Dad's Boyfriend escrita por Bruno Borges


Capítulo 12
Assuntos Chatos


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a todos que têm comentado aqui! É por vocês que mantenho o interesse de escrever isso aqui! Obrigado mesmo, eu adoro vocês, haha. ♥
PS:. Eu tenho muita preguiça de revisar o texto e geralmente só faço no dia seguinte (se faço). E aconteceu isso, achei alguns erros e estou editando pelo celular. Acontece de letras acentuadas virarem pontos de interrogação. Peço desculpas! Se acontecer de novo vou arrumar o quanto antes.



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(David)

— Quer dizer que você aceita um disco de presente se você não tem um toca-discos? – falei sem conseguir conter o riso.

— Sim ué, a capa é bonita e afinal é um clássico. – Chris abriu um sorriso tímido.

— Pois eu tenho. E você pode levar seu disco pra ouvir na minha casa sempre que quiser.

Ele me olhou desconfiado. – Acho que a última coisa que faríamos seria ouvir música juntos.

Era uma segunda-feira até então boa demais pra ser verdade. Eu estava trabalhando de novo e com Chris ao meu lado. E o mágico era que agora éramos namorados. Aliás, eu gostava de pronunciar a palavra. Era diferente e gostoso dizer namorado. Na verdade, tinha dito a expressão meu namorado pra ele quatro vezes naquele dia, só pelo gosto de dizer. Admiti secretamente que a palavra namorado tinha uma sonoridade mais divertida que ex-esposa. Bom, o problema era que a gente não conseguia se manter trabalhando por muito tempo estando um perto do outro. Eu mesmo só queria saber de apertar Chris, beijá-lo e dizer o quanto era fofo. O que era uma adrenalina e tanto, porque podia chegar alguém a qualquer momento e seríamos pegos. E de fato, nós fomos. Num desses beijos, fomos surpreendidos por alguém que chegou depressa. Tentamos nos afastar com o som dos passos, mas não conseguimos a tempo. Surgiu num instante alguém tossindo, deixando claro que tinha presenciado nós dois aos amassos. Então antes que eu me virasse para ver quem era, questionou-me a voz feminina:

— Xerife Nolan?

— Lilith. – disse em voz alta sem pensar, ao ver a cara da garota.

— Então você me conhece? Hm, interessante.

— Não, na verdade não. Eu... eu ouvi de você. – eu ia mencionar Ursula, mas definitivamente não era uma boa ideia. Torci para que ela não perguntasse de quem eu ouvira falar dela, mas se fosse o caso, teria que colocar Ruby no meio disso e avisá-la o mais rápido possível. Não foi preciso.

— Posso falar com você por um minuto? – então ela olhou para Christopher com um certo desprezo e continuou. – A sós.

Eu respirei fundo. – Chris, pode organizar aquela pilha de inquéritos na ordem que combinamos, por favor? – Ele concordou com a cabeça ao me fitar nervoso. – Lá fora. Vem. – eu disse a Lilith indicando o caminho.

Eu saí na frente, sem olhar pra ela, mas logo seus passos estavam próximos dos meus.

— Parece que você não está mais na vibe de beijar donzelas desacordadas, hã Sr. Nolan? – me questionou irônica quando chegávamos à porta da delegacia. – Ou devo dizer, Príncipe Encantado? – Lily tirou então o livro de Henry de dentro de sua bolsa, levantando-o no ar e exibindo-o pra mim. Nós paramos entre a porta e a calçada. E nos encaramos. Não havia ninguém ali por perto.

— O quê!? Não faço ideia do que esteja falando. – tenho de admitir, eu fui muito convincente. Eu teria acreditado em mim.

— Ah não, não. – ela sorria ao me responder em tom de gozo – Não tente me fazer passar pela fase de louca, acredite, eu já passei por isso e superei. Eu sei muito bem que há algo de errado na cidade porque as pessoas estão confusas e são muito vagas sobre suas lembranças. Esse livro me ajudou com grande parte da minha investigação. – Lily me examinou de cima em baixo, com os lábios entreabertos e um olhar desinibido. – Eu daria uma ótima e muito sexy policial.

— Tenho más notícias pra você. Você é sim louca. – eu dei meia volta para entrar de novo, mas ela me puxou pelo braço.

— Não. Eu não sou. E eu sei do seu segredinho com a prefeita. Eu tenho espiado vocês de perto, na verdade.

