The Bastard Heir escrita por Soo Na Rae, Lady Ravena


Capítulo 12
Capitulo 10 - Para os amigos a vida, para os inimigos a morte. Parte 1.


Notas iniciais do capítulo

✿ Oi gente! Aqui quem vos fala é a Ravena com mais um capítulo. Não estou muito presente no nyah em consequência da minha semana de provas e as greves da escola da Meell acabaram. Entretanto dia 6, eu entro de férias e ficarei livre duas semanas inteiras.

✿Curtam o capítulo minhas princesas.



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Capitulo 10.

Para os amigos a vida, para os inimigos a morte.

Parte 1.

“Uma mentira pode salvar o seu presente, mas condena o seu futuro” – Buda.

World of Warcraft The Sin'dorei

Henstaufen, região da fronteira de Hessen e Overath.

14 de Novembro de 1501.

Os cavalos relinchavam assustados. Os pelotões hessenianos espalhados por aquela área jamais esperariam aquele ataque surpresa por parte de Overath. Toda a planície foi ocupada pelas chamas, os pelotões organizaram-se em volta da grande muralha que escondia o castelo Von Zimmer, o castelo de nascença das grandes rainhas que foram as matriarcas de Hessen e Overath. Leona de Hessen, a valente e Helmine de Overath, a sábia.

Vingança, orgulho ou ambição. Três palavras de cunho maléfico que descreviam os motivos do sangrento embate que se ocorria naquela região de preciosidade inquestionável.

Henstaufen surgiu como uma região do antigo Reino de Baden Worms e quando se houve a separação dos países que se tornaram Overath e Hessen, o castelo Von Zimmer ficou para Overath juntamente com a região de Henstaufen e foi assim durante muitos anos. Entretanto em 1473, uma reviravolta ocorreu e os overatianos perderam Henstaufen que passou a ser uma propriedade do Reino de Hessen, o reino vermelho e dourado.

Hoje era o dia da vingança. O dia em que o reino azul e vermelho de Overath, recuperaria algo deles por direito, porém não era apenas por aquilo que muitos guerreiros estavam sacrificando suas vidas.

Hessen estava perdendo muitos cavalheiros e mesmo que fossem conhecidos por sua força e coragem, não estavam conseguindo acompanhar a determinação dos soldados overatianos. Toda a muralha ao redor do castelo começou a ser coberta pelas chamas. Os arqueiros sobre as ameias estavam sendo consumidos pelo fogo, alguns preferiram acabar com as próprias vidas ali mesmo, fosse com a espada ou saltando da muralha.

Os dois soldados hessenianos que haviam restado correram para fechar o grande portão do castelo.

Um cavalo negro surgiu, e em fortes galopes conseguiu correr a ponto de atravessar o portão do castelo antes que o mesmo fosse fechado. Os portões fecharam-se logo após a entrada do cavalheiro de Overath, restava apenas aos soldados esperarem para saber como terminaria aquele confronto.

Trajado em uma armadura prateada e usando um elmo de penugem azul escura, o homem desceu de seu alazão e sem esperar para saber se era inocente ou não, deferiu um golpe certeiro no cavalheiro hesseniano arrancando-lhe a cabeça e em seguida, simplesmente redirecionou sua espada para o lado oposto atacando o outro soldado. O hesseniano restante ainda tentara resistir, mas o cavalheiro de Overath para encerrar logo aquele inútil duelo, acertou-lhe com um golpe lhe cravando a espada no peito. O homem caiu de joelhos gritando de dor, o guerreiro overatiano apenas pode sentir a sensação de prazerosa de observar o inimigo cair no chão morto, além do sangue que se começou a se espalhar ao redor do defunto.

O tal guerreiro overatiano retirou seu elmo revelando ser nada mais nada menos, que Otto Von Strauber, irmão mais novo do rei e general comandante de todo o exercito do reino azul de Overath. Otto caminhou até o defunto e tirou sua espada do coração do mesmo, após isso ele puxou a alavanca que abria o grande portão do castelo e quando os outros soldados o viram com a espada erguida, começaram a dar urros de vitória. Overath era a grande vitoriosa naquela noite, depois de anos sem ganhar uma batalha, o reino azul finalmente começava a mostrar o seu valor no combate novamente.

