Tori estava falando á mais de meia-hora. As vezes parava, mas por curtos espaços de tempo - para respirar -, e por fim voltava a tagarelar.

Ela era gerente de uma loja de lingeries e se orgulhava disso - há pessoas para tudo. Vivia sozinha e conhecia Tobias desde que ele havia chegado lá para fazer a faculdade. Os dois se tornaram amigos bem rápido.

Típico dele se tornar amigo de mulheres de "mini saia". Mesmo que ele já estivesse demonstrando sua mudança, eu ainda tinha um pé atrás sobre ele, sobre o nosso passado...

Balancei minha cabeça; Tori estava acabando de terminar meu cabelo, numa trança perfeita.

– Obrigada - agradeci.

Ela sorriu e começou a pegar a maquiagem que tinha jogado sobre toda a pia do banheiro.

– Vou indo - avisei.

Tori deu um "tchau" indiferente e, eu segui até o quarto de hóspedes.

Tobias estava me esperando na sala.

Sem a voz alta de Tori, o único som que se conseguia ouvir, era o barulho dos meus saltos. Ajeitei a camiseta social dentro da saia lápis, ambas claras e emprestadas por Tori. Ela havia alegado que a saia que eu usava - um pouco acima do joelho -, era a maior e mais decente que ela tinha.

Fui até o quarto, peguei minha bolsa e outros pertences. Segui para a sala.

Tobias estava sentado no sofá com as pernas cruzadas, mexendo no celular.

Pigarreei.

Ele tirou os olhos do celular e olhou para mim.

– Já podemos ir - falei.

– Claro.

Tori chegou até a sala com sua bolsa, se pendurou no pescoço de Tobias e lhe meteu um estalado beijo na bochecha.

– Te vejo outro dia - ela falou antes de cruzar a porta.

Fiquei enciumada com a aproximação deles. Porém, aquilo não importava.

Saímos do apartamento e fomos em seu carro na direção da empresa, em completo silêncio. Eu ainda não estava muito bem, já que tinha sido entupida de calmantes. Tobias ainda, parou no meio do caminho para comprar remédios para mim. Havia sido bastante gentil de sua parte.

Fiquei o resto da manhã, atendendo o telefone e marcando reuniões. A secretária de Al também tinha ligado; ele e Tobias se encontrariam para discutir sobre suas empresas no dia seguinte.

Albert tinha me ligado duas vezes e deixado cinco mensagens na noite anterior, perguntando como eu estava e se poderíamos no encontrar, é claro, ele com seu sobrinho e eu, filha.

Era a desculpa perfeita, pensei.

Respondi todas as mensagens, não só por educação, como também por, considerar Al meu amigo.

As meninas não tinham dado as caras. Nem Will, Zeke e Uriah. Tobias estava certo quando falou que eles poderiam não vir.

Me lembrei vagamente da nossa conversa em seu apartamento.

– Pode remarcar minha reunião com o Al para daqui uma semana? - Tobias falou, a voz cansada.

Ele estava sentando de qualquer jeito em sua poltrona, com a mão na cabeça enquanto analisava alguns papeis.

– Vou tentar, mas o assunto é urgente - falei, olhado a agenda.

Tobias bufou, se levantou e pegou um copo de café.

Peguei uma pasta e me levantei para guarda-la na gaveta.

– Tem alguma coisa para amanhã? - Tobias indagou.

– Sim, a reunião, não se lembra? - Disse, voltando para minha mesa.

– Não estou falando de trabalho, estou perguntando se você, tem algo para fazer amanhã.

Fiquei paralisada. Eu nem podia sonhar em sair com ele, pelo menos enquanto não tomava coragem de contar sobre minha filha.

Havia prometido que contaria sobre Ana assim que pudesse, mas não estava preparada.

– Sim - falei. Eu não estava mentindo. Al e eu sairíamos amanhã.

Depois de alguns minutos, Tobias voltou a sua mesa com uma xícara de café.

– Ok. - Ele falou.

Parei de observá-lo e voltei a trabalhar. Precisava voltar a tentar ignorá-lo.

E estava sendo, cada vez mais difícil.

(...)

Christina entrou com a mão na cabeça - um pouco torta -, sussurrando para que não gritássemos. Shaunna entrou, minutos depois com Zeke segurando-a pela cintura. Achei bem fofo.

– Vocês dois não me escapam pombinhos - Chris falou, apontando para Tobias e á mim.

Chris se sentou no sofá do canto da sala.

– Do que você está falando? - Disse, olhando as horas no pulso, confirmando minha hora de almoço.

– Eu sei que vocês foram embora juntos - ela deu um sorriso malicioso.

Fiquei envergonhada e me levantei para pegar minha bolsa. Shaunna interveio e pegou Christina pelo braço.

– Chris, não se intrometa, ok? - Agradeci á ela mentalmente.

Christina bufou e xingou baixinho.

– Eu só queria saber, sua chata.

– Mas a vida é dela - Shanna falou.

Ficamos alguns segundos em silêncio.

– Vi você e o Zeke se pegando, então fica quietinha, dona Shaunna - Chris alfinetou, sorrindo.

Shaunna ficou vermelha e logo se refugiou em Zeke.

– Estou indo almoçar, meninas, querem ir comigo? - Falei.

– Posso ir também? - Uriah disse entrando na sala.

– Que parte do "meninas" você não entendeu? - Zeke brincou.

Uriah deu um tapa na nuca do irmão e eles começaram uma briguinha sobre quem era o mais idiota. Ri por alguns instantes até me lembrar que teria que buscar minha princesa em casa. Eu estava com saudades.

Puxei as meninas - e Uriah - para fora da empresa; Zeke tinha convencido Tobias á ficar na empresa para converesar e depois irem almoçar, o que me fez questinonar se ele já sabia de Ana.

– Você ainda vai me contar o que aconteceu - Christina começou. - Lynn me disse que você o Tobias vieram juntos.

Estávamos dentro do carro de Uriah, indo para minha casa.

– Pode deixar, vou falar tudo pra vocês.

Fomos conversando até o meu apartamento.

Era incrível como nós nos dávamos tão bem em tão pouco tempo. Por mais que Chris falasse mais que o "homem da cobra", Shaunna estava lá para suavizar as situações. E Uriah também. Ainda estava com dúvidas á respeito de Zeke, já que ele era unha e carne com Tobias, porém, em breve, quem sabe, eu pudesse colocá-lo na lista de amigos.

Eu gostava de estar perto deles;

Entramos em casa, nos deparando com Ana pintando a parede e com o cabelo solto, melecado de tinta.