— Como é!? – eu não estava surpreso por ela dizer que estava espionando, porque eu já sabia por Ursula. Mas a primeira parte é que me assustou e eu fui inocente demais em julgar o que seria o segredinho que ela sabia e dizer em voz alta outra coisa. – Você nos viu transando? Meu Deus garota, como!?

— Oh. - Lilith franziu o cenho. – Disso eu não sabia, mas obrigado por dividir experiências comigo. Essa é a parte em que eu contaria sobre o garoto de aparelho no meu primeiro beijo que quase me fez engasgar com um chiclete que ele mascava e depois ainda ficou grudado no aparelho dele, mas... sinto muito, eu não me abro assim tão fácil pra estranhos. Agora, onde estávamos? Ah sim, seu segredo com a srta. Mills. Bom xerife, eu vi ela curar magicamente seu rostinho bonito. – Caramba David!, eu pensei. Claro que era sobre as possíveis cicatrizes que ela fez sumir. Ursula já tinha te avisado sobre isso, tonto!. – Seu garoto de estimação ali dentro pode não ter reparado, mas eu não sou burra o suficiente pra passar batido um rosto todo zoado ficando lisinho de uma hora pra outra, então não negue que ela fez isso em você.

— Ele não é meu... Ah, esqueça. Eu tenho mais o que fazer. Você deveria procurar o Dr. Hopper. Ele vai poder te ajudar. E se você insistir em vir me atazanar outra vez... eu juro, eu vou ligar pra aquele hospital trazer uma ambulância e te levarem pra aquela ala psiquiátrica.

— Você quer dizer, o Grilo Falante? – ela sorriu satisfeita ao me ver ficar sem palavras. – Alguns são fáceis de descobrir, outros eu ainda estou tentando. Digo, nem todos estão no livro, não é? E algumas ilustrações deixam as coisas realmente fáceis, enquanto outras não são muito fieis, mas eu chego lá. – Eu continuei sem dizer nada, apenas encarando-a sério. – Tipo, você e a prefeita? São a cara desses aqui, eu nem precisaria ter lido sobre a personalidade de vocês. – Ela abriu o livro e mostrou uma página com uma gravura do meu casamento com Snow White. Em seguida, ela passou e ali estava Regina como rainha, chegando à cerimônia sem ser convidada. – Bom, já outros foram mais difíceis... – ela pareceu sugestiva, mas eu não fazia ideia de quem ela se referia.

— Oi?

— Ariel. Aquela moça negra com o casaco de pele. Não faz essa cara de desentendido, me faz parecer idiota falando isso. Você sabe, Ursula, ela é aquela sereia da história. Ok, irônico, eu sei. Ariel no livro, Ursula em Storybrooke. Mas é ela. Não é?

Eu estava num impasse. Não poderia responder nem que sim nem que não, porque ainda que eu dissesse que Ariel era outra pessoa, eu estaria admitindo que o que ela dizia era real.

— Eu juro que não estou entendendo nada.

Ela suspirou, impaciente. – Ok, então aqui vai minha última tentativa. Eu sei que a cidade está assim por conta dessa tal maldição que o livro menciona. – ela acreditava estarmos em um período de tempo imediatamente depois da maldição, o que realmente tinha nexo. – E sei que você sabe disso. Você, a prefeita, Ursula. Desconfio que outras pessoas também saibam. E eu vou consertar as coisas para as demais pessoas de Storybrooke, nem que eu tenha que passar por cima daquela prefeita. Está na hora de escolher entre o time dos mocinhos ou dos bandidos, Charming. Então aqui vai minha pergunta. Você está com ela ou comigo?

Eu já estava cansado de me esquivar dela, não conseguiria mesmo convencê-la de que estava louca. – Você está dizendo que está no time dos mocinhos?

Lilith riu. – Boa pergunta. Mas sim, eu creio que sim. Vamos descobrir assim que eu souber quem eu sou. Agora me responda você. Está disposto a me ajudar a desfazer a maldição ou vai ficar do lado da bruxa?

— Tenha uma boa tarde. – disse ao sair andando de volta pro meu local de trabalho.

— Você vai se arrepender disso, Nolan! Cedo ou tarde vai se arrepender disso! – ela gritou da rua, mas fingi não ouvir. Por sorte passou um carro buzinando pra ela e alguém gritou gostosa ou coisa assim da janela e ela estava ocupada demais gritando palavrões pro cara para ir me encher o saco novamente.