— Viva o nosso comandante! — gritou um soldado e todos repetiram sua fala.

— Viva o Comandante Otto!

Aquilo para os ouvidos de Otto eram uma verdadeira melodia. Ser o centro das atenções, o grande e vitorioso. Entretanto o mesmo fez um sinal com a mão para que todos se calassem e os soldados como de costume, obedeceram ao homem.

— Meus guerreiros, depois da humilhação na qual passamos anos atrás, Henstaufen novamente pertence à Overath! Levantem os estandartes, pois vitoriosos e orgulhosos nos voltaremos para a capital amanhã. No entanto, hoje não revidamos apenas a humilhação que passamos anos atrás. Também estamos cobrando e punindo o Reino de Hessen pela morte da nossa amada criança, a Princesa Grethel, vitima daqueles bárbaros que lhe ceifaram a vida no inicio deste ano, a mando de Maximiliano Von Kopper, o rei de Hessen. A morte de nossa princesa que fez turbar-se pelo coração da nossa rainha Regina, uma tristeza e melancolia que fora o motivo do Senhor ter-lhe levado há algumas semanas atrás. Hoje a honra de Vossa Majestade, pela graça de Deus, o rei Willian, foi recuperada e com ela a de nosso país também.

****

Henstaufen, Reino de Overath, 2 de maio de 1508.

“O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem”. – Confúcio.

The North Remembers – GOT

A beleza dos campos dourados de trigo e a imponência do castelo que se localizava em seu centro, escondia os rastros do sangrento conflito que ocorrera há alguns anos atrás.

Otto Von Strauber foi nomeado pelo rei Willian, seu irmão, como senhor daquela região. Tornando-se assim, além de general comandante, o duque de Henstaufen. Como novo de duque de Henstaufen, Otto mudou-se do castelo real de Overath, para o castelo Von Zimmer tem alguns anos, geralmente visita o castelo do rei poucas vezes ao mês e quando o tempo está ruim é obrigado a pernoitar por lá. Provavelmente Otto, era o terceiro homem mais rico e poderoso do reino azul, atrás apenas de Hartwig e acima dele, o rei Willian. Como o duque odiava aquele homem, pois Hartwig antes de ser o primeiro ministro ou o “vice-rei”, era apenas o barão de Fleming e oficial de seu exercito, porém que conquistou a amizade e confiança do rei mais do que Otto em muitos anos.

O castelo Von Zimmer era uma construção de várias torres. Ele fora reformado durante anos, muitos artigos reais que outrora ficavam naquele castelo, hoje estavam no castelo real de Overath, menos um de extrema importância: a coroa de joias azuis de Helmine, a primeira rainha de Overath. Com certeza os hessenianos a levaram antes da reconquista.

Caminhando pelos campos dourados há alguns metros de distância seu castelo, Otto ao olhar para o céu nublado, começa a pensar em como a vida é injusta com ele. O duque já teve que aguentar uma vida no esquecimento sendo a sombra do rei, presenciar a própria mãe não se lembrar dele em seu leito de morte, mas lembrar de Willian – pobre viúva, rainha Beatriz— e ainda por cima ter de aturar dois pestinhas em sua frente na linha sucessória. Conrad e Grethel, os filhos de seu irmão, que para sua alegria já descansam em seus respectivos mausoléus na catedral Königin des Himmels.

“A vontade de Deus é que eu seja o próximo rei, mas meu irmão está roubando meus direitos e os passando para uma bastarda ilegítima, por favor, Deus, não permita que meu irmão pecador cometa a barbaridade de colocar uma mulher e bastarda no trono!”

— Posso saber o que Vossa Graça faz sozinho neste frio matutino? — um par de mãos pequenas e de toque delicado, abraçou o duque por trás. Otto esboçou um sorriso, fingindo está alegre naquela situação quando na realidade estava profundamente irritado pela paz e silêncio do castelo ter cessado com a voz de Lady Emma, sua filha.

