Anteriormente em Uma Nova Chance...

Minha princesa já dormia a alguns minutos quando lembrei-me de que meu tormento me aguardava na sala. Sai silenciosamente do quarto e suspirei. Voltei até a sala e encontrei Tobias de costas para mim, pigarreei e ele se virou com um porta-retratos na mão. Reconheci-o de imediato. Era a minha foto com Ana no colo quando ela ainda era bebê dois meses depois do parto.

— Acho que precisamos conversar.

(...)

Quando eu era pequena, minha mãe sempre dizia que omitir algo, qualquer coisa, independentemente da situação, era uma espécie de mentira. Por muitos anos questionei seu argumento, o qual ela tinha como base sobre seus princípios e escolhas. Quando descobri estar grávida não foi somente um choque para mim, eu podia ter dezoito anos e uma vida inteira pela frente, um provavelmente um futuro promissor como Advogada e inesperadamente tudo fora interrompido por um "erro" que não havia sido feito sozinho. Minhas consequências também haviam caído sobre minha família; Caleb e Susan, irmão e melhor amiga, queriam que eu dissesse a verdade. Queria ter enxergado o que eles tanto diziam: Tobias descobriria e eu seria a bruxa má da história. Porém, ele precisava ouvir o meu lado da história, que não era assim tão simples.

A questão, era que eu não tinha mentido. Eu só queria protegê-lo. Proteger á nós dois e nossa filha, e acho que esse foi meu maior erro.

Suspirei pesadamente e desviei meus olhos de Tobias, dobrei meus braços e esperei que ele dissesse algo. Foi então que fui estúpida o bastante para perguntar:

—Sobre o que quer conversar?

Tobias me olhou como se eu tivesse sete cabeças e apontou para outro porta-retratos com uma foto de Ana com uma legenda embaixo: Eu amo minha mamãe.

— Quantos anos ela tem?

Mordi os lábios.

— Quatro.

— Por que não me contou antes?

Tentei encontrar algum vestígio de raiva em seu olhar, mas sua expressão estava confusa.

— Eu poderia ter ajudado, sabia? - Ele afrouxou a gravata e mexeu freneticamente as mãos.

— Eu não podia contar, entende? - Comecei. - Você nunca aceitaria! Pediria para eu abortar e seguiria sua vida como se nada tivesse acontecido!

— Você acha que eu sou um monstro, é isso?! Como pôde pensar eu lhe pediria isso? - Gesticulou, exasperado.

— Você tinha uma vida inteira pela frente, nunca gostou de crianças e sempre disse que nunca teria filhos! - Seu rosto se transformou numa carranca. - Eu queria o melhor para você, compreende?

— Eu entendo que você tenha me traído, Tris, sério mesmo - franzi a testa. Do que ele estava falando? - Mas eu podia ter ajudado! Se você tivesse me dito antes... O pai dela as abandonou, não foi?

Engoli em seco. Ele não... Ele não... Merda. Como ele não tinha percebido que Ana era sua cópia? E ainda por cima teve a coragem de dizer que eu o tinha traído. Aquilo não tinha cabimento. O encarei atentamente, só para ver se ele estava de gozação comigo. Tobias continuava falando, sem parar. Inspirei.

—-- Tobias! - Gritei.

Ele parou de falar e se concentrou em mim.

—--Ana é sua - dei ênfase -, filha.

Ele me fitou como se eu fosse a maior aberração da terra. Depois riu, riu muito.

— Fala sério, Tris - bateu a mão no joelho e limpou uma lágrima do riso contagiante que soltava, com uma expressão zombeteira.

— Eu nunca iria brincar com isso.

Ele parou de rir. Tobias me fitou e depois de minutos intermináveis seu rosto foi de riso para confusão e dele para ódio. 

— Estamos num assunto sério, Beatrice, não me venha com mentiras!

— Eu nunca - afirmei veemente -, mentiria sobre Ana ser nossa filha. E nunca o trairia mesmo sabendo que você tinha várias na sua cama!

Ele cerrou os punhos, nervoso.

— Como você pôde?!

Senti as palavras finalmente se entalarem na minha garganta.

— Você achou que a escondendo de mim tudo ficaria bem? Você não tinha o direito!

Fiquei incrédula.

— Você nunca quis um filho, você acha que eu...

A campainha tocou e caminhei até a porta, abrindo-a.

— Onde está minha princesinha?! - Christina entrou com sacolas cor-de-rosa, seguida por todo o grupo.

Seu sorriso logo murchou ao ver Tobias em minha sala. Zeke fechou a porta e olhou para todos nós.

— Até você Zeke!? - Tobias indagou, indignado. - Como vocês puderam me esconder isso?

— Olha Tobias, nós não queríamos.. - Uriah tentou.