— O que era? – Chris me perguntou preocupado quando entrei.

— Ela é louca. – eu coloquei minhas mãos em seu rosto e o puxei pra perto do meu, dando um beijo que deixou ambos de nós sem ar.

(Regina)

Eu precisava conversar seriamente com David. O problema é que ele se enfurnou naquela delegacia com o namoradinho e não respondia minhas mensagens pedindo para me encontrar com ele. Em parte eu entendia. O trabalho era seu refúgio, onde se escondia dos problemas que viveu por muito tempo com a ex-mulher. Com o episódio entre ele e Leroy, David fora afastado do cargo de xerife e agora estava de volta já Emma não estava na cidade, então ele estava feliz de novo. Ele estava em seu lugar preferido e ainda por cima "trabalhando" com o estagiário que pediu aos céus.

Mas eu não podia negar a mim mesma, aquela nossa noite tinha significado algo pra mim. Ele fugia do assunto supondo que era o que eu queria, mas o que eu queria era na verdade ter sim uma conversa decente sobre aquilo que aconteceu entre nós. Fora que eu tinha que falar com ele sobre Tinker Bell estar "acordada". Não era o tipo de assunto que eu poderia chegar na delegacia e dizer, ainda mais com Chris por perto. Oi xerife, tudo bom? Então, eu ainda quero falar sobre aquela noite que a gente transou, e se você tiver um tempinho, também gostaria de falar sobre uma fada verde que tive de mandar internar pra não nos causar problemas. Você tem um minuto?, definitivamente não colava.

Nosso medo tinha se tornado realidade, o feitiço tinha começado a apresentar suas falhas. Talvez não seja "falha" a palavra certa. Talvez isso fosse um sinal da magia se rebelando contra aquele lugar onde foi tantas vezes usada em abuso. Sem pensar em consequências.

A magia vive por si só. É perigosa, instável e rebelde. Acho que estava nos mandando uma mensagem ao perder seus efeitos sobre Tinker Bell. Interná-la na ala psiquiátrica do hospital foi uma medida desesperada, mas necessária. Ela poderia dizer ou fazer coisas que acordassem outras pessoas do feitiço. E eu precisava de tempo até saber como controlar a situação.

Finalmente recebi uma resposta de David. Tudo bem, vou fechar a delegacia mais cedo hoje então. Vou inventar uma desculpa qualquer e dispenso o Chris. Lilith esteve aqui, ele disse.

Nós nos encontramos no The Rabbit Hole, um lugar cheio mas barulhento. Ninguém ia prestar atenção em nós. Eu ia só pedir algo pra beber, mas David insistiu em comprar alguns salgadinhos porque não tinha tomado café a tarde e estava com fome. Acabei comendo uns dois ou três, o que era péssimo pra minha dieta mas tudo bem.

— Então... o que você tem pra falar comigo? É sobre Lilith? Ursula? Porque como eu te disse na mensagem, também tenho o que te contar. Lilith foi lá hoje mais cedo e...

— Não David. Calma. Isso pode esperar. Nós vamos falar sobre isso mas antes temos um outro assunto pendente. – o interrompi.

— Regina eu não acho que...

— David, por favor. Nós precisamos ter essa conversa. – eu disse piscando os olhos lentamente, tentando esconder o modo como me sentia.

Ele aproximou sua cadeira da mesa. – Ok.

— É, ok. Então vamos por partes. Por onde começar? Hã... Você foi à minha casa e fez sexo comigo...

— Eu estava bêbado! Foi um erro!

— Jura? O que mais óbvio que isso você pode dizer? – ele abriu a boca pra se queixar, mas eu não permiti. - Por favor, não responda. Sim, foi um erro. Mas aconteceu. E temos que encarar isso. Como está lidando com isso? O que se passa na sua cabeça?

— Eu estava bêbado, Regina. Bêbado. Eu não estava pensando. Você sim estava pensando e nos permitiu fazer isso mesmo assim.

Eu tive que me segurar pra não enfiar minha mão na boca dele ali mesmo em frente a todas aquelas pessoas. – Ah, então a culpa é minha? Quer dizer que eu me aproveitei de você?

— NÃO! Não, não, não. Claro que não. Só estou dizendo que você poderia ter parado aquilo, mas não parou. Nós dois contribuímos igualmente pra que acontecesse. - Finalmente ele tinha dito uma verdade.