— Estava triste, pensando em você e seus irmãos. Aqui tem estado tão solitário e quieto desde a sua viagem para a Polônia com a sua mãe e Heiner — o homem suspirou fingindo tristeza, a bem da verdade, era difícil para um militar, uma arma treinada para matar, demonstrar algum tipo de emoção explicitamente.

— Heiner decidiu ficar na Polônia sob a tutela do nosso tio João, o rei. Entretanto, ele prometeu que tentará nos visitar pelo menos uma vez ao mês — após as palavras da moça, Otto sentiu-se chateado, Heiner de apenas doze anos era seu filho predileto e único varão. Se algo acontecesse com ele, Otto teria apenas meninas como herdeiras. Uma menina sem carisma e outra rebelde.

O duque olhou sua filha de dezesseis anos da cabeça aos pés. Emma com certeza puxará mais ao lado Von Strauber da família, seus lisos e cumpridos cabelos negros percorriam suas costas até chegarem à cintura e seus graúdos olhos azuis celestes eram de encantar. Otto percebeu que Emma e Edith dariam belas esposas. Pelo menos suas filhas tinham beleza. Teria que arrumar logo um casamento para elas, principalmente Edith. Onde já se viu uma moça perto dos vinte ainda não estar comprometida? Suas meninas poderiam trazer mais riquezas e prestígios para ele.

— Onde está minha esposa, sua mãe? — perguntou o homem já caminhando rumo ao castelo.

— Dentro do castelo provavelmente, eu vim para cá assim que desci da carruagem e avistei o senhor de longe.

— E a criança está bem?

— Melhor não poderia estar! Lembro-me como mamãe ficou feliz ao escrever para o senhor anunciando que em breve teremos mais uma criança animando o castelo. Eu preciso contar ao senhor como foi à viagem, assim que chegamos fomos recepcionados por uma comitiva muito linda e... — enquanto Emma falava, Otto fingia que prestava atenção em alguma coisa.

Se o bebê no ventre da esposa não fosse uma criança maníaca por organização como Edith fora e ainda é, tagarela como Emma sempre foi e acima de tudo, uma menina. tudo estava nos conformes. Deveria ser um varão firme como seu Heiner. Mais tarde deveria tirar esclarecimentos com Jenell sobre quem deu autorização para Heiner ficar na Polônia, ou melhor, agora.

Pai e filha entraram pelo portão principal e os criados que passavam fizeram uma vénia em sinal de obediência. Antes que Otto pudesse subir as escadarias de granito negro em direção a seu quarto onde sua esposa poderia estar, Emma o interrompe do primeiro degrau. Otto discretamente aperta os punhos sobre o corrimão. Como se fazia para calar aquela menina? Talvez tivesse que arrumar um marido para Emma primeiro, apenas para ela lhe deixar em paz.

— Papai, papai! E a nova princesa? Como ela é? Soubemos da seleção, que ideia inovadora! Dizem que ela é muito bonita. Como está tio Willian?...

— Emma! — interrompeu Otto e sua filha calou-se imediatamente depois do tom raivoso do pai — Sua mãe não iria lhe arrumar um casamento com algum nobre do país dela? O que aconteceu? Ande menina, conte logo!

— Bem meu pai — o rosto branco da moça ruborizou — mamãe conseguiu arrumar um contrato para eu casar-me com um szlachta, porém o contrato foi... — era notório o constrangimento de Emma — Rompido tem algumas semanas e por isso retornei para Overath. Pelo menos terei mais tempo com minha família. Ainda posso ir para um convento! — exclamou a linda jovem com um brilho de esperança no olhar.

— Isso é bom, muito bom. — disse o homem sarcasticamente e batendo palmas com lentidão — Não comigo aqui, Emma! Você acha mesmo que sua família vai ganhar algo com você dentro de uma porcaria de convento? Lembre-se da sua estirpe e de sua natureza. — retorquiu amargamente e subiu as escadarias deixando sua filha de coração entristecido para trás.

Otto entrou no segundo quarto a direita sem bater, mas também não demonstrou muita agressividade. Quando entrou e fechou a porta viu sua esposa arrumando o cabelo. Como o dia estava nublado e um pouco escuro, o quarto estava iluminado apenas por velas e pela luz da lareira.

