The Bastard Heir escrita por Soo Na Rae, Lady Ravena


Capítulo 10
Capítulo 09 - Uma Não Tão Boa Família


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! o/



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Nikolaus de Heidelberg

“Os tigres sempre têm, e os homens costumam ter às vezes, este santo instinto de amarem os filhos” – Camilo C. Branco

Abney Park – Victorian Vigilante

Ah, a família Heidelberg! Que graça, todos posando para o pintor por quem pagaram caro. É claro que seus rostos estão sorridentes e é claro que todos ostentam roupas pesadas que não usariam em uma tarde de verão comum, caso não fosse uma ocasião especial, como aquela. A senhora Heidelberg está imponente, com seus modos simpáticos e inocentes, uma donzela que amadureceu e criou lindas flores ao seu redor. Como costume, os mais velhos estão em pé, enquanto os jovens se sentam no divã, pernas balançando no ar. Felix está irritado com sua gravata que o pinica, porém Dorothea, a senhora mãe, ralha com o garoto o suficiente para lhe colocar medo o suficiente. Surpreendentemente, encontramos Susanne com os seios escondidos pela seda cor-de-rosa que sua mãe encomendou há duas semanas atrás, exatamente para isto, e para qualquer outro baile que a filha quiser ir. Embora Susanne nunca mais vá colocá-lo, afinal não está dentro de seu bom gosto. Arabella desconfortavelmente muda o peso dos pés, tentando não demonstrar a irritação que sente, enquanto os sapatos a apertam e causam bolhas que serão difíceis de suportar depois, ela está segurando as mãos de Felix em seu colo, porém adoraria estar segurando um livro ou colocando as mãos do irmão em uma latrina qualquer. Então a porta se abre.

– Está atrasado. – diz a senhora, rispidamente.

– O trabalho aumentou no condado. – justificou o senhor Heidelberg, novo integrante deste cenário. O homem já está naturalmente vestido com seu traje de serviço. O pintor pede para que pose ao lado de sua esposa, e ele o faz de bom grado, até que nota que há algo faltando. – Onde está Lette?

Oh. Isto sim é uma falta. Afinal Lette faz parte da família Heidelberg e assim como eles, merece estar lá. A senhora revira os olhos, impacientemente, ignorando a pergunta do senhor esposo, enquanto pede para Felix melhorar seu sorriso. No centro está o primogênito. Nikolaus sente dedos escorregando por suas costas e atacando suas partes baixas traseiras indecentemente. Engole profundamente as palavras grosseiras que lhe vêm a mente e olha de soslaio para Susanne. A irmã sorri, inocente e docemente para o pintor, que com certeza tem de olhar duas vezes para ela sempre que vai passar seu rosto angelical para o quadro.

Você está crescendo, maninho. – ela lhe sussurra, dando outro apertão, mais forte e doloroso.

Discretamente, Nikolaus lhe dá um tapa leve, porém Susanne apenas ri baixinho e volta a se concentrar na pose para sua imortalização. E assim, a Família Heidelberg está sendo registrada em nosso texto, e também neste quadro. Porém sejamos sinceros, há muita mais verdade no manuscrito que na pintura. Quem poderia saber que Susanne teria a indecência de provocar o próprio irmão de um jeito tão indelicado? Ou quem poderia saber dos planos malignos que a jovem Arabella tinha para Felix, ou quem poderia dizer que o garoto magricela e franzino seria o próprio diabo encarnado? Quem diria que o senhor Heidelberg abaixa sua cabeça para a esposa e sorri discretamente, enquanto se pergunta onde errou. E quem diria que Dorothea Heidelberg trancou novamente sua filha caçula no sótão, onde poderá viver com seus amigos fantasmas, o pó e os anjos que lhe cuidam. Enquanto sua própria mãe a rejeita, enquanto o pintor desvia seus olhos para o sorriso de Susanne e enquanto Nikolaus finge que tem uma família perfeita, para que ao menos no quadro, isso seja verdade.

º º º

“O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado” – Machado de Assis

Em algum lugar na grande e imponente casa da Família Heidelberg, há um espaço onde se pode ser feliz. Este lugar, porém é móvel e constantemente o perdemos. Não há como saber onde será escondido, como encontrá-lo, mas quando conseguimos, é alegria aos olhos! É assim que Nikolaus se sente quando vê Lette. Não gosta de fazer separação de irmãos, ama a todos, é claro, claro, como qualquer família deve se amar (ao menos é o que a sociedade prega), porém Lette é sim especial. E sei que isto é rude, mas, literalmente. Ninguém diria que são irmãos, tanto pela diferença de personalidades quanto pela diferença de rostos. Mas o sangue que corre nas veias de Nikolaus tem muita semelhança com o sangue que corre por Lette e se não fosse por alguns números que a genética insiste em mudar hora ou outra, seriam irmãos normais, primogênito e caçula, uma relação de protetor e protegida.

Mas Nikolaus também insiste em falhar.