— E nós fizemos sexo sem proteção. – eu entrelacei os dedos das duas mãos sobre a mesa e esfreguei os lábios. – Temos que falar disso também.

— E-eu sou totalmente limpo. Você t-também. Não é? – ele gaguejou.

— Não é disso que estou falando, cabeça oca. Ah céus, como vou dizer isso? Você gozou David, e como você já é bem grandinho e devia saber, o esperma pode entrar pelo canal da vagina e engravidar uma mulher ainda que a ejaculação não tenha sido lá dentro. Eu era estéril por ter tomado uma poção há muito tempo atrás, mas consegui reverter isso pouco tempo atrás. Quando aquele coelho trouxe Elsa e os outros pra cá, ele me trouxe uma garrafa com água de uma fonte especial, guardada por uma criatura, Nyx. A água deveria me curar e sendo legítima, acho que curou. Não me pergunte o motivo dele ter me trago a água, ele disse só estar recebendo ordens da tal Nyx. A razão disso é algo que ainda tenho que descobrir. Eu não tinha pensado em nada disso antes, mas agora temos que nos preparar pra tudo. Fomos imprudentes.

— O quê? Não. Regina, isso não pode acontecer. Isso não vai acontecer.

— Está dizendo pra que eu aborte a criança caso eu esteja grávida? – eu sussurrei indignada.

— Nossa, para por um minuto de entender errado as coisas que digo, Regina. Claro que não, na verdade me ofende que possa pensar que sou babaca assim. Só quis dizer que do jeito que as coisas estão agora, tudo já é tão complicado, isso não deveria acontecer.

— Eu não acho que vá. – respondi e imediatamente ele soltou um suspiro de alívio. - Eu fiz um teste de farmácia ontem e deu negativo. Mas eu precisava ter certeza, então me submeti a um exame de sangue essa manhã. Dei meu jeitinho e Whale vai acelerar as coisas pra mim. Vou pegar o resultado com ele assim que eu sair daqui. Vai ser completamente sigiloso, seguro e em breve vou poder ligar pra você e te dizer que pode ficar oficialmente despreocupado.

— Tudo bem, Regina.

Ele já estava prestes a ter um colapso nervoso, mas eu tinha mais o que falar.

— Então isso não vai mais se repetir, não é? Eu e você. Foi só uma noite e nada mais, certo? – me senti fraca e careta perguntando isso, mas eu precisava saber.

— Certo. – ele continuou dizendo apenas o necessário.

— Então vamos deixar esse assunto de lado um pouco, temos mais o que falar. – David tomou um pouco de ar e passou a admirar o fundo do copo já vazio. – Tinker Bell não está mais sobre o meu feitiço.

— É. Eu sei. – o xerife afirmou coçando a cabeça preocupado.

— Você sabe?

— Sim. Chris estava na minha casa quando noticiaram na TV local que levaram ela pra psiquiatria. Eu ainda fiquei bravo porque ele estava mostrando pro Neal, afirmando ser a Tinker Bell dos contos de fadas.

— E ele não devia mesmo! – falei alto até demais, fazendo algumas pessoas nos olharem. – Você está certíssimo. – corrigi meu tom de voz. – Nós não sabemos como esse feitiço afeta cada pessoa, e Neal pode ser um dominó tanto como qualquer adulto, pronto pra derrubar todos outros dominós da cidade. Talvez ele possa fazer outras pessoas acreditarem se acreditar também. E essas pessoas vão acordar, diferente do Neal que não está sob efeito de feitiço algum. O próprio Chris pode ser convencido pelo seu filho se continuar com essas brincadeiras com ele e o menino acreditar, David.

— Sim, eu temi justamente isso. Eu não posso perder o Chris Regina. Não agora, eu não vou conseguir lidar com isso. – seus olhos se encheram de lágrimas. – Eu estou muito apaixonado. Poxa, depois de tanto tempo eu estou finalmente sorrindo de novo. Depois de tantas mentiras que já contei pra ele, não sei ele me perdoaria. Você não tem noção de quantas vezes eu quis contar pra ele que já nos conhecíamos há muito tempo. Mas não posso. Ele está me fazendo muito bem. Além de namorado, ele é meu melhor amigo.