Sentada sobre uma banqueta de madeira em frente à penteadeira branca, estava Jenell penteando sua longa cabeleira e cantarolando uma música portuguesa antiga em tom baixo, porém com sorriso terno esboçado em seu rosto de tez clara:

Rosa das rosas e Flor das flores

Dona das donas, Senhor dos senhores.

Rosa de beldad’ e de parecer

E flor d’alegria e de prazer

Dona en mui piadosa ser

Tinha uma capa rosa sobre os ombros, e a camisa de dormir branca enfeitada por renda valiosa espreitava pela abertura da frente. Havia acabado de retornar da sua terra natal, a Polônia, onde ficara hospedada no castelo do rei, seu irmão, durante dois meses. Estava exausta e desejava poder cochilar um pouco. Quando nasceu era uma princesa polonesa, quando tinha quatorze anos e casou-se com seu marido um ano mais velho, tornou-se princesa consorte de Overath e anos mais tarde era a duquesa consorte de Henstaufen e esposa do grande duque e comandante. Jennel era uma mulher bonita: um rosto suave, uma boca rosada, carnuda e sensual, além dos longos cabelos loiros ondulados e os olhos azuis tão apreciados na nobreza. Não foi a toa que esta senhora encantou seu marido na primeira vez que ele a viu e diversas vezes ainda encantava, porém não mais como antigamente.

— Sua filha já deve ter-lhe tirado o sossego, estou certa? Desculpe-me, sei que o senhor não gosta de ser incomodado quando está em sozinho em seus pensamentos, mas ela puxou a você nesse quesito. Ambos são tão impacientes quanto soldados em uma batalha — a mulher não interrompeu sua escovação, mas o marido notou um pequeno tom sarcástico na voz da mesma e viu seu sorriso pelo espelho. Aquela era a estranha maneira de Jenell mostrar quando estava descontente com algo. Otto conteve-se um pouco perante a chicotada de mau-humor e sorriu, pois se queria arrancar alguma resposta da esposa precisa mostrar o seu outro lado.

— Perdão meu amor, acontece que os fatos que veem acontecendo ultimamente estão me deixando um pouco exasperado — disse o duque aproximando-se da mulher.

— Sei... — Jenell interrompeu sua escovação e levantou-se ficando de frente para o marido.

Segurou-a firmemente pelos ombros, e lhe deu um beijo nos lábios. Nada muito ousado, afinal sua mulher estava gestante e Otto se conhecia muito bem. Sabia que acabaria não resistindo em levar a mulher para cama caso fosse mais ousado. O perfume do cabelo de Jenell e o odor do óleo aromático de rosas que a mesma estava usando, fizeram um desejo surgir em seu corpo. De imediato a soltou. Aquilo para o duque era algo muito provocador. Eles estavam em um quarto, de portas fechadas e uma cama grande decorada dos mais ricos tecidos. Otto sentiu aquilo como um cenário das suas fantasias masculinas mais profundas, não um cenário de saudação a sua esposa.

Cora com certeza nunca chegaria aos pés de Jenell nesse quesito. A dama de Hannelore era apenas jovem e formosa, nada mais. Além de ser uma bastarda legitimada do duque de Milão. Às vezes nem Otto sabe o que viu nela além da juventude. Jenell por outro lado, era única. Uma mulher elegante, cheia de dignidade, mesmo no seus mais assustadores momentos de embaraços ou fracos emocionais.

Lembrou-se quando era adolescente, ele tinha quinze e Jenell quatorze anos. Seu casamento com a bela princesa não foi nada mais, nada menos do que uma aliança diplomática. A Polônia parecia ainda não ter conhecido o renascimento, os pintores, filósofos e teólogos de lá eram decepcionantes e por isso o antigo rei Casimiro, pai de Jenell, ofereceu sua filha em casamento ao príncipe na esperança de fazer com que vários dos mestres da renascença overatiana migrassem para seu país. Assim aconteceu esta aliança e graças a isto, hoje a Polônia está mais bela do que nunca.