— Cala a boca Uriah. - Tobias berrou e seguiu até Zeke. - Você é um mentiroso!

— A verdade deveria vir da Tris, não podíamos trair a confiança dela!

— Muito menos a minha!

Shaunna dobrou os braços e tentou esconder o rosto envergonhado e triste. Eu não tinha a mínima ideia de como controlar a situação.

— Will, pegue um copo de água para a Shaunna e você - apontou Chris o dedo para Tobias -, irá se acalmar. Tem uma criança aqui e se ela se assustar eu juro que acabo com você!

Tobias não mudou sua expressão e bufou antes de sair e bater a porta violentamente.

— Eu vou atrás dele - disse Zeke.

— È melhor não - falei. - Ele precisa esfriar a cabeça.

Sentei-me no sofá e coloquei minhas mãos na cabeça. Como eu esperava Tobias não havia recebido muito bem a notícia. Não me admirava com isso, eu só não queria pensar na hipótese dele tirar nossa filha de mim, seria melhor ele continuar não gostando de ser pai e me deixar em paz. Sim, eu sabia que estava sendo egoísta com Ana, mas Tobias já mostrara ser incompatível com a função, ele não estava preparado e acho que nunca estaria.

— Sinto muito Tris... - Shaunna se sentou ao meu lado e passou os braços sobre meus ombros.

Em questão de segundos sentia lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Expliquei resumidamente minha discussão com Tobias antes deles chegarem.

— Vai ficar tudo bem, nós vamos conversar com ele, está bem? - Uriah se agachou na minha frente e segurou minhas mãos. - Eu já volto.

— Não falem com ele, por favor. Deixem tudo como está - disse.

— Mas ele foi um idiota! - Falou Will. - Precisamos ir até ele antes que faça alguma besteira.

Inspirei profundamente.

— Eu estava certa - disse.

Ninguém respondeu ou retrucou.

— Como Ana está? - Christina pegou as sacolas nas mãos.

— Ela está um pouco doente, está dormindo agora.

— Com esses gritos, duvido muito que ela esteja dormindo... - Uriah entrou na sala com Ana nos braços.

— Ontw.. Como você está minha princesa? - Christina foi ao encontro delas.

— Dói... - Ana disse após bocejar e se aconchegou no colo de Uriah.

— Will e eu vamos conversar com o Tobias, damos notícias mais tarde. - Disse Zeke arrastando o amigo para fora. - Uriah, você vem depois.

Dei de ombros. Qualquer coisa que eles falassem, Tobias iria rejeitar. Tanto quanto eu, sabia, ele era orgulhoso e não aceitaria ter sido um babaca. Eu também não fora um anjo, claro, mas a reação dele só provara o que sempre temi. A rejeição.

— Ela voltou a dormir - Uriah sussurrou. - Acho melhor deixá-la no quarto.

Levantou-se e voltou para o corredor.

— E agora? - Chris me interrogou.

Inspirei profundamente.

— Vou mandar os últimos e-mails para o Tobias e vou ficar um tempo com a minha filha, depois procuro outro emprego.

— Se precisar de qualquer coisa, conte com a gente! - Disse Shaunna.

Assenti.

— Obrigada por tudo, meninas.

— Vamos cuidar de você e depois iremos embora. Você ainda não se livrou de nós, Tris. - Chris brincou.

(...)

Tobias

— Mais que merda! - bati minha mão na mesa.

— Você tem que se acalmar cara, as coisas não funcionam assim.. - disse Uriah.

— A Tris acabou de se demitir e você quer que eu fique calmo?!

— Você também facilitou bastante, né Tobias? Pegar a Molly no mesmo recinto que a Beatrice foi burrice! - Zeke pegou uma xícara de café e me entregou. - Beba isto.

— O caramba! - Joguei a xícara para o outro lado da sala e Zeke revirou os olhos.

— Deve ter alguma bebida interessante por aqui... - Will começou a procurar pelas gavetas.

Passei minhas mãos nervosamente pelos cabelos.

— Como é que ela sabia que a Molly se chamava Molly? - Afrouxei minha gravata.

— E eu vou saber? Quem sabe elas conversaram na festa, não sei... - Zeke deu de ombros. - Mas isso não importa agora.

Bufei e sentei-me novamente.

— E agora? - Uriah dobrou os braços.

— Achei! - Will gritou com uma garrafa de uísque na mão. - Então quer dizer que você disse que queria a Tris e então beijou a Molly? - Will jogou o uísque em alguns copos. - Péssimo cara, muito péssimo. Nem eu faria isso com a Chris.

— Cala a boca porque você faria isso ou pior com ela.

— Talvez. - sorriu maliciosamente. - As reconciliações sempre são a melhor parte meu caro. Entende porque brincar de casinha é tão bom?