– Niko. – diz a garota, de seu canto atrás do fogão. Geralmente ela se esconde do lado de fora da casa, porém se tornou mais comum nos últimos dias encontrá-la na cozinha, ao lado da estrutura de barro. Lette se sentava nos pedaços de lenha empilhados. Nenhum criado circulava por lá, o que a motivara a estar ali agora. Afinal Lette só permanecia onde a solidão podia alcançá-la. Algo que às vezes facilitava a busca de Nikolaus. Outra coisa que também podia ter certeza: nunca a encontraria no sótão. A garota odiava o lugar, pois era lá onde Dorothea a colocava quando não queria vê-la andando pela casa, como se fosse sua filha (e ela era).

– Quentinho. – Nikolaus agachou-se, sabia que o fogo não estava aceso, porém era isso que Lette queria ouvir. Uma idealização de algo que poderia consolá-la, sem ser uma pessoa ou um objetivo verdadeiro. A idealização de uma idéia. O calor.

– Sim. – a menina se aconchegou na lenha, as costas raspando e causando sons que irritaram os ouvidos de Nikolaus. Não queria que ela se machucasse, por isso se aproximou, lentamente, como deveria ser. Colocou uma mão debaixo da axila da pequena e então a outra e a ergueu, segurando a menina com suavidade para não sufocá-la. Pode-se dizer que Lette permite apenas a seu irmão de pegá-la deste modo, pois para com os demais é sempre tímida e medrosa, dando-se melhor com os criados que com a própria família. Não é de se espantar.

O Síndrome de Down foi algo forte demais para que a senhora Heidelberg aceitasse. Seus anjinhos perfeitos e bonitos. E aquela maldição. Preferia vê-la na cozinha, fraternizando com os criados, que em sua mesa, bebendo da mesma água que ela. É claro que a existência da última criança foi escondida, mesmo após seus oito anos. Seria uma vergonha para a família que soubessem que tinham sido tão amaldiçoados. Então, surpreendentemente, Lette grudou seus braços e pernas ao redor de Nikolaus e o abraçou com vigor. Fúria.

– Quer um biscoito? – perguntou, e ela concordou com um gemido rouco.

Lhe entregou o biscoito, que ela devorou com prazer. O melhor lugar para passar o tempo com sua irmã, antes que precisasse voltar a seus trabalhos de filho mais velho e herdeiro, era o jardim. Onde, coincidentemente, Arabella estava estudando literatura. Ela acenou, porém tinha uma expressão de irritação, enquanto seu tutor lia algum livro que ela deveria odiar. Arabella sabia como demonstrar seus sentimentos e pensamentos, tão facilmente, quanto bocejar ou estalar os dedos. E Nikolaus a lia com a mesma facilidade. Assim, apenas sorriu, tentando lhe passar conforto. Levou Lette até o banco de madeira no centro do jardim. O Sol estava bom para que tomassem um pouco dele, antes do meio-dia. A pequena adorava olhar as borboletas e colher folhas. Normalmente relva. Lette não gostava de flores. Não gostava das cores aleatórias que formavam o jardim. Gostava do verde monótono e do céu sempre claro, como o branco. Entretanto haviam muitas flores ao redor e o céu estava azul.

Nikolaus! – ouviu ao longe a voz fina e lamuriante de Quieza. A menina alcançou seus pés, lágrimas escorrendo pelas bochechas, os cabelos bagunçados e o mais estranho em tudo: vermelho carmesim pintando seu avental. Nikolaus congelou no lugar, encarando-a. – É Felix! Ele... – ela fungou. – Ele...

– O que Felix fez? – foi o que conseguiu dizer, enquanto ainda encarava a mancha vermelha e tentava distinguir aquilo de sangue, vinho ou tinta. Infelizmente a primeira alternativa parecia muito convincente. Se fôssemos pensar que quem a machucou era Felix... Nikolaus não duvidava.

– Jogou todo o ponte de tinta no chão! E quando tentei pará-lo, ele empurrou-me e me sujou e disse que contaria para mamãe que eu pintei as paredes e o chão. Mas não fui eu, Niko, foi ele! Felix sempre mexe em minhas tintas!

Nikolaus sabia que sim. Pois entre as madeixas da irmã, havia uma mais curta que as outras, resultado de um confronto entre ela e Felix, que resultou em tinta verde e uma tesoura. A menina fungou tão profundamente que doeu na alma de Nikolaus. Ela segurou a barra do avental para enxugar as lágrimas, entretanto acabou se sujando ainda mais de tinta. Por fim, começou a chorar mais, temendo que isso a incriminasse contra a palavra de Felix.

– Ela vai me trancar no sótão, eu sei! – ela soluçou – Como ela faz com Lette quando está brava. Mamãe ficará uma fera e eu... E eu não quero... Eu não quero...

– Tudo bem, eu entendo, Quieza. Irei falar com Felix e ele limpará tudo antes que mamãe veja. – prometeu. Porém a irmã não parou de chorar.

– Ele já contou! Por isso fugi. Mamãe está atrás de mim e...

