Narrador: Onisciente

Parecia o Jack. Quer dizer, algo parecia com ele... mesmo que nada lembrasse ele. O rapaz a sua frente era mais velho, com cabelos brancos e olhos azuis. Suas características em nada se assemelhavam as de Jack: moreno , de olhos castanhos. Porém, ainda assim, algo nele a fez associa-lo ao falecido namorado. Balançou a cabeça. A dor piorou.

De qualquer forma, não era ele. Elsa estava estressada, de fato, devia estar alucinando!

—Elsa!- Jack quase desequilibrou com o susto, chegando bem perto de despencar da sacada, porém conseguiu se segurar segundos antes. A Rainha, por impulso, correu para impedir que o garoto caísse. Suas mãos agarraram-lhe os braços mesmo ele já tendo retomado o equilíbrio.

—Você é louco? Que ideia é essa de se pendurar assim? Poderia ter sofrido um acidente horrível!

Jack não falou nada. Era como se as palavras fugissem da sua mente. Ele estava ali e ela estava ali. Foi demais para o guardião que a observava intensamente com uma expressão abobalhada no rosto.

Elsa ficou esperando uma reação do intruso, mas essa não veio. Ele apenas a fitava como se tivesse encontrado algo precioso, e ela só retribuiu o olhar. Ficaram assim por longos minutos, até que a Rainha se deu conta da situação completamente estranha e tentou afastá-lo.

—O que faz no meu quarto? E quem é...

Mas foi interrompida por um abraço. Elsa não sabia a razão, contudo permitiu que o abraço ocorresse e o correspondeu. Lágrimas subiram aos seus olhos. O que estava acontecendo? Quem era ele? E por que ela se sentia tão estranha?

“Ele tem o cheiro do Jack”, pensou enquanto encostava a cabeça no ombro do desconhecido.

O garoto, por sua vez, escondeu o rosto nos cabelos platinados da moça.

“É a Elsa, Homem da Lua, é a minha Elsa!”, não conseguia parar de pensar. Nunca souberam dizer quanto tempo passaram naquele abraço. Poderiam lhe descrever cada sensação obtida ao ter os corpos colados depois de tantos anos, contudo, jamais teriam noção de quantos minutos ficaram naquela posição, talvez uma eternidade.

Mas até as eternidades terminam.

Jack a libertou do abraço, segurando seus braços com as mãos, não suportando a sensação de que ela iria desaparecer a qualquer segundo se a soltasse completamente.

—Quem é você? – Perguntou a Rainha mais uma vez.

—Você já sabe. Se não soubesse, se não acreditasse, não estaria me vendo, muito menos tocando...

—Eu não faço ideia de quem seja. - Todo o corpo dela parecia reconhecê-lo, mas ela não o conhecia!

Então ele a beijou.

Elsa perdeu a noção de espaço, de tempo, de vida. O beijo.

A boca dele pediu permissão para aprofundar o toque e ela permitiu. Enquanto as línguas dançavam, o corpo começou a esquentar. O rapaz enlaçou sua cintura, acariciando as suas costas. Ele também pedia por mais.

Ironicamente, pequenos flocos de neve começavam a cair dentro do quarto.

A necessidade, a saudade... parecia consumi-los. Tudo em Elsa gritava por ele. Ela colou mais ainda seus corpos e deixou que as mãos se perdessem nos cabelos brancos do garoto.

O cheiro de Jack. As carícias de Jack. Aquele rapaz fazia exatamente o que o seu Jack fazia. O beijo...

Era o mesmo beijo.

Calmamente ele desceu seus lábios para o pescoço da Rainha do gelo. Aquilo fez com que a pele dela arrepiasse de excitação.

—Quem eu sou, Elsa?- Sussurrou entre os toques.

A Rainha ainda estava perdida nas caricias e por isso demorou a responder, mas já não havia dúvidas.

—Jack Frost. Meu Jack.

O peito do guardião parecia que ia explodir de felicidade.

De repente, em um rompante, ela o afastou, apenas o suficiente para fita-lo de frente e tirar conclusões. Sim, era o Jack. Teve certeza quando encontrou o brilho único, irônico e divertido nos olhos, que somente Jack possuía em todo o mundo.

As lágrimas desceram pela face da moça. Em seguida o rapaz também a acompanhou, choravam silenciosamente.

Quando a emoção do reencontro melhorou, a raiva começou a tomar seu lugar e antes que Jack pudesse adivinhar, teve seus pés congelados. A Rainha se afastou, ainda cambaleante, sentando na cama de costas para ele.

—Elsa, por que...?

—Se você é mesmo o Jack- disse abraçando o próprio corpo em uma posição defensiva e virando-se para o prisioneiro- então me deve uma boa explicação. E, acredite, ela tem de ser muito, muito boa se quiser o meu perdão.

O guardião do gelo e da diversão gelou, enquanto a Rainha do inverno esperava, não tão pacientemente, uma resposta.