Quando foi conhecer a princesa, pensou se tratar de uma mulher feia, mas mudou de ideia logo quando a viu. Ela usava um longo vestido verde e vermelho, e seus olhos azuis irradiavam graciosidade. Otto havia ficado tão empolgado com sua prometida, que ordenou que o padre mais próximo realizasse seu casamento naquele dia mesmo, para assim a consumação ocorrer naquela noite. Foi o que ocorreu, porém de certo modo isso nunca impediu de Otto de se divertir com outras damas. O problema é que ele não sabia se Jenell fingia não saber de nada, ou se era tonta demais. Como ele adorava brincar com a fraca inteligência dos outros, mas de alguma maneira Otto sabia que a esposa tinha conhecimento do seu comportamento libertino, porém também tinha em mente que nenhuma outra mulher ocuparia seu lugar.

— Pois bem. Consegui ouvir sua voz do corredor e pelo visto deseja falar comigo, meu senhor — disse a mulher tentando parecer fria, mas na realidade Otto conseguira amolecer o coração dela com apenas um toque.

— Ah claro! — Otto afastou-se da esposa e sentou-se na cama, por dentro queria balançar os ombros da mulher e perguntar quem havia autorizado Heiner a ficar no país natal dela, mas assim não conseguiria nada e Jenell poderia perder a criança com o estresse. — Minha senhora, responda-me: Por que deixou nosso filho em seu reino? Por que não o trouxe? Sabe como eu gosto de Heiner e quero meu filho por perto.

— Bem, eu pensei que não se importaria. Meu irmão considera nosso Heiner como um segundo filho. Além disso, Otto, não é você que vive dizendo que Heiner é um homem e pode tudo?

— Sim, mas... — Não esperava que fosse ser atacado por suas próprias palavras, bufou de irritação e a esta altura Jenell já havia voltado sua atenção ao espelho e pode observar o marido saindo do quarto. Quando ele saiu, ela suspirou. Não de cansaço, mas de tristeza.

Logo em seguida, uma mulher de cabelos castanhos claros e compleição um pouco madura, entrou nos aposentos carregando uma pilha de roupas limpas e as pondo no baú.

— Norma! Venha cá, por favor, preciso das suas mãos de fada para escovar meus cabelos — disse a senhora estendendo sua escova e a balançando para a criada pega-la.

— Vossa Graça tem cabelos lindos. Não entendo o porquê de querer se embelezar tanto. É linda naturalmente — respondeu Norma já escovando os cabelos de sua senhora.

— Gosto de ficar bonita — respondeu simplesmente.

— E sua criança como está? — perguntou a mulher com um sorriso caloroso nos olhos e Jenell pôs sua mão em seu ventre de cinco meses.

— Melhor não poderia estar! Todos dizem que será um menino. É o que meu marido deseja.

— E se for um menina? — Norma perguntou impulsivamente e se arrependeu de ter aberto a boca para dizer aquelas palavras.

— Norma... — Jenell fechou os olhos e outra vez suspirou tristemente — melhor nem sequer brincarmos com isto. Só pelo fato de eu estar com uma vida em meu ventre, com a minha idade logo, já pode ser considerado um milagre. Serei uma mãe de trinta e sete anos, nossa! — finalmente a senhora de Henstaufen estava esboçando um sorriso.

Por um instante, a nobre polonesa teimou em perguntar como seu marido comportou-se nos dois meses em que ela esteve fora, mas resistiu. Jenell era uma nobre e nobres não podem mostrar desequilíbrios emocionais, porém em seu estado de gestante, era difícil não ficar com as emoções um pouco mais fortes.

— Norma, responda-me independente do que for. Promete me responder com sinceridade?

— Se for do meu alcance, Vossa Graça — respondeu Norma já temendo o que seria.

— Nós mulheres e esposas devemos ser fies aos nossos maridos? — perguntou Jenell apertando os punhos sobre sua roupa.

— Oh, era isso. Claro que sim! Devemos sem sombra de dúvida — Norma sentiu um alivio em seu coração. Ela não gostava de chatear sua senhora, apesar de às vezes acabar fazendo isso inocentemente.

— E os homens devem ser leais a suas mulheres? — quando a loira perguntou, Norma deixou a escova cair de suas mãos.