Do outro lado do jardim, ouviu-se a exclamação de uma mulher indignada. A senhora Heidelberg sabia manter a compostura, a menos que o problema fossem seus filhos e a mal-criação deles. Isso não podia admitir. Seus tesouros tinham de ser educados, gentis e sempre cavalheirescos. Quieza fraquejou, os joelhos dobrando-se na terra, enquanto ela abria a boca para chorar. O som partiu o coração de Nikolaus, que nada podia fazer, além de olhar para ela e para a mulher que caminhava a passos largos e pesados em direção a eles. Até mesmo Arabella e o tutor haviam parado para olhar o que acontecia.

– Primeiro estraga completamente seu quarto, depois me suja a casa correndo para todos os lados e agora foge para seu o jardim como se eu fosse um monstro. – Dorothea coloca as mãos na cintura.

Uma mulher indignada, realmente.

Mas vejamos por outro ângulo. O ângulo de Quieza e também o de Lette, e talvez o de Arabella e o de Nikolaus e... Bem. Ângulos daqueles que conhecem a duquesa. Ela é uma mulher sanguínea. Não mede esforços para manter seus filhos na linha e para demonstrar seu horror para com a filha desgraçada. Ela era um monstro.

M-m-e Des-c-cul...

– Calada! Às vezes penso que meu único acerto foi criar meus filhos homens. Eles não me dão desapontamentos. Não com tanta freqüência. – ela suspirou – Olhe para seu rosto. Já não chega o cabelo, agora quer estraga também sua face? Como conseguirá um marido, como administrará uma casa, se não consegue cuidar das próprias tintas sem derramá-las todas?

– Mas não fui eu! – Quieza levantou-se, de repente, em uma explosão de coragem e audácia. – Foi Felix! Ele derramou a tinta por maldade e me incriminou pelo menos motivo.

– Não ouse falar de seu irmão deste jeito. Acha que não sei quem realmente pecou? Pelo que me lembre, foi Eva. Agora pare de colocar a culpa nos outros e trate de assumir seu erro. Ou será que terei de fazê-la refletir sobre seus atos?

“Refletir sobre os atos” era como Dorothea Heindelberg chamava o que eram seus castigos. Não meramente ajoelhar sobre milho ou palmadas nas mãos. Dependendo do que faziam, eles podiam ser trancados no sótão sem comida, água ou conforto por dias, ou chicoteados no porão. Como eu disse, ela não media esforços.

– É verdade, mãe. Não foi ela. Foi Felix. – Nikolaus disse, o mais calmo possível. – Ficou irritado por Quieza poder visitar a baronesa Keitelyn e ele não.

Os olhos da mulher se desviaram para seu filho mais velho, seu orgulho!, escolhido para disputar a mão da princesa de Overath. Relaxou os ombros, talvez pudesse acreditar em seu julgamento, afinal ele tinha decência e Felix realmente havia ficado irritado com isto. Suavizou lentamente as expressões e as mãos, enquanto pensava.

– Você e Felix terão de limpar tudo, incluindo a sala e o banheiro. Não quero saber de quem é a culpa, farão.

– Sim, mãe. – Quieza abaixou a cabeça. – Obrigada, mãe.

– Disponha – a senhora virou as costas. – Ah, sim, Nikolaus.

– Diga.

– Você tem de arrumar suas roupas para a viagem. O cocheiro chegará logo, lembre-se.

– Há dois dias ainda.

– Quer deixar tudo para a última hora? – ela ergueu as sobrancelhas.

– Claro que não. Irei agora mesmo.

– É claro que vai. – e virou-se, satisfeita.

Nikolaus acenou para a pequena, que sorria, embora soluçasse. Arabella continuou sua aula com o tutor, embora estivesse sorrindo também. Quando olhou por cima do ombro, porém, Nikolaus não encontrou Lette, e não esperava encontrar. Lette sempre desaparecia quando a senhora Heidelberg surgia, por medo ou por pânico. Dependia de seu humor.

º º º

OneRepublic – Love Runs Out

Estavam todos lá, para se despedir. Um dia para sua viagem. Susanne viera com seu marido e sua filha. A irmã gêmea ganhara seios ainda maiores durante os três anos que permaneceu afastada, sua filha era ainda um bebê e o esposo mal cumprimentou-os e se meteu no quarto, junto com uma criada que Susanne chamava de Vitorette.

– Uma amante, isso sim. – ela disse – Mas não me importou. Eu tenho minhas maneiras de me divertir. – e sorriu, maliciosamente.