— Então vocês agora estão namorando? – sorri surpresa. – Que bom, eu fico muito feliz por vocês, David. – eu honestamente estava feliz. Ele podia ter mexido um pouco comigo depois daquela noite, mas eu sabia que não podia confundir as coisas. David era um amigo, estava apaixonado por Chris e afinal de contas eu também ainda estava apaixonada por Robin. – E como foi, você pediu ele em namoro ou ele pediu você?

David sorriu. – Bom, eu pedi. Mas Neal praticamente nos forçou a isso primeiro. Foi bem... bonitinho. Mas enfim. É por essas e outras que temos que fazer o possível e o impossível para impedir que esse feitiço seja desfeito. Seja por Lily ou por qualquer outra pessoa.

Só então me lembrei de perguntar sobre o que tinha acontecido com eles na delegacia mais cedo e ele me contou tudo. Era complicado impedi-la porque as pessoas iriam eventualmente se perguntar de qualquer forma sobre coisas misteriosas, como foi no tempo em que Emma chegou à cidade. O tempo começou a correr de novo e as pessoas passaram a prestar mais atenção em detalhes. Como no tempo de Emma tinha acontecido com Graham e Mary Margaret (ela me contou, anos mais tarde) de terem conversado sobre como haviam se conhecido e não chegado a nenhuma conclusão, poderia acontecer de novo a outras pessoas se Lily tivesse alguma influência sob a magia dessa vez.

Emma me ligou enquanto conversávamos, o que deixou seu pai um pouco enciumado por ela não ter ligado pra ele primeiro. Ela estava a algumas horas de Storybrooke, chegando com Hook.

(David)

Eu tive que sair da delegacia mais cedo e encontrar Regina pra termos uma longa conversa. Regina disse umas coisas malucas sobre poções e gravidez, sobre o risco do feitiço na cidade acabar, dentre outras coisas que só me deixaram de cabeça quente. Emma ligou pra avisar que estava chegando, eu fiquei feliz por isso, mas também chateado por ela não ter ligado pra mim. Eu tinha tanta coisa pra desabafar com ela!

Saí do The Rabbit Hole com as mãos nos bolsos, caminhando pensativo pela calçada. Notei um papel no meu bolso que não podia ser uma nota pela espessura. Parecia mais um cartão. E era. Me deparei com o cartão com o telefone do Sr. Spencer, e me veio um flash à cabeça do dia que quase o atropelei e ele me assustou com a ideia de querer se aproximar de mim e do meu filho. Eu quis jogar fora ali mesmo, mas não consigo jogar lixo na rua e não havia nenhuma lixeira ali por perto. Então só o guardei no bolso para jogar fora em casa.

Estava chegando ao Grannys quando vi Ruby e August aos beijos do lado de fora, num cantinho escuro. Ruby estava apoiada contra a parede e August a envolvia com os braços. Eles se beijavam carinhosamente e apesar de estarem aos amassos na rua, não estavam nada vulgares. Pareciam um casal apaixonado. Fiquei feliz por Ruby. Eu não tinha tido a chance de me desculpar com ela por ter arruinado seu encontro com o rapaz no dia da minha briga com Leroy, apesar de ter pago pelos prejuízos à lanchonete. Era bom que ela finalmente tivesse conseguido se ajeitar com ele. Eu fui entrando devagar e tentei passar despercebido, porque não queria atrapalhar eles, mas Ruby me percebeu e deu uns tapinhas no braço de August pra que parasse de beijá-la. Então ela me cumprimentou vermelha de vergonha e August também cumprimentou com a cabeça. Granny deu uma olhada pela janela de cara feia, mas acabou também deixando a neta ter seu momento. A porta dizia fechado, mas Granny a deixava destrancada para que os hospedes do Granny's Bed and Breakfast pudessem entrar pela lanchonete mesmo depois do expediente. Eu entrei, subi as escadas e assim que entrei no apartamento me joguei na cama. O celular tocou Beatles imediatamente, era Emma.

Não pude deixar de demonstrar meu ciúmes de pai por ela ter ligado primeiro para Regina, mas ela me fez parecer idiota.

— Pai, mas você ainda estava no seu horário de trabalho, se não estivesse na delegacia estaria fazendo uma ronda, pra quê eu iria te incomodar? Estou ligando agora porque você está em casa.

— É, você tem um ponto. - Eu disse depois que tinha muitas coisas pra contar. Coisas boas, ruins, preocupantes, ou seja, uma infinidade de assuntos urgentes para atualizá-la e ela me pediu pra esperar que colocaria no viva-voz porque a ligação iria demorar e ela estava dirigindo.

