Dad's Boyfriend escrita por Bruno Borges


Capítulo 4
Gelo


Notas iniciais do capítulo

Confesso que estou ansiosíssimo pra mostrar logo o relacionamento de Chris e David. Mas pra chegar a esse ponto eu realmente precisava terminar de esclarecer algumas coisas dessa noite tão confusa. Nesse capítulo, temos três novos narradores, Juliet, August e Peter. As narrações não seguem uma ordem cronológica, visto que o que August narra, acontece por último, mas o interessante é justamente o dinamismo das informações na ordem em que as recebem. Tratei de especificar melhor nesse capítulo quanto aos narradores e o tempo da narração, o que pode mudar a cada capítulo, sem nenhum prejuízo na estrutura do texto.



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(Anna/”Juliet”  POV - manhã, pouco depois de Chris deixar o apartamento de David)

— Ah vamos, Chris! Por favor! — eu insistia, sacudindo as mãos dele inquieta — Acredite, eu praticamente também não conheço ninguém direito, quero que vá pra me fazer companhia. Olha, não vamos ficar deslocados. Sabe meu amigo, o Peter? Ele vai se encontrar com a gente lá, e claro, ele vai puxar assunto com você. Vão se dar bem.

— Tá, tá. Vou com você à festa da sua sala. — ele respondeu num sorriso torto.

— Oba! Obrigada, meu lindo! — o abracei com um sorriso que ia de uma orelha à outra. — Temia que não topasse ir e eu me sentiria desconfortável em ir sem você. Seria a terceira festa que eu perderia e não quero que me achem careta.

— Você não é careta, Juliet. — Chris estava cabisbaixo e pensativo. Eu não sabia o que estava deixando-o tristonho daquela forma e ele não queria me contar, então preferi fingir que não estava mais notando.

— Eu te amo. — disse simplesmente, e lhe dei um selinho logo em seguida.

Christopher se levantou do sofá e me deu um beijo na testa. — Eu também te amo. — ele disse — Então volto aqui mais tarde pra nós irmos juntos. — Respondi um “Ok” sem graça, e ele continuou em tom de brincadeira. — Vou para casa agora, hoje é sábado, dia de tomar banho. E vou passar um perfume. Afinal, não vai me querer com cheiro de rena. — ele finalmente estava rindo! Até criei expectativas de que fosse melhorar o seu humor depois disso. Eu ri mais pra ele que por causa dele, mas ri, totalmente corada e boba de amor.

—Bobão! — eu respondi ainda em risos — Você não tem cheiro de rena. Aliás já cheirou alguma pra saber se tem o tal cheiro?

— Hmmm não, não que eu me lembre. — Chris fingiu-se de pensativo.

— Chris. — minha irmã Teresa cumprimentou-o ao passar por nós com uma bandeja de gelo na mão. Ela havia grudado um chiclete na calça mais cedo e estava tentando todas técnicas que lia na internet para tentar solucionar o problema.

— Esa. — ele respondeu à saudação de forma sutil.

Teresa ficou de cara feia. Ela não gostava que ninguém a chamasse de “Esa”. Senão eu, é claro.

— Oh céus! — Esa reclamou quando derrubou um bloco de gelo em seu pé. — Por isso odeio coisas geladas!

Chris e eu nos demos outro beijo, um de despedida. Ele não correspondeu meu beijo da mesma forma, o que me deixou um pouco chateada e confusa. O levei até a porta.

— Ela me odeia. — ele cochichou, se referindo à Teresa.

— Não, ela não te odeia, Christopher. — ele me fez rir, mas eu tinha minhas dúvidas da veracidade do que eu estava dizendo.

(August POV - noite, pouco depois da briga no Granny’s)

— Você está mesmo bem? — ela me perguntou quando tudo passou.

— Sim, Ruby. Acho que to legal. — eu passava a mão pelo meu nariz com delicadeza, porque doía muito. — Mas isso vai ficar enorme.