Seu pai até mesmo pediu um tempo para ficar em casa, com a família. Seus filhos, seu menininho que logo estaria na corte de Overath, possivelmente se tornando o rei. Quanto orgulho. A senhora era toda sorrisos, nem mesmo a visão de sua filha doente era forte o bastante para tirá-la do torpor de felicidade, enquanto servia os convidados. Famílias ricas que moravam na cidade, ou amigos distantes. Nikolaus temeu que a família de seu primeiro amor fosse convidada, porém seus pais tiveram a decência de não fazê-lo. (Isto é uma longa história que resulta em um colar de jóias quase roubado, uma menina bonita e um garoto arruinado e enganado, que no caso é Nikolaus, mas este garoto ficou no passado e estamos falando sobre este que olha para todos e pensa o quão desgraçados são de estarem festejando a sorte de outrem). Arabella está entretida com uma bola de vidro que imita uma nevasca, presente do barão Keller, um provável candidato a sua mão. Felix ouve atentamente as palavras da baronesa Keitelyn, uma garota de sua idade por quem era inegavelmente apaixonado. Quieza se aconchega entre os seios da mãe, tentando adormecer, enquanto a mesma ri e conversa com seus amigos da classe alta. E Lette... Nikolaus ainda não conseguiu encontrá-la.

A casa tem quarto para todos, e pela manhã ele irá embora. Nikolaus não sabe o que sente. Se é ansiedade ou desapontamento. Gostaria de poder escolher sua esposa, não simplesmente ser entregue a uma que seus pais acharam boa. Ainda mais que terá de competir por ela. Ele leu os livros, ele sabe que existe um sentimento chamado amor verdadeiro e que ele é o que realmente deveria unir um homem e uma mulher em matrimônio. Mas quando pensou que havia encontrado este amor, perdeu-o para a ganância, a cobiça. Quão fraco podia ser o amor, para perder para um dos grandes pecados?

Encarava o teto do quarto, pensando nisso, em seu futuro e se suas irmãs ficariam bem sozinhas nas mãos de Feliz e Dorothea. Com certeza não. E isso machucava-o ainda mais. Sempre tentou protegê-las de algum modo, mesmo quando tinha de ir contra a mãe, e agora as abandonaria por outra garota que nunca viu e por quem teria de se apaixonar obrigatoriamente, enquanto ela poderia escolher quem quisesse. Era injusto. Então a porta rangeu e se abriu, e uma figura pequena entrou sorrateiramente. Caso estivesse dormindo, não a teria notado, mas estava muito bem acordado e por isso ergueu-se, as costas arrepiadas. O riso fraco se demorou ao pé da cama e por fim se aproximou da luz que a Lua infiltrava pela janela.

– Sou somente eu, bobinho. – Susanne sussurrou.

A casa estava em silêncio, ou o máximo de silêncio possível, enquanto nos quartos próximos todos dormiam ou tentavam dormir e no quarto de Susanne seu esposo se divertia com a amante. Nikolaus sentiu peso no coração, ao se lembrar disto. Susanne deixava sua filha com a ama sempre que precisava e provavelmente a menina estaria dormindo em um quarto separado. Igual a ela. Pois seu esposo não queria interrupções.

– O que faz aqui?

– Não conseguia dormir. – ela sorriu – Lembra, quando eu tinha pesadelos e vinha para a sua cama?

– E colocava os pés frios em minhas costas e tocava-me onde não devia? – ironizou, porém sorriu. Eram lembranças perturbadoras, mas de alguma forma boas. Susanne ruborizou.

– Eu era apenas uma garota com os hormônios a flor da pele. E você sempre bonito demais para que me segurasse.

– Você me torturava.

– Sim, era divertido. – ela parecia perdida em lembranças. – Será que meu irmãozinho me deixa dormir com ele novamente? Desta vez sem pés gelados ou toques indevidos.

– Jura?

– Não. Mas vou tentar. – ela sorriu, e Nikolaus não pôde negar.

Quando Susanne entrou nas cobertas, foi que notou que exatidão todas as mudanças que ela sofrera. Não somente os seios, mas toda a estrutura corporal mudara após a primeira gravidez. Seu quadril estava maior, as pernas mais grossas e ela parecia cheinha em sua camisola. Os ombros alargaram e o rosto se tornou mais redondo. Até mesmo seus cabelos que antes enrolavam, agora caíam sem brilho e vida pelas costas. Parecia triste, melancólica. Doente. Embora não admitisse, Susanne sofria, com sua filha e seu marido, a amante e a vida que seus pais lhe compraram. Não era essa vida que Nikolaus queria. Com certeza não era.

– Você sempre foi tão quentinho – ela se aconchegou. – Pensei que, agora que eu não estava mais aqui, talvez uma das meninas fosse ocupar meu lugar.

– Às vezes Arabella e Quieza vêm para cá. Arabella tem vários pesadelos, e Quieza odeia tempestades.

– Lette? – Susanne perguntou – Não a vi desde que cheguei. Oh, será que...?

– Não se preocupe. Lette tem seu próprio jeito de vencer o medo. Ela é forte. Normalmente sou eu quem corre atrás dela.

Susanne sorriu.

Seus braços o envolveram e Nikolaus não pôde deixar de enrijecer, afinal era homem e independentemente de ser sua irmã, Susanne ainda era uma mulher. Quando soltou o ar, ela riu baixinho e suspirou logo em seguida. O silêncio não silencioso da casa era confortável, e o pio da coruja que marcava aproximadamente um minuto, soou seis vezes até que ela dissesse algo.