— Pronto, pode falar.

Contei tudo, Spencer, meu namoro, Lilith, Regina. Óbvio que ela ficou preocupadíssima com o lance da Lily, mas o sexo com Regina foi o que lhe chamou mais atenção.

— Como assim pai!? Você e a Regina...? Caramba, eu não consigo processar essa informação.

— Também não é o fim do mundo, Emma.

Bloody hell parceiro. – murmurou Hook ao lado de Emma – Mas eu te entendo, sei dos males que o álcool pode fazer a um homem.

— Volte a dormir, Killian. – Emma disse e pensei ter ouvido o barulho de um soco ou uma cotovelada. Ele resmungou e provavelmente pegou no sono mesmo, porque ficou quieto. – Mas pai, - Emma continuou dirigindo-se a mim – eu só... é muito estranho porque eu nunca imaginei que vocês dois... Sei lá, não achava que a Regina tivesse interesse por você dessa forma.

— Ei! Pra sua informação, não sou um homem de se jogar fora viu? – Emma riu imediatamente.

— Não disse isso, é só que... talvez eu tivesse tido a impressão errada sobre Regina.

Achei toda aquela indignação muito estranha. - Emma, você está com ciúmes porque eu fiz sexo com ela?

— Não! David! Claro que não. Eu não sou lésbica, qual é. – pude ouvi-la acelerando o fusquinha.

— Ok, não estou insinuando nada, juro. Cuidado com as ultrapassagens.

— Relaxa pai, não vou me envolver em nenhum acidente. Mas me conta, como o Chris reagiu quando a Lily surpreendeu vocês dois?

— Ah, foi bem estranho pra todo mundo, ele ficou mega assustado mas a gente não falou isso. Também pudera, ela metia medo com o olhar.

— Sei bem como é. – Eu tinha certeza que Emma tinha revirado os olhos, pelo jeito que tinha falado. – Hmpf. Aquela garota sabe bem como fazer aqueles olhos bonitos parecerem os de uma leoa pronta pra atacar. Ou um dragão. Enfim, tanto faz.

— Isso foi a coisa mais gay que você já me disse. – eu falei instantaneamente. – Depois não reclame se eu pensar que você é lésbica ou coisa assim.

— David Nolan! Você está no viva-voz e meu namorado está bem ao meu l-a-d-o. – ela se mexeu no banco fazendo barulho. – Ok, ele tá dormindo agora. Mas dá pra você parar de ser inconveniente? – apesar de eu ouvir risos em sua voz, ela estava brava. – Ele pode acordar a qualquer instante e eu vou ficar super desconfortável se ele ouve essa sua conversa estranha.

— Tá bem, calma. Não está mais aqui quem falou. Só me fala uma coisa, de verdade, você tem certeza que não se incomodou particularmente com o fato de eu ter transado com sua chefe?

— Dã, claro que tenho.

Tentamos falar outras coisas, mas a ligação foi ficando ruim até cair, afinal, ela estava na rodovia.

Então apareceram sete chamadas perdidas do Chris no meu celular. Eu fiquei tão distraído conversando com Emma que nem percebi que tinha outra pessoa me ligando. Eu estava prestes a retornar quando ele me ligou de novo.

— Ei gatinho. – tínhamos inventado de nos colocar apelidos cafonas para namorados e gatinho foi o menos cafona e que mais gostei pra ele.

— Com quem você tanto estava falando? – ele perguntou intrigado. – Só dava ocupado.

— Com a Emma.

— Ah, certo. – ele bufou. – Sua filha.

Eu comecei a rir achando aquilo muito fofo. – Christopher. Você está com ciúmes?

— Claro que não! – ele disse sem passar nenhuma confiança.

— Hahaha, ok, não está não. Desculpe. Por que está ligando?

Ele demorou alguns segundos pra responder, provavelmente recompondo-se do seu ataque de ciúmes. – Queria ver você. Fazer algo diferente hoje, que não envolva ficar em casa assistindo televisão.

— Ah. – respondi sem qualquer ânimo. – Tipo sair pra comer alguma coisa? Poxa, eu tô tão cheio...

— Não. Não necessariamente. Pensei em algo diferente mesmo, tipo ir caminhar na praia.

— Agora à noite?

