The Bastard Heir escrita por Soo Na Rae, Lady Ravena


Capítulo 33
Capítulo 28 - Ouro no Templo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Capítulo – Ouro no Templo

“A infância é como a água que desce da bica e nunca mais sobe” – Camilo C. Branco

Of Monsters and Men – From Finner

Serafina não estava sofrendo. Nem por sua família, nem por Conrad. Tudo bem, fora pega desprevenida naquele momento, porém as coisas passam e ela aprendeu a ignorar seu coração. Era fácil depois de um tempo. Deixar que as coisas supérfluas parassem de incomodá-la. Agora tinha de se focar no que viera fazer, em seu objetivo. A guerra ainda estava acontecendo nas terras dinamarquesas e ela precisava da ajuda dos nobres. Conversara com o primeiro-ministro assim que pôde, após tratar seus ferimentos e passar alguns dias sendo cuidada por criadas estabanadas. O homem que comandava o país no lugar de Vossa Graça lhe disse que teria de conversar com o conselho de ministros antes de tomar a decisão de ajudar ou não a Dinamarca. É claro que ele levaria em consideração a aliança de casamento e a traição de Conrad para com a sua palavra. Não se rompe uma aliança deste modo, como bem entender. Ela tinha consciência disto.

Depois, teve com os reis gregos, os quais não tinham filhos para que ela se casasse, nem um exército para ganhar a guerra, por isso Serafina desistiu logo deles. Tentou o rei da Inglaterra, porém ele era grosso demais, demonstrava visivelmente que não queria papo com uma princesa de cabelos ralos e hematomas por todo o corpo. Ele provavelmente nem saberia quem ela era. Teve com a Rainha da Inglaterra, mas ela também não se mostrou benevolente, estava preocupada com a descoberta de uma gravidez que possivelmente lhe daria um herdeiro. Restavam dois reis. O rei de Aragão e o rei da França. Espanha não tinha um exército, mas tinha a frota de navios. E a França tinha um exército, mas tinha também Orlando, cuja cara era simplesmente insuportável. Serafina notou que ambos os reinos tinham herdeiros solteiros. Poderia se casar com Eduardo e conseguir uma pequena porção de homens. Poderia se casar com Orlando e conseguir um exército e a França. Mas definitivamente não se casaria com Orlando.

Então tinha de se decidir. Abrir mão de uma possível vida feliz e conseguir homens suficiente para deter a guerra, ou preservar seu amor e ter alguns homens para ajudar seu pai. A opção correta era óbvia, mas Serafina voltava sempre a pensar nela. Não, simplesmente não. Então enviou uma criada para chamar Orlando e teve com ele na saleta ao lado de seu quarto, onde havia uma mesa pequena, com duas cadeiras estofadas, um bule de chá e as xícaras. As criadas perguntaram se precisava de mais alguma coisa.

– Eu chamarei caso ele tente me agarrar. No momento, não. – Serafina as dispensou e voltou os ombros para Orlando, que ostentava um sorriso grande, o cabelo desarrumado e olheiras profundas. Ela tinha completa noção de sua aparência. Era humilhante. Sentia a nuca nua, sentia-se exposta.

– Esse penteado poderia se tornar moda. Caso for para a Inglaterra, tenho certeza que se tornará, os ingleses adoram lançar moda. – o príncipe comentou, bebericando o chá e fazendo uma careta em seguida. – Isso é horrível.

– É camomila.

– Eu detesto camomila. – ele encarou a xícara, como se fosse uma possível ameaça. Então a colocou na mesa e se inclinou para frente – Por que me chamou aqui, Finn, será que quer me dizer algo importante ou apenas sentiu falta da minha companhia?

– Para você é Princesa Serafina da Dinamarca, e não se esqueça que foi seu pai quem rompeu a aliança por estar sem ouro suficiente para meu dote.

– Ah, claro, você gosta de me dizer isto porque faz-te sentir superior. – ele a encarou e sorriu sarcasticamente – Então, Finn, o que foi que a fez me chamar? Com certeza não foi seu coração tristonho querendo ser consolado, afinal você acabou de perder um grande amor, não? – e então ele riu.

Serafina cerrou os punhos firmemente, mas manteve a expressão neutra. Bebeu seu chá em silêncio e pousou a xícara na mesa sem fazer ruído. Ajeitou uma madeixa ruiva para trás da orelha e então respirou fundo.

– Seu reino teria o ouro suficiente para o dote?

– Como? – Orlando ergueu as sobrancelhas grossas, seu rosto se tornando vermelho a medida que o sangue fluía mais rapidamente pelas veias. – Dote? Você diz, para uma aliança?

– Para um casamento. Não tenho tempo para alianças. – ela o encarou com tanta força que poderia ter arrancado a alma do príncipe, porém Orlando sentia apenas um misto de surpresa e pânico. Nenhuma garota nunca o colocou contra a parede desta forma, com um rosto tão sério e inexpressivo. – Eu preciso urgentemente que mande uma carta a seu pai.

– As alianças não acontecem assim, é preciso discutir com os conselheiros e meu pai mudou um pouco de ideia sobre a Dinamarca e a península escandinava... Você sabe, a França não precisa mais de uma aliança com o Norte.