Parti para cima dele, de saco cheio. Desde quando Will se tornara tão insuportável?

— Chega vocês dois! - Zeke interviu. - Se não calar a boca acabo com você, Will. - bufou, me afastando de Will. - Você não vai fazer nada Tobias?

— Estou cansado de lutar por ela. - dobrei os braços.

— Você nem está lutando por ela, seu merda - Zeke atirou sua carteira em meu rosto. - Você só a está magoando!

— Você diz isso como se ela nem tivesse desaparecido... - murmurei.

— A Tris não deve ter feito isso por mal. - falou Uriah. çpop

"Se não parar de ser trouxa vai perdê-la de novo, Tobias"

Inspirei profundamente e abotoei meu terno.

— Vou atrás dela.

Não esperei uma resposta e sai do meu escritório, trombando com Shaunna e Chris.

— Ela já foi? - Indaguei.

— Faz alguns minutos. - disse Chris.

Desta vez o elevador foi rápido, mais do que eu esperava. Quando cheguei no térreo, bufei ao encontrar Tris e Albert conversando.

— Tem alguma coisa para fazer esta noite? - Albert perguntou.

— Sim Albert, ela tem. - respondi, aproximando-me mais deles.

Coloquei minhas mãos dentro dos bolsos da calça.

 - Olá Tobias. - Albert acenou.

— A Beatrice não pode sair, ela tem outro compromisso. - dei de ombros.

— Tem? - Albert franziu a testa e a fitou.

Eu queria muito saber o nível de intimidade que eles tinham? Eram só amigos, mesmo como eu queria acreditar que fossem?

— Na verdade, Al - Tris me ignorou -, não tenho nada para fazer. Tenho que ir.

Tris saiu rapidamente de lá e Albert me fitou confuso.

— Ela se demitiu?

—- Sim. - suspirei. - Com licença, Albert.

Voltei para o elevador e subi novamente para minha sala.

(...)

— Você não poderia ter sido menos duro? - Zeke entrou pela porta do meu apartamento.

— Suma da minha frente! - berrei. - Vocês mentiram para mim!

Passei minhas mãos nervosamente sobre o cabelo.

— Não podíamos forçá-la a dizer, Tobias, precisa entender. - Will se sentou no sofá.

— Aceite a realidade, Tobias! Agora você tem uma filha e não pode continuar sendo um babaca, Ana precisa de você.

— Não é tão simples quanto parece, Zeke!

— Mas pode ser, se você aceitar!

Bufei e relatei o encontro com Tris enquanto ela saia da farmácia até aquele exato momento.

— Ana é a criança mais.. Fofa que eu conheço,e tem uma semelhança muto parecida com você e a Tris, como não percebeu de primeira? - Indagou Will.

— Eu mal olhei para ela - dei de ombros -, já que estava o tempo todo no colo da Tris.

Zeke dobrou os braços e suspirou.

— Olha, eu sei que a atitude da Beatrice não foi uma das melhores, mas ela sabia que você reagiria assim, ela queria preservar você.

— Me preservar escondendo minha filha? - Olhei pra ele indignado.

— Viu só?! Já até está tentando proteger a pequena - sorriu minimamente.

Engoli em seco e pigarreei.

— Ela não tinha esse direito... - murmurei.

— Você a ama, porque não pode perdoa-la?

Recostei-me no sofá tirei a garrafa de vodca da mão de Will, que adormecia.

— A Tris não merece.

— Para de ser idiota, senão irá perdê-la de novo.

Levantei-me com a garrafa em mãos e fui até a cozinha pegar alguns copos. Quando voltei, Zeke mexia no celular.

— Olhe isto.

Peguei o celular de suas mãos e olhei para a foto de Tris e Ana juntas. Precisava admitir que minha filha era linda e com certeza puxara mais Tris do que a mim. Eu nunca pensara seriamente em ter filhos; minha vida estava focada no trabalho e em ficar vezes ou outra com alguma mulher interessante, mas desde que Tris voltara eu não conseguira voltar para minha rotina. Tinha parado de sair com Molly (mesmo ela insistindo para ter de volta nossas noites agitadas) e de fazer outras coisas mais porque todas as vezes que me vinha a mente fazer algo que Beatrice não aprovava eu sentia culpa e parecia que a traia pelo simples fato de agir de um jeito que ela não acharia correto.

Eu não queria ser legal com ela, não porque ela me escondera nossa filha, mas pelo fato dela não ter tentado me dizer sobre ela, acho.

Compreendia que minha reação, com certeza ela estava certa em não me contar anos atrás. Agora, apesar de eu tem agido como um babaca, pensar na possibilidade de ter uma criança correndo pela casa, fazendo bagunça e fazendo minha vida mudar de cabeça para baixo, talvez não fosse tão ruim assim.