro. Ele também parecia esperar que eu o beijasse. Nenhum de nós fez nada, até que ficamos tão perto que nossos lábios se tocaram naturalmente. Eu abri os olhos e percebi que ele estava me olhando. E então acho que trocamos um beijo juntos, automaticamente. Meu corpo todo ficou frio, tinha até a impressão de que só mantinha a boca quente, com o beijo, e por um momento, imaginei como naqueles documentários que explicam o corpo humano, e me vi num boneco transparente de contorno azul e com uma enorme massa de vermelho na região da boca, indicando a única fonte de calor no meu corpo. Tá, eu sei, isso é completamente idiota e aleatório, mas eu imaginei mesmo. Eu senti os fiozinhos recém-aparados da barba dele em contato com a minha pele, isso era novo pra mim. Mas não me incomodou nem um pouco. Na verdade me encantava cada sensação que ele estava me proporcionando. Sim, me senti confortável em beijar alguém do sexo masculino. Justamente a masculinidade dele me deixou encantado. Eu acabei me caindo de amores por uma pessoa mesmo apesar do sexo dela não ser o que eu estava acostumado a lidar e isso não foi um problema. O “novo” também era bom pra mim. Eu acho que estava apaixonado, e não por quem ele era fisicamente. Apaixonado por ele ser quem era, pura e simplesmente.

Eu me afastei, delicadamente. Seu rosto até seguiu o meu, tentando alcançar meus lábios outra vez. — Espera. David... Eu te amo.


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Notas finais do capítulo

Agora chegamos ao primeiro finalmente: David e Christopher percebem que gostam um do outro, ou melhor, que se amam. E finalmente também, poderemos seguir a diante, parar de falar desse mesmo final de semana inacabável! Hahahaha
E pra quem tá esperando Lily/Mulan/Swan Queen, acho que este capítulo saciou um pouquinho da curiosidade de vocês, né não? Estou esperando o ponto certo pra introduzi-las direito.