– Mas o Norte precisa. – Serafina inclinou-se para frente, quase perdendo a compostura. Orlando notou como seu peito subia e descia e como ela torcia o tecido do vestido, agarrando-o com todas as forças, até os nós dos dedos ficarem brancos. Ela estava bonita mesmo sem os longos cabelos ruivos, ou a pele branca e lisa. Estava bonita daquele jeito, meio controlado, meio desesperado. Ela era bonita naturalmente. – A guerra quase matou a todos nós, foi sorte sobreviver até chegar a Overath.

– Serafina, eu não posso...

– Por favor – ela o interrompeu – ao menos pense nisto. Caso não for possível, terei de clamar para Aragão, mas eles não têm o suficiente para ajudar meu pai.

– Aragão? – Orlando ergueu uma sobrancelha e estendeu uma mão sobre a mesa – Vou ver o que posso fazer, Finn. Mas não vá ter com Aragão até que eu saiba a resposta de meu pai. – ela apertou sua mão, abrindo um pequeno sorriso aliviado.

Orlando não sabia se aquilo estava certo. Sabia sobre a guerra que durava anos no Norte, porém a França não tinha nada a ver com isto. Desde a perda de Napoles, sua atenção tinha se voltado para o Sul, para Aragão, a Inglaterra e Overath. Seu pai não poderia concordar em casá-lo com uma princesa escandinava, sabendo que poderia conseguir a mão da princesa de Overath ou de Hessen.

Quando saiu dos aposentos de Serafina, olhou para trás uma vez, antes da porta se fechar. Ela estava com a cabeça inclina, as mãos sobre o colo, ainda com os punhos fortemente fechados. Lágrimas escorriam pelas bochechas, e ela preservava o silêncio, como em um quadro pintado a óleo. Orlando pensou em como deveria ser difícil para ela, enfrentar tantos perigos na estrada, quase perder sua honra, descobrir que seu prometido a havia trocado por outra e ainda por cima está morto e que é preciso escolher entre dois príncipes dos quais não gostaria de se casar e eles idem. Serafina não é feia, ela tem cabelos ruivos e pele pálida, sinal de grande nobreza, porém a crise em seu reino afeta todas as relações que poderia ter com os demais reinados.

Mas ele também tinha um reino e era o príncipe herdeiro. Tinha de saber muito bem como tratar assuntos como aquele, sem levar em consideração compaixão ou pena. Aliás, ele nem mesmo tinha de sentir compaixão ou pena por ninguém além de si mesmo, era isso que um rei fazia.

Passou em frente a Biblioteca antes de subir as escadas que levavam a torre da Princesa Hannelore. Pensou que seria melhor chamar um criado a avisá-la antes de aparecer por lá, mas Orlando nunca foi muito educado neste sentido. Não era ele quem ia falar com os outros, as pessoas é que vinham falar com ele. Chegou em frente à porta do quarto e bateu duas vezes. Esperou pacientemente até que uma ama viesse abrir. Era dama Edith, aparentemente surpresa. Estava pálida, não pálida como Serafina, mas pálida como alguém que viu um fantasma perambulando seu quintal. Os cabelos louros ainda não foram penteados, o vestido fora mal colocado e os pés estavam descalços. Orlando ergueu as sobrancelhas.

– O que quer? – ela perguntou, indelicadamente.

– “O que o senhor gostaria, Vossa Graça”, é melhor. – ele piscou. – Gostaria de falar com a senhorita princesa Hannelore.

– Ela não pode no momento – Edith fechou a porta rapidamente. Orlando sentiu a fúria rugir em suas veias. Ninguém fechava a porta na cara do príncipe da França! Bateu novamente, com mais força. Ninguém veio atendê-lo em um minuto. Então voltou a bater. E de novo. Até sua paciência se esgotar. Princesa ou não, mulher ou não, ninguém fazia aquilo com o herdeiro do trono francês! Abriu a porta com brutalidade, o rosto vermelho.

Ambas as meninas estavam sentadas na cama, Edith dando ordens a uma criada, Hannelore abraçando um travesseiro, soluçando. Piscou atônito. O que estava acontecendo? Observou-as antes que o rosto da dama se voltasse em sua direção e a criada passasse correndo para as escadas. Ele percebeu que talvez não fosse a melhor coisa entrar no quarto de uma princesa sem ser convidado.

– O que você quer? – Edith rugiu, entrando em frente a Hannelore, escondendo a garota de seus olhos. Orlando engoliu em seco.

– Por que está chorando?

– Uma de nossas amigas não apareceu desde o baile. – Edith explicou. – Estamos procurando por ela.

– Eu... Poderia ajudar?

– Não. – Edith se levantou – Você ajudaria muito se fosse embora e cuidasse de sua vida.

– Mas preciso falar com a princesa.

– Ela não precisa falar com você. Saia, agora. – ela o empurrou em direção a porta. Nunca vira uma senhora tão enraivecida quanto aquela. Não estava gritando como um homem faria, não estava socando-lhe, como um homem faria. Ela nem mesmo espumava pela boca, como um homem faria. Quando chegou na porta, ela fechou-a com força. Ótimo. Orlando não poderia contar com a princesa.

