Apesar da distância, pude notar alguma coisa ali. 

Mas já? Poxa, nem consegui roubar um beijo do Legolas... Okay, eu parei. Não sou puta nem nada, mas eu estou caidinha por ele, e admito isso. Por que convenhamos, Legolas é tão quente quanto Apolo (pelo menos ao meu ver). 

Por outro lado, nunca fiquei tão animada para tomar um banho de ducha. Não que eu esteja com tanta saudade assim do meu universo, mas é que... Bem, para começo de conversa, o que eu tenho aqui, além de amigos? Nada me prende aqui: não encontrei nenhum cara em que fiquei perdidamente apaixonada(Legolas, até onde eu saiba, é amor platônico), não criei laços fortes o suficiente para me fazer largar o resto de família que tenho. E mesmo se ficasse, onde eu moraria? Condado obviamente não, os hobbits por lá estranhariam; não ficaria com os anões, por motivos particulares (as anãs tem barbas, nunca que me encaixaria nisso); impossível seria conviver no mesmo castelo que Thranduil, uma vez que ele não me suporta e o sentimento é recíproco. Sei que tem outros reinos élficos, mas não. Eu acho que realmente vou voltar ao meu universo. Apesar disso, nunca vou esquecer das minhas aventuras aqui. 

Depois de convencer eles que eu estou bem, que as minhas costas só estão doloridas e tal, Tauriel ainda levantou minha camisa para ver minhas costas. Mas estão intactas. Após reações e caretas engraçadas por parte da elfa, que não entendeu como eu não tinha nem sequer um arranhão nas costas, Gandalf apareceu. Na boa, ele faz cada entrada triunfal que vou te contar hein... Ele olhou para onde o portal era suposto a estar, e lá estava o vórtex(apesar de pouco visível). O mago me encarou como se dissesse "Eu os distraio enquanto você vai. Não se preocupe, eu explico a eles depois." e eu agradeci a ele mentalmente. Nem sequer me despedi deles direito. Mas quando eu ia dar uma de ninja e sair, senti uma mão no meu ombro. Me virei, e era Legolas. 

... Eu perdi alguma coisa? 

—Onde está indo? - ele perguntou. Estamos próximos de uma árvore, Gandalf atraindo os outros para o lado oposto a nós dois. 

—De volta para o meu universo. Por quê? 

—Então, você já vai? Para sempre..? - impressão minha ou ele... está triste? 

—Não. provavelmente voltarei, mais para o futuro. Não posso ficar aqui. Tenho minha tia, escola, deveres. E... - eu já ia falar que nada me prende aqui, mas por algum motivo deixei a frase incompleta. 

—E..? - ele me incentivou a continuar 

Gandalf, seu grande mago idiota, cadê tu? 

—E não tenho nada ou ninguém que me prenda aqui. 

—Tem a profecia. 

—Não significa que eu esteja presente para o resto de minha vida. No meu universo, sou totalmente diferente. Sou uma mera humana, uma idiota que fica sozinha em casa, comendo doces e lendo livros, na companhia apenas de um gato. Apesar do que eu sinto, preciso voltar. 

—Pessoas precisam de você. A profecia diz, "uma elfa e um tigre salvarão a Terra Média". - ele disse, deforma suplicante - Ainda não me salvou... - ele murmurou baixinho 

Ok, chega. Essa é a prova de que eu estou delirando. Quando que Legolas Greenleaf admitiria isso? Pode até ter murmurado, mas admitiu. PARA O MUNDO PRA EU DESCER, ESTOU PAS-SA-DA. Acho que estou sonhando... É isso! A resposta mais sensata para tudo isso, é que eu estou sonhando... Pensando bem, se isso for um sonho, não me acorde nunca mais. Me deixa em coma mesmo. 

— A Terra Média pode me esperar. Sei disso. Acredite em mim, eu vou voltar. No momento mais inoportuno, talvez, mas vou voltar. - prometi 

"Diz que precisa ser salvo, mas a sua salvadora está mais perdida do que cego em tiroteio.", pensei. O elfo me encarou de forma curiosa. Opa, acho que eu mais murmurei isso do que pensei. Corei, voltando a atenção para o chão... Oh, que lindo, uma borboleta no meu pé... Ok, foco, Naomi! Procurei Leeroy, e o encontrei perto do vórtex, balançando a cauda impacientemente. 

— Tchau, Legolas. Até algum dia... - me despedi 

— Tchau... 

Andei até o portal, com os pensamentos nas nuvens. Ele... Gosta de mim? Bem, acho que não. Ou sim... Arg. Mas como descobrir, agora que eu já estou indo embora? Acho que só uma pessoa demente gostaria de mim. Ok, eu descubro isso depois, quando eu voltar... Puxo Leeroy comigo, entrando no portal em seguida. Mas o vórtex sumiu. Tive que conjurar o portal da mesma forma que fiz em Hogwarts, e voalá. Senti a sensação de estar sendo desmontada e montada novamente, quando entrei novamente no portal. 