Ela riu. — Tá dizendo que seu nariz vai crescer?

— Ué, acho que sim. Por que o riso?

— Você não entenderia. — ela zombou misteriosa. Até tentei que ela explicasse, mas mudou de assunto. — Tenho que te dizer uma coisa. Durante aquela bagunça... eu já tinha pedido ajuda pros rapazes e ninguém se dispôs a me ajudar, e fui tentar segurar o David sozinha. Você chegou completamente alheio ao que estava acontecendo e sem ninguém te falar um nada, simplesmente se jogou no meio daquilo pra me proteger. — ela sorria pra mim como se eu tivesse feito uma coisa fantástica. Eu sorria de volta, porque o sorriso dela era contagiante. Mas eu não sentia que tinha feito nada além da minha obrigação. — “Meu herói”. — ela acrescentou me provocando.

Nos encaramos em sorrisos maliciosos. Ruby então me mandou ficar imóvel, e pressionou em meu nariz um pano com gelo que já estava segurando há alguns minutos. — Au! — reclamei quase num pulo.

— Quieto, August. Não mexe.

— Ruby. Mas me conta. — eu disse tentando me mexer menos possível — Por que os dois estavam brigando?

— Leroy acha que David é gay. E ele gosta de incomodar as pessoas. É de mal com a vida, pobre coitado. É só o que faz.

— E ele é? David. Ele é gay? — perguntei curioso.

— Não. Acho que não. — Ruby deu de ombros.

— Caramba. Que idiota esse Leroy. Não digo que David estava certo em agredi-lo, mas... Nossa, que  ridículo. — Ruby me olhou ainda mais encantada, acho que nesse momento me corei um pouco. — Que foi?

— Você é lindo. — ela praticamente sibilou cada palavra, massageando meu ego.

Soltei uma risada. — Lindo por dentro ou por fora? Porque por fora sou só... uma “casca”. Por dentro podemos esculpir quem somos. — ela arqueou as sobrancelhas.

— Você é lindo das duas formas, mas não fique convencido. — Ruby então entregou o pano na minha mão. — Pode segurar você mesmo um pouco? Vou ver como minha vó está.

— Claro. Sem problema algum. — coloquei aquele negócio gelado horrível no meu nariz.

— Ah, August... — ela virou-se, lembrando-se de algo — Peço desculpas pela noite de hoje. Esse com certeza não é o tipo de encontro que eu tinha em mente.

— Você não tem culpa alguma. — respondi fitando a expressão dela que discordava de mim — E posso te fazer um elogio? Você foi muito corajosa hoje. Ferozmente corajosa. Como uma pantera, talvez. Não, não. Como uma pantera não. Como... uma loba.

Ela estava com uma expressão tristinha, mas voltou a sorrir quando eu disse isso. Mas ela não respondeu nada. Na verdade virou-se depressa para que eu não visse seu sorriso. E ela saiu, rumo à cozinha, pra ver como sua avó estava.

(Hans/”Peter” POV - noite, simultaneamente aos acontecimentos no Granny’s)

Antes eu só conhecia o namoradinho de Juliet “de vista”. Mesmo assim já não suportava ele. Mas juntos na festa, pude constatar que minha teoria estava correta: ele era um chato de galocha. Estranhamente, eu estava sentindo um prazer enorme de tê-lo conosco, somente para poder alfinetá-lo. Por sorte, Juliet era abobada e inocente o suficiente para não perceber isso. — Ok, eu posso dizer uma coisa louca? — a garota disse animada quando começou uma nova música.

— Eu amo loucura. — respondi com meu melhor sorriso.

— É a minha música que tá tocando! Oh meu Deus! — ela finalmente estava quebrando o silêncio que ficou depois que esgotei Christopher com minhas perguntas que tinham como intenção de fazê-lo se sentir intelectualmente inferior a mim. — Você não conhece essa música, Chris!? Ah, vem! Dança comigo!