— Ah... Bem... Sim, devem! Mas infelizmente esses são poucos — A criada sentiu que sua resposta havia magoado profundamente a sua senhora — Veja, por exemplo, ninguém esperava que o nosso rei fosse ter uma bastarda. Essa noticia foi bem chocante.

— Nem eu esperava isso, conheço o Willian há tanto tempo. Se bem que era impossível ele ser feliz com uma mulher igual à Regina. Sinceramente ela era louca! Soube de uma vez que ela por pouco não fura uma aia sua com a tesoura, achava que a pobre mulher era amante do marido.

— E não era?

— Não, a pobrezinha até pediu para se retirar. Hoje está servindo a rainha da Hungria.

— Então quem é a mãe dessa menina?

— Tenho minhas suspeitas, mas... Não! Impossível. Eu não sei quem é a mãe dessa garota, Norma, eu definitivamente não sei. As únicas pessoas que talvez saibam de alguma coisa são o primeiro ministro e a duquesa Genova, afinal são os mais próximos de Vossa Majestade.

— Deve ser uma mulher importante, para eles não terem dito nada até agora — disse Norma e Jennel passou a ignorar aquele assunto, resolveu partir para um que tanto estava lhe incomodando.

— Norma, responda-me mais uma pergunta: Como anda aquela minha antiga dama de companhia? Não a vi.

— A quem se refere minha senhora?

— Cora Sfortza — respondeu friamente.

— Ah claro! A italiana? Ela foi cedida diretamente para a corte real, está servindo a filha do rei. Isso já faz quase duas semanas. Agora ela está morando no castelo real.

— Bom, pelo menos teremos menos gastos — por um instante, Jenell sentiu um enorme peso sair da sua alma e um sossego começar a se alastrar.

— O senhor Otto já lhe contou da princesa?

— Não, ainda não — Jenell desconfiava muito bem sobre o que Otto deveria pensar em relação a sua nova sobrinha e por isso resolveu não entregar muitos detalhes, todavia a pergunta de Norma despertou-lhe a atenção.

— Norma, meu marido tem frequentado o castelo do rei? — Jenell temia a resposta.

— Minha senhora, ele praticamente tem morado lá! Ele só volto para Henstaufen ontem. Diz que precisa acertar com o irmão, o rei, coisas importantes sobre o exercito, verificar como anda a situação da guerra e também visitar Edith...

Jenell sentiu o sossego de sua alma partir imediatamente e tentou ao máximo segurar para as lágrimas não começarem a descer pelo seu rosto, ela precisou abaixar a cabeça para Norma não vê-la naquele estado pelo espelho. Seu marido com certeza ainda continuava se encontrando com aquela meretriz italiana. Otto podia ser o comandante do exercito, mas com certeza não ia ao castelo para verificar as situações militares e muito menos visitar Edith. Maldita hora em que foi aceitar aquela bastarda de Milão em sua casa e maldita noite de janeiro em que flagrou o duque em forte amasso com aquela mulher antes de entrarem em algum quarto. Ela queria saber o porquê dele estar saindo todas as noites em determinada hora e o seguiu, foi quando teve a desagradável surpresa e para sua sorte o marido não a vira. Talvez fosse por isso que Otto insistira tanto em eles tentarem ter outro filho. Para manter a imagem de bom pai e chefe de família, algo que Jenell sabe muito bem que ele nunca fora.

O outro dia amanheceu ensolarado e convidativo para eventos alegres, hoje era o dia do famoso torneio. As arquibancadas foram preparadas no grande jardim do castelo e vários nobres e embaixadores haviam sido convidados. Seria também uma boa oportunidade para os rapazes que disputavam a mão da princesa, reverem nem que por um breve instante, os seus parentes, afinal todos os nobres do país foram convidados.

Era também, uma excelente ocasião para jovens cavaleiros e outros nobres ricos encontrarem donzelas também ricas, selando alianças pelo casamento entre poderosas famílias.

Tudo estava maravilhosamente decorado. Havia dois grandes palanques, um a esquerda e outro a direita. Em cada ponta no final do palanque, estava um estandarte azul com o leão vermelho. Quase todos os lugares já estavam cheios.