— Claro, por que não? É até melhor, vamos estar sozinhos lá.

Eu realmente não queria ir. O papo com Regina sobre gravidez tinha me deixado preocupado e de baixo astral. Não queria sair de casa com aquilo na cabeça. Só ia me sentir mais culpado perto dele.

— Não sou muito fã de praia. A água é tão nojenta. – mas eu estava falando sério, realmente não gostava.

— Não precisamos entrar na água, cabeção. Eu disse, só caminhar. Por favor.

Pior que o por favor dele tinha soado tão doce que era difícil recusar. Tentei então desviar o assunto. – Credo, não me chama de cabeção. Você tava mais fofo hoje mais cedo com os apelidinhos cafonas. Não prefere me chamar de mozão no lugar disso não?

Ele riu. Eu adorava o som da risada dele, sempre acaba sorrindo.

— Você topa ou não?

— Ai Chris. Tudo bem. Vou calçar um tênis e te pego em casa, seu chato. – reclamei.

— Não precisa. Eu já estou aqui.

— Você já está na praia? – eu apoiei o celular com o ombro e tirei minhas calças pra não sujá-las na areia e coloquei uma bermuda. Em seguida enfiei um par de tênis nos pés.

— Estou. Não demora. – e ele desligou.

Não sabia o que Chris pretendia com isso, mas eu estava com medo de estragar tudo com meu ânimo lá em baixo. Mas não podia deixá-lo esperando. Peguei o carro e logo cheguei à praia. De longe vi ele sentado na areia olhando pro mar. Eu parei do carro e assim que desci ele levantou e veio andando na minha direção sorrindo.

— Oi. – eu disse enfiando as chaves no bolso.

— Cuidado! – ele parou de sorrir e me empurrou. – Você vai pisar!

— Pisar no quê? – assim que as palavras saíram da minha boca eu olhei pro chão e vi uma infinidade de desenhos e frases que ele tinha feito na areia. – Uau, o que é isso aqui? Espera, são dois olhos.

— São seus olhos. Eu gosto dos seus olhos. – ele disse me encarando.

— Obrigado. – respondi acanhado. – David dentro de um coração. Que fofo. Um Eu te amo aqui, outro lá. Ah Chris, seu bobão. Eu também te amo. – eu espremi meu namorado num abraço bem forte.

— Aqui tem nossos nomes com um +, mas isso você não precisa ver, vem. – Chris foi me puxando pelo braço. – Eu escrevi primeiro David + Chris e depois Chris + David porque a ordem não altera os elementos. É isso mesmo que fala? É né? – Eu nem respondi porque estava ocupado demais vendo desenhos de casinhas e cachorros – Ah não, isso não é pra você David, esquece esses desenhos aí, eu que tava muito entediado. Aqui, olha esse aqui.

Então me deparei com dos mais legais. – Dois caras dando as mãos para uma criança. Deixe-me ver, estes são nós dois e o Neal?

— Claro que sim. – ele respondeu como se seus bonecos de palitinhos fossem anatomicamente perfeitos e não deixassem dúvidas.

— E nesse outro? – eu disse mostrando outro desenho com dois caras e uma criança ali perto. - O que é isso na mão do Neal? Um dado?

— Ah,não, não é. Isso é um cubo.

— Mas por que um cubo?

— Porque eu não sei desenhar um picolé, então desenhei um cubo de gelo. Eu gosto de chupar cubo de gelo, você já experimentou?

— Hã... não, e não pretendo. - Então eu vi o último desenho. – Um Papai Noel voando no trenó?

— Não qualquer Papai Noel – ele sorriu orgulhoso – é você vestido de Papai Noel.

— E o que o cachorro tem a ver com isso?

— David! Por favor né, isso é uma rena! Cachorro não tem chifres!

Eu ri sozinho. – Então o que diferencia cachorros de renas é que renas tem chifres?

— Basicamente. – ele respondeu apagando o desenho com o pé. – Eu domesticaria uma rena como se cachorro fosse.

— Eu sei disso. É sua cara. – eu falei passando o braço por trás de suas costas. Nisso meu celular vibrou. Eu peguei e tinha uma mensagem de Regina. Negativo, David. Pode comemorar.

— O que é?

— Meus créditos venceram. – eu ri como se não houvesse amanhã. De repente todo meu pesar foi embora. – Chris, eu te amo demais. Obrigado por tudo isso. Obrigado por ser tão você. Obrigado por mudar minha vida. – eu fui agradecendo por tudo que vinha à mente e então avancei pra cima dele com beijos até cairmos na areia.

