O perfume suave das rosas, levada pelo vento, me atingiu delicadamente e fechei os olhos para apreciá-la melhor. A saia do vestido longo e leve balançou, apertei a mão de meu pai e devolvi o sorriso que ele me dera, de maneira contida.

Eu teria sérios problemas se meu coração não parasse de pulsar tão desesperadamente. Christina tinha avisado centenas de vezes para que eu mantivesse a calma antes dela atravessar o tapete vermelho acompanhada de Will e sentar numa cadeira acolchoada, para que ela se sentisse mais confortável no estágio avançado da gravidez. Sério, eu não queria ter um infarto antes de entrar na igreja, era o dia mais esperado da minha vida, simplesmente não podia ter um ataque logo ali.

Eu deveria ter engolido o calmante. Eu deveria...

Inflei os pulmões e dei o primeiro passo na direção da porta de carvalho escuro. Ana entrou primeiro, jogando pétalas vermelhas e no segundo seguinte lá estava eu, logo atrás dela, acompanhada de papai - termos feito as pazes fora nossa melhor decisão, porquê eu não fazia ideia do que seria aquele dia especial sem ele ao meu lado.

As palavras do religioso agora ecoavam em meus ouvidos e as mãos de Tobias seguravam as minhas, nossos olhares presos um no outro. Ele piscou antes de pegar a aliança e fazer seus votos.

A igreja lotada foi apenas um detalhe enquanto eu dizia meus sinceros sentimentos em seguida.

— Pode beijar a noiva.

E então seus lábios estavam grudados nos meus, ávidos. Segurei sua nuca e pelo instante que o beijo durou, pude constatar, mesmo concentrada demais para pensar com clareza, que eu era casada. Casada!

Sorri em meio ao beijo e ele grudou nossas testas, já ouvindo as palmas e o gritos dos convidados. Tobias beijou-me rapidamente e eu segurei seu braço, sendo guiada para fora da igreja.

— Você está tão linda! - Christina exclamou. Tirou a mão rapidamente da barriga e tocou na renda que começava em meus ombros, formava as longas mangas e estendia-se até a bainha do vestido pelas laterais do busto liso. - Quando chegar a minha vez, desejo estar tão deslumbrante como você.

Sorri.

— Eu só não entendo a razão de ainda não ter se casado - alfinetei.
— Recuso-me a casar com um barrigão! - exclamou. - Quero ver meus dois pimpolhos no altar junto comigo e Will. Não sou tão corajosa como você.

Gargalhei e levei minha mão até a barriga.

— Ela nem está grande, Chis.

— O Tobias é quase uma sombra sua, ele é burro ou se faz? Como é que ele não percebeu que...

— Percebi o quê? - Tobias me abraçou pela cintura e beijou minhas bochechas.

Recostei minha cabeça no peito dele e suspirei.

— Você tem uma esposa linda - falei convencida.

Christina semicerrou os olhos cor escuros e alisou o vestido de ceda azul turquesa. Seu corpo pequeno tinha se adaptado á segunda gravidez com facilidade. Tínhamos um plano saudável com Marlene e todas as manhãs de domingo fazíamos caminhada.

— Ah!, mas isso eu já sabia -  Tobias entrelaçou nossos dedos.

Will caminhou apressadamente até nós segurando o primogênito, George, de quase dois anos. Ele tinha a mãozinha dentro da boca e chorava copiosamente, estendendo os braços quando viu Chris.

— Calma, bebê - ela o segurou e beijou suas bochechas. - A mamãe está aqui. O que seu pai fez com você?

— Eu juro que não fiz nada! - Will ergueu, rendido, as mãos. - Ele queria um bem casado mas eu não dei, ai...

— Para de ser besta, Will. Vai alimentar meu filho - devolveu George para o pai. - Filho meu não passa vontade. E traga para mim um copo de suco.

Will revirou os olhos, beijou Christina e desapareceu no meio dos convidados.