No meio de tudo isto e um pouco mais afastado, porém com visão privilegiada, estava um grande tablado, protegido sob um extenso dossel de veludo azul. Três tronos de madeira ocupavam o tablado, os dois maiores seriam do rei e da rainha. Entretanto o rei Willian era viúvo e precisava de uma parceira para fazer o papel da rainha, neste caso seria sua querida prima Genova, a bem da verdade, Genova cuida do castelo como se fosse rainha desde a morte desta. O terceiro trono à direita, seria de Hannelore. Isso não seria um problema para a princesa, se este trono não fosse justamente ao lado do rei. Era uma tradição que o herdeiro, ou a herdeira neste caso, ficasse sempre ao lado do rei, os mais novos sempre ficavam ao lado da rainha.

Hannelore que já estava no palácio há quase duas semanas, pouco ou quase nada falava com seu pai, a bem da verdade, ela quase nem o via. Preferia pensar que ele ainda estava tentado se acostumar com a situação, porém não poderia negar que ficava profundamente chateada com essa quase rejeição. Ela não o chamava de pai, optou por chama-lo apenas por “Vossa Majestade” ou “Senhor”, até que se sinta preparada para tal. Outra situação que a princesa notou fora a mania de escuridão do rei Willian, o mesmo só trajava roupas negras e mais escuras. Até agora nunca o vira usando nada mais claro.

— Edith, você não poderia ficar perto de mim? — perguntou Hannelore esperançosa.

— Sinto muito, minha prima, mas minha mãe e irmã estarão aqui hoje e desejo ficar perto delas.

— Oh sim, eu entendo — disse a menina suspirando derrotada, mas seu coração por um instante ficara dominado por sentimentos tensos. Ainda não havia tirado de sua mente aquele encontro entre seu tio e Cora.

— Não acredito que aquele desgraçado veio hoje — disse Wanda com os braços cruzados e Hannelore mirou sua atenção para onde o olhar de Wanda estava. Sua dama encarava com frieza um homem de túnica vermelha, parecia estar na casa dos sessenta, tinha cabelos grisalhos e um rosto de compleição séria, além de usar um crucifixo. Deveria ser um membro do clero.

— Quem é aquele, Wanda? — perguntou a princesa.

— Lothario Blomberg, bispo e chefe inquisidor de Overath. Seu pai que o nomeou, Vossa Majestade tem muita confiança nele. Sinceramente, eu o detesto, meu pai diz que ele não é de confiança! Ele não deveria estar aqui, os membros da igreja não são a favor desses torneios.

— Hannelore, minha querida — Hannelore sentiu a mão de Genova tocar-lhe o ombro. — Vamos para os tronos, seu pai logo virá.

— Ah, claro — a princesa respirou fundo e caminhou de cabeça erguida ao lado da duquesa de Brauner.

A herdeira trajava um vestido azul de mangas e um lanço vermelho na cintura. Seus cabelos ondulados estavam soltos e caiam livremente sobre os ombros e por cima de sua cabeça estava uma pequena tiara prateada.

Hannelore com cuidado sentou-se no trono, Genova sentou no outro e faltava apenas o rei para ocupar o assento do meio. A duquesa olhava para a moça e conseguia lhe transmitir certa segurança, Hannelore a via como a mãe que nunca teve a oportunidade de ter.

Minutos mais tarde, o rei apareceu e como sempre discretamente. Usava um longo casaco negro que ia até o joelho, um gibão marrom escuro e por dentro uma camisa de tecido da mesma cor, seus sapatos eram de couro com sola baixa e seu calção era preto como o casaco. Estava bonito como sempre, mas Hannelore já estava começando a ficar nervosa com essa mania de escuridão do rei. Dizem que o mesmo está em um luto eterno há muitos anos e recusa-se a usar roupas claras. Talvez as únicas coisas que faziam contraste com aquela escuridão, era a coroa de ouro com uma pedra preciosa azul em sua cabeça, pela primeira vez a princesa o via usando coroa.