— Au! – ele reclamou quando caiu.

— Você machucou? – eu ria, mas estava preocupado.

— Machuquei, mas vou sarar com outro beijo.

Eu fiquei rindo da cara dele, só me levantei e estendi minha mão pra ele se levantar também. Assim que Chis se levantou ele tirou a camisa.

— O que está fazendo? – perguntei.

— Você não precisa nadar se não quiser. Mas eu quero, oras. – ele percebeu que eu estava olhando o corpo dele. – Para com isso, David, estou com vergonha. Eu tenho barriguinha.

— Barriguinha? Nossa, tem é um barrigão, olha isso, quanta gordura! – respondi irônico e fui pra cima dele de novo, apertando sua barriga. – Fala sério Chris, você foi feito sob medida pra mim. Você é todo lindo, de cima embaixo.

De repente estávamos os dois quase roxos de vergonha.

— Bom, eu vou nadar. – ele disse dando as costas e caminhando na direção da água. Eu sentei ali e fiquei o vendo afundar aos poucos. Então ele emergia da água como um deus, fazia suas gracinhas e mergulhava de novo. Depois de alguns minutos ele saiu e veio andando, mas antes de chegar até mim parou e virou pro mar de novo. – Olha isso, David, que lindo. Tem certeza que não quer se molhar um pouco?

— É. – murmurei vendo suas costas molhadas. As gotas escorriam lentamente até certa altura e depois despencavam, entrando na sua bermuda, agora ensopada. Estava mais colada ao seu corpo e eu podia ver um pouco do formato do seu bumbum. – Lindo mesmo. Esse mar.

Ele se virou pra mim sorrindo – Vem! – e me puxou pela mão, me levantando.

— Não Chris. Estou com o celular no bolso, chave do carro... Fica pra outra oportunidade. – eu coloquei minhas mãos sobre seus braços nus. Não resisti a percorrê-las pelo corpo molhado dele. Olhamos sérios um pro outro e no próximo segundo nossas línguas estavam juntas. Minhas mãos subiam e desciam gradualmente por suas costas e mesmo ele começou a tocar minhas costas por baixo da minha camiseta. Eu sabia que não ia rolar ali, mas eu estava excitado. Tinha certeza que ele também.

— Eu te amo. – disse quando paramos pra pegar um pouco de ar.

— Eu também te amo. – ele me disse com palavras e com os olhos.

Notei as pernas dele, ambas por natureza já um pouco grossas, como as minhas. Seus pelos, evidenciados pela água, também me deixaram encantado. Passei a minha mão pela sua nuca, agarrando seus cabelos molhados. – E você é uma delícia. – julguei necessário dizer.

Ele virou o rosto, rindo extremamente acanhado. – Você já se olhou no espelho?

Eu puxei ele pra mim, dessa vez caindo com ele de propósito, mas com ele por cima pra não se machucar. A gente saiu rolando na areia e eu aproveitei pra agarrar todo seu corpo molhado. Passei as mãos em suas pernas, naquela bunda, tudo.

Depois ele inventou de me tacar areia porque eu estava sendo ranzinza de reclamar que minha roupa estava suja. Tive que ficar bravo pra ele parar porque já estava entrando no meu olho. Ele ficou bastante envergonhado e triste, senti até pena.

— Não quer lavar na água? – ele insistiu. - Deixa as coisas que não podem molhar aqui na areia.

— É salgada, seu lerdo. Arderia muito mais. E eca. – respondi coçando os olhos. – Aquela água cheia de micróbios e bactérias, lixo, urina e sabe-se lá mais o quê?

— Você tá parecendo um velho reclamão. Nem parece que já ingeriu um monte dessa água me beijando.

Ele estava certo. E eu estava pronto para ingerir mais. Me aproximei dele e beijei seus lábios vagarosamente. Eu mordi seu lábio inferior e o puxei de leve, soltando-o.

Christopher estava sendo uma aventura. Não no sentido de não ser sério e faltar amor, mas no sentido de me fazer sentir como num parque de diversões o tempo todo. Só que nos parques sempre tem a hora em que a diversão acaba. Isso não poderia jamais acontecer com ele, ou eu não saberia como viver de novo e provavelmente entraria em depressão.


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