– Preferia ter me tornado freira.

– Freira? Você? – Nikolaus segurou uma risada sarcástica, e sentiu o beliscão de Susanne nas costelas. Mas ela também ria.

– Sim, uma freira. Ao menos teria uma longa saia para esconder meus segredos. – e riu mais uma vez. – Mas não sou freira. Tenho uma filha pequena e enfermiça, que os doutores dizem que é melhor não nomear, até que ela complete três anos, pois pode ser que morra antes disso. Meu esposo amado só me chama para a cama quando bebe demais ou quando quer duas mulheres ao invés de uma. Minha casa é grande demais para os criados, eu e minha filha, que somos os únicos que ali vivem, normalmente eu ando de um lado para o outro, sem um destino, até esbarrar com alguém ou ter de amamentar.

– Lamento...

– Eu também. – Susanne sorriu. Nikolaus se virou para encará-la e notou que seus olhos lacrimejavam. – Lamento muito, por não ter me tornado freira. Amo minha filha, mas se ela nasceu para morrer, então preferiria que não viesse ao mundo e que pudesse ficar com o Senhor. – e então uma lágrima escorreu, e foi como o congelamento de seu sangue nas artérias. Nikolaus a envolveu sem pensar duas vezes.

– Anne... – não sabia o que mais dizer.

– Sabe, Niko, você é um homem tão puro. Quantas vezes eu vim aqui, e você nunca se importou. Nunca tentou me usar, nunca se aproveitou de minha imaturidade, de minha inocência. Obrigada, Niko, por me mostrar que existem homens como você.

Novamente, ele não sabia o que dizer.

– Eu o amo muito, irmão. E espero que sua mulher seja sua amada, pois você merece mais que qualquer outro, um amor verdadeiro. Estou rezando com todas as minhas forças para que a princesa seja uma boa pessoa e para que ela veja o homem que você é.

– Obrigado, Anne. Obrigado. – demorou-se até tomar a postura. Ela o soltou e beijou-o nos lábios rapidamente.

– Isto vai lhe dar sorte.

– Obrigado. – ele sorriu – Você cresceu. Não é mais uma garotinha pervertida e maliciosa.

– Ah, que indelicado! – Susanne beliscou-o novamente – Não se diz isso para uma dama, sabia? Principalmente se ela acabou de se confessar. – e então sorriu, abaixando os olhos – Eu disse que sempre te amei, não? Talvez... Uma freira não fosse o meu forte.

E pela terceira vez, Nikolaus não soube o que dizer.

º º º

“O livre arbítrio só será possível quando os homens atingirem a sua perfeição, isto é, quando tiverem inteira capacidade de julgar” – Adão Myszak

Adele - Skyfall

– Duque Nikolaus de Heidelberg. – anunciou Genova, para a princesa e suas acompanhantes, todas com serenidade. Curvaram-se, e Nikolaus também fez uma mesura ajeitada, enquanto a moça dava um passo ao lado. – Duque Aaron Beshoff. – novamente a mesura e então um passo ao lado. Ela estava fazendo isso com todos e ele era apenas mais um. Duvidava que realmente fosse gravar seu nome ou seu título. A princesa parecia um pouco chata, ou no mínimo entediante. Não sorrira nenhuma vez até o momento. Seus cabelos louros eram comuns e os olhos claros ainda mais comuns. Não tinha uma beleza tão exótica, claro que era muito bela, mas uma mulher bonita normal.

– Cavalheiros, a princesa Hannelore deseja que passem algum tempo para que possam se conhecer melhor, tanto entre vocês quanto com ela mesma. – Genova disse, ela estava falando pela princesa, o que só mostrava o quanto ela deveria ser manipulada pelo pai e os demais nobres. – Ela sugere que vocês decidam o local mais adequado. Temos o jardim, os estábulos, o bosque, a biblioteca...

– Eu voto pelo jardim – disse um dos rapazes sem pestanejar, e assim se anunciavam, um votando pelo jardim, outro pela biblioteca. Nikolaus não fazia questão, só queria saber se Hannelore era mesmo a garota que parecia ser. Por fim, a maioria dos votos decidiu que usariam o jardim. Os guardas protegeriam a princesa e seus selecionados. Os servos levaram toalhas e cestas para o café da tarde ao ar livre.

A maioria dos rapazes já criavam suas amizades. Durante a viagem, tivera uma agradável conversa com Mikkel, embora não pudesse chamar aquilo apropriadamente de conversa, mas não haviam brigado e Mikkel parecia um bom rapaz. Nikolaus não se importava muito em conseguia amigos, ele estava inseguro em relação a isto, afinal era uma disputa e não poderia confiar em ninguém no momento. Qualquer ovelha poderia ser um lobo.

