Acordei com despertador do celular. Antes de desliga-lo para ele não acordar minha pequena vejo que horas são: 6:18. Odiava acordar minha princesa nesse horário. Mas mesmo assim, ela acorda. Seus olhinhos piscam algumas vezes e depois se abrem por completo.

– Bom dia minha princesa... – Dou um beijo em sua bochecha.

– Bom dia, mamãe. – Ela se aconchega mais perto de mim, a ponto de dormir de novo.

– Filha, a gente vai ter que sair, vamos? – Passo a mão diversas vezes por sua cabeça.

– A não, mamãe. Quelo dumi... – Ela estava manhosa. As vezes ela falava errado, mas de manhã, sempre era assim.

– Ah meu amor, vamos lá. Hoje você vai para a escolinha, vai ter muitos amiguinhos pra brincar com você. Depois, a gente pode ir no parquinho, que tal? – Pergunto.

– Tá bom.

Nos levantamos e ajudo ela no banho. Na escola da Ana, não era obrigatório o uso de uniforme. Ana usava um macacão verde e sapatilhas amarelas de bolinhas pretas. Ela havia feito a combinação. Arrumei seu cabelo em uma trança. Depois corri para tomar meu banho.

A imobilizadora e ajudante particular, se chamava Marlene. Estávamos conversando por telefone e internet, ela era de uma empresa muito boa e confiável, e chegaria ás 6:45 para ajudar nos últimos detalhes.

Vesti um simples vestido bege e um branco casaco fino, e um par de sapatilhas pretas. A maquiagem estava imperceptível – eu estava indo para uma entrevista de emprego, não para uma balada. Peguei uma bolsa e coloquei nela documentos - meus e da Ana, uma amostra do meu currículo e tudo o que obviamente se tem na bolsa de uma mulher.

Quando terminei de me arrumar e fui para a sala, Ana brincava no sofá com sua boneca.

– Oi, filha, está com fome? – Pergunto.

– Sim, mamãe.

– Hoje a mamãe vai fazer compras, quer ir comigo?

– Sim! – Ela berra.

– Vem, vamos comer o resto da pizza. – Ela imediatamente sorri e pula para a cozinha.

Quando estávamos quase começando a comer, a campainha toca. Corro para atender a porta. Olho pelo olho mágico da porta e vejo uma moça de cabelo loiro e longo. Marlene.

– Olá. – Digo ao abrir a porta – Entra. – Ela me cumprimenta antes de entrar e ajusta o blazer. – Senta.

– Oi, Tris, obrigada – já havia pedido para que ela me chamasse assim. Ela se senta no sofá e eu ao lado dela -, eu disse que viria, aqui estou. Precisava conversar com você sobre a escola para a Ana, e sobre a babá.

– Eu já conversei com a diretora, ela permitiu a entrada da Ana. Mas eu vou fazer uma entrevista de emprego, e preciso ter certeza de que se eu for aceita, Ana terá com quem ficar na parte da tarde.

– Sim, você havia me dito, é sobre isso que eu quero falar – ela suspira -, vou abandonar meu cargo na imobiliária, é muita coisa para fazer. E já que você está precisando de alguém para ficar com a Ana, eu poderia ficar com ela. – Franzo a testa – Calma, eu tenho experiência com crianças. Antes de me formar, eu trabalhava numa creche.

– Você tem certeza? – Pergunto.

– Sim. Eu poderia buscá-la na hora do almoço ou...

– Acho que vou querer ficar com ela na hora do almoço, Marlene. Pelo menos algumas vezes.

– Hum.... – Ela pensa – Então vamos fazer o seguinte, eu sei que você vai conseguir esse emprego, pois bem, quando você saber o horário, nós conversamos melhor.

– Mamãe! – Ana corre até mim com sua boneca. Ela senta no meu colo.

– Oi minha princesa, o que foi? – Pergunto.

– Quero brincar! – Ela diz.

– Calma. A mamãe tem uma ótima notícia.

– Qual? – Ela se levanta e começa a pular – Conta, conta, conta!

– Sabe a tia Marlene? – Aponto para a mesma, e Ana assente – Então, ela vai cuidar de você enquanto a mamãe não estiver aqui.

– Legal! – Ana só sabia da Marlene por eu sempre falar dela e com ela pelo telefone.

O celular de Marlene toca e ela pede licença. Após alguns minutos ela volta da cozinha.

– Tenho que ir, Tris! Liga pra mim. – Ela dá um beijo em minha bochecha e um grande abraço em Ana. – Tchau pequena, até mais.

A porta se fecha e Ana e eu voltamos a comer. Ana precisava ir para a escolinha, eu voltaria para casa e depois iria para a entrevista. Minha princesa e eu terminamos de comer, arrumamos tudo o que tinha para arrumar e fomos de carro, já que apesar da escolinha não ser muito longe, estávamos atrasadas.