— Eu estou tão feliz - falei, após Shaunna se despedir e agarrar a mão de Zeke com firmeza para dançarem.

— Eu estou muito mais - Tobias apoiou sua cabeça na minha por alguns segundos.

Fechei os olhos para apreciar com mais naturalidade o seu perfume. Com um dos braços envolto á mim, ele acariciou minha cintura e beijou minha cabeça. A final da música me desprendi de dele e encarei a menina zangada ao nosso lado.

— Você disse que ia dançar uma vez - bateu o pé. - Agora sou eu.

Ana pegou minha mão e me puxou para o lado.

— Vou ensinar o papai a dançar - ela apertou os pulsos de Tobias e começou a dar voltas.

Rimos e deixei-os por um instante, caminhando até a mesa de docinhos. Estava tudo dez vezes melhor do que o esperado. As pessoas mais importantes para mim estavam reunidas, conversando e sorrindo, acrescentando mais ao ar calmo e alegre que rodeava á mim e meu marido.

Tínhamos recomeçado do zero e agora éramos a outra solução para a verdade omitida. Tobias era meu final feliz. Ana era meu final feliz. E estava certa de que as coisas estavam melhorando cada vez mais; gradativamente, minha vida estava se ajustando ao que eu sonhava.

Fitei mais uma vez os convidados e ajustei a tiara de pérolas de mamãe no alto da cabeça. Meus longos cabelos loiros estavam na altura dos ombros e cresciam rápido ao longo dos último ano, mais ou menos o tempo em que o tinha cortado. Sentia-me linda e realizada.

Horas depois eu entrava no jato particular da Eaton´s Company ao lado do meu amado esposo. Dobrei os braços dentro do casaco e alisei meu vestido cor caramelo e bem solto próximo á barriga.

Fechei os olhos e encostei minha cabeça no ombro dele, depois de beijar-lhe a face inúmeras vezes, agradecendo. Iríamos para a França!

— Vamos tirar centenas de fotos, fazer chamadas de vídeo para Ana e traremos muitos presentes - Tobias falou.

— Quero que ela fique com saudades. Sempre que ela fica com Marlene, se esquece que tem uma mãe.
Ele riu baixo.

— E um pai também. O que será que Marlene vai cozinhar que hipnotizará nossa princesa?

— Coisas que eu nunca saberia fazer. Marlene e sua mão cheia! - disse entre risos.

Horas depois, seguimos até o hotel. Eu não estava raciocinando bem, ainda estava um pouco sonolenta e Tobias me ajudou e colocou-me na cama depois de trocar minha roupa.

Não devia estar passando das cinco da manhã quando abri meus olhos ao sentir Tobias acariciar meus cabelos.

— Não está com sono? - sussurrei, abraçando-o.

— Um pouco - beijou minha cabeça. - Estou pensando numa forma de contar para Ana que ela terá um irmãozinho em breve.

Fiquei tensa e ergui minha cabeça para confirmar o que já sabia. O sorriso zombeteiro dele evidenciava que ele já tinha conhecimento da minha gravidez.

— Você achou que eu não iria perceber?

— Como descobriu?

— Ah! - riu. - Você as vezes é previsível. O jeito que protegia nosso filho sem ao menos perceber, não bebeu nada na festa e eu ouvi sua conversa com a Cristina. E encontrei isto também - Tobias sentou na cama e tirou do criado-mudo o envelope com o resultado do meu exame de sangue.

— Você não tem noção da minha felicidade, Tris. - disse me abraçando e enchendo-me de beijos por todo o rosto. - Vai ser uma menina.

Mordi o lábio.

— Achei que você que você fosse querer um menino.

Ele deu de ombros.

— Tenho certeza de que será uma menina.

— Ok, então.

Selei nossos lábios demoradamente e ele cobriu meu corpo com o seu, acariciando de leve minha barriga.

— Eu te amo tanto - murmurei entre um beijo e outro.

— Pode ter certeza que é correspondida.