Foi assim que esbarrou o ombro com uma figura que mais tarde seria reconhecível a quilômetros. A garota abaixou a cabeça e se distanciou, pedindo desculpas. Algumas das amigas riram e Hannelore disse baixinho “Você vive com a cabeça nas nuvens”. Ver a princesa sorrindo e falando com tanta naturalidade e sinceridade até a fazia parecer uma pessoa interessante. Queria conversar com ela para concluir logo seu julgamento. A menina em quem esbarrara não tinha mais que um metro e alguns centímetros, diferenciando-se das demais pelos cabelos castanhos e cacheados. Seus lábios grossos ficavam entreabertos enquanto ela “flutuava” nas nuvens, como Hannelore dissera. As demais garotas também tinham seu charme. Uma delas, a mais alta, com cabelos castanhos, entretanto claros e presos em um coque alto, sorria com sedução, assim como Susanne em seus tempos de mocidade. Outra tinha pele aparentemente queimada de Sol e cabelos negros como carvão. Parecia estrangeira, mas bonita, de qualquer forma. E a quarta possuía cabelos louros finos e tão claros quanto trigo. Ela levava um livro debaixo do braço, sorrindo levemente, sem erguer barulho, balançando a cabeça, reservada. E Hannelore, entre elas, sorria, falava e parecia muito feliz com suas amigas. O charme da princesa era... Pensou bem. Com certeza o modo como erguia as sobrancelhas e sorria em seguida.

–...Laus. Nikolaus. – ouviu, de repente. – Está me ouvindo?

– Sim? – virou-se para Mikkel, o garoto tinha suas sobrancelhas erguidas. – Em quê estava pensando?

– Na princesa. – disse, sincero.

– Entendo. Ela é uma beleza, não? – e sorriu. – Já tem alguma opinião sobre ela?

– Parece que gosta de amizades e é alegre. O que não a torna mais interessante que a maioria das pessoas. Prefiro pensar nas pessoas com seus defeitos, eles sim são mais intrigantes. É o que realmente define alguém, certo?

Mikkel pensou um momento.

– Tem razão. Mas não vejo qualquer defeito até o momento. É até estranho dizer isto.

– Por outro lado, eu vejo, alguns. Ela é insegura, por isso sua tia falou em seu nome, ao invés dela mesma fazer. Sua amiga a direita, a morena, é barulhenta e ri alto demais. A alta é séria demais e olha para as outras com arrogância. A loura não tem senso de humor ou carisma. A pequena é avoada e desajeitada.

– Você é bem observador. – Mikkel comentou – Não havia notado isso até agora. Mas entre todos os defeitos, prefiro a insegurança. – e sorriu – Afinal é por ela que viemos. Devemos prestar mais atenção nela, certo?

– Sim, sim. – deu de ombros, caminhando.

Nikolaus não havia realmente prestado atenção nelas, era algo natural que fazia. Gostava de observar as pessoas e descobrir seus defeitos, qualidades, medos e desejos. Era tão simples ler alguém. Neste momento lembrou-se de Lette, seu único enigma em toda a vida. Será que a irmã estava bem? Será que estaria escondida em algum lugar da casa ou presa no sótão? E em relação a Arabella e Quieza? Felix as estaria perturbando? Era impossível não se preocupar com suas garotas. Principalmente com Susanne. Suspirou. Ela era seu maior fracasso.

– Recebeu alguma carta de sua família? – Mikkel perguntou.

– Não, mas ainda é cedo. Estamos aqui há um dia, e chegamos durante a noite.

– Meus pais já me escreveram – Mikkel sorriu, orgulhoso – Até mesmo meus irmãos, a caçula começou a escrever agora e sua letra é horrível, mas me dá alegria de ver o esforço que fez por mim.

– Você tem sorte. – Nikolaus disse, sem pensar. – Sua família parece se importar mais.

– Ah, isto é porque sempre vivemos juntos. Somos muito unidos. Desde que deixamos a cidade e fomos para o campo, meus pais têm vivido cada vez mais felizes, juntos. Antes brigavam sempre, hoje é difícil não encontrá-los cantando um para o outro. – Mikkel abriu um sorriso sonhador – Quero que minha esposa cante para mim, um dia.

– Quem sabe. – Nikolaus lembrou-se das inúmeras vezes que Arabella, Lette e Quieza vieram correndo para ele, pois os pais estavam gritando um com o outro no quarto ao lado. E não só isso, lembrou-se de Anne e de seu casamento infeliz e sua filha fadada a morte. – É possível.

– Você me parece um tanto negativo. Está triste porque sua família não lhe escreveu ainda? Calma, eles o farão logo.

– Não me importo com cartas. – olhou para frente, para o horizonte, qualquer lugar menos para Mikkel. O sentimento que surgia em seu peito era um misto de melancolia e inveja. – Só não posso falar tão alegremente de minha família, quanto você. – e parou de caminhar, deixando os demais rapazes ultrapassá-los. Ambos permaneceram no final do grupo. – Mas não quero falar disso.

– Não se preocupe – Mikkel sorriu, companheiro. – Toda família tem seus defeitos, nenhuma é completamente feliz. Meus pais normalmente discutem sobre as condições financeiras, minhas irmãs gostam de brigar por roupas e os próprios animais fogem sempre que podem, nos dando ainda mais dor de cabeça.