Logo apareço n'A Toca. E então eu me lembrei: deveria ter marcado o tempo que passei lá. Puta merda. Olho no celular (graças a Mérlin que eu pensei em enfeitiçar a bateria!), e... Espera, já passou um dia inteiro que estou aqui? Quero dizer, nem um dia inteiro se passou. Olhei para a janela, mas tudo que eu vejo é um por do sol lindo, por trás das árvores. Estranhando, saio d'A Toca, sendo seguida por Leeroy já na forma de gato. Ele pulou na mochila, e eu reprimi um riso. Observei a rua, vazia, e o por do sol... Da última vez que eu sai... Era por do sol também! Será que isso tem alguma coisa a ver? 

Ignorando esse fato, me lembrei que ainda estou com o colete e a blusa que peguei n'A Toca. Revirei os olhos, lembrando de que terei que lavar de uma forma ou outra. Afinal, está manchada com um pouco de sangue de orc, e um pouco rasgada na manga. Mas na hora que a flecha orc tinha acertado meu ombro, eu lembro de ter rasgado um bom pedaço para cuidar da ferida. E agora? Bem, o rasgo que foi feito parece menor, muuito menor (na hora que eu cortei, mais um pouco e a manga inteira ia cair!). Estranhei isso. É claro, quem não estranharia? 

Abri a porta de casa, pensando apenas em uma ducha. Leeroy saltou da mochila e foi para algum canto da casa. Eu fui até o meu quarto, taquei a mochila perto da cama e fui direto para o banheiro. Tudo o que eu quero agora é relaxar... Mas amanhã eu vou voltar para outro universo, obviamente. É apenas uma questão de tempo, para que eu relaxe um pouco...  

Saindo do banho, me senti mais limpa do que nunca. Vesti um pijama qualquer e fui para a cozinha. Apesar de estar com pouca fome (lembas ainda agindo...), fiz um sanduíche natural e procurei suco de uva na geladeira. Melhor refeição ever. Voltei para o meu quarto, e fiquei lendo O Resgate do  Tigre (continuação de A Maldição do Tigre). Acabei adormecendo lá pelo oitavo capítulo. 

Tinha que ser um sonho tão nostálgico? Bom, pelo menos a época que minha mãe estava comigo é muito nostálgico para mim. Sonhei com um piquenique que ela fez para mim no meu aniversário de cinco anos. sanduíches naturais, suco de maçã (um dos meus sucos favoritos), torta de limão(uma das poucas coisas que sei fazer na cozinha), uma vasilha cheia de morangos, entre outras comidas que estavam em cima de uma toalha. Ela me ofereceu um sanduíche natural que eu peguei, e serviu os copos descartáveis com o suco. Quando estava lá pelo final do piquenique, estávamos as duas brincando pelo gramado, até que ela para perto de uma árvore e me mostra um ninho de pássaros. Ela ainda me ergueu para ver a mãe cuidando dos filhotinhos, mas o que tinha ali não era pássaros ou ovos. Parecia mais um dragão em miniatura, e embaixo dele, um colar. Colar esse idêntico ao que eu ganhei na encomenda. Mamãe me desceu para o seu colo, e então eu notei que havia um colar idêntico ao meu no pescoço dela, só que a pedra era rosa antigo, bem escuro. 

Acordei com um barulho perto da minha janela. Me levantei cuidadosamente, receosa com o que poderia ser, e encontrei Leeroy no batente.  

—Idiota. - sibilei para o gato. Ele apenas continuou ali, encarando o gramado do quintal de trás da casa. 

"Olha!" e indicou com a patinha (que fofo) alguma coisa se remexendo perto das flores. Olhei fixamente para o lugar, e então um borrão branco e rápido entrou em casa. 

Arregalei os olhos, e peguei a adaga élfica da mochila, seguindo bem devagar para o andar de baixo. A casa é um tanto pequena, por isso tem dois andares, para poupar o que não temos de terreno, em altura. No térreo fica a sala, a cozinha, e uma área (pequena) de serviço. E em cima fica o meu quarto e o da minha tia, cada um com seu próprio banheiro. Ouvi o barulho de algo caindo, e identifiquei como um cesto de roupa suja (putz, eu fiquei de lavar as roupas essa semana!). Arrumei a adaga na minha mão, indo até a área de serviço. Entrei no lugar, e só encontrei o cesto de roupa caído e um monte de roupa suja no chão. Me aproximei do monte, e remexi um pouco no empilhado de roupa. Nada. 

Bem, eu pensava que não era nada, mas aí alguma coisa se remexeu ali no meio. Pensei por um instante ser algum rato. Rezando para que não fosse algum roedor, senti alguma coisa no meu calcanhar. 