A fachada da escolinha era azul claro e tinha em volta um grande jardim – podia se ver de longe várias árvores. Muitas crianças entravam no local, e tinham muitos pais se despedindo dos filhos.

Desci do carro e fui até a outra porta, tirei o cinto da Ana e esperei que ela pegasse a boneca. Arrumei a pequena mochila lilás dela nos ombros e atravessei a rua.

– Você vai ficar bem? – Agacho na sua frente arrumando os cabelos dela.

– Vou sim, mamãe. – Ela diz com um sorriso no rosto. Achava ela incrível, uma hora estava com medo com a quantidade considerável de crianças e em outra feliz. Ela me dá um beijo e sai correndo pelo pátio.

Volto para o carro e dirijo de volta para casa. Minha entrevista seria ás 8:00 na famosa Eaton’s Company, uma empresa de turismo. Me surpreendi quando me avisaram que faria a entrevista – o que já é difícil. O nome me lembrou bastante o Tobias, mas ele não é o dono, disso eu tenho certeza. Sua família era dona de uma famosa marca de roupas, não de turismo. Nem sei o que faria se não fosse isso.

Fiquei em casa arrumando as últimas roupas e quando faltava meia-hora para a entrevista e sai de casa. Já que não sabia de cor o caminho, fui guiada pelo GPS.

A Eaton’s Company tinha uma fachada muito bonita, com flores e plantas ao redor, o prédio era bem alto. Passei pela porta de vidro e fui até a recepção. Uma moça de cabelo preto estava sentada atrás do balcão conversando - lê-se berrando - com alguém chamado Uriah ao telefone. Quando me viu, sorriu e jogou o telefone no gancho.

– Olá, sou Lynn, em que posso ajuda-la? – Ela sorri.

– Vim para a entrevista de secretária. – Pego um documento e entrego á ela. Ela lê e depois o devolve.

– Então, você é Beatrice Prior? – Assinto – Hum, você veio para o cargo de secretaria da presidência, hum... certo. Pode esperar um momento? – Ela pega o telefone e conversa com um tal de Zeke. - Pode subir. Terceiro andar, é só esperar lá.

Vou e entro no elevador e aberto o botão para terceiro andar. Não passa nem 10 segundos e a porta se abre, uma moça morena entra bufando. Parecia não perceber a minha presença. Quando ela se acalmou, olhou para mim e sorriu.

– Veio para a entrevista? – Ela pergunta.

– Sim.

– Te desejo boa sorte. Ser secretária da presidência não é fácil. – Ela arruma o curto cabelo e preto - A propósito meu nome é Christina, sou do Departamento de Marketing e Gestão de Pessoas.

– Sou Beatrice Prior. – Sorrio fraco.

– Zeke vai fazer sua entrevista, o chefe está numa reunião e pediu para ele fazê-la. - A porta do elevador se abre e saímos do elevador. - Vou falar com Zeke, espere aí.

Observo o local, com atenção. Tinha 5 portas, alguns sofás azul-marinho e um tapete e mesinha no centro dos sofás. Do lado de três portas tinha uma mesa e uma poltrona atrás dela. Uma mesa não tinha nada por cima.

– Aqui, Zeke, ela veio para a entrevista. – Christina chega com um rapaz um pouco mais velho, moreno.

– Prazer. Sou Ezequiel, do Departamento Financeiro. – Zeke – ou Ezequiel estende a mão e á aperto. – Fiquei encarregado de fazer a entrevista, me acompanhe. Segui ele a porta do lado a do elevador. Zeke era bem simpático, mas sério, sabia usar sua simpatia muito bem no trabalho, não deixando seu lado profissional e sério. Sentei na frente da mesa e ele atrás.

Ele fez várias perguntas, de onde vim, onde já havia trabalhado, etc... Mas não contei que tinha uma filha. E isso durou 40 minutos. Depois ele saiu da sala com uma ficha.

– Bem, avaliei e tenho certeza de que você será uma ótima profissional. Você começa amanhã, Beatrice – ele aperta minha mão e eu retribuo –, me chama de Zeke. – Ele olha as horas no pulso – a reunião já acabou. Antes de mostrar a empresa, acho melhor você falar com o presidente.

– Ok.

Sigo ele para a sala ao lado, Zeke bate na porta e a abre em seguida.

– A nova secretária está aqui. – Zeke diz. Entro junto com ele na sala espaçosa. Meu novo chefe estava sentado de costas para nós, mexendo numa gaveta. Ele era alto.

– Zeke, onde é que está aquela pasta que o Uriah deixou aqui semana passada? – Gelo com aquela voz. Sabia que conhecia de algum lugar.

– Sua nova secretária está aqui, não quer conhecê-la? - Ele levantou o rosto e senti que fosse ter um ataque. Ele continuava muito bonito, quer dizer, ainda mais, seus escuros olhos azul-escuro me fitaram e eu fiz o mesmo.

– Tobias? – Perguntei incrédula.