Mas é claro que nada disso se compara a ter pais que não se amam, uma mãe que amaldiçoa e tortura a própria filha, um irmão que obtém prazer na desgraça alheia, uma irmã que sofre sendo trocada pelo marido por uma amante e tendo de cuidar de sua filha enfermiça, sem contar que... Fechou fortemente os olhos. Desde que soubera disto, estava se tornando cada vez mais difícil não pensar no assunto. O beijo de Susanne fora algo puro e sem más-intenções. Mas após sua confissão, não havia como lembrar dele como um simples beijo de irmãos. Quer dizer, é claro que não a via deste jeito, nunca a vira assim. Jamais faria qualquer coisa com ela, afinal seria pecado. Mas... Não tinha como afastar aquilo. Por algum motivo, após saber de todo o sofrimento dela e de saber sobre seus sentimentos, tudo se tornou ainda pior e ele queria poder protegê-la. Poder cuidar dela, e cuidar de sua filha. Queria poder cuidar de suas outras irmãs, lhes dar felicidade, tirá-las das garras daqueles que faziam mal. Da senhora Heidelberg. De Felix. Do esposo infiel. Ver o sorriso de Mikkel e o modo como falava de sua família, o enchia com mais sentimentos melancólicos e arrependimentos. Fracassos. Idéias do que poderia ter feito. Poderia ter fugido com todas, poderia ter feito isto e hoje seriam felizes. Não se importava de trabalhar para sustentá-las, não se importava de ter de se tornar um simples camponês. Daria sua vida por elas, e daria sua felicidade pela felicidade delas. E mesmo assim, estava ali. Em um piquenique com a princesa.

– Obrigado pelas suas palavras, Mikkel, mas eu realmente não preciso de conforto. – disse, talvez um pouco frio demais. – Prefiro ficar sozinho no momento, se não se importa.

Mikkel ergueu as sobrancelhas e acenou.

– Tudo bem, desculpe se o irritei. Não foi minha intenção.

– Claro. – respondeu, ríspido, virando em direção ao mais longe do grupo. Sentou-se sobre uma rocha, enquanto os demais se sentavam nas toalhas esticadas na grama. As damas estavam em um círculo, em uma toalha afastada, rindo e conversando entre si. Mikkel se juntou a alguns outros rapazes. Talvez tivesse sido duro demais com ele, não queria afastá-lo deste jeito. O rapaz era bom e não parecia um lobo em meio as ovelhas. Talvez fosse uma boa escolha para amizade. Mas mesmo assim, Nikolaus não conseguia imaginar como esquecer aquele assunto deprimente, vendo-o ao seu lado o tempo todo. Então apenas eliminou todos os pensamentos, afastou-se de Mikkel e começou a se lembrar de tempos mais dourados. Bufou. Não havia nenhum.

Todas as lembranças se voltavam para algo ruim. Sempre que lembrava das noites com Susanne, lembrava-se da última vez que a vira. Sempre que se lembrava das vezes em que encontrou Lette, lembrava também de quando sua mãe a torturava no sótão ou no porão, longe dos olhos de todos e longe de sua proteção. Lembrar de Arabella e das aventuras que tiveram era bom, mas no final Felix acabava estragando algo. Lembrar dos trabalhos que fez com o pai só o fazia pensar no homem fraco e sem controle que ele era, um homem governado pela própria esposa. E simplesmente não conseguia se lembrar de Dorothea Heidelberg ou qualquer coisa boa em relação a ela. Lembrar dos criados o lembrava do modo que eram tratados como seres inferiores. Lembrar de sua égua, Sombra, o fazia lembrar das inúmeras vezes em que pensou fugir galopando e no final retornou, covarde. Lembrar dos cães, Primavera e Inverno, o fazia lembrar de como os cães eram mais felizes que ele. Afinal, existia felicidade? Que desgraça havia feito para merecer pensamentos tão deprimentes e depressivos? Por que não encontrava alegria em qualquer coisa que tentasse pensar?

– Nikolai, certo? – ouviu e foi obrigado a abrir os olhos.

– Nikolaus. – corrigiu. O Sol ofuscou sua visão, até conseguir distinguir os cabelos até a cintura e as formas pequenas. – Senhorita.

– Nikolaus. Certo. – ela se sentou sobre as pernas e disse com cortesia. – Me chamo Dominique, senhor, e sou grande amiga de Vossa Alteza, princesa Hannelore. Venho em nome dela...

– Pode pular esta parte. – ele revirou os olhos.

– Obrigada, eu tive de decorar umas cinco frases e não estava lembrando da quarta e da quinta. – ela suspirou. – Eu vim conversar.

– Sim?

– Sim.

Nikolaus encarou-a e o silêncio prosseguiu. Dominique sorria, embora sem mostrar os dentes. Havia uma aura suave ao seu redor que o fazia se lembrar de Lette. Por fim, jogou as pernas para baixo e se sentou sobre elas também, frente à dama.