—Ai! - olhei para baixo procurando o infeliz que me picou ou sei lá. Mas não encontrei nada. Me voltei para o monte de roupa - Que não tenha nenhum roedor, que não tenha nenhum roedor.... - murmurei, rezando. 

Mais algum tempo remexendo a pilha, não encontrei nada além de uma agulha. Mas espera, não é uma agulha... Parece mais uma espada tamanho Polly. O que Hades isso faz aqui? 

—Corre! - uma voz baixa e aguda soou pela casa. Alguma coisa se mexeu debaixo de uma camisa de botões, e então essa coisa foi direto para a sala, onde fica a porta de entrada. 

Segui o vulto esbranquiçado. Quando cheguei na porta de entrada, tinha um ratinho se dependurando na maçaneta, quase abrindo a porta, e um coelho... Espera, o coelho está de paletó? 

—Erramos a casa. Erramos a Naomi. Não acredito, a rainha vai ficar desapontada... - o ratinho disse 

—Espera, rainha? Naomi? Do que está falando? E com quem está falando? 

—Viu? Ela nem sabe do que estamos falando! 

—Se bem que, a rainha disse que ela não entenderia nada... - espera, o coelho fala? 

—QUEM SÃO VOCÊS, O QUE FAZEM NA MINHA CASA E QUEM É ESSA RAINHA DE QUE TANTO FALAM??? - eu explodi 

—Corre! - e de novo ninguém responde... 

—Estamos atrasados para a festa do chá...  

Eles saíram correndo assim que a porta abriu. O ratinho pulou em meu braço e pegou a espada tamanho Polly, correndo para fora de casa. 

—Eu estou pirando, só pode... - disse comigo mesma, correndo atrás do coelho e sendo seguida por Leeroy. 

Fechei a casa de qualquer jeito, correndo atrás do coelho. Mas o perdi de vista.  

—Droga!!! - bufei 

"Eu também vi. Vou atrás deles, tentarei farejar. Fica, você precisa descansar. E também precisa lavar roupa..." 

—Ah, cala boca Leeroy. 

Entrei novamente em casa, enquanto Leeroy foi farejar o coelho. Fui para a área de serviçoarrumar as coisas e lavar as roupas logo. A parte boa é que essa semana vai ser só eu aqui em casa, ou seja, roupa suja reduzida. Bem, pelo menos é o obvio... Recolhi a minha roupa suja da viagem, e vi que tinha menos sangue do que achei que teria... Tive que lavar manualmente, por causa do sangue. Mas ainda acho que tinha muito mais do que tem agora. Quero dizer, eu perdi a conta depois do 24º orc que matei. Sem contar que eu caí de muito alto quando o Smaug resolveu finalmente morrer. 

Me arrepiei com o pensamento. Eu matei Smaug... No fim das contas, muitos anões (que no livro e no filmemorrem) continuam vivos... Será que isso não muda o rumo da história seguinte? O Senhor dos Anéis... A Comitiva talvez mude, não? Talvez não seja Gimli a ajudar Frodo... Talvez Bilbo nem passe o Um Anel a Frodo... E eu não lembro de ter visto Thorin no fim. Ele morre no livro, mas e agora? Será que eu estou mudando a história? 

O TABLET!!! Não estava escrito se eu devia intervir ou não na história. Estava escrito uma profecia. E ao contrário das letras que pareciam digitadas anteriormente, a profecia estava escrita numa letra cursiva, como se alguém tivesse escrito com tinta roxa... Sim, tinta roxa. O aviso de interferir ou não tinha vindo em letras de fôrma, e ainda por cima em preto e branco, com um fundo amarelado (como se tivesse delineado com marca-texto). E ainda: estava escrito, abaixo da profecia e ainda com a mesma letra, "Siga o seu coração, o seu destino. Não está presa a esse mundo, mas também não está presa aos outros mundos." Asssinatura? Tinha um H cursivo. Mais nada. Me lembro de ter tirado uma foto do tablet com o meu celular, minutos antes de dormir. Foi justamente quando saí da prisão élfica pela primeira vez.  

Voltei a atenção às roupas que lavava. Terminei rápido, e então eu pendurei ali dentro, na área de serviço mesmo. Apesar do lugar ser quase do mesmo tamanho da cozinha, até que coube. A casa não é tão pequena. A sala ocupa apenas um terço do térreo, assim como a cozinha e a área de serviço. O meu quarto é quase do mesmo tamanho da sala, só que aí entra a cama, armários e tal... O da minha tia ainda é um pouco maior, pois antigamente minha mãe dividia o quarto junto com ela. E ainda tem uma pequena varanda, de onde dá para ver o quintal dos fundos. Nada demais. 

Terminado de lavar as roupas, eu fui para a cozinha comer algo. Apenas peguei uma barra de chocolate que estava pela metade e voltei para o meu quarto. Mas não consegui esquecer o ocorrido dessa manhã. Eu acho que estou enlouquecendo.