Desceu as escadas e passou novamente em frente a Biblioteca, bateu algumas vezes na porta da sala de reuniões e ela se abriu. O primeiro-ministro olhou-o de cima a baixo e sorriu amigavelmente. Havia profundas olheiras em seu rosto e ele parecia extremamente cansado. Havia uma marca arroxeada em seu pescoço.

Orlando a identificou sem a menor sombra de dúvidas e tentou evitar uma risada. Alguém havia aproveitado bem o baile.

– Posso falar com o senhor a sós?

– É claro – o homem lhe deu passagem. Orlando adentrou a sala e sentou-se na poltrona em frente a mesa. O primeiro-ministro sentou-se atrás da mesa e olhou para ele, esperando que dissesse. – O principe da França gostaria de tratar algum assunto com Overath?

– Gostaria de perguntar sobre os laços entre Overath e a Dinamarca. A aliança de casamento, e a validade dela.

– Claro. Overath manteve suas ligações com os Oldemburgo até meados do ano passado, quando a guerra civil explodiu qualquer vínculo entre a Dinamarca e resto do continente. A aliança de casamento foi rompida por meio de uma carta enviada ao Papa e outra para a Dinamarca, quando o príncipe decidiu se casar, anulando qualquer forma de matrimônio com outra além de sua noiva, afinal todos sabem que não se pode ter mais de uma esposa. – o primeiro-ministro sorriu – Overath não mantém nenhuma outra ligação com a Dinamarca há cinco anos. Foi-nos uma surpresa saber que a princesa Serafina não sabia sobre o rompimento da aliança. Provavelmente a carta não chegou a seu destino.

– Mas o príncipe morreu antes de se casar.

– Não existe aliança entre vivos e mortos. – o primeiro-ministro disse com firmeza. – Se sua dúvida é que Overath pretende manter a aliança com a Dinamarca, casando a princesa com algum outro herdeiro ou parente da família real, tenha certeza que... – então Hartwig engoliu em seco, seus olhos piscara e ele pareceu se lembrar de algo. – Tenha certeza que... Sim. Sim, Overath manterá sua promessa...

– Mas o senhor não disse que...

– Eu disse que os mortos não se casam. Mas os vivos sim. O Rei espera que seu irmão mais novo se case com a princesa, agora que sua esposa está com os anjos. – e então o rosto do homem se avermelhou. – Retire qualquer intenção sua.

Orlando piscou, atônito. Queriam casar Serafina com Otto Von Strauber? Mas... Ela nem mesmo considerava a ideia! E Otto estava velho demais para... Talvez não para fazer filhos, mas para qualquer outra coisa. Ele nem mesmo enfrentava batalhas! E ele não era um príncipe, era irmão do rei, mas só subiria ao trono caso Hannelore morresse. E isto colocaria seu filho como herdeiro, se Serafina engravidasse, seus filhos ainda não teriam tanto direito ao trono. Principalmente se ela não gerasse homens. Por outro lado, ele era o herdeiro legítimo da França, teria o trono quando seu pai morresse e seus filhos seriam diretamente os herdeiros. A França era maior que Overath em riquezas e exército. Não fazia sentido Serafina escolher uma possível subida ao trono, quando tinha uma certa subida ao trono. Não que ele realmente quisesse se casar com ela, mas não via vantagens para a Dinamarca.

– O senhor disse que a aliança foi rompida com o Papa, o que torna preciso formar outra aliança. – insistiu.

– Você não entende sobre política como nós, rapaz, é muito jovem ainda.

– Não, eu entendo muito bem. Agora mesmo estive com a princesa Serafina e ela me pediu para convencer meu pai a aceitar um casamento entre nós. A princesa sabe muito bem que o acordo foi rompido, e a Igreja também sabe.

– Lembre-se que o Papa é um de Medici.

– E você já usou muito desse fato, colocando no trono uma bastarda. Quer agora reatar laços com mortos. Voltar atrás em uma decisão do próprio Papa? Isso é visivelmente uma manipulação! Acha que a Itália vai deixar que usufrua tanto assim? Aposto que a França não verá isso como uma reconciliação feliz e amigável.

O primeiro-ministro pensou e olhou-o de cima a baixo. Então deu de ombros.

– Foi uma ideia estúpida, mesmo. A Dinamarca não é tão preciosa assim. Hessen possui princesas, uma delas solteira. Fortalecer a aliança entre os dois reinos irmãos é mais vantajoso. – Hartwig pressionou as têmporas e suspirou. Ele estava muito cansado. – Pode ficar com a sua princesa dinamarquesa. – e então bocejou. – Poderia me dar licença?

Orlando sentiu aquilo como uma falta de educação, mas deu de ombros, levantando-se, agradecendo e saindo da sala. Agora tinha de falar com seu pai, antes que ele fosse embora. Essa era a parte mais difícil.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. A criadora do Arnold, não se preocupe, seu personagem logo aparecerá mais na Fanfic. Beijos da Meell!