– Prazer, Dominique. Posso saber o motivo para querer conversar comigo?

– Nós somos amigas de Hannelore, e como ela é apenas uma e são muitos rapazes, iremos conversar com eles no lugar dela. Nós a ajudamos a escolher vocês através das cartas, e vamos ajudá-la agora também. Nossos garotos preferidos irão conversar em particular com a princesa. – ela sorriu. – É claro, eu só estou aqui porque a Hanne é muito tímida e...

– Eu só quero saber se vamos conversar sobre política ou história. Tenho de me preparar para debater.

– Debates? Odeio debates. – Dominique balançou a mão.

– Mas... Não quer saber sobre meu conhecimento em política e... Administração?

– Para quê? Quero saber se é legal. Imagine dar um garoto chato para a Lory, ela não merece. – e então encolheu os ombros – Você me parece chato.

– E você me parece muito sincera. – Nikolaus a encarou com força – O que mais tem a dizer, senhorita?

– Bem, deixe-me pensar... – ela revirou os olhos algumas vezes e sorriu – O que gostou na Lory?

– A princesa, você diz? – Nikolaus pensou também. – Ela me parece gentil e carismática. Não mais que isto. Um pouco insegura e tímida, como você disse, mas talvez porque tudo isto é novo para ela ainda.

– Bingo, acertou. Você não parece tão idiota quanto imaginei. – Dominique riu. – Qual sua cor favorita?

– Cor favorita? O que isto vai mudar?

– Muita coisa. – Dominique fingiu uma expressão ofendida. Nikolaus apenas suspirou. Ela era irritante.

– Bem... Gosto de azul, o azul escuro. Como o céu ao anoitecer. E gosto também de amarelo ouro.

– São cores interessantes. Eu gosto de laranja. Por quê?

– Por quê...? – piscou, atônito.

– Por que gosta de azul e amarelo?

– Mas que espécie de pergunta é esta? Porque eu gosto, é lógico. Acho bonito.

– Essa é uma razão fraca.

– E você, por que gosta de laranja?

– É a cor do pânico. – Dominique riu. – Me lembra coisas quentes, mas não tão quentes. É confortável para ver, normalmente lembramos do Pôr-do-Sol, da areia na praia e temos um cenário pacífico e caloroso. É uma cor que me passa emoções boas, mas não tão boas.

– Você gosta de emoções não tão boas?

– Prefiro, sim. – ela balançou os ombros, olhando para cima, para ele. Pela primeira vez diretamente em seus olhos. – Gosto de sentir que falta algo, e que ao mesmo tempo estou feliz com o que tenho. Gosto de paradoxos. Você não?

– Nunca pensei nisso. – Nikolaus ergueu as sobrancelhas, surpreso pelo rumo da conversa. De repente Dominique ergueu seus olhos para o céu e suspirou.

– Você é entediante, Nikolaus. Acho que não conseguirá nada com a Lory.

– É uma pena, pois eu realmente estava entusiasmado em conversar com ela. – deu de ombros, esperando que Dominique abrisse um sorriso e dissesse “brincadeira”, mas ela apenas fechou o rosto e cruzou os braços. Visivelmente irritada. Ora, que surpresa! Conseguiu irritar a garota menos irritável dentre todas as outras, o que mais faltava?

– Qual seu número favorito?

– Dezoito. – disse, sem pensar, pois realmente não sabia qual era o favorito, mas não queria deixá-la ainda mais entediada. Embora não soubesse como não fazer isso, afinal Dominique era tudo, menos previsível. Isso constatou alguns segundos atrás. Quase como Lette.

– Dezoito é um número bom. Eu gosto de trinta e um. - ela pensou um pouco – Acho que deixarei você ficar um pouco mais na competição, afinal não temos um garoto chato ainda. É seu dia de sorte, as categorias de “gentil” e “familiar” já foram preenchidas. Mas a de chato estava vaga.

– Você está gozando de mim? – sentiu uma ligeira raiva atravessar as bochechas, avermelhando-as.

– Não, não. É verdade. Parabéns. – Dominique se levantou – Agora preciso conversar com mais alguns garotos e preencher as categorias que faltam. Até mais, Nikolaus.

Acenou em despedida, enquanto ela se afastava. Que garota irritante e estranha. Ela se sentou diante de outros garotos que se sentiram honrados com a atenção. Patético, Nikolaus suspirou, enquanto tentava observar a princesa e suas outras companheiras, que conversavam baixinho agora. Quando ela mudou o olhar para sua direção, desviou-se, tentando não demonstrar que a estava olhando. E quando voltou para olhar novamente, ela já havia virado de lado. Francamente, aquilo era quase ridículo. Mas estava com fome, e seus pensamentos podiam esperar. Se aproximou de Mikkel e da turma, sentou-se e dividiu pão, chá e manteiga.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Próximo capítulo, extra da Dominique. Beijos!
E gostaríamos de informar Karollyne, qual o seu perfil no nyah? Não temos como lhe informar sobre sua ficha, pois você esqueceu de informar isto na sua inscrição