A princesa só o olhou uma vez, mas ele não olhou para ela. Genova e ele conversavam abertamente e ela estava ali calada, olhando para os convidados que chegavam e encontrou alguns dos rapazes que disputavam sua mão conversando com parentes. Por um instante sentia-se esquecida, como se estivesse ali apenas para manter as aparências. Entretanto que aparências? Se o seu falecido meio-irmão estivesse vivo, com certeza todos o estariam cumprimentando. Ouviu dizer que Conrad era alegre e todos gostavam dele. Sentia-se mal, definitivamente não desejava está naquele lugar de falsas aparências. Preferia estar no seu quarto ou bem longe, menos ali.


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Notas finais do capítulo

✿ Königin des Himmels ( Rainha dos Céus, um titulo da Virgem Maria) e szlachta eram os homens ricos e nobres da Polônia.

✿ Espero que tenham gostado e aguardem, pois em breve...

Spin Of de The Bastard Heir.

The Kings and their maidens (os reis e suas donzelas)

Em um mundo de ambições pelo poder e alianças que sacrificam a felicidade de muitos, o amor verdadeiro torna-se algo infantil, tolo e às vezes pecaminoso. Entretanto nas cortes reais, muitos fogem de seus matrimônios arranjados e tentam conhecer este estranho sentimento proibido em outros braços. Regina, Cristina, Adela e Isabeau. Quatro mulheres tachadas de louca, meretriz, tonta e vingativa, mas que compartilham algo em comum: todas ocuparam um espaço no coração de seus reis e lutaram para mantê-los, todavia nem todas saíram vitoriosas.

“Meu destino desde criança é ser rainha de Overath ao lado de Willian, tudo isto para tentar selar a paz entre nossos reinos. Serei sua esposa e mãe de seus filhos. Ouvi dizer que meu futuro marido é bonito e gentil. Eu não o conheço ainda, contudo tenho o conhecimento de que este é o dever de uma mulher da família real e jamais abrirei mão deste destino que o Senhor reservou para mim. ” – Regina.

“Minha vida era baseada em longos passeios a cavalos e vê o lado bom de tudo, eu era feliz. Tudo isso acabou quando eu tinha quatorze e para manter uma aliança, me casei com o delfim da França, minha rotina passou a ser um inferno na mão daquele monstro. Com quinze me tornei mãe de um varão que morreu horas mais tarde e aos dezessete virei viúva. Fui obrigada a abrir mão da minha inocência e entrar no mundo falso e perigoso da realeza, mas em meio a isso tudo, eu acabei encontrando um sentimento que pensava ser pura invenção” – Cristina.

“Meus pais pouco me davam valor, me fizeram crer a vida toda que casamentos como o meu eram necessários para fortalecer o reino e que minha única função era ser uma boa esposa e mãe. Sou uma princesa francesa e casei-me aos quatorze com o rei Maximiliano de Hessen, um homem promiscuo e fui tola ao pensar que era única em sua vida, mas inesperadamente desta união arranjada, começou a nascer um terno sentimento e por um tempo ele me tornou verdadeiramente única em sua vida”– Adela.

“Não sei se fui à primeira mulher na vida do rei Max, mas sei que fui a primeira a lhe ensinar o que é uma intensa relação, relação que dura até os dias de hoje. Ele é um pai ausente para com meus dois filhos, mas um forte e presente amante que tantas vezes prometeu fazer-me sua rainha, no entanto ele parece ter esquecido nossas promessas. Ultrajante, eu estou perdendo tudo para aquela maldita francesa! Porém isso não ficará assim, em breve aquele castelo terá apenas uma rainha e esta rainha serei eu!” – Isabeau.

✿ TBH é um universo grande hahaha. Sobre o capitulo: Algumas com certeza vão começar a ficar com raiva do tio Willian, mas eu sei como è. Cristina estava certa no capitulo 4, quando disse que ele era lerdo. Ele è mesmo haha! Mas se vocês conhecerem a historia dele, vão entender perfeitamente o motivo de ele ser assim. E a Hannelore finalmente esta começando a se tocar do mundo real onde ela esta. Tambèm fico imaginando a reação daquelas que pensavam que o tio Otto era gente boa!