Ela puxou o garoto pelo braço, que saiu cambaleando da cadeira. Ele pareceu bem assustado e deixava explícito no olhar de que não fazia ideia do que ela estava falando.

— Ah, você não conhece sua própria namorada? — Provoquei num tom audível só pra ele. Não que fosse muito difícil, ela só estava prestando atenção na música mesmo além de puxar ele que resistia na tentativa de deixar o copo na mesa primeiro – Ela diz isso pra no mínimo trinta músicas diferentes. E ela sequer sabe o nome de metade delas.

Christopher rosnou pra mim, mas sem tempo de pensar em algo pra dizer, foi levado para o meio da pista de dança.

— Ah por favor, quero uma dessas. — disse parando uma garçonete que passava com uma bandeja de bebidas coloridas. Virei na boca assim que peguei o copo, e observei os dois na pista de dança. — Hm. Falta gelo. Odeio bebida sem gelo.

Por dois segundos vi Christopher reproduzir os movimentos de um boneco de posto, o que me causou uma gargalhada indiscreta. Mas em uma questão mínima de tempo, ele parou e ficou inerte na frente de Juliet que se movia como uma lombriga sorridente pra ele. “Por que você não dança!?” eu pude ler nos lábios dela. Ele pareceu ter dito simplesmente “O quê?” com cara de paisagem. Então ela também parou com uma expressão confusa, queixando-se de algo. E os perdi de vista.

Mas não demorou muito pra que Juliet voltasse. Sozinha, aliás.

— Peter, eu acho que o Chris tá passando mal. — seus olhinhos miúdos transbordavam tristeza.

— Onde ele foi?

— Ao banheiro.

— Quer que eu vá dar uma checada nele? — fiz minha cara de moço gentil.

— Não, não acho que será necessário, logo ele melhora e vem. Mas muito obrigada.

Ela ficou apreensiva e inquieta. Ficou batendo as unhas na mesa, fazendo um barulho irritante de “tec-tec-tec”, enquanto eu terminava minha bebida tentando parecer indiferente.

— Ok, vai lá Peter. — ela mudou de ideia em menos de um minuto, como eu já esperava.

Eu fui ao banheiro e não achei ele a princípio, então entrei em uma cabine pra enrolar um pouco e depois procurar de novo, porque já estava a tempo demais me olhando no espelho. Saí dali um pouco e simulei que precisava lavar as mãos. Me dirigi a uma torneira desocupada mais no canto, e nesse momento, pude ver no espelho o tênis surrado de Christopher por baixo da porta de uma das cabines.

Ao saber que estava “passando mal”, imaginava que o otário tivesse se acabando de vomitar por ter o estômago fraco, afinal só tinha bebido um copo de bebida alcoólica ainda. Mas seus pés estavam virados pra frente, o que podia indicar uma diarreia, o que também era justificável, visto que comera feito um porco. Não pude evitar de rir. Eu até me aproximei, apesar de temer o mal cheiro. Mas pra minha surpresa, ele não fazia nenhum som além de fungar o nariz. E notei grunhidos estranhos. Foi então que percebi que ele estava ali sentado chorando. Fiquei olhando pra porta, rindo mais ainda.

— O que foi!? — eu disse pra um cara que passou me olhando feio. O choro foi abafado na mesma hora.

Saí daquele banheiro com uma ideia incrível. Voltei à nossa mesa e notei o quanto Juliet estava preocupada com o namorado. — Desculpe, não consegui achar ele.

— Ai não! — ela levantou-se desesperada. — Você viu o Joshua aqui? Vamos pedir ajuda pra ele, ele pode nos ajudar procurar o Chris e...

— Juliet! Juliet! — interrompi. — Se acalma. Olha, eu não consigo mentir pra você. Tenho que te dizer uma coisa. Eu realmente não encontrei ele no banheiro. Mas assim que eu saí... bom, eu vi ele num canto, se agarrando com uma menina qualquer. Não queria ter de te contar isso. Mas sou seu amigo de verdade. Sinto que é meu dever. Desculpa.

— Não. Não, não, não. — ela disse repetidas vezes, num estado de choque. Seus olhos ainda encaravam um vazio quando ela continuou, desorientada — Peter, você viu outra pessoa e se confundiu. Não era ele.

— Sim Juliet, eu sei bem o que eu vi. — peguei as mãos dela e fiquei brincando com as pontas de seus dedos carinhosamente. – Mas eu estou aqui. Com você. E não vou te deixar. — me aproximei dela vagarosamente, mas ela acordou de sua espécie de transe.

— O que está fazendo, tá doido?! — ela me empurrou.

— Eu acho que amo você. — menti.

Ela não disse nada, só me olhou perplexa, com os olhos um pouco molhados pelo namorado idiota. Olhei de relance para o banheiro, mas por pensar ter visto Christopher se aproximar da entrada do mesmo, voltei a olhar num movimento rápido, o que chamou a atenção dela.

—Chris! — ela gritou ao vê-lo sair. Droga. Ela tinha o visto sair do banheiro. — Chris!

Juliet saiu correndo atrás dele, que enxugava os olhos distraído. Ao percebê-la, ele assustado tentou correr por meio da multidão, mas ela o seguia gritando. Tive que ir atrás dela. Os dois acabaram saindo da festa. Já na rua, Christopher se esbarrou numa mulher loira e sua filhinha, que passavam por ali.

—Seu sem noção, olha pra onde anda! — a mulher gritou. — Quase derrubou minha filha!

Ela lhe castigava com o olhar e ele fez vários pedidos de desculpas, continuando a correr. Estava tão estabanado, que perdeu um de seus tênis num tropeção.

Você está bem, Alex?”, ouvi loira perguntar baixinho acariciando os cabelos da menina, e esta lhe respondeu positivamente com a cabeça.

Christopher estava quase na outra esquina e Juliet estava lhe alcançando, quando um carro passou em alta velocidade e por pouco não atropelou ele, que ia atravessar a rua. Ele parou ali e ficou pasmo. — Christopher, você está bem!? O que tá acontecendo com você?! — Juliet gritava, sacudindo-o. Eu fiquei a uma certa distância, observando os dois entre as sombras da noite. — Christopher! — insistiu.

— Eu... eu acho que... aquele era o meu chefe. — ele disse se referindo a alguém dentro do carro que passou em alta velocidade, que por acaso estava com o vidro dianteiro todo trincado e sujo. Mas pensei ter visto só uma moça loira no carro, ao volante.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado das referências, digamos que fiz questão de deixar o corpo deste capítulo mais "temperado" de referências aos personagens de Once Upon a Time e mesmo referências ao filme Frozen, porque achei que deixei a desejar no capítulo anterior. Gostaria de que não incluíssem o "Peter" na listinha negra ainda! Hahahaha
Ele tem todo esse jeito de "nojinho", mas eu tenho algo a ser trabalhado nele. Por enquanto deixem o Leroy sozinho.
Outra coisa que quero comentar é quanto aos meus títulos. Sou mega híper fã dessa coisa de título "basicão", citando uma palavra ou elemento do texto. Tive a ideia de repetir a palavra "gelo" em todas narrações do capítulo e por isso virou título. A ideia original era inserir narração de Emma aqui também e veríamos a palavra em outro contexto, mas whatever.
Próximo capítulo tem outra dinâmica de narradores, mas somente dois, Emma e Kristoff/Christopher. Finalmeeeeeeeeeeeente nossos protagonistas vão por a cara no sol. Me desejem notas boas na faculdade e que a preguiça vá embora que os próximos capítulos estarão garantidos